Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 13
Estresse


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Lily Duncan (só pra variar POAKSA) e Duki, que recomendaram a história. Muito obrigada, fiquei muito feliz!
Desejo a todos uma boa leitura!



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– Srta. Black, acorde imediatamente!

Ao ouvir a voz de Professora McGonagall ordenando que ela acordasse, Andrômeda levou um susto que não só a fez despertar como fez todo o seu sono passar em um segundo. Com um pulo, ela ergueu a cabeça que tinha deitado na mesa e se pôs ereta.

Todos os alunos da classe a olhavam, muitos com curiosidade. Andrômeda nunca antes havia dormido em uma aula, e no entanto lá estava ela, cochilando em plena aula de Transfiguração.

Por um instante, ela mesma olhou para a professora totalmente embaraçada, se perguntando como aquilo podia ter acontecido, ainda mais considerando que ela sabia que estaria fazendo os N.I.E.M.s dentro de poucos meses e precisava saber o máximo de matéria possível para ir bem nas provas. Porém, sendo sincera consigo mesma, ela sabia por que aquilo tinha acontecido.

Já fazia duas semanas que ela deitava-se em sua cama todas as noites e lá passava horas sem conseguir adormecer. Então, como não tinha dormido quase nada durante a noite, passava os dias inteiros sonolenta. Era óbvio que uma hora ela acabaria por pegar no sono em uma aula.

A questão era que à noite, no seu dormitório silencioso, as palavras que Ted dissera no que fora o último – e provavelmente continuaria sendo o último para sempre – encontro deles ficavam girando de novo e de novo na mente dela. “Só um sonho, nunca a realidade...”, “nunca está satisfeita com nada...”, “não tem mais de se preocupar com isso”... E durante o dia, quando ela tinha mais coisas para pensar – como as aulas e o que os professores diziam – a vontade de dormir finalmente vinha.

Mas não era como se ela pudesse explicar qualquer uma dessas coisas à Professora McGonagall, então apenas esfregou os olhos, pediu desculpas e prometeu a si mesma que aquilo não voltaria a acontecer.

– Que não se repita. E menos cinco pontos para a Sonserina. – Disse a professora antes de voltar a dar a aula. E os outros alunos da Sonserina, já acostumados à personalidade dela e sabendo que reclamar só resultaria numa ameaça de perder mais pontos, ficaram em silêncio, mas não deixaram de dar seus próprios olhares repreensivos à Andrômeda.

Ela decidiu que ia se dedicar a tentar recuperar os pontos que perdera pela sua casa até o final daquela aula, mas percebeu que aquilo seria difícil no momento em que começou a ouvir o que a professora estava falando. Devia ter perdido, no mínimo, dez minutos de explicação, porque não estava conseguindo entender nada do que ela dizia.

Tentou comparar o que estava escrito no quadro negro com as anotações que fizera em seu pergaminho antes de adormecer, para ver se conseguia fazer alguma relação entre o conteúdo dos dois, e ficou surpresa com a forma como sua letra, no começo, estava redonda e bonita como ela sempre gostava de fazer, mas conforme as anotações prosseguiam, iam virando um garrancho ilegível que enfim terminava em uma grande mancha de tinta, marcando onde ela tinha largado a pena quando pegara no sono.

Aquilo significava que ela teria de prestar ainda mais atenção do que achara antes, mas não foi possível: assim que o susto de ser acordada por uma professora passou – não muito mais de dois minutos depois –, o sono voltou a invadi-la, de modo que a dedicação que ela pretendia usar para recuperar os pontos que tinha perdido teve de ser voltada a não adormecer novamente e perder mais pontos.

Assim como não era capaz de dizer o que tinha visto na aula até aquele momento, também não saberia dizer o que viu depois. Sua visão estava embaçada e por vezes ela acabava fechando os olhos sem perceber, para abri-los outra vez segundos depois, assustada e olhando para os lados para ver se alguém havia percebido.

Os poucos minutos que faltavam para o final da aula pareceram durar horas, e aquela nem sequer seria a última aula que teriam naquele dia. Andrômeda começou a se perguntar se valia a pena ir até o Salão Comunal da Sonserina para tirar um rápido cochilo na meia hora que teria de intervalo entre aquela aula e a próxima, mas achava que não daria tempo ou ela acabaria por dormir demais e perderia a hora.

As pessoas à volta de Andrômeda começaram a se levantar e a guardar seus materiais dentro das respectivas mochilas, o que a fez perceber que a aula devia ter acabado – se estivesse prestando atenção às palavras da professora, certamente teria a ouvido dispensar a turma – e os imitou. No entanto, Professora McGonagall devia ter mesmo assim reparado que ela foi a última a começar a arrumar suas coisas, porque olhou diretamente para ela. Andrômeda fingiu não perceber o olhar, porém não pôde fingir que não ouviu quando ela falou:

– Srta. Black, fique depois da aula. Quero falar com você.

Ela concordou silenciosamente, mesmo que incomodada com a situação. Não era nem de longe a primeira aluna que dormia em uma aula, e nunca vira nenhum dos outros ser intimado a ficar depois da aula. Principalmente sendo que professora Minerva McGonagall era responsável pela Grifinória, não a Sonserina – quem devia conversar sobre qualquer coisa sobre o comportamento de Andrômeda era o professor de Poções, Horácio Slughorn. Já não tinha sido suficiente ela ter sido repreendida e perdido pontos?

Tornou a se sentar, esperando que os outros alunos saíssem para ir conversar com a professora. Madeleine foi a última, e deu uma piscadinha para Andrômeda enquanto saía e fechava a porta. Ela não era como todos os sonserinos, que só tinham decidido que seriam amigos de Andrômeda porque não achavam mais que ela fosse uma traidora do próprio sangue, mas mesmo assim o gesto lhe pareceu falso.

Ela pegou a bolsa e foi até a mesa de McGonagall com ar inocente, esperando que ela fosse breve e ao mesmo tempo sabendo que não seria, senão não teria esperado que todos saíssem antes de falar.

– Sim, professora? – Perguntou ela, mexendo ansiosamente na alça da bolsa. – Se é sobre eu ter dormido na aula, eu realmente...

– Qual é o seu problema, Black? – Professora McGonagall indagou, não parecendo nem um pouco interessada no porquê de ela ter dormido na aula. Isso deixou Andrômeda desnorteada.

– Meu... problema? Não tenho problema nenhum. – Mentiu.

– Você não acha que eu comecei a dar aula ontem, acha? – Andrômeda corou por causa da pergunta e, principalmente, por causa do tom sábio com que a professora a fizera. A mentira devia ter parecido verdadeiramente estúpida. Ela não respondeu, e a professora se levantou. – Venha comigo.

Andrômeda se perguntou se estava sendo levada para falar com professor Slughorn quando saiu da classe atrás dela, mas não levou muito tempo para reparar que estavam indo na direção oposta à das masmorras, onde ficava a sala do professor. Ela não fazia a mínima ideia de onde elas podiam estar indo se não fosse falar com ele, e estava ficando preocupada.

Elas já tinham atravessado todo o primeiro andar quando Andrômeda percebeu que estavam indo na direção da Ala Hospitalar.

Aquilo a deixou ainda mais apreensiva. Ela só tinha ido para a Ala Hospitalar duas vezes antes nos sete anos em que estava estudando em Hogwarts: uma no segundo ano, por causa de um feitiço que Belatriz havia lançado nela (e que rendeu à Belatriz uma semana de detenção), e a outra, no quinto ano, quando tinha adoecido. Era uma parte da escola que ela conhecia pouco, e não tinha nenhum interesse em conhecer melhor.

E por que professora McGonagall estava levando-a para lá? Tentando encontrar uma explicação razoável para o que estava acontecendo, Andrômeda pensou em Narcisa. E se algo tivesse acontecido com ela, e a estavam chamando por ser sua irmã mais velha? E quão grave devia ser a coisa que aconteceu, para estarem chamando-a? Ela e Narcisa não se davam bem, mas mesmo assim ela não aguentava pensar que ela podia estar muito machucada naquele exato momento.

E era ainda pior imaginar que quem estava na Ala Hospitalar machucado era Sirius, não Narcisa. O primo significa mais para Andrômeda do que a irmã mais nova. E ele vivia se metendo em encrencas com aqueles amigos dele...

Seus devaneios foram interrompidos quando ela adentrou o local atrás de Professora McGonagall e viu que ninguém ocupava os leitos hospitalares, e que a enfermeira, Madame Pomfrey, era a única pessoa na Ala. Parecia que nada era como ela tinha imaginado, e ela não sabia se ficava aliviada ou ainda mais preocupada com aquilo.

Madame Pomfrey foi até elas apressadamente, e perguntou para McGonagall – sem dirigir nem um olhar rápido para a aluna – exatamente o que estava se passando na cabeça de Andrômeda naquele momento:

– O que houve?

– Trouxe uma setimanista para você, Papoula. – Contou a professora, indicando Andrômeda com o olhar, e Madame Pomfrey assentiu, como se só o fato dela estar no sétimo ano explicasse tudo.

– Como está se sentindo? – Perguntou a enfermeira para Andrômeda, finalmente olhando para ela. A garota olhou para Professora McGonagall esperando explicações, mas como não as obteve, teve de perguntar por si mesma:

– Como assim, “como estou me sentindo”? O que está acontecendo? Eu, ahn, tenho aula em menos de meia hora, não posso me demorar aqui...

– Ela costumava ser uma das minhas melhores alunas do sétimo ano, mas agora não está conseguindo nem se manter acordada em uma aula. Os outros professores têm dito o mesmo. Isso começou pouco depois da volta às aulas. – Contou Professora McGonagall, ignorando o que ela estava dizendo.

– Eu estou bem. – Falou Andrômeda. – Só ando cansada, tenho tido dificuldades para dormir durante a noite...

– O nome disso é “estresse”. – Explicou-lhe Madame Pomfrey antes que ela pudesse terminar de falar. Ela não sabia nem mais porque se dava ao trabalho de tentar conversar. – Acontece com muitos bons alunos nos anos de N.I.E.M.s., todos os anos tem pelo menos três ou quatro com esse problema vindo até a Ala Hospitalar querendo ajuda. Aqui, sente em uma das camas.

Andrômeda a obedeceu, e foi se sentar na ponta da cama de um dos leitos, colocando sua bolsa a seu lado.

– Deixo-a aos seus cuidados, então. – Disse Professora McGonagall para Madame Pomfrey. – Tenho de ir, minha próxima aula começa em breve. E quanto a você, Srta. Black, espero um comportamento diferente amanhã.

Com isso, a professora saiu da Ala Hospitalar, e a enfermeira foi até um armário de poções.

– Então, você já disse que anda com insônia. Mas o que mais está lhe afligindo?

– Falta de apetite. – Admitiu. Desde aquele último encontro com Ted, parecia que a comida tinha começado a perder a graça para ela, de forma que ela agora estava se alimentando muito menos do que antes. – E às vezes... Às vezes eu me sinto tão mal por dentro que é como se nunca mais fosse ser feliz.

O som que Madame Pomfrey fez lhe soou indelicado.

– Você descreve seu estresse como se fosse um beijo de dementador. – Comentou, enquanto mexia nas poções. –Vejo que a situação está grave. Estou certa em supor que estudou durante as férias inteiras?

– Do momento em que eu acordava até o em que eu ia dormir. – Andrômeda não estava sendo sincera, mas não podia contar a ela o que lhe afligia de verdade, então o mais seguro a se fazer era concordar com tudo o que ela dissesse.

A mulher selecionou dois frascos dentre as poções e levou-os até Andrômeda. Um deles tinha um líquido branco dentro, e o outro, um azul bem claro.

– Antes de jantar, hoje, tome a poção azul. Isso lhe dará fome. E a branca, tome quando quiser ir dormir, e durante dez horas nada conseguirá te acordar. Se você tiver um bom sono por esta noite, pode ter certeza de que vai ser fácil pegar no sono nas noites seguintes também.

– Obrigada. – Agradeceu ela, pegando ambas as poções e colocando-as dentro da bolsa. Mesmo que estresse não fosse seu problema de verdade, era bom pensar que poderia dormir bem por uma noite. Ela se levantou da cama. – É melhor eu ir também, Madame Pomfrey, minha próxima aula...

– Eu ainda não a liberei. – A enfermeira a empurrou para que se sentasse novamente, e Andrômeda teve de disfarçar a impaciência. Sentia que, se ficasse lá tempo suficiente, Madame Pomfrey ia perceber que os problemas dela eram mais complexos do que mero estresse.

Ela foi até um calendário que tinha em uma das paredes e deu uma olhada rapidamente.

– Quando foi a última vez que você foi para Hogsmeade? – Perguntou. Por ser uma questão inesperada, Andrômeda não soube se deveria mentir ou dizer a verdade. Não ia a um dos passeios que o colégio frequentemente fazia para Hogsmeade, o único vilarejo da Grã-Bretanha habitado unicamente por seres mágicos, desde o quinto ano, mas não sabia se a enfermeira poderia usar isso contra ela.

– Faz algum tempo. – Ela respondeu, desconfiada.

– Bem, posso resolver a sua insônia e falta de apetite com poções, mas não a sua infelicidade. Mas para isso, creio que um sábado em Hogsmeade, longe dos livros, seria o que mais lhe faria bem.

Andrômeda não concordava. Na verdade, ela preferia passar um dia sozinha no castelo quase vazio a ficar em Hogsmeade com os outros sonserinos.

– Obrigada, Madame Pomfrey, mas não precisa. Eu não gosto de ir à Hogsmeade.

– Você veio até a Ala Hospitalar porque tinha um problema, e eu estou ajudando. Você vai fazer o que estou dizendo. Por sorte, o primeiro passeio do semestre será no próximo sábado, e diferentemente dos outros alunos, a sua presença será obrigatória. E agora você pode ir.

Ela se levantou novamente e caminhou para fora da Ala Hospitalar sem olhar para Madame Pomfrey. Tinha se irritado. Não devia ser ela a única pessoa que poderia decidir como passar seus dias? Tinha dezessete anos e faria dezoito dentro de algumas semanas, não era uma criança. E se seu problema era Ted, e não o estresse, se ela passasse um dia inteiro sem poder fugir de Norman, Madeleine e os outros, certamente acabaria ficando estressada também. E tudo porque tinha dormido em uma aula de Transfiguração...

Mas quando ela passou em frente a um espelho que ficava próximo à saída da Ala e conferiu sua aparência por um segundo, a irritação passou. Estava mais magra, e sua a palidez contrastava com as olheiras escuras e profundas. Os seus cabelos encaracolados sempre tinham sido difíceis de lidar – quando Andrômeda tinha de ir a uma festa ou jantar, passava mais de uma hora penteando-os até que ficassem bonitos, caso contrário, os cachos pareciam até disformes. E no dia-a-dia, por não ter mais de uma hora pela manhã para escová-los, ela os prendia em tranças, rabos-de-cavalo ou qualquer outro tipo de penteado. Mas ela andara desanimada demais para fazer até isso, e seus cabelos caiam desorganizados em torno de seu rosto.

Também, por causa do que Ted dissera sobre seu medalhão no último encontro deles, Andrômeda ficara com raiva da joia, e a jogara no lixo sem nem considerar o valor que ela tinha para sua família. E assim, ela começara a andar sem joias, o que era muito esquisito para ela.

Em resumo, ela estava péssima. Não podia culpar Madame Pomfrey por achar que ela precisava de um pouco de diversão, por mais enganada que ela estivesse.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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