O Segredo dos Códigos escrita por Luna Sapphire Calhoun


Capítulo 5
Pérola e Cristal




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Pérola e Cristal, as gêmeas reais do reino de Dragonia no jogo Caçadores de Dragões, desceram as escadas correndo, de seus quartos para o salão de bailes, onde elas sabiam que sua avó estaria, supervisionando os preparativos para o Baile da Colheita.

"Temos que contar pra ela." Cristal disse para sua irmã.

"Não. Não devíamos." Protestou Pérola.

Cristal era a primeira das gêmeas. Tinha cabelos curtos, bagunçados, que naquele dia estavam brancos, mas tinham o costume de mudar de cor sozinho. Tinha olhos cor de avelã, pele clara e bochechas rosadas, era pouco mais magra e mais alta que a irmã. Vestida naquela camiseta preta, jeans rasgados e botas de montaria, ela podia ser tomada por uma rebelde, mas a verdade era que ela era a princesa herdeira do trono de Dragonia.

Pérola, por outro lado, não se parecia em nada com a irmã. Rinha cabelos longos, negros, presos em uma trança, naquele momento seus olhos estavam verde esmeralda, mas eles costumavam mudar de cor, como o cabelo de sua irmã e tinha a pele um pouco mais bronzeada. Usando um vestido cor-de-rosa, na altura dos joelhos, e botas pretas, decoradas com pequenas flores cor-de-rosa, bordadas nas laterais, ela parecia uma princesa bonitinha, e podia ser doce como uma, mas a verdade é que, escondido no fundo, ela tinha um lado rebelde, traiçoeiro, trapaceiro e brincalhão.

Diziam, que enquanto Cristal puxara ao pai - que tinha morrido em um ataque de dragões quando elas eram pequenas - Pérola era mais parecida com a tia, que desaparecera após a morte do irmão gêmeo. Ninguém sabia nada sobre a mãe das meninas.

A verdade, era que nenhuma das duas se lembrava de nada daquilo. Elas não tinham memórias de nada antes de seus doze anos, a idade com que foram programadas no jogo, quatro anos antes. Elas imaginavam que aquilo tivesse algo a ver com o fato das duas serem bugs do jogo, mas aquela noite mudara toda a perspectiva delas sobre o assunto.

"Alguém precisa saber!" Cristal insistiu.

"Ela não vai acreditar." Pérola protestou novamente. "Ninguém nunca acredita."

"E se dessa vez for diferente?"

"Não vai ser."

"Tudo bem. Se você não vai contar, eu conto. Vovó!"

Pérola revirou os olhos enquanto Cristal corria o resto do caminho até o salão.

A avó das meninas parecia uma versão mais velha de Pérola, mas só na aparência.

"Bom dia, docinho!" Ela saudou Cristal com um abraço forte. "Dormiu bem?"

"Não muito." A menina murmurou. Ela não queria falar sobre sua noite.

Naquele momento Pérola parou na porta do salão, ela não estava à fim de falar sobre sua noite, embora sua irmã achasse que ela deveria fazer o contrário.

"Qual o problema querida?"

"Não dormi. E Pérola teve um sonho."

A rainha Calyssa olhou para sua outra neta e chamou-a com um gesto e um sorriso doce. Sem outra escolha, Pérola andou até lá, mas ficou em silêncio.

"Vamos Pérola, tudo bem contar pra ela." Cristal tentou assegurar sua gêmea. Mas Pérola apenas olhou para o chão, visivelmente nervosa, então Cristal tentou escolher cuidadosamente suas próximas palavras.

"Vovó, o que realmente aconteceu com nosso pai?"

"Já conversamos sobre isso. Ele se sacrificou para proteger nosso reino dos dragões. Ele e sua tia deram suas vidas para nos proteger.

"E nossa mãe? É estranho, nunca realmente perguntei sobre ela."

"Não sei. Não sei nem mesmo como vocês chegaram aqui. Só sei que são meus dois pequenos anjos, e nada mais importa."

"Mas papai está vivo!" Pérola finalmente deixou escapar, desejando no mesmo instante que não o tivesse feito.

"O que?" A rainha exclamou surpresa.

"Eu vi ele. Trancado em uma cela em um castelo escuro."

"Espera! Como... Oh, foi só um sonho, Pérola."

Pérola olhou para a irmã.

"Viu! I te disse que ela não ia acreditar!" Ela gritou, zangada. "Ninguém acredita em nós!" Ela perdeu o controle de seu tilt por um momento, apavorada. "Quer saber? Vou encontrá-lo sozinha!"

Com os olhos cheios de lágrimas, ela correu de volta para o quarto, Cristal a seguiu, mas quando alcançou o quarto que as duas insistiam em dividir, a porta já estava trancada.

"Pérola, abra!" Ela chamou.

"Vá embora!" A outra ordenou, mas era clara a dor em sua voz.

"Eu sei que está chateada, também estaria. Mas eu estou aqui, acredito em você, quero ajudar.. Então, por favor, abra a porta!"

Silêncio. Cristal esperou por uns dois minutos, estava para desistir quando a porta se abriu. Pérola estava agora vestida com um short preto, curto e uma camiseta pink, um boné preto virado para trás e tênis vermelho e branco, parecia a verdadeira rebelde que era.

"Estamos de férias. Estou saindo para voltar antes do fim. Você vem?" Ela perguntou séria.

"Para onde, exatamente?"

"A torre."

"Lar do dragão negro? Não podemos fazer isso! Sabe que estamos proibidas de ir lá fora do horário de jogo."

"E é por isso que estamos indo."

–KK-


Cristal estava cansada, e considerando que ela era a mais atlética das duas, era uma surpresa que Pérola ainda estivesse de pé, mas a morena continuava a caminhar firme, sem prestar atenção à irmã.

"Pérola, podemos parar um pouco!" Ela pediu, exausta.

"Pare você se quiser. Sabe o caminho pra me alcançar depois." Pérola respondeu, séria, sem olhar para trás.

"Mas temos que continuar juntas!"

"Então continue. Eu não vou parar."

"Não podíamos ter vindo à cavalo?"

"Teriam percebido nossa escapada mais rápido."

"Eu devia voltar e contar pra alguém." Cristal ameaçou.

"Devia, mas eu sei que não vai. Estamos quase lá!"

"Não estamos nem mesmo na metade do caminho! Na verdade, acho que você está perdida."

"Não estou não!" Pérola finalmente voltou-se para encarar a irmã.

"Está sim, admita! Vamos voltar. Eu sei um meio de chegar lá muito mais rápido." Cristal finalmente disse.

"Que meio?" Dessa vez Pérola estava interessada.

"Volte comigo para o castelo e eu te mostro."

"Tudo bem, vamos voltar."

–KK-

"Pérola, lembra que você era a rainha do esconde-esconde, mas que de repente você não conseguia mais me encontrar? Bem, está prestes a descobrir meu esconderijo." Cristal sorriu para uma confusa Pérola, enquanto a guiava por uma passagem secreta do castelo.

A passagem antiga, cavada na pedra, levou-as a um lugar inesperado, um laboratório, de aparência moderna. Máquinas, papéis e poções preenchiam todo o lugar.

"Que lugar é esse?" Pérola perguntou, deslumbrada.

"Não sei. Nunca fiquei xeretando por aí." Cristal deu de ombros, andando até uma cortina azul ao fundo.

Mas então Pérola a chamou de volta.

"Venha ver isso aqui, Cris!"

O primeiro armário que ela abrira, a primeira coisa que encontrara, poderia ser o que sempre procurara.

"É do papai." Ela apontou a capa para a irmã.

Era um livro, encapado em azul, na frente estava escrito em dourado: James Fix-It. Cristal olhou confusa para a irmã, que apontou um segundo escrito logo abaixo: a.k.a. Aaron Grace Jackson.

Pérola abriu o livro, e descobriu se tratar de uma álbum de fotos. Logo na primeira página estava uma foto de uma Aaron, ou James, como ele escrevera na capa, de mais ou menos nove anos, ao lado de uma outra garota ruiva, de sorriso maroto.

"Tia Clar." Cristal murmurou.

Pérola assentiu e virou a página.

Nesta havia outra foto dos irmãos, dessa vez com uma garota, aparentemente da mesma idade. Os cabelos da cor dos de Pérola eram cobertos de doces, e seus olhos tinham a cor dos de Cristal.

"Acha que pode ser a mamãe?" Pérola perguntou.

Cristal lançou um olhar para as cortinas e disse: "Acho que sim.", ao mesmo tempo em que virava a página.

Nas outras duas fotos não era possível ver o lugar onde as crianças estavam, mas a casa na terceira foto certamente não pertencia à Caçadores de Dragões, nem os dois adultos que agora estavam com os gêmeos.

"Quem são eles?" Cristal perguntou.

"Não sei." Pérola curiosamente tirou a foto do luar, Cristal nototu algo escrito atrás.

Primeiro dia com a nova família, estou realmente feliz! Nunca imaginei que fosse acontecer!

"Nova família?!"

Elas examinaram as fotos e descobriram que aquele casal na foto adotara os gêmeos, porque Caçadores de Dragões fora desligado por causa de um vírus. O jogo fora plugado novamente e James se mudara de volta, mas Clarion ficara com a família adotiva. A garota que elas supunham ser sua mãe na verdade era sua tia e tanto ela quanto sua mãe pertenciam a um jogo chamado Sugar Rush, onde aparentemente o pai delas também trabalhava.

O álbum terminava com uma foto de um grupo de policiais no que parecia uma estação. Atrás estava escrito: Podem apagar nossas mentes, mas nunca nossos corações. Não vamos nos entregar sem lutar!

"Podem apagar nossas mentes mas nunca nossos corações." Repetiu Cristal. "Vi essa mesma frase nas Ruínas do Destino, onde supostamente ele morreu. Acho que os policiais invadiram o Arcade, ele lutou e foi capturado. Imagino que a tia Clar tenha fugido para sua nova família. Não sei o que aconteceu com a nossa mãe."

"Acho que ainda está no jogo dela. Temos que ir encontrá-la!" Pérola de repente exclamou.

"O que?! Nem pensar, nós não estamos..."

Ela parou quando um leve tremor sacudiu a sala, a luz agora piscava lentamente. Do lado de fora, silêncio total, as gêmeas estavam nervosas.

"Vamos sair daqui!" Pediu Pérola, assustada.

Elas começaram a avançar lentamente pelo corredor, mas pararam quando as luzes finalmente se apagaram.

Pérola tirou uma lanterna da mochila e iluminou o caminho, ou pelo menos parte dele. A outra parte do corredor parecia coberta em sombras, que pareciam mais fortes que qualquer luz. Vinha avançando na direção das meninas, devorando tudo no caminho, soltando faíscas.

"Vamos sair daqui!" Cristal chamou com urgência, puxando a irmã de volta para o laboratório e as duas trancaram a porta atrás de si, no instante em que as sombras as alcançaram, mas a porta brilhou em azul, as sombras pareciam não poder passar por ela.

"Estamos salvas." Pérola suspirou aliviada. "Mas sabe que não, podemos ficar aqui pra sempre, não sabe?" Perguntou para a irmã.

"E não vamos." Cristal a assegurou, finalmente abrindo as cortinas e revelando um carro, todo feito de doces, principalmente algodão doce.

"Uau! Isso aí é o que eu tô pensando!" Exclamou Pérola, por um momento se esquecendo do perigo que estavam correndo.

"É nossa passagem pra fora daqui. Entra aí! Eu dirijo." Cristal saltou imediatamente para o carro, tinha um controle na mão com o qual abriu uma passagem que ia dar do lado de fora. "Segura firme!"

"Mas o que é exatamente aquela sombra?" Perguntou Pérola, preocupada.

"Vírus." Murmurou Cristal.

"Mas..."

"Não sei dirigir isso direito, então, a não ser que queira que a gente bata ou que o vírus nos pegue, eu sugiro que não me distraia."

Elas rumaram para a saída do jogo em total silêncio, o único som sendo o do motor do kart. Esperavam passar pelos policiais. Esperavam não bater. Esperavam que seu jogo ainda tivesse chance de ser salvo. Mas nenhuma delas estava certa se esperavam ou não em vão.

"Não vamos nos entregar sem lutar." Cristal murmurou para si mesma.

Estavam finalmente fora do jogo.


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