Peeta estava saindo do seu quarto mexendo no celular e dando um trago na garrafa de agua que ele possuía na mão. Ele levantou os olhos por um segundo e cruzou seu olhar comigo. Ele respingou a agua que ele tinha na boca para todo o lado e num reflexo ergui as mãos para evitar os respingos ainda que estivesse longe o suficiente para estar em segurança.

– Katniss?

Eu estava prestes a responder qualquer coisa quando a porta do seu quarto se abriu e Madge saiu toda sorridente. O que a irmã endiabrada de Glimmer está fazendo no quarto de Peeta? Festinha de rapazes uma ova. Ela passou a mão pelo peito de Peeta e só depois pareceu reparar em mim. E não gostou de me ver pela expressão entediada com que me presenteou.

– Oh Katniss! Então, como estás? – Ela perguntou numa compaixão falsa. – Sei que deve ser difícil… Perder tudo assim…

Eu podia bater nela? Podia, mas acho que isso não me daria mais pontos em relação ao loiro. Então coloquei meu sorriso mais radiante no rosto e decidi dar vida ao plano tresloucado de Glimmer que agora não parecia tão tresloucado assim.

– Ah Madge, na verdade eu estou muito bem. Bem, para falar a verdade, não estou tão bem assim… - Faço uma expressão um pouco entristecida para logo voltar com um sorriso. Sob o olhar curioso de ambos, dei uma voltinha sobre mim mesma bem lentamente. – Na verdade, eu preciso de um pouco de sol. Para uma latina, estou um pouco pálida.

Senti o olhar penetrante de Peeta em mim e os raio laser que Madge desejaria poder lançar em mim.

– Mas você não é latina querida – Madge esboçou um sorriso tão falso que deveria doer seu maxilar. – Você só viveu num país latino.

– Eu sei, mas eu mantive o espirito deles. Onde acha que eu aprendi a remexer esse corpinho?

Eu sei, eu estava jogado sujo e sendo muito competitiva. Mas nunca deixaria essa garota nunca me faria passar por inferior. Peeta estava imóvel assistindo ao nosso pequeno ataque de farpas.

– Hum, eu acho que esse tempinho no hospital fez você ganhar umas gordurinhas… - Ela opinou.

– Cara, se ela tem gordurinhas, eu quero ser um comilão compulsivo – Finnick responde por mim ao subir as escadas. – Você está uma gata nessa roupinha Katniss. Vais a um desfile da Victoria Secrets?

Finnick é e sempre será um arrasa corações. Adora provocar as mulheres. Eu nunca daria oportunidade a ele. Aliás, Peeta ficaria furioso se me visse sequer num climinha com Finick… Wait!! É isso mesmo… Glimmer é um génio do mal… Ainda assim, um génio.

– Muita gentileza Finnick, mas eu vou apenas até à piscina com as meninas e Gale.

– Esse Gale é um cara de sorte. – Finnick vai aproximando-se. – Rodeado de gatas numa piscina.

– Primeiro, Gale está com Johanna – Afirmo – E segundo, a piscina está disponível para quem lá quiser ir.

– Nós estaremos ocupados por aqui – Madge intervém – Certo queridinho?

– Ah… Eu… - Peeta parece aturdido.

– Katniss, porque a demora? – Glimmer sai do meu quarto e se depara com a irmã. – Madge?

– Oi maninha! Vim visitar o meio-irmão da tua amiga – Ela se enrosca mais em Peeta.

Eu quero pegar naqueles cabelos falsos e arranca-los um a um.

– Ele não é meu irmão – Falo entre dentes.

Glimmer apercebe-se da minha irritação crescente.

– Hã, eu preciso de você no quarto, vem.

Ela agarra um braço e me puxa para dentro. Johanna, que antes olhava para o celular, nos encarou. E percebeu logo que algo estava errado comigo. Ela sempre percebe.

– Ok, o que aconteceu lá fora? – Ela questiona de sobrolho franzido.

– Madge e provavelmente as amigas dela estão com os rapazes. E para variar, minha irmã está aprontando. – Glimmer explica.

– Eu sei que ela é sua irmã mas a minha vontade é de espancar ela! – Esbravejo.

– Acho que você precisa de ar fresco. Todas para a piscina! – Johanna fala entusiasticamente.

Eu desço com elas e felizmente não encontramos mais ninguém pelo caminho. Que se dane o plano, eu só quero mesmo relaxar. Colocamos as espreguiçadeiras na berma da piscina e nos deitamos ao sol. Gale surgiu quando estávamos a acomodar-nos e ele e Johanna transformaram-se numa espécie de bola humana, de tão embrenhados que estavam um no outro na pequena espreguiçadeira.

Eu apenas fechei os olhos e deixei todas as vibrações negativas que assombram fluírem para fora do meu corpo. O sol dá uma sensação quente gostosa na minha pele. Eu quase ia adormecendo se um bando de adolescentes irrompesse da casa para a piscina. Apesar disso mantive-me de olhos fechados. Não queria lidar com Madge naquele momento.

Senti um vulto tapar o sol antes de sentir o toque na minha pele. Uns dedos percorreram minhas pernas.

– Finnick, pode já ir parando com isso – Avisei ainda de olhos fechados e ouvi sua gargalhada rouca, que se o Mellark não me tivesse pegado de jeito, eu com certeza teria dado uma voltinha no brinquedo. Ai Mellark, porque você tinha que me complicar a vida?

– Ora, eu só queria saber como é sentir a pele de uma latina – Ele se fez ingénuo.

– Então arranje uma latina para você! – Retruco, abrindo os olhos e me sentando, encontrando os olhos dele ao nível dos meus.

– O que acha que estou tentando fazer linda? – Ele me presenteia com um sorriso lindo.

Não consigo deixar de retribuir o sorriso.

– Eu sinto-me lisonjeada mas…

– Mas você está caidinha pelo meu amigo – Ele completa. Eu fico em choque ele solta um risinho. – Está na sua cara Kat.

Eu olhei em volta para ver se alguém estava ouvindo nossa conversa. Estavam todos entretidos com outras coisas. E Peeta, bem, ele estava do outro lado da piscina, empoleirado e com os pés na água enquanto Madge fazia olhinhos e charme… Me estava dando vómitos.

– Então porque continua “arrastando asa” para mim? – Pergunto, não irritada, mas curiosa.

– Porque eu sei como isso aumenta a autoestima de uma garota. E, sem querer ser otário ou insensível, acho que você está precisando de um incentivo para se reerguer.

– Você é um fofo – Afirmo com sinceridade.

– Só não gosto de ver garotas bonitas como você se destruírem. E se você quer minha opinião, se eu fosse Peeta eu escolheria você ao invés da Madge. Aquela garota me dá nos nervos.

Eu sorrio para ele sem saber exatamente o que dizer e me recosto novamente. Finnick me dá uns tapinhas na perna e atira-se para a piscina.

– Peeta! – Madge dá um gritinho estridente enquanto se finge de irritada por qualquer coisa que eu não captei.

– Pelo amor da santa – Resmunguei, atraindo a atenção dos restantes.

– Você disse alguma coisa? – Madge questionou de cara feia.

– Nada não… - Falei em tom entediado.

– Tu realmente achaste muito boa não é Katniss? Mas olha só, vou contar um segredo a você, você não é ninguém querida. – Ela deu um sorriso triunfante.

– Ora, sua… - Joh começou a levantar-se mas Gale a segurou pela cintura e puxou-a para baixo.

Madge, pouco contente, aproximou-se mais ainda de Peeta e deu-lhe um beijo na bochecha. Ainda que fosse num local inocente, a forma como ela o fez, foi tudo menos isso.

– Eu não me acho boa. – Afirmo. – Eu só sou como sou.

– Ahh claro… Só por essa seu bikini, já mostra e exibicionista que você é!

Senti a raiva de novo, mas desta vez, deixei ela me consumir. Peeta nem teve a decência de me defender do veneno da garota.

– Você me acha exibicionista? Então está na hora de me exibir de verdade. Busquei meu celular ao meu lado e coloquei uma música para tocar. Tentei exibir o mais que pude meu corpo enquanto inventava a coreografia à medida que dançava. Um suave twerk nunca fez mal a ninguém certo? E abanar meu corpo dessa maneira extravasava toda a energia a mais que eu necessitava colocar para fora. Eu terminei com respiração ofegante e um sorriso nos lábios, não um sorriso alegre, mas um sorriso determinado. Peeta tinha a mandibula cerrada e Madge havia desaparecido dali. Me sentei ao lado de Finnick perante o olhar atento de Peeta. Os restantes permaneceram calados e se debruçaram no que estavam fazendo anteriormente.

– Posso saber o que está fazendo? – Peeta pergunta em tom ríspido ao se aproximar de mim.

– Peeta deixa a garota em paz – Finnick veio em minha defesa.

– Não se meta Odair.

– Não! Você que precisa dar o fora! – Me levanto, enfrentando o Mellark.

Peeta me encara e quando percebo ele está me puxando na direção da casa. Eu tento debater-me mas depois que empurra a porta da cozinha deserta e entra, ele me pega pelos quadris e continua andando até à banca onde me faz sentar. Seus lábios se apoderam dos meus com uma ferocidade que eu não sentia desde aquele dia no atelier da escola. Eu sou fraca e assim sendo, eu me deixo levar pela sua investida. Quantas vezes eu passei na minha cabeça o momento em que Peeta voltaria atrás na sua decisão. E porém, nenhuma vez imaginei isso.

Num ímpeto, o puxei para trás com força e desci da bancada. Sua respiração estava entrecortada e os lábios vermelhos.

– Você quer me enlouquecer? – Gritei, o pegando de surpresa. - Parabéns, você conseguiu. Agora, você pode me deixar seguir minha vida? Se você não consegue ficar comigo, não continue me prendendo a você.

– Katniss, eu… Me desculpe, eu fui levado por uma lembrança. Você dançando agora me fez lembrar a noite em que nos conhecemos. Você lembra? – Eu assinto, de braços cruzados, me controlando para não cair nos braços dele.

– Não pode ser assim Peeta – Eu imploro – Ou você me deixa ficar com você ou me livre de vez.