Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 8
Refeição Silenciosa


Notas iniciais do capítulo

"-Eu definitivamente não sei mais o que fazer da vida..."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/451875/chapter/8

Bruce e Adália comiam em silêncio. Já havia bastante tempo que Steve havia partido e desde que ele fora embora o clima na casa ficou estranho. Ambos sempre esperaram ansiosos a volta dele e do mesmo jeito que veio ele foi, rápido. Nada mais do que um dia ele passou e partiu. Bruce era o mais abalado, conhecera Steve por puro acaso, e desde que se conheceram não tiveram um dia normal, nem um dia. Ele e Steve já quase morreram queimados vivos, ficaram perdidos numa mina abandonada, fugiram num carro de mineradora, tudo isso no dia em que se conheceram. Além disso, os dias que se seguiram foram de igualmente problemas e riscos. Ataques de criaturas, pontes destruídas, até mesmo um demônio gigante.

Se Adália estava abalada como Bruce, não demonstrava. Estava sim triste, tinha o olhar vago, porém, sua cara ainda era melhor do que a de Bruce.

Comiam um sanduíche feito por Bruce, que na verdade só consistia em carne de porco com queijo dentro de um pão. Porém, por mais simples que fosse a refeição, não comiam coisas assim há tempos. Bruce vivera com suprimentos básicos enquanto prosseguia sua jornada com Steve atrás do Ninho de Creepers, comendo o que caçavam ou o pouco que traziam. Já Adália esteve numa situação pior, trancafiada nas masmorras durante tanto tempo que ela mesma não sabia o quanto fora.

Numa tentativa de quebrar o clima, ela arriscou:

–Você acha que ele está indo atrás de Esmeralda mesmo?

Bruce comeu mais um pedaço de seu sanduíche e o engoliu lentamente.

–Foi o que ele disse, não há motivo para ele mentir para nós. –Respondeu.

–Eu não queria tocar nesse assunto do Steve, mas não podemos falar nada sem pensar sobre isso, então... –Ela explicou.

–Eu sei, tudo bem. –Ele assentiu. –É só que... Minha vida com Steve nunca foi normal... Olha só, no dia em que nos conhecemos quase morremos umas cinco vezes no mínimo... Nós lutamos juntos desde então, defendemos um ao outro, brigamos, e acaba tão de repente assim, com ele partindo e eu aqui...

–Ele só não queria te por em risco. –Ela tentou o consolar. –Agora, pelo menos aqui, você não corre risco de morrer.

–Não tenho tanta certeza disso, eu estava lá com ele e Esmeralda quando lutamos contra aquele cara de olhos brancos, nós destruímos o que era dele, tenho medo de que ele venha acertar as contas.

–Acho que não precisa se preocupar com isso. –Adália disse.

–Como pode ter certeza? Eu sei que corro risco, e você comigo corre também.

–Eu não tenho certeza, só acho que, pelo o que você me contou, ele não perderia seu tempo vindo atrás de você.

–Por que não? –Bruce indagou sério, mordendo violentamente seu pão.

–Bruce... Sejamos realistas. –Ela começou. –Você está bem informado do poder dele, ninguém é páreo para ele.

–E?

–E que assim você é um tanto quanto insignificante para ele...

–Insignificante? –Bruce perguntou revoltado pelo o que ela disse, mas assim que ele parou para pensar, percebeu que Adália tinha razão. –Insignificante...

–Não quero ofendê-lo, mas olha o poder dele comparado ao que você sabe fazer. –Disse. –Vocês escaparam com sorte, talvez porque Esmeralda estivesse lá, e olhe porque ela quase morreu também.

–Adália... –Ele começou. –Para falar a verdade, nem eu nem Steve sabemos como saímos de lá, não sabemos onde Esmeralda está ou se ela está...

–Viva, eu sei. –Adália completou.

Ninguém quis dizer mais nada, o que haviam falado já era o bastante. Os dois se conheciam havia relativamente pouco tempo, mas o que já haviam visto de macabro estava além do que muitas pessoas veriam a vida inteira.

Terminando de comer, nenhum dos dois se levantou da mesa, não falaram nada também. Adália ficou ali, encarando a mesa de madeira, tentando evitar contato com Bruce. Não era uma atitude muito inteligente, se isolar quando um precisa do outro é a pior das escolhas, mas o clima ali não colaborava.

Bruce se levantou e se jogou na cama depois de ficar ali sentando durante muito tempo.

–O que vai fazer da vida agora? –Adália arriscou tentando quebrar o silêncio de novo.

Bruce ficou encarando o teto ainda, mas assim que a mensagem chegou e ele conseguiu pensar, virou a cabeça e começou a olhar para Adália.

–O que eu vou fazer? –Ele repetiu a pergunta para si mesmo. –O que eu vou fazer?

–É, o que você vai fazer? –Ela repetiu.

Bruce se levantou e se sentou na beirada da cama, coçando o queixo.

–Eu sinceramente não sei...

–O que você fazia antes de conhecer Steve?

–Bom, eu sempre trabalhei com a tropa aqui de Colina Nevada. –Respondeu. –E era o que eu pretendia fazer por toda a minha vida, defender minha vila, o lugar que eu moro dessas criaturas terríveis.

–E por que não vai mais?

–Olhe bem por tudo o que passamos, por tudo o que eu passei. –Disse. –Depois de tudo o que vi e o que tive que fazer... Não sei se isso é bem o que eu quero da vida agora, já corri risco o bastante para uma vida só, e já lutei também.

–Entendo sua posição, só não acho que deva continuar parado para sempre...

–Eu sei, mas não tenho planos para minha vida. Só sei que plantar vegetais está fora de cogitação.

De repente alguém bateu a porta, Adália foi quem atendeu. Quando a abriu, deram de cara com Nicko.

–Nicko? –Adália estranhou a visita. –Oi...

–Oi Adália... –Ele respondeu. –Se importam se eu entrar por um instante?

–Não mesmo, entre aí amigo. –Bruce respondeu, fazendo um sinal.

Nicko entrou e cumprimentou todos novamente. Ele e Adália haviam sido apresentados antes, mas num rápido momento, porém rápido o bastante para que pudessem saber quem o outro era.

–Suponho que tenha vindo falar de Steve. –Bruce comentou, levantando-se.

–Não podia estar mais óbvio. –Nicko respondeu.

–Mas não há o que falar mais. –Bruce disse. –Ele se foi e não há mais o que fazer.

–Talvez... –Respondeu. –O que eu vim aqui falar é que, bem... Eu ouvi todas as histórias, tanto sua como de Steve. Eu não estava lá no Ninho de Creepers, mas posso imaginar o sufoco que vocês passaram. Conheço Esmeralda também e vi um pouco do que a magia é capaz, além de que, não se esqueçam, eu sobrevivi àquela armadilha.

–Aonde quer chegar?

–O que eu quero dizer é que, caso Steve tenha que bater de frente com aquele cara de novo, ainda mais sozinho, não vai sair vivo de novo.

–Tentamos dizer a ele. –Adália entrou na conversa.

–Steve é cabeça dura, depois que bota uma coisa na cabeça não muda de ideia até que consiga o que ele quer. –Bruce completou. –Foi assim quando ele partiu para Téfires com vocês, foi assim quando ele foi atrás do Ninho de Creepers e agora não vai ser diferente.

Nicko não respondeu, e para não ficarem calados, Bruce continuou:

–Nas duas últimas vezes eu fui atrás dele, e o que aconteceu? –Perguntou retoricamente. –De início, quase morri dezenas de vezes, enfrentei um demônio gigante, fui preso, enfrentei um exército de Creepers e Aranhas venenosas, fui acorrentando, escapei de uma caverna em demolição... E agora me sinto tão envolvido nisso que me sinto mal em ficar de fora, mesmo que seja para minha segurança.

–E agora você não foi por... –Nicko o incentivou a continuar.

–Por um simples motivo... Eu gosto sim de Steve, mas acho que já corri risco demais por ele, sabia que mais cedo ou mais tarde ele teria de ir atrás disso, e eu... Não sabia nada quanto a mim, então decidi deixar minha segurança em primeiro lugar, e ele foi sem mim.

Nicko refletiu as palavras ouvidas.

–Realmente...

–Ainda não entendi o que você quer aqui, não que eu não goste de você, mas...

–Eu sei, tudo bem... O caso é que eu só precisava de mais uma opinião sobre tudo o que está acontecendo.

–Para quê? –Bruce perguntou.

Nicko não o respondeu, somente lançou-lhe um olhar, um olhar diferente, que logo Bruce pôde entender.

–Oh não! Você não pode estar pensando nisso! –Bruce exclamou. –Nicko, você não tem nada para ir atrás dele, é melhor não se arriscar!

–O caso não é bem assim... –Nicko explicou-se. –Tente me entender, sei de tudo o que está acontecendo, você e Steve me contaram todos os detalhes, eu já estive com Esmeralda antes e também não quero que nada de ruim aconteça a ela...

–Mas você não tem a tratar com isso! –Bruce o interrompeu. –Não vale a pena arriscar sua vida assim!

–Sei que Steve faria o mesmo por mim, se um dia eu precisasse de ajuda, sei que ele viria, então não posso fazer diferente.

Bruce começou a andar em círculos, claramente nervoso, e assim que pensou mais um pouco, lançou um olhar penetrante para Nicko.

–E você veio aqui para saber se eu vou também. –Ele disse, e Nicko não respondeu. –Vamos logo, agora faz mais sentido, você vai se lançar nessa busca também e queria saber se eu ia também.

–Agora que você explicou para mim fica mais fácil. –Nicko falou, e logo continuou: - E o que me diz, vem ou não?

Bruce continuou a encará-lo, e com a mesma expressão séria, disse:

–Nicko, só me diga uma coisa...

–Essa decisão é minha.

–Me deixe terminar. Você vai por tudo a perder por Steve? Ele é sim uma pessoa incrível e que merece todo respeito possível, mas é uma escolha dele, você não deve fazer isso também.

–Bruce é mais do que isso. –Começou. –É sim por Steve também, mas é também por Esmeralda, e por todo o mundo, que sei que isso é só o começo.

Bruce ficou ali parado.

–Eu sinceramente não queria ter que fazer essa decisão, mas já que preciso minha resposta é não, não posso por minha vida em risco mais uma vez.

–Eu entendo sua posição.

–Não que eu não me importe com Steve ou com Esmeralda, ou até mesmo com o resto do mundo, é só que eu já pus muito a perder por conta disso... Só estou muito confuso...

–Não há problemas, afinal, como você disse antes, é uma decisão própria, e não vou carregá-lo comigo.

–Tudo bem... –Bruce disse. –Mas me diga uma coisa, como você espera vencer tudo isso, só você e Steve? E muito talvez Esmeralda, você mesmo disse que tudo isso é maior do que...

–Eu também não sei, mas como Steve, o ponto primeiro é encontrar Esmeralda.

–Isso não parece promissor... –Adália disse.

–E tenha quase certeza de que não é. –Nicko completou. –Mas pelo menos eu não vou sozinho.

–Quem vai com você?! –Bruce indagou assustado. –Só nós sabemos disso, não é?

–Só nós sabíamos disso.

–Para quem você contou? –Bruce perguntou. –Não foi para o infeliz do Dave, foi?

–Não se preocupe, claro que não. –Respondeu. –Mas não adianta citar nomes, você não os conhece.

–É mais de um?

–Bruce, volte a viver sua vida. –Nicko disse. –Agora para você essa loucura acabou, vá viver sua vida com Adália e deixe tudo isso para trás...

Bruce realmente não queria prolongar mais aquela conversa, mesmo que ainda tivesse muita coisa girando em sua mente. Desistiu de prosseguir com isso, e finalizou:

–Então acaba aqui... Minha decisão é essa e não vou mudá-la.

–Não há problemas.

–Então... Boa sorte, e espero que possa voltar um dia. –Bruce disse em despedida.

–Eu também espero... –Respondeu.

Os dois apertaram as mãos e logo depois Nicko despediu-se de Adália também. Os dois o levaram até a saída.

–Só aproveite a paz agora Bruce. –Ao dizer isso, Nicko partiu.

Bruce então fechou a porta e se jogou na cama.

–Eu definitivamente não sei mais o que fazer da vida...

Adália sorriu para ele, dizendo:

–Bom, por que não seguimos o conselho dele?

–Conselho?

–Vamos aproveitar esse momento de paz.

Assim que Bruce entendeu o que ela queria dizer, indiretamente, sorriu maliciosamente. Já esperava que aquilo ocorresse, e não podia ser num momento mais adequado.

–Claro, vamos aproveitar logo esse momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!