Meu quarto parecia uma lixeira privada nesse momento, pelo menos o meu lado do quarto. Para ocupar minha mente, peguei um livro. Não é muito normal eu ler mas estar numa outra dimensão era exatamente o que eu precisava nesse momento. Na verdade, esse livro fazia parte de uma saga. Segundo Johanna não era uma saga, mas sim A Saga! Na altura eu havia apenas revirado os olhos na sua direção enquanto pegava no livro sem muitas esperanças. Mas algumas dezenas de páginas lidas depois, eu havia me dado conta de que “O beijo das sombras” era realmente interessante. Toda aquela história vampiresca contada de um jeito diferente, me cativou, é verdade, mas eu fiquei encantada com a insolência e rispidez de Rose e seu amor inesperado por seu professor. Um amor proibido… Isso me soava familiar? Não queria pensar nisso.

Desde o momento que arrumei minhas malas e vim para casa de Zac, nunca mais soube de Peeta ou alguém mais naquela casa. Onde ele estaria? Em casa? Na academia? Porque não me ligava? Me mandava um torpedo, email, uma coruja que nem Harry Potter? Cada vez eu entrava em pânico ao pensar no assunto e cada vez eu me refugiava na dança ou na saga “Academia de Vampiros”. Dimitri não quer ver Rose, não quer qualquer tipo de contato, após mundos que ela correu atrás dele para o salvar da sua desumanidade. Ela estava morrendo por dentro com a indiferença dele. E ele sofrendo, pois não suportava encarar o seu amor após as barbaridades que cometeu com ela e com outros enquanto Strigoi. Isso me fazia pensar que ser Strigoi poderia ser bom… Não sentir nada, não sofrer, não amar…

– Como você está?

Johanna me interrompe a aventura da fuga de Rose. Coloco o marcador na página e fecho o livro. Cruzo minhas pernas e agarro uma almofada, como se ela me pudesse dar algum conforto.

– Se eu dizer que estou bem você iria acreditar? – Pergunto com um sorriso triste.

– Não. Kat, você não vai afundar de novo vai? – Ela me questionou suavemente.

– Eu não vou. Eu só preciso de um tempo para voltar a me erguer sobre meus pés e decidir meu rumo. – Eu afirmo confiante.

– E… sua mãe? Evelyn? – Eu enrijeci. Eu não queria falar sobre isso.

– Eu não sou a filha que ela quer. Fim de papo. – Suspirei – Ela me pintou de uma forma que eu nunca serei e não posso fingir ser quem não sou.

– Tudo bem Kat. Como sua irmã, eu apoiarei você em qualquer circunstância. – Ele me faz um carinho em meu joelho.

– E é por isso que te amo! – Eu revelo dando um abraço na minha irmãzinha.

– Mas Kat, eu não consigo continuar na academia sem você. Afinal, eu estava lá e…

– Joh, eu menti para proteger você e eu fiz porque quis! – Eu a encarei – Agora vai lá e arromba com tudo, está me ouvindo? Você não está sozinha, você tem Glimmer e Gale.

– Mas e você? Você está sozinha! – Ela rebateu e eu fiquei em silencio por falta de uma boa resposta para ela.

– Eu ficarei bem – Foi a única coisa que me veio à cabeça. – Eu sempre dou um jeito, não é? Dessa vez não será diferente.

Eu queria acreditar muito nessas palavras, mas eu não via jeito. Eu não sabia o que fazer da minha vida agora. Eu estava rendida a Peeta, eu moveria céus se isso significasse que o tinha a meu lado. Nunca o havia admitido mas era isso que sentia. Eu não acreditava em almas gémeas e essas coisas, mas eu podia jurar que nós deveríamos estar juntos, como se essa fosse a ordem natural do universo. Eu parecia uma lamechas, mas isso é o que acontecia comigo, eu me tornava uma romântica perto dele.

– Alguma notícia de Peeta – Ela adivinhou o rumo dos meus pensamentos.

– Não. Nada ainda… - Suspirei derrotada.

– Você não disse que estavam de boa quando ele saiu? Então, se agarre a isso.

Mal ela sabia que era a única coisa que ainda me mantinha sã. Era essa esperança à qual eu me agarrava, que nem uma ancora. Ele voltaria para mim, mais tarde ou mais cedo. Ou não voltaria?

Quando Joh me deixou para sair com Gale, pensei em voltar à minha leitura, mas depressa mudei de ideia. O motivo? Uma singela mensagem:

“ Vem ter comigo na Starbucks perto da academia.

Peeta”

Eu pego qualquer roupa, umas jeans e uma regata branca e pego minha bolsa antes de sair saltitando de casa. Meu coração parece inflar de alegria e percebo mais ainda como eu preciso dele. Ele queria se encontrar comigo, e, com sorte, ele me explicaria a razão do seu sumiço prolongado.

Quando cruzo a esquina, vejo ele mas ele entra no espaço antes que eu possa chamar por ele. Corro depressa e com tal correria eu fico tonta. Mas não uma tonturazinha. Eu sinto o chão fugir debaixo dos meus pés. Ofegante, me recomponho e procuro Peeta. E eu o vejo. Com Madge em seu colo e seus lábios nos dela. Sinto meu coração rasgar a meio. Ele me pedira para ir ter com ele ali. Claramente, não fora ele que me mandara a mensagem, pois ele saberia que eu poderia pegar eles a qualquer momento. Isso fora planeado por Madge. Mas isso não mudava o facto de que ele estava beijando ela. Isso não o fazia inocente. Angustiada e enjoada com a mistura de cheiro a café, leite, açúcar, saí para fora. Meu estomago revirava e eu senti os vómitos virem ao de cima. A situação toda mexeu com meu sistema nervoso que resolveu mexer com meu sistema digestivo. Sem muita alternativa, debrucei-me sobre um caixote do lixo público e deitei para fora meu almoço.

Pessoas me encaravam, umas enojadas, outras preocupadas. Percebi que era hora de sair dali antes que o casalinho me visse. Minha ancora se desprendeu de mim e eu estava à deriva a partir desse momento. Eu estava por minha conta e risco e decidida a dar um novo rumo à minha vida.