O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 8
A Mentira


Notas iniciais do capítulo

Comentem ao final da leitura. Espero que gostem!



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Todos estavam reunidos em uma sala enorme que ficava no subterrâneo, no mesmo nível da cozinha. Ralph a intitulara Sala de Treinamento, um nome não muito original mas que fazia total jus à sua função.

Ralph não era exatamente um professor. Ele tinha todo o material necessário, e distribuía livros aos outros. Era obrigação de cada um lê-los todos os dias, e utilizarem a Sala de Treinamento para pôr em prática o que foi lido. Ele dissera algumas coisas a Kenrick: tinha dezenove anos, e já sabia tudo o que era necessário. O curso de magia numa escola durava sete anos, dos onze aos dezessete, dissera o Lestrange, mas ele acrescentou que, quando se está em casa, tranquilo e concentrado, é mais fácil aprender os feitiços e todo o resto. Kenrick não sabia se aquilo era exatamente verdade, mas não perguntou nada a Ralph.

A Sala de Treinamento era um lugar meio vazio e ao mesmo tempo gigante; o lugar perfeito para estar se você planeja fazer algo inconsequente ou estrondoso. Ralph ordenou que todos ficassem em linha (sim, ele ordenou, e Liadan nem parecia estar tão irritada com isso) e começou a falar com uma voz estranha, que nem Kenrick nem Liadan tinham ouvido antes. Era uma voz carregada de orgulho, um tanto mandona e, ao mesmo tempo, uma voz de líder. Quando ouviu isso, Kenrick observou que a irmã se remexeu meio inquieta ao seu lado.

— Nós estamos aqui nesta sala por um motivo — começou Ralph. — Não somos simplesmente um reles bando de bruxos descontrolados, tampouco rebeldes sem causa. Não somos adolescentes malucos que querem apenas ver a baderna e o caos corroerem o mundo bruxo. Não somos jovens inconsequentes e idiotas. Não somos nada disso!

Um silêncio estranho pairou entre os jovens por um momento. Ralph respirou fundo e prosseguiu com seu discurso.

— Estamos aqui, meus caros, porque a vida nos tirou nossos direitos. Porque nossos pais foram injustiçados e maltratados e nós estamos recebendo tratamento igual. Porque o único bruxo que se atreveu a defender-nos, agora está morto. Porque tudo parece conspirar contra nós — ele olhou para todos, um olhar meio louco, meio determinado. Em seguida, abriu um sorriso débil — Aqui, teremos a chance de vencer. De retomar o que é nosso por direito. De nos vingar.

Por um momento, Kenrick se perguntou se ele tinha mesmo feito a escolha certa ao ir para lá. Ralph não lhe parecera tão doido no dia em que o conheceu. Mas, ao olhar para o lado, ele viu que Liadan estava sorrindo.

— Lorde Voldemort, o antigo líder desse grupo, foi morto por Harry Potter. Cultivamos os mesmos ideais que ele tinha para com os outros: o sangue bruxo deve prosperar. Os nascidos trouxas devem deixar nosso mundo — ele fez uma pausa momentânea para explicar o que eram trouxas para Liadan e Kenrick. — E nós, sangues-puros e mestiços, devemos reinar solenemente. Mas o que realmente está acontecendo hoje em dia? Exatamente o contrário. Nascidos trouxas ocupam cargos altos no Ministério. Sangues-puros são abandonados em meio à miséria e à escória. Tudo está errado.

Ralph andava de um lado para o outro, sério, com as mãos entrelaçadas nas costas.

— Portanto, eu lhes digo: nós, Comensais da Morte, estamos aqui para tornar o mundo um lugar melhor. Precisamos pôr fim à desordem que está a sociedade bruxa. Não podemos permitir que isso continue. Temos que derrubar o Ministério. Agora, repitam comigo.

O que Ralph falou depois era uma espécie de juramento. Todas as palavras que ele dizia, os outros repetiam em uníssono. Liadan e Kenrick tentaram acompanhá-los: Eu, Comensal da Morte, prometo não descansar até que esteja livre do sangue trouxa. Prometo fazer o possível e o impossível para ganhar essa batalha. Prometo destruir o Ministério da Magia. E prometo vingar a morte de nosso tão adorado mestre, Lorde Voldemort, que agora jaz morto. Prometo matar Harry Potter e todos dos quais ele obteve alguma ajuda. E, acima de tudo, prometo proteger meu mais novo líder, Ralph Lestrange.

Ao ouvir isso, Liadan ficou vermelha de raiva, as veias saltaram das têmporas. Kenrick olhou para Ralph. Ele prometera não dar ordens. Mas era possível ver um pequeno sorriso de satisfação na cara dele: o desgraçado mentira.E agora, os dois eram escravos condenados a servir um idiota.

Liadan ia explodir, disso Kenrick tinha certeza. Mais cedo ou mais tarde, Ralph estaria com fogo na cabeça, ou no corpo inteiro, conhecendo a fúria da irmã. Mas, ao virar o rosto para ela, Kenrick simplesmente ficou de boca aberta.

A vermelhidão se esvaíra do rosto de Liadan, e as veias das têmporas voltaram a ficar invisíveis. Ela não mostrava sinais de que iria sair fora de controle. Porém, o que mais chocou Kenrick foi que ela estava sorrindo de maneira afetiva para Ralph, como se ele não tivesse acabado de se proclamar o líder dos Comensais da Morte. Por que ela estava agindo daquela maneira?

— Se continuarem com sua lealdade e se fizerem seus trabalhos obedientemente, serão presenteados com nada menos que isso — disse Ralph Lestrange após o juramento, puxando a manga do braço esquerdo e exibindo uma tatuagem sinistra, que começava acima do pulso: uma caveira com uma cobra saindo da boca e dando vários nós pelo caminho que percorria. — A Marca Negra!

Liadan e Kenrick encararam o símbolo. Quase parecia estar se mexendo. Porém, não deu para ver direito, pois Ralph tornou a esticar a manga da blusa, cobrindo a tal Marca Negra.

— Acho que estamos preparados para começar a praticar agora — Ralph disse. — Scabior, ajude o Greyback com o Petrificus Totalus. Malfoy, pela milésima vez, veja se consegue lançar um Crúcio decente. Vocês, Blackwood, vêm comigo.

Ele conduziu Kenrick e Liadan até um canto da sala, bem distante dos outros. Havia um armarinho de madeira escura na parede, e Ralph abriu-o e tirou dois pacotes retangulares lá de dentro. Entregou um para cada irmão.

— São suas varinhas. Serão usadas para conjurar feitiços — Kenrick retirou a tampa do seu pacote, que guardava uma varinha de cerca de 25 centímetros, de uma madeira que parecia ser de carvalho.

— As duas contém uma pena de Fênix no núcleo — disse Ralph.

A varinha de Liadan era negra, um pouco flexível, curvada ligeiramente para um lado. Ela examinou-a com olhos fascinados, um olhar que Kenrick se perguntava como havia encontrado caminho em meio a raiva da garota.

— Obrigada — disse ela. Kenrick virou seu rosto para a irmã com uma cara de Diabos, o que pensa que está fazendo? Ela nunca agira daquele modo.

Ralph devolveu um sorriso para Liadan.

— Eu mesmo escolhi — ele falou, com um ar de superioridade. — Não achei que fosse seguro levá-los até o Beco Diagonal, pelo menos por enquanto. Se tiverem algum problema com elas é só avisar. Ah, sim, é bom testá-las.

— E onde faremos isso? — questionou Liadan.

Ralph apontou para a outra extremidade da sala, onde Marshal, Harold e Paige estavam treinando feitiços.

— Ali há tudo o que precisam — falou Ralph.

Eles andaram até o lugar sem muita pressa. Havia uma mesa enorme estendida paralelamente à parede. Nela estavam dispostos frascos e mais frascos de diversas coisas as quais os Blackwood não conseguiam dar nome. Harold Greyback mirava Marshal Scabior com a varinha, murmurando Petrificus Totalus com sua voz de cachorro, mas errando o companheiro por vários metros. Paige Malfoy, por sua vez, estava debruçada no chão, de costas para eles, falando Crucio! Crucio! a cada cinco segundos. Quando Kenrick girou um pouco o corpo pôde ver que a garota estava testando o feitiço num bicho esquisito, pequenino, azulado e com uma cara malvada. Parecia até uma fada...

— Aquilo é um diabrete da Cornualha. São bastante confundidos com fadas — explicou Ralph, ao ver o olhar curioso de Kenrick.

Um barulho interrompeu-os. Liadan acabara de botar fogo em um alvo, agitando a varinha fervorosamente na direção do objeto.

— Uau! — exclamou ela, surpresa. — Isso é... uau.

Ralph sorria para a garota. Em seguida, fitou Kenrick e agitou as mãos.

— Vamos, Kenrick, teste a sua — e Kenrick também experimentou. Mirou em outro alvo, agitou a varinha e fez um gesto com ela. No mesmo instante, o alvo se desfez em vários pedaços, espalhando-se pelo chão.

Kenrick não pôde evitar: riu. Era extremamente divertido fazer aquele tipo de coisa.

O resto do tempo na Sala de Treinamento passou com Kenrick e Liadan assistindo aos outros executando feitiços. Eles não podiam fazer muita coisa por enquanto, já que não conheciam nada sobre magia. Mas Ralph prometera entregar a cada um dos gêmeos um exemplar do Livro padrão de feitiços, de uma velha bruxa chamada Miranda Goshawk. O combinado é que eles leriam o que pudessem e tentariam pôr em prática o que foi aprendido no dia seguinte.

No final do treinamento, Ralph disse, sempre havia um duelo. O daquele dia era entre Paige Malfoy e Harold Greyback. Os dois se posicionaram a alguns passos de distância um do outro, fizeram uma espécie de reverência e começaram a lutar.

Paige lançou o primeiro feitiço: Rictusempra, disse ela, ao mesmo tempo que um raio irrompia de sua varinha em direção a Greyback, que conseguiu parar o ataque gritando Protego! Em seguida, a Malfoy lançou uma onda de Estupefaças, ferindo o adversário algumas vezes. Mas Harold parecia ser muito forte e conseguiu lançar um desajeitado Petrificus Totalus, só que o encantamento saiu tão sem pontaria que quase atingiu Marshal Scabior, que estava assistindo junto com os outros. Por fim, Paige tentou executar um Crucio, mas nada aconteceu. Foi a deixa que Greyback encontrou para lançar Estupefaça e derrubar a Malfoy no chão.

— Muito bem, Greyback! — disse Ralph, batendo palmas para o garoto. — Está cada vez melhor. Paige! Outra vez? — a garota pareceu desconcertada, levantando-se do chão com esforço.

— Desculpe! Prometo que na próxima vez faço direito... — redimiu-se ela, mas Ralph não prestou atenção.

Quando todos saíram da sala, Ralph entregou um livro de Miranda Goshawk para Kenrick e outro para Liadan. A garota foi correndo para seu quarto, se trancando lá, mas estava empolgada demais para ler. Isso não deu a Kenrick tempo para perguntar à irmã o que estava acontecendo com ela e porque ela estava se comportando daquela maneira.

O almoço passou rápido. Enquanto Kenrick enfiava os dentes em carnes suculentas e cheias de molho, Ralph dava dicas aos outros de como melhorar seus feitiços. Liadan, sentada ao lado do irmão, comia silenciosamente. Ela está tramando alguma coisa, pensou Kenrick.

— Você — disse ela, sem mais nem menos.

Todos na mesa focaram o olhar em Liadan.

— Quem? — quis saber Ralph, parando seu garfo com bolo de carne no meio do caminho.

A garota encarava Paige Malfoy. Em seguida, todos também estavam olhando para ela.

— O que tem eu? — espantou-se ela, arqueando as sobrancelhas loiras.

Liadan semicerrou os olhos.

— Não sente raiva?

Liadan estava decididamente com algum problema. Que tipo de pergunta era aquela?

— Raiva de quê?

Liadan olhou para ela como se Paige fosse retardada.

— Da sua família. De quem mais? Digo, você não se sente traída? Seus próprios pais decidiram trocar a sua liberdade pela do seu irmão. Isso não te dá raiva?

Paige estranhou a pergunta. E não respondeu.

— De qualquer forma, não se preocupe — prosseguiu Liadan. — Como Ralph ressaltou quando me conheceu: agora, seremos como irmãos.

E ao ouvir aquilo, uma lembrança queimou a cabeça de Kenrick: Liadan, segurando a boneca roubada de Liza.

Para isso servem as irmãs”.


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