Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 12
Explicações


Notas iniciais do capítulo

Quero dedicar este capítulo à minha irmã Lily, que entende o ponto de vista do Ted mais do que ninguém.
Espero que gostem dele!



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Eram inúmeros os métodos que Andrômeda havia inventado para se manter acordada quando estivesse cansada e deitada na cama de seu dormitório escuro, mas ainda faltasse horas para o horário de seu encontro com Ted.

Entretanto, naquele dia, nenhum método foi necessário, já que ela estava tão agitada que não conseguiria adormecer de nenhuma maneira. Tão agitada, inclusive, que não aguentou ficar esperando na cama até que o horário estivesse próximo e saiu bem antes do que o habitual, chegando à sala de aula em que eles costumavam se encontrar quase vinte minutos antes do horário.

Não tinha sido uma boa ideia. Quanto mais tempo ela ficasse lá, mais chances havia de que o inspetor Filch passasse pela sala e a encontrasse. Aquilo parecia tão óbvio que Andrômeda tinha de admitir que andava ainda mais distraída do que acreditava, por só ter parado para pensar nisso quando já estava lá dentro.

Pensando que seria mais arriscado fazer todo o caminho de volta para as masmorras e retornar poucos minutos mais tarde a ficar ali esperando, a garota foi se sentar no peitoril de uma das janelas da sala e ocupou-se em ficar girando sua aliança de noivado em seu dedo, observando a maneira como a luz do luar se refletia nela.

Andrômeda tinha muitas joias, mas aquela, a mais simples de todas, era definitivamente a sua favorita. Ela desejava poder usá-la mais vezes, mas se contentava por estar usando-a pelo menos naquela noite. Pusera-a contando que Ted iria gostar de vê-la com ela.

Dessa forma, alguns minutos se passaram – ela não sabia dizer quantos foram, pois não tinha um relógio e sua ansiedade podia estar fazendo parecer que os minutos se alongavam infinitamente, e o que parecia vinte podia ser na verdade apenas dois.

Mas de toda forma, isso começou a preocupá-la. E se ele tivesse se esquecido? Ou Filch o tivesse pego? Ela engoliu em seco. Por que Ted não podia ter saído mais cedo, também?

Não conseguindo mais ficar sentada, ela se levantou e começou a andar pela sala. Outra ideia nem tão boa – a pálida luz da lua iluminava bem quando se estava logo abaixo da janela, mas a sala de aula era grande e impossível de ser totalmente iluminada, de modo que Andrômeda não tardou a esbarrar em uma cadeira que não estava vendo. Ela tentou segurá-la, mas a cadeira caiu, fazendo um estrondoso barulho conta o chão de pedra.

Ela congelou por um segundo, e no seguinte, conseguiu mover seus olhos para a porta. Não era desastrada, mas pelo visto, também não era muito sortuda. Filch poderia tê-la ouvido há corredores de distância. Poderia estar correndo para lá naquele exato momento. O coração dela acelerou e ela tentou prestar atenção a qualquer ruído externo, considerando seriamente se esconder para que Filch não pudesse vê-la se realmente fosse lá.

Contudo, conforme os momentos foram se passando sem nada acontecer, ela procurou se acalmar, e conseguiu se mover novamente. Agachou-se para levantar a cadeira que havia derrubado, mas quase a deixou cair de novo quando ouviu barulhos de passos apressados do lado de fora da sala.

Andrômeda esperava pelo pior, mas quem chegou à sala, afinal, não foi Argo Filch, e sim Ted Tonks. Seu coração voltou a acelerar quando o viu entrar pela porta e, deixando qualquer prudência de lado, ela correu até ele, sem conseguir evitar tropeçar em mais duas cadeiras no caminho. Ao alcançá-lo, atirou os braços em torno de seu pescoço, ficando na ponta dos pés para diminuir a diferença de altura que havia entre eles. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e ela mesma não sabia que estas eram de felicidade, de tristeza, de medo, de alívio ou de indecisão. Talvez fossem simplesmente uma grande mistura de todas essas emoções.

Pela primeira vez, Ted titubeou antes de retribuir seu abraço, mas quando o fez, pareceu por uns momentos que tudo estava bem novamente – ou pelo menos tão bem quanto um dia tinha estado, considerando que eles não tiveram um único encontro que não tivesse sido secreto. Tudo parecia estar como um mês antes.

Andrômeda queria passar o resto da noite ali, abraçada a ele, mas sabia que aquilo não seria possível. Logo, os dois tiveram de se separar, e ela voltou a ir sentar-se no peitoril da janela (tendo daquela vez mais cuidado no percurso), enquanto Ted deteve-se para fechar a porta da sala, e só em seguida foi sentar-se ao lado dela.

– Senti tanto a sua falta. – Disse Andrômeda, dando as mãos para ele.

– Eu também. – Confessou Ted. Ele olhava para o rosto dela, mas desviou o olhar rapidamente para suas mãos, e uma sombra de sorriso passou pelo seu rosto. – Você está usando sua aliança.

– Ela é muito bonita para ficar trancada em uma caixinha para sempre.

Ted inclinou seu corpo para frente, como se pretendesse beijá-la, mas mudou de ideia e tornou à posição que estava. Soltou uma das mãos da garota para colocar uma mecha dos cabelos dela para trás da orelha, e depois colocou essa mesma mão sobre o joelho.

– Drômeda, precisamos conversar. – Disse, assumindo um tom sério. – O que está acontecendo? Eu achei que tudo estava indo tão bem entre nós, mas agora ouvi falar que o Parkinson e você...

– Meus pais descobriram, Ted. – Cortou ela, já prevendo o final da frase dele e sem achar que aguentaria ouvir as palavras vindas da boca de Ted.

– Seus pais... descobriram? – Ele repetiu, mas parecia já esperar algo do tipo, embora desejasse profundamente estar errado. – Descobriram sobre...?

– Tudo, é. Narcisa deve ter contado dos boatos sobre nós para Belatriz, e ela pegou uma das cartas que você tinha me mandado e mostrou aos nossos pais. – Ela fez uma pausa antes de concluir, baixo: - E para acalmá-los, tive de dizer que o remetente era o Norman.

Ted olhou para os jardins cobertos de neve do lado de fora da janela com a testa franzida. Era quase possível ler seus pensamentos através de seus olhos, mas por alguns instantes ele não expressou nenhum deles em voz alta. Até que por fim, voltando a olhar para Andrômeda, ele falou a conclusão do que tinha acabado de pensar:

– Foi uma má ideia mandar todas aquelas cartas sem assinatura.

– Não foi, não. Eu só pude consertar a situação porque as cartas não tinham assinatura.

– Eu quis dizer que foi uma má ideia mandar qualquer tipo de carta. Eu podia ter evitado que tudo isso acontecesse...

– Talvez sim, talvez não. Quem me dedurou foi a Belatriz, Ted. E ela conseguiu fazer isso porque por acaso encontrou uma das cartas que você me mandou, mas se não fosse isso, ela poderia ter encontrado minha aliança ou qualquer outra coisa. Ela já sabia dos boatos, estava procurando uma prova para levar para os nossos pais. – Nem a própria Andrômeda tinha pensado assim até então, mas naquele momento, querendo fazer Ted parar de se culpar pela situação, aquilo acabou vindo-lhe à mente. E a fez sentir-se melhor, também.

Ele assentiu, mas ainda parecia incrédulo.

– Mas você ainda não me contou toda a história. O que aconteceu, exatamente? Ou melhor, como aconteceu? – Como ela, ele parecia estar falando mais baixo a cada palavra.

A mecha de cabelo que ele há pouco havia colocado atrás da orelha dela escapou novamente. Ela pegou o cacho e puxou-o, vendo-o se desenrolar com repentino fascínio, e soltou novamente, fazendo-o voltar ao seu formato original. Ted esperou pacientemente enquanto ela mexia no cabelo, tentando imaginar como poderia começar a história. Não tinha vontade de entrar em detalhes e ter de reviver aquela situação terrível pela qual passara, mas sabia que Ted merecia toda a verdade. Àquela altura, esse era o mínimo que ela devia a ele.

Então, Andrômeda começou do começo, contando de quando recebera a primeira carta dele e sobre o quanto se sentira bem. Contou sobre os dias difíceis com sua família e logo chegou ao natal, quando a bomba estourara. Então, a história ficou ainda mais lenta. Ela inclusive repetiu algumas das coisas que tinha dito e ouvido, pois depois remoera tanto tudo aquilo em sua mente que já tinha as conversas daquele natal decoradas.

Contudo, ela pulou a parte em que ela ia se trancar aos prantos no banheiro e a parte do jantar de despedida com os Lestrange e os Rosier, dias depois dos acontecimentos. E também, contara sobre o que ela e Norman conversaram no trem, mas não citara as palavras dele, pois sabia que isso deixaria Ted com uma expressão ainda pior do que a que ele já vez ao saber sobre a conversa. Ela sabia que ele chamaria a expressão que fazia de preocupação ou coisa do tipo, mas não era difícil entender que boa parte da dor que ele sentia era ciúmes.

Andrômeda queria dizer que estava tudo bem novamente, aproximar-se mais e beijá-lo depois de tantos dias desejando fazer isso. Mas ela continuou parada onde estava, olhando para ele. Eles precisavam daquela conversa, ela não podia interromper.

– Sabe o que eu estranho nessa história, Andrômeda? – Perguntou Ted, com a voz calma sem esconder certa mágoa. – Se você quer mesmo se casar comigo, por que não aproveitou a deixa e assumiu tudo? Você quer se casar com um sangue-ruim e continuar na sua família, é isso? Realmente preciso que você me explique suas intenções, pois estou ficando confuso.

Andrômeda precisou de um segundo para processar o que ouvira. Ted chamara a si mesmo de “sangue-ruim”. Quão amargo ele devia estar se sentindo para ofender-se dessa maneira? Ela costumava irritar-se quando o insultavam daquilo, mas com ele mesmo falando, ela não soube o que dizer ou fazer. Defender alguém de si próprio parecia bobagem.

Ela encarou seu colo, não sabendo sequer como olhar para ele.

– Eu também estou confusa, Ted. E estou preocupada com meus estudos. Não sei até que ponto a ira dos meus pais chegaria... Depois que terminarmos a escola eu vou pensar em algo.

– Tudo bem, eu entendo. Não precisa ficar dando desculpas. Eu estive pensando, nos últimos dias... Para mim, tudo é você. Às vezes é como se a magia, meus estudos em Hogwarts, tudo, não fosse fazer sentido com você aqui. Mas eu nasci trouxa, e só com onze anos descobri o mundo da magia. Não tenho nada a perder. Mas você nasceu nessa realidade; as coisas para você vão mais além do que para mim. – Ele estendeu a mão que pousara no joelho e colocou-a no queixo dela, para levantar sua cabeça delicadamente, fazendo-a olhar para ele. – Eu não posso obrigá-la a abrir mão dessas coisas. Não seria justo com você, e eu te amo tanto... Eu só quero que você seja feliz.

– Pois bem. – Disse Andrômeda, tocada com o discurso, mas desconfiada do ponto a que ele queria chegar. – Eu sou feliz com você. Com tudo acontecendo, a única coisa que eu sei, a única coisa que eu quero, é ficar com você.

– Fico feliz em ouvir isso. Mas no fundo, você não sabe realmente o que você quer, sabe? Você diz que a aliança que te dei é linda e que é feliz comigo, mas mesmo assim vai para a aula todos os dias usando um medalhão que ganhou de herança de família. A família que não aprova nenhum desses seus planos.

Ela não poderia negar isso. Ganhara um medalhão que fora de sua tia Walburga e, antes ainda, de sua avó Irma, como presente de aniversário de dezessete anos, e usava-o com bastante frequência desde então. Mas ela nunca adivinharia que Ted pensava assim sobre a joia – Andrômeda sempre a usara apenas como um adereço, nunca como algo sentimental como sua aliança.

– Isso não vem ao caso. – Ela retrucou. Pretendia manter o tom suave, mas certa aspereza tomou conta de sua voz sem que ela quisesse. Pigarreou para fazer sua voz voltou ao tom normal, percebendo pela primeira vez o quanto soava como sua mãe falando daquele jeito. Como soava como a Black que estava tentando provar não ser. – Posso jogar o medalhão fora, se quiser.

– Você não entende? A questão não é o que eu quero, é o que você quer. Porque nem eu sei mais o que é o certo a ser feito.

Andrômeda comprimiu os lábios, esperando que ele não estivesse querendo chegar ao ponto a que ela já achava havia certo tempo que chegaria. Mas se ele ia demorar para falar, precisou confirmar:

– Então você não quer mais...

– Quero. – Ele interrompeu. – Casar com você, ficar com você para sempre... Parece até um sonho, não é? – Com isso, Ted sacudiu a cabeça lentamente. – Mas só um sonho, e nunca a realidade. Porque não posso suportar pensar que estou pedindo algo que vai estragar sua vida e planos para o futuro...

Os planos para o futuro de Andrômeda nunca tinham sido dela, e sim de seus pais, e Ted nunca estragaria nada na visão dela – na verdade, sempre lhe parecera que ele era a única pessoa no mundo que conseguia fazer com que ela se sentisse a pessoa que realmente era, e não apenas a garota sangue-puro que se esperava que ela fosse.

Se ela usasse algum desses argumentos como resposta, talvez fizesse Ted entender melhor como ela pensava. Mas nada daquilo veio à sua mente no momento em que ela replicou com ironia:

– Você está estragando a minha vida? Quem você é, então, a Belatriz, meus pais ou o Norman?

Andrômeda certamente iria se arrepender de ter falado daquele jeito e tentar consertar se tivesse um segundo para pesar suas palavras, mas Ted não lhe deu chance, respondendo imediatamente e parecendo começar a ficar irritado:

– Pare com isso, Andrômeda! Veja, quantas vestes novas você ganhou no último natal? Quantas joias? Quanto ouro? Quantas coisas que eu nunca vou conseguir te dar de volta, se você abrir mão delas para ficar comigo? Acho tão engraçado essas pessoas ricas, nunca estão satisfeitas com nada.

Aquilo doeu mais do que qualquer coisa que ela já tivesse ouvido antes na vida dela, mas ela recusou-se a chorar.

– Bom, realmente. Como posso me casar com uma pessoa que acha que vestes e joias são tudo na minha vida? – Questionou, a voz estrangulada pelo choro reprimido.

– E como podem não ser? Se a sua família estraga tudo, algum motivo você tem de ter para mesmo assim querer ficar em casa... E não, eu também não vou fazer você abrir mão disso por mim. Não é justo e não vou fazer isso.

– Pare com isso! – Foi a vez dela dizer, levantando-se sem pensar – Você é tão teimoso, por que não me entende?

– Eu te entendi por muito tempo. Acho que chegou a hora em que você também devia entender. – Respondeu Ted, levantando-se também. Eles estavam aumentando a voz, o que era perigoso, mas não estavam com cabeça para pensar em Filch.

– Veja se você entende isso: e se eu contasse e ao invés de me deserdarem, me trancassem no quarto ou algo do tipo? Como íamos nos ver dessa forma? Você não pensa? E além do mais – ela emendou rapidamente, antes que ele pudesse retrucar – e quanto ao que... vem depois do casamento? Mesmo se tudo desse certo até aí, como você arranjaria um emprego em tempos difíceis como esse, com os comensais e Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado querendo acabar com todos os trouxas... E se matassem você? – A voz dela abaixou novamente – E se tivermos filhos e matarem eles por serem mestiços, o que eu vou fazer?

Ted pareceu enfim cair da pose e pensar sobre o assunto por um segundo, comprimindo os lábios e olhando para o lado. Andrômeda achou que ele tinha se convencido e ia pedir desculpas, mas o que acabou falando após a pausa foi:

– Bom, então alegre-se por não ter mais de se preocupar com isso. – E com isso, ele saiu da sala, embora não sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Bom, para quem desejou treta, aí está kkkk.
Até o próximo capítulo!



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