Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 7
Imagens Vagas


Notas iniciais do capítulo

"Uma luz laranja com um tom de vermelho começou a tomar conta do ambiente e sua visão, que somente captava a água da tempestade, foi cegada pelo clarão da explosão, e o frio foi substituído por um calor intenso."



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Colina Nevada foi ficando para trás enquanto Steve andava. Sentia um peso no coração, mas sentiria um maior caso não deixasse e mais tarde algo pior viesse a acontecer.

Seus pés amassavam o solo gelado abaixo dele, não fazendo barulho algum, mas produzindo uma sensação boa nele. Na verdade nem tanto assim, mas ele procurava algum motivo para espantar a ansiedade de dentro de si, e a fofa grama abaixo dele foi um rápido motivo, que logo passou.

Steve levava consigo somente uma espada e o arco e as flechas que Bruce lhe dera, nenhum tipo de armadura para sua proteção, nada. Mesmo que quisesse, estava fora de cogitação, nada do que ele levava consigo era realmente dele, a espada ele meio que pegara emprestado e o arco fora um presente de Bruce, caso nada disso tivesse acontecido, ele não teria nada, somente sua força e seus punhos. A espada estava um pouco velha e desgastada, mas dava para o gasto por enquanto, até porque ele tinha certeza de que em algum momento a trocaria, só não sabia como. O arco ele nem pensava em levar um, já que não era a sua especialidade, porém, já que ganhara um, não tinha porque não usá-lo.

Quanto à comida, ele pegara algumas frutas na casa de Bruce, não se importou muito com a alimentação, sabia como conseguir comida fácil no meio da mata, afinal, se não soubesse não teria sobrevivido anos sozinho.

Sua única companhia era ele mesmo, viajava em seus pensamentos e refletia consigo mesmo o rumo que sua vida estava tomando. De uma vida estranha e incomum foi para algo muito maior, se é que era possível, numa avalanche de acontecimentos altamente estranhos e perigosos. Steve já havia passado por experiências de quase morte diversas e diversas vezes, a ponto de perder a conta, mas nos últimos tempos tudo foi superado. Mesmo com tudo o que ele passara e vira, aquele últimos dias era de longe os mais peculiares de sua vida. Anos e anos de experiência de como sair de situações de alto risco o pareciam algo surpreendente, mas somente se mostraram fúteis perto de tudo o que ele passou. Steve sabia muito bem como lidar com um monte de zumbis sedentos em sangue somente com um arco e uma flecha; sabia como construir uma boa e segura casa sozinho partindo do zero; tinha coragem para enfrentar as mais temíveis criaturas que o homem conhecia sozinho; sabia conseguir comida quando a única coisa que tinha eram suas mãos; mas lidar com um demônio flamejante de dezenas de metros de altura era muito maior do que tudo que ele já havia passado; lutar contra alguém que possuía pessoas e as matava sem sequer mover um músculo não era algo muito comum mesmo para ele; ter seu corpo tomado por outra pessoa e logo depois ver a si mesmo antes de morrer eram experiências muito perturbadoras.

Atravessava a mata sozinho e sem medo, e mesmo com tudo o que vagava por aí, ele sentia segurança. As pessoas sentiam medo de ir a lugares fechados e florestas, e com razão, mas ele não, pelo menos não depois do que passara, e do que sabia que teria de passar. Sua vida era como um rio que seguia um curso violento, sempre o levando a lugares inesperados o mais abruptamente possível. Tentar se manter instável não era um opção, havia somente duas, ou resistir e lutar, ou deixar ser levado e acabar morto um dia. Nenhuma das duas eram boa escolhas, mas obviamente uma tinha uma vantagem sobre a outra.

Bem mais tarde, quando Colina Nevada já havia ficado para trás há muito tempo, Steve tirou um tempo para descansar e comer uma maçã que trouxera. Estava somente no inicio de sua jornada até Téfires e já não aguentava mais, talvez pelo fato da distância ou pela solidão, talvez por ambos. Steve, entretanto, havia passado por situações semelhantes antes e até mesmo piores, atravessava distâncias muito maiores sozinho e mais desprovido do que estava agora. Talvez porque já acostumara com a companhia de pelo menos uma pessoa sempre ao seu lado, fosse Bruce ou Esmeralda, mas agora estava completamente sozinho, como vivia antes. Acostumar com o que é bom é fácil demais, só que se acostumar com a solidão de novo depois de tanto com gente ao seu lado era difícil.

Voltando a trilhar seu caminho mais tarde, ele avançou durante horas, não encontrou nada que lhe indicasse perigo, nenhuma criatura, nenhum monstro, nada, tudo estava completamente tranquilo, até demais, e assim que ele percebeu que o Sol se preparava para se por, tratou logo de ir atrás de um abrigo. Mais a frente deu de cara com uma pequena caverna, não muito profunda, mas ia ser o lugar. Improvisou uma barricada com pedras maiores e grandes galhos que encontrou dentro do local e tapou por metade a entrada. Acendeu então uma fogueira e se sentou ao lado dela, aquecendo-se. Sua espada e seu arco estavam sempre o mais próximo possível dele, até mesmo porque estava bem desprotegido, então era bom não arriscar alguma coisa ruim acontecer.

Tentava se manter acordado porque não queria dormir e ficar vulnerável, entretanto, estaria muito ruim no dia seguinte e não teria como prosseguir, então, achou um ponto estratégico perto da barreira improvisada que não o deixava a vista do que estivesse lá fora, e assim, acabou adormecendo. Estava tudo duro, só que o cansaço era muito maior e ele acabou não ligando.

Steve despertou de repente numa caverna diferente, bem maior. Chovia forte do lado de fora, era a pior tempestade que ele já havia presenciado. A água que caía vinha numa intensidade tão forte que era impossível enxergar qualquer coisa que estivesse do outro lado. Raios e relâmpagos dominavam e clareavam o céu obscuro, trovões cuidavam de dar a tudo o som mais tenebroso que podia. Era como nas histórias de horrores, onde chove extremamente forte, a diferença era que ali era pior, bem pior. O vento soprava tão forte que levava tudo por onde passava, ou seja, nada ficava intacto. Havia diversos e irreconhecíveis sons e barulhos ao redor dele, tudo era vago e confuso, como numa aquarela.

Tentando se erguer, Steve sentiu uma sensação muito estranha, não controlava a si mesmo. Seu corpo não o obedecia, ele era apenas alguém vendo tudo o que se passava.

Como tudo era vago e confuso, as imagens quase sempre pareciam não fazer sentido algum. Tudo borrado, formas, a chuva, as sombras. Além disso, as suas visões mudavam lentamente, iam de uma cena a outra, passando de um acontecimento a outro, mesmo que ele não pudesse distinguir nada, ou quase nada.

Fora toda essa confusão, Steve tinha somente um controle parcial sobre si mesmo, quase sempre não era que ele que se controlava, e quando era, era mais difícil do que o normal, por conta de ele não saber onde estava ou o que se passava.

De dentro da caverna, Steve foi parar fora dela, para dentro da tempestade. O vento parecia querer carregá-lo, e podia facilmente. Nada ele via, definitivamente, somente risco a cair em sua frente e molhá-lo completamente. Estava tão frio quanto uma noite nevada, a diferença era que ali só chovia. Raios pareciam cair ao seu lado, e de fato caíam. Os trovões abalavam sua audição e os relâmpagos o cegavam momentaneamente.

Tentando então caminhar, ele atravessou lentamente a cortina de água. Ouvia gritos e estranhos barulhos, tampouco o ajudava, Steve não sabia sequer onde estava. Tentando identificar de onde vinham esses sons, ele se moveu lentamente, guiando-se como uma pessoa cega. Foi então que ele viu alguém esbarrar nele, ou quase. Na verdade essa pessoa realmente bateu de frente com Steve, mas o que de fato aconteceu foi que ela o atravessou, como se ele fosse um fantasma. Steve tentou chamar o garoto, só que ele parecia não ouvir, até ele mesmo não ouvia sua própria voz. Preocupado com o que estava acontecendo, Steve decidiu segui-lo.

Era um garoto, até onde Steve conseguia distinguir. Indo sempre atrás dele, tentava obter alguma dica ou informação que o indicasse onde ele fora parar, porém, para seu desgosto, de repente tudo a sua volta começou a mudar, ele perdeu seu controle e então sua visão começou a girar. Quando isso ocorria, ele parecia estar sendo engolido por um tornado, e depois era jogado em qualquer lugar.

Dessa vez quando voltou a si fora parar no meio de um círculo, não sabia o que o cercava, mas eram figuras negras, de olhos roxos. Não precisando de muito, Steve logo soube o que estava a sua volta. Sabia também, que não seria atacado, afinal, até onde vira, estava invisível. Retomando o seu próprio controle, caminhou pelo cerco de monstros que logo ia se fechando, e foi quando percebeu que havia mais gente no meio dele também. A densa chuva caía e o encharcava, seus olhos ardiam e cada músculo dele estava duro e gelado. Esforçando-se e indo em direção às pessoas que supostamente estavam ali, ele começou a andar. Pisando em poças e com os olhos vermelhos, ele era como um zumbi, com o corpo gelado, passos curtos e desleixados, além da pouca força.

De repente, assustado, Steve pôde ver quem estava ali, e não era nada mais do que ele mesmo. Steve estava vendo a si mesmo de novo, lutando com uma espada, e logo atrás dele estava o garoto que esbarrara com ele antes, além de um homem mais velho. Todos tinham em mãos espadas e lutavam. Criando então repentinas forças para ver de perto si mesmo lutar, Steve correu até onde ele se via lutando com aquelas pessoas, e sua visão começou a ficar turva de novo, seu corpo não obedecia mais a ele e como ocorria nesse devaneio louco, fora engolido pelo que parecia ser um tornado.

Agora, diferentemente de todas as outras vezes, ele não fora largado em outro lugar aleatório, começou a subir. Podia ver abaixo dele o cenário que estava antes, ou nem tanto assim, pela ferocidade da chuva. Quanto mais alto ia, menos coisa via, e quando já estava bem longe, a ponto de ver somente a chuva, ouviu uma explosão ensurdecedora. Mais alto do que os trovões e produzindo mais luz que os relâmpagos e mais estrago que um raio, estava claro que alguma coisa explodira abaixo dele. Uma luz laranja com um tom de vermelho começou a tomar conta do ambiente e sua visão, que somente captava a água da tempestade, foi cegada pelo clarão da explosão, e o frio foi substituído por um calor intenso. Sentia sua pele queimar, tudo ardia, seu coração acelerado parecia parar de bater, e então adentrou nas chamas que nasceram de repente.

Steve acordou assustado. Já estava de manhã e ele estava na mesma caverna que fora dormir na noite anterior. Não estava ensopado, na verdade nunca havia entrado numa tempestade. A fogueira ao seu lado já havia se apagado há tempos.

Levantando-se, pegou suas coisas e saiu de seu dormitório improvisado, tentando tirar da mente as loucuras que sua cabeça tentava processar.


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