– Eu não sei como dizer isso para você mas… EU AVISEI VOCÊ! – Gritou ela.

– Minha cabeça – Choraminguei – Dá para falar mais baixo?

Eu não estava mais com ressaca mas minha cabeça, por um motivo desconhecido me doía horrores. Pouco antes da hora de almoço, Johanna havia voltado e me arrastado para fora da cama para um almoço com Glimmer. Por muito que eu adorasse fofocar com as garotas, adorava muito mais dormir e não era tão engraçado quando o assunto era eu.

– Tens noção do que fizeste certo? – Glimmer fala. – Quer dizer, eu não estou criticando nem nada mas na minha opinião não devias dar esses sinais contraditórios a ele se não queres nada com ele.

– O problema, – Johanna diz a Glimmer como se eu nem estivesse ali – É eu eu acho que nem ela sabe o que quer.

– Hey! – replico – Isso não é justo.

– Eu acho melhor você dar um tempo – Sugere a loira – Evitar cruzar com ele…

– Não sei se percebeu mas andamos na mesma academia. – Saliento. – Seu atelier é no mesmo corredor que nossas salas de dança.

– Eu sei, mas quando conseguir, evite – Ela terminou como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

E nem de propósito, ele e os amigos, Finnick, Marvel e Tresh surgem ao cruzar a esquina.

– Viu? – Eu levanto os braços exasperada. – O que eu deveria fazer? Correr como louca agora?

As duas não se pronunciam, sabendo que eu tenho razão. Eles vêm todos na conversa. Ao passar por nós nos cumprimentam e seguem seu caminho. Peeta dá um aceno de cabeça para mim e segue o caminho dele.

– Hum, afinal, acho que não vai ser tão difícil – Constato. Peeta está dando –me o tratamento do silencio, eu percebo. Oh bem, só facilitará para mim.

Continuamos nosso almoço e eu desvio o assunto para Johanna e Gale. Ela contrariada por ser o centro da conversa, explicou que estão se conhecendo, ou seja, não estão namorando ou nada do género. Mas na minha opinião, isso será inevitável.

–Algo me está incomodando – Eu falo me lembrando de algo.

– O quê? Perguntam as duas.

– Nossa companheira de quarto nunca apareceu…

– Qual o nome dela, sabem? – Glimmer questiono. Estando há mais tempo na escola, provavelmente ela conhecia melhor os alunos.

– Annie. Annie Cresta – Joh responde por mim.

– Annie? – Ela nos olha numa expressão indecifrável. – Oh, bem…

– O quê? O que foi? – Perguntei curiosa.

– Vocês não ouviram isso de mim tudo bem? – Nós assentimos – Annie é uma estudante na academia. De pintura.

– Da classe de Peeta? – Ela assentiu. – Porque não chegou ainda?

– Porque ela está presa… - Ela se afunda na cadeira pesarosa.

– O que ela fez?

– Ela teve um surto e atacou um professor. O que é estranho. Ela sempre foi uma doce menina. E de um dia para outro, ela parecia outra.

– Ela foi presa por atacar um professor? – Arqueei a sobrancelha.

– Ela quase matou ele – Eu fiquei em choque.

– Então você está dizendo que ela ficou louca. – Joh perguntou.

– Eu não diria isso… Acho que foi algo momentâneo. Como eu disse, ela sempre foi uma fofa.

No fim do almoço Glimmer nos convidou para sua casa para treinarmos alguns passos que demos nas aulas. Um bom dançarino não pode vacilar ou descuidar os treinos. Quando chegamos a sua casa percebi que era uma daquelas casas típicas de cerca branca, super romântico e familiar. Alguns carros estavam estacionados em frente. Glimmer bufou.

– De novo? – Ela abriu a porta com violência mas ninguém nem percebeu. Estava bastante gente lá dentro. Percorrendo o espaço com o olhar percebi que grande maioria era da academia. Então era assim que eles aproveitavam seus fins-de-semana? Não pude deixar de ficar admirada. Achava que eles eram daqueles que estudavam todo fim-de-semana sua arte, ou bate-papo nos cafés, parques… Nunca pensei em festas tão vulgares como esta. E quando digo vulgares quero dizer que parecia mais uma conferência de hormônios.

– Você planeou a festa? – Pergunto estupidamente. Pela sua cara irritada, é óbvio que não foi ela.

– Glimmie! Você chegou! – Uma garota que parecia uma top-model desfilou até nós. – Que bom que trouxe suas amigas para a festa. Tem mais garotos do que garotas nessa festa.

Ela bufou mas pude perceber que ela estava bem com isso. Claro. Ela sabia muito bem o porquê. Os garotos à volta pareciam adorá-la como uma deusa e as meninas pareciam brotar inveja por todos os poros. Ela emanava sensualidade e beleza. Claro que ela parecia usar tudo isso a favor dela. Não pude não admirar toda a sua confiança. Sua roupa consistia numa minissaia em xadrez preto e verde, num estilo de colegial e um top super curto e provocante. Ela tinha mais pele descoberta do que coberta. Nos pés umas sandálias amarelas com um salto de quinze centímetros. Eu suspirei por elas. Eu queria aquelas sandálias. Umas pulseiras douradas e argolas de ouro terminavam o visual. Nos seus lábios um batom cor de cereja bem apelativo em cinza. Sua cor de cabelo era idêntica à de Glimmer. Porém, a garota à nossa frente tinha pintado a metade inferior de seu cabelo em alguns tons de vermelho ou rosa, eu não sabia dizer.

– Madge! – Glimmer repreendeu mas eu não estava prestando atenção. Não agora que estava vendo Peeta. Ele estava num canto, mexendo no som e falando animadamente com Finnick. Felizmente, ele ainda não havia percebido minha presença.

– Ei! A festa é minha e você não tem o direito de terminar ela! – A Madge retrucou.

– Ah é? – Vi que Glimmer ia tomar uma atitude drástica então eu me coloquei entre ela e a garota, mesmo quando ela avançava.

– Glimmer, respira – Eu falei.

– Vamos para cima – Joh sugeriu. Talvez fosse melhor mesmo.

– Ah! – Madge gritou – A velha Glimmer amava festas! Cadê ela?

Eu olhei de volta e percebi que ela tinha chamado a atenção de todos, inclusive de Peeta. Cada vez gostava menos dessa garota.

Subimos e soltamos Glimmer que nos abriu a porta do seu quarto.

– Me desculpem por isso. Minha irmã por vezes pode ser bem irritante e irresponsável. – Ela pediu.

– Não tem problema. Aliás eu já teria descabelado a piranha!

– Nós sabemos que teria Katniss – Joh brincou.

Glim já nos tinha falado da irmã Madge que estudava na turma de canto, um ano abaixo ao nosso. Mas essa era a primeira vez que me cruzava com ela. De facto, ela era tudo o que Glimmer havia dito sobre ela.

– O que ela quis dizer sobre a velha Glimmer adorar festas? – Questionei, recebendo de Johanna um olhar reprovador pela minha falta de tato.

– Nada tão grande assim como ela quis parecer ser. – Ela suspirou – Eu só era mais irresponsável, bebia demais, ultrapassava todos os limites… Mas eu percebi que me estava a destruir – Ela hesitou por um momento – E Annie me ajudou a manter –me fora de problemas.

Eu queria dizer o quanto isso era irónico agora mas preferi estar calada. Em vez disso me sentei ao lado dela na cama em silencio.

– Então – A morena falou – Temos duas opções. Sabotar a festa ou dominar a festa!

– Hum eu acho que dominar a festa magoaria muito mais o ego inflado da Madge. – Opino.

– Eu concordo! – Um brilho excitado passa nos olhos da Glim. – Meninas! Para o meu closet agora.

Não demorámos muito a escolher o que queríamos vestir. Mas uma coisa era certa, estávamos muito mais pegáveis que Madge. E nem nos incomodamos em colocar maquilhagem. Afinal, quem é lindo não precisa de make-up. Super animadas e desejosas de ver o sorrisinho arrogante da garota cair descemos as escadas e vimos os garotos percorrer nosso corpo com os olhos. Madge cerrou os olhos. Ignorando-a eu passei ao seu lado, dando um leve empurrão de ombros e peguei uma bebida.

Dei um gole e fiz uma careta. Estava quente. Fui até às meninas que estavam num sofá relaxadas com garotos à sua volta falando animados. Sem fazer cerimónia, e me atirei para o meio das duas rindo. Madge Fazia o que podia para dispersar a atenção sobre nós mas nós eramos “carne nova” da academia e sendo de outro país, a curiosidade deles se intensificava. De vez em quanto Peeta olhava na nossa direção.

– Ei! Vocês são da área de dança certo? – Finnick o amigo dele falou. – Podem fazer uma demonstração para nós…

– Nós já fizemos isso na festa de abertura de semestre lembra? – Eu o encaro.

– Ahhh mas se são tão boas quanto dizem não terão problemas em atuar de novo.

– Finnick deixa quieto. – Madge fechou a cara. – Elas não são tudo isso.

Claro que se era para desafiar Madge, o assunto já era outro. Nós nos entreolhamos e nos levantamos. O pessoal bateu palmas em expectativa. Glimmer caminhou graciosamente até ao som e mudou a musica.

Então nos movemos. Dançávamos uma coreografia que fizéramos as três para a aula de criatividade artística. Ficou uma coreografia legal eu acho. E pelo olhar embasbacado de algumas pessoas eu diria que estávamos nos saindo muito bem. Madge estava bem irritada mas eu não me importava. Não até ela ir choramingar para perto de Peeta. As pessoas começaram a ocupar o espaço dançando ao som de electro- latino. Joh percebeu minha mudança de humor e olhou na mesma direção que eu.

– Ciúmes? Eu achava que você queria manter a distância dele – Ela provocou.

– E quero! – Grunhi. – Só acho que ela é muito cara de pau.

– Claro… - Ela acreditou nem um pouco. Que se dane!

Eu caminhei com confiança para o lado deles. Quando Madge se apercebeu da minha presença ela enrugou a testa. Ignorei e puxei Peeta para mim dando um beijo bem quente mas descontraído. Ouvi Madge resmungar alguns palavrões e pisar para fora dali. Me afastei de Peeta que estava com expressão confusa.

– O que foi isso?

– Só dando o troco a Madge – Falei.

Sua expressão passou de confusão para fúria. Num impulso ele agarrou meu braço, não com força suficiente para me magoar. Ainda assim, me assustou.

– Eu não sou seu brinquedo Katniss. – Ele sussurra para mim lentamente – Então pára de brincar comigo.

Dito isto ele desapareceu, saindo porta fora e entrando no seu carro.