O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 24
Mártir




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— O quê?!

Hermione Granger e seu marido estavam boquiabertos. Na verdade, todos que cercavam Elora, Scabior, Liadan e Kenrick estavam sem respiração. Mesmo o grande Harry Potter não encontrava ar para transmitir em palavras as suas dúvidas.

Narcisa avançou para frente, parecendo uma mártir se preparando para a morte em nome do povo.

— Meus filhos não vão para Azkaban — disse ela, pondo-se na frente deles, a expressão severa. — De jeito nenhum.

O quê?, pensou Liadan. Ela queria dizer um monte de coisas, mas nada saía. Que filhos, do que você está falando? Você é uma Malfoy, é mãe de Paige, não é minha mãe, eu não tenho mãe, eu não tenho mãe...

— Não — disse Ronald. — Não é possível...

— Ah, é completamente possível, sim — interrompeu ela.

— Então como é que você... — começou o outro, mas Hermione levantou sua mão para o braço dele, como se quisesse que ele não interviesse.

Narcisa notou sua brecha e começou a falar.

— Ouçam-me, todos — chamou. Respirou fundo, olhou para baixo, para Kenrick, para Liadan, e depois voltou a encarar a plateia. — Há dezoito anos, Lorde Voldemort estava se preparando para aniquilar a escola de Hogwarts. E você. — ela apontou para Harry. — E todos os seus amigos. Todo mundo! Sim, ele quase conseguiu atingir seus objetivos, como todos vocês sabem. Mas ele, pelo menos por um instante, considerou a hipótese de que talvez ele não vencesse...

— Ora, vamos, Voldemort pensou que iria perder? — interrompeu Ronald. — Conte-me alguma verdade.

— É verdade — disse Narcisa com convicção — É a mais pura verdade. O Lorde das Trevas era inteligente o suficiente para saber quando as chances não estavam tanto a seu favor.

Algumas pessoas se incomodaram por ela usar o termo “Lorde das Trevas”.

— E então, ele decidiu algo que nem eu, nem Lúcio, nem Draco, nem ninguém mais esperava: quis deixar um herdeiro. Na hora, achamos que ele estava brincando. Mas, não, ele falava mesmo a verdade. Queria que seu legado fosse transmitido se ele morresse, e queria ter um aliado de sangue.

Narcisa tomou fôlego e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Como ele não tinha nenhuma esposa... eu...

Vários bruxos fizeram um “Urgh” de nojo, quando perceberam o que Narcisa quis dizer. Alguns chegaram a botar a língua para fora e simular vômito.

— Pelas... barbas... de... Merlim — disse Harry Potter, os olhos arregalados demais. Em seguida, abriu a boca, e tornou a fechá-la, mudo, sem saber o que dizer.

Narcisa prosseguiu:

— Lúcio não disse nada contra, obviamente... mas eu mesma não sei se queria ter feito o que fiz. Só que aquele era o Lorde das Trevas, e ninguém entrava na sua frente. Não tive escolha — ela baixou a cabeça, sentindo vergonha. — Eu não tive saída, não pude fazer nada... era isso ou morrer. Eu, durante um tempo, até fiquei animada com a ideia de uma criança... mas durante meu período de gestação, um curandeiro do St. Mungus me disse que... que eram trigêmeos.

Liadan estava paralisada. Trigêmeos? Mãe? Que história era aquela? Ela se perguntava se Kenrick estaria tão confuso quanto ela, mas o garoto parecia estar alucinado, em outro mundo, devido às más condições com que fora tratado.

— E, bem, esses trigêmeos eram Liadan, Kenrick e minha outra filha, Paige Malfoy — prosseguiu Narcisa. — Os filhos de Lorde Voldemort, os herdeiros do sangue sonserino... meusfilhos.

“Pouco tempo depois de eles nascerem, Voldemort morreu na Batalha de Hogwarts. Eu fiquei me perguntando o que deveria fazer com as crianças... e tomei uma decisão: resolvi que eu iria criá-las como bruxos comuns. Que elas iriam esquecer do tão astucioso legado do seu pai e iriam ter uma vida normal, ir para Hogwarts, entrar na Sonserina, visitar o Beco Diagonal...

“Porém, dois obstáculos entraram na minha frente, e eles se chamam Lúcio Malfoy e Kingsley Shacklebolt, o Ministro da Magia.”

Muitos bruxos olharam uns para os outros, suspeitosos. Até tinham esquecido de Shacklebolt. Onde é que ele estava?

Mas a sua imponente altura não foi tão difícil de reconhecer. Com um olhar mais atento, Narcisa localizou-o no meio da multidão que a encarava, e logo, todos os olhos das proximidades se direcionavam a ele.

Kingsley nada disse, como todos que estavam à sua volta.

— O Ministro — disse Narcisa com certo desdém, olhando para ele. — Veio atrás de nós, querendo nos levar para Azkaban, mesmo depois de Potter dizer que eu o ajudei a se salvar de Voldemort. Pois bem, Lúcio estava morrendo de medo, completamente assustado. Os dois fizeram um trato: se não fôssemos presos, e incluo meu filho Draco nesse grupo, teríamos que dar os bebês em troca. E ele sabia que Kenrick e Liadan eram meus filhos.

O Ministro se desajeitou um pouco, mas ficou calado.

Liadan ainda não conseguia pôr fé naquilo. Mas, do jeito que Narcisa falava, parecia tão...verdadeiro.

— Eu não consegui aceitar aquela proposta. Mas Lúcio ficou insistindo, e eu vi que ele não iria parar até que eu entregasse meus filhos. Acabei deixando ele selar o acordo com o Ministro, mas antes, fiz algo que não esperavam: retirei os rastreadores dos três, e em seguida, os mandei para um orfanato trouxa.

“O problema é que eles descobriram tudo. Eu iria mandar os três, Liadan, Kenrick e Paige para o tal orfanato, só que, se os trouxas soubessem que os três eram irmãos, e os classificassem como trigêmeos, eles seriam facilmente encontrados, já que não são tantos os trigêmeos abandonados, muito menos crianças tão bonitas como eram. Decidi que, por mais que isso fosse ruim, eles deveriam ser criados separadamente.

“Enviei Liadan e Kenrick para o St. Charles, e o plano era mandar Paige para outro orfanato. Porém, Kingsley me descobriu no meio do caminho e não pude terminar. Por isso ela foi criada numa Casa para Bruxos Menores.”

“Shacklebolt me obrigou a falar o paradeiro de Kenrick e Liadan. Usou o soro da verdade, e eu acabei falando, mesmo contra a minha própria vontade. Ele repôs os rastreadores neles. Contudo, eis que o Ministro achou melhor que as coisas ficassem assim: talvez, se eles não saíssem do orfanato e nunca fossem para Hogwarts, não conseguiriam desenvolver habilidade suficiente para causar mal às outras pessoas. E ficou desse jeito mesmo.

“Sendo assim, eu interferi: disse que, já que era para ser assim, poderia mandar Paige para o St. Charles também. Só que ele discordou: falou que, se possível, seria melhor separar os três.Não queria eles pertos um do outro. Eu não aceitei. Propus que, pelo menos, deixasse que dois deles ficassem juntos.

“Escolhi que fossem Liadan e Kenrick.”

Narcisa fez uma longa pausa.

“O Ministro não deixou eu manter contato com eles. Acabei mandando a supervisora da Casa de Menores Bruxos dizer à Paige uma história diferente da real: que a liberdade dela havia sido trocada pela do irmão e que eu e Lúcio tínhamos sido presos, e por isso não podíamos falar com ela. Quanto aos outros dois... bem... viveram como trouxas.

Liadan estava confusa demais. Então quer dizer que... que Paige era sua... irmã... gêmea? Os cabelos loiros dela sempre foram sua marca registrada, mas agora que a garota parava para pensar no assunto, seus narizes eram bem parecidos... e a boca, e os olhos...

Inconscientemente, Kenrick lembrou-se de um comentário que fizera a Paige certa vez: “faltou você dizer palavrão e colocar uma peruca preta pra ficar igual à Liadan.”

— Bem — começou Kingsley, sua voz retumbando pela multidão de bruxos curiosos. — Creio que ficamos muito comovidos com seu discurso, Sra. Malfoy. Porém, caso tenha se esquecido, havíamos combinado de que isso deveria ser mantido em sigilo. Entre nós.

Narcisa olhou-o friamente.

— Mas por que manter isso em sigilo? — quis saber um velho bruxo que estava ali perto, baixinho e barbudo. — Temos o direito de saber disso.

— Não têm — rebateu Shacklebolt. — O caso de Liadan e Kenrick é pertinente somente ao Ministério.

— Desculpe a palavra, Ministro — falou uma jovem bruxa, ao lado do velho. — Mas se isso fosse mesmo pertinente somente ao Ministério, o senhor não haveria colocado todos aqueles anúncios oferecendo recompensas em troca deles — ela apontou para os gêmeos Riddle.

— É diferente. Coloquei os anúncios porque os dois representam um grande risco para a nossa sociedade.

— Não vejo como — ressaltou o velho novamente. — Nunca ouvi ninguém falar sobre nada que eles tenham feito de ruim. Nada.

— Eles só não fizeram coisas ruins apenas porque eu os mantive isolados — explicou o Ministro. — E também, acho que está se esquecendo de que acabaram de invadir o Ministério da Magia. Um crime, sem dúvidas, gravíssimo. Não viu aquele exército de cobras ali na frente? Issonão é ruim?

Ninguém respondeu.

— Muito bem — falou ele com ar de vitória. — Como eu já havia dito, vocês vão para Azkaban — ele olhou para Liadan e Kenrick com um sorrisinho discreto.

Narcisa deu um passo a frente.

— Ainda tem uma coisa que eu quero falar. — disse ela.

Kingsley virou-se, entediado.

— Se disser mais alguma coisa sigilosa, Sra. Malfoy, trato de prendê-la imediatamente.

— Ora, você ficará satisfeito, então — disse ela. Em seguida, olhou-o com o maior desprezo que podia deixar transparecer. — Eu mandei Liadan invadir o Ministério hoje.

Kingsley abriu a boca, ligeiramente alarmado.

— Não diga uma coisa dessas... sei que está com medo por seus filhos...

— Não estou dizendo porque estou com medo. Estou dizendo porque é a coisa certa a fazer, Ministro. Há alguns meses eu mantenho contato com eles...

Mentira, pensou Liadan, Mentirosa...

—... e os incentivei a aprender magia. Ensinei-os coisas que eles nunca aprenderiam sem mim. Como por exemplo, isso.

Narcisa caminhou até à filha, pegou o braço da garota e arregaçou a manga dela, exibindo a Marca Negra.

Um murmúrio crescente foi se espalhando pelo local. Sussurros de medo e desespero rondaram a multidão de bruxos.

— Pelas barbas de Merlim — disse Kingsley. — Narcisa!

— É culpa minha, Ministro. Só minha. Eu incentivei meus filhos a se revoltar contra o senhor. Queria destruí-lo, Ministro. Estou com raiva do senhor. Entende o que estou dizendo?Raiva. Responsabilizo-me por tudo isso. Pela invasão, pela marca, por tudo. Fui eu.

O murmúrio crescia, aumentando cada vez mais de volume. As vozes ficavam cada vez mais urgentes.

Mas Kingsley pareceu não acreditar muito naquilo. Até que Narcisa pegou a varinha de dentro das vestes e apontou para ele.

— Danem-se todos vocês — falou ela. — Avada...

— Peguem ela!

Estupefaça!

Nem deu para ver quem lançou aquele feitiço. Provavelmente fora o maldito Potter. Liadan só percebeu que Narcisa caiu no chão, desacordada, impotente, enquanto os bruxos convergiam na direção dela.

— Levem essa mulher para Azkaban imediatamente — ordenou Potter, pois Kingsley ainda estava mudo.

A situação virou um caos. O tumulto era enorme: ninguém sabia direito o que fazer. Ronald Weasley levantou Narcisa e carregou-a em direção à saída da ala dos prisioneiros. Os outros o seguiram.

Kingsley ainda estava mudo.

A reação de Liadan foi a mesma. Não podia acreditar no que vira. A mãe de Paige acabara de se oferecer em troca deles e de assumir toda a culpa. Pior — apontara a própria varinha para o Ministro da Magia.

Antes de Narcisa desaparecer de sua vista, Liadan pôde ver a expressão dela. Mesmo desacordada, estava triste e serena. Os olhos por baixo das pálpebras se moviam um pouco, e ela parecia querer dizer alguma coisa.

Completamente perdida, Liadan encarou o local a sua volta. Alguns aurores caminhavam na direção dela. Ela nem percebera, mas deixara cair a varinha. Não sabia onde estava. Ao longe, dava para ver as cobras que ela tinha conjurado, todas mortas.

Kingsley não dizia nada.

Kenrick, menos ainda.

Sem saber direito o porquê, ela fez uma coisa que quase nunca fizera na vida: caiu em prantos, gritando de infelicidade, medo, ódio, incerteza, e, acima de tudo, por ter perdido a mãe que nunca tivera. E nunca teria.


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