Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 4
Isso Não É Uma Despedida


Notas iniciais do capítulo

"-Estou aqui, completamente vivo, na sua frente.
-Mas poderia não estar..."



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–Ia sair sem avisar?

Quando Steve se virou, deu de cara com Bruce, que estava parado encarando ele sério. Era a primeira vez que ele o via daquele jeito, tão sereno.

–Na verdade não, ia esperar vocês acordarem para... –Steve explicou, mas Bruce o interrompeu:

–Não, você não ia. –Ele disse.

Steve continuou olhando seu amigo com o mesmo olhar penetrante que ele retribuía, e logo depois, voltou a fazer o que estava fazendo. Steve já estava decidido de que devia partir o mais cedo possível, e não esperou nem um dia para tomar decisão de partir logo, arrumando então as poucas coisas que ele ainda tinha.

Geralmente, a única coisa que Steve sempre carregava consigo quando saía de um lugar para o outro era a pequena estaca que seu pai lhe dera antes de morrer, mas agora nem isso ele tinha mais. Quando saiu da recuperação, Nicko lhe deu algumas roupas dele, pois Steve só tinha a que usava, bem desgastada. Além da pequena quantidade de roupas que ele levava numa mochila improvisada nas costas, tinha apenas uma espada.

Steve dobrava as roupas novas e as guardava, evitando contato visual com Bruce, mas mesmo assim, seu companheiro não desistiu:

–Steve, você disse que iria partir, e entendo seus motivos, mas logo agora? Tão cedo?

–As consequências me obrigam...

Bruce caminhou e ficou ao seu lado, pois a mão em seu ombro, dizendo:

–Steve, desde que eu te conheci, minha vida não teve mais um dia normal. –Disse. –É sério, desde o dia que nos encontramos à noite naquela floresta, nenhum momento seguinte da minha vida foi normal. Passamos todos os minutos seguintes achando que íamos morrer, e não teve um dia, um sequer, que eu pude viver como eu vivia antes.

–Então isso vai ser bom para você. –Steve respondeu. –Quando eu partir você e Adália podem enfim viver em paz.

Bruce suspirou:

–Já estamos vivendo em paz Steve, e você está aqui com a gente.

–Mas não será por muito tempo se eu continuar aqui, por isso devo partir o mais cedo possível.

–Você só passou um dia! –Bruce exclamou. –Só um dia aqui! Caramba Steve, queria poder viver com você como um amigo, queria que fossemos pessoas normais pelo menos uma vez na vida, que tivéssemos uma vida!

–Você pode ter, mas não comigo...

–E por que não? –Indagou. –Mais um ou dois dias pelo menos, você acabou de se recuperar e já quer se jogar no mundo de perigos novamente? Não consegue viver uma vida normal?

–Bruce... –Steve parou de fazer o que estava fazendo e se virou para Bruce. – Eu já te contei o tanto de problemas que minha vida... Adquiriu, não posso viver uma vida normal do jeito que eu vivo, mesmo que eu tente ou eu queira... E ainda coloco a vida de vocês em risco.

–Ainda estamos vivos! –Exclamou. –Steve, queria sentar e conversar com você de novo, sabe, tomar alguma bebida, caminhar pela aldeia e tudo o mais, viver uma vida normal.

–Vocês estão vivos ainda, só não posso garantir por quanto tempo... Você viu do que ele era capaz, e é melhor eu me afastar antes que...

–Steve, eu também o ataquei, eu estava lá também, e agora ele sabe quem eu sou, mesmo que você não queira, sou parte disso também.

–Não tanto quanto eu, pode tê-lo atacado, mas ele não tem o que cobrar com você, somente comigo, ele tem sede de meu sangue....

Bruce começou a andar impaciente de um lado para o outro, e logo disse:

–Não queria abandoná-lo aqui Steve... Já nos separamos tantas vezes desde que nos conhecemos, e das outras vezes acabou do mesmo jeito: Eu indo atrás de você e nós dois quase morrendo a cada segundo...

–Pode ser diferente agora, é só não vir atrás de mim de novo. –Steve respondeu.

–E deixar você morrer. Admita que sem mim você já estaria morto há muito tempo.

–Talvez, do mesmo jeito que se você tivesse ficado quieto não correria tanto risco de morrer.

–Estou aqui, completamente vivo, na sua frente.

–Mas poderia não estar...

Bruce caminhou e se sentou na beirada da cama onde Adália dormia.

–E para onde você vai, hein? Não tem onde ficar, não tem companhia e sequer sabe por onde começar a procurar.

–Vou a Téfires primeiro. –Respondeu simplesmente.

–Para?

–Vou atrás de Esmeralda, e por mim lá é o lugar mais provável que ela pode estar. –Explicou. –Tenho muita coisa para falar com ela e sei que ela tem muita coisa para falar com o pai dela também...

–Mas não tem como ter certeza de que ela está realmente lá.

–Eu sei, é só um palpite, porém, acho que vale a pena arriscar, pois tenho que começar de algum lugar...

–E?

–E espero que ela saiba de alguma coisa ou que possa me dar uma dica de onde começar a procurar pelo maldito. Não quero de maneira alguma que ela venha comigo de novo, mas quero saber se ela está bem, além de, admito, preciso dela...

–Mas que bonito. –Bruce disse num tom sarcástico. –E vai por isso mesmo? É um tiro no escuro.

–E acha que eu não sei?

Bruce se levantou e foi até a janela. O Sol começava a nascer no horizonte gelado de Colina Nevada. Já era possível perceber alguma movimentação na aldeia, o dia começava cedo por lá.

–Não vou tentar convencê-lo de não ir. –Bruce disse sem desviar o olhar da janela. –Não seria a primeira vez que tento fazer isso e sei que seria inútil... Mas Steve, veja sua condição, sozinho, despreparado, quero dizer, você não está nas melhores.

–Uma espada é o que preciso por enquanto.

Bruce se virou e viu uma espada embainhada em cima de sua mesa.

–De quem é isso? –Perguntou. –Você não tinha perdido sua espada?

–E perdi mesmo.

–Então de quem é isso aí? Eu não tenho uma e... –Bruce parou para pensar e aí tudo se encaixou. –Você a pegou do arsenal de novo, não foi?

–Estava tão claro assim? –Steve tentou tirar o clima tenso do ar, não deu nem um pouco certo. –Não veja isso como um roubo, só como um empréstimo.

–A diferença é que você não vai devolver.

–Eles têm centenas de milhares de espadas abandonadas e caídas lá, menos uma não vai fazer a menor diferença... –Defendeu-se. –Além de que é para uma boa causa, não vou matar nenhuma pessoa.

–A não ser que seja necessário...

Steve terminou de arrumar suas coisas e pegou a mochila improvisada em tecido e a pôs em suas costas. Pegou a espada também e a prendeu na cintura. Bruce ficou ali, apoiado na parede, encarando-o. Steve andou um pouco, queria acabar o mais rápido com aquilo, ficar ali, torturando a todos não ia dar em nada no fim das contas.

–Pode abrir a porta para mim? –Perguntou enquanto ia em direção a saída.

–Não vai se despedir de Adália?

–Eu não quero...

–Você não quer acordá-la? Ora, vamos lá, você mesmo disse que ia se despedir, é justo que ela saiba porque você partiu. –Bruce disse sério, nem parecia ser ele mesmo.

–Então...

Bruce acordou Adália delicadamente e logo depois a contou tudo o que estava acontecendo, o porque de Steve partir e o motivo pelo qual a acordaram. Já era de se esperar que Adália fizesse as mesmas intervenções que Bruce fez.

–Mas só um dia... –Disse no fim das contas, falou um monte de coisas para tentar convencer Steve a ficar mais um pouco, no final desistiu. –E todo aquele papo de sermos uma...

–Acho que isso vai ter que esperar mais um pouco. –Steve respondeu. –Ouça Adália, todos nós nos importamos um com o outro aqui, então espero que entenda que eu vou partir e nada do que falarem vai me impedir.

–Bom, se é o que você quer de verdade, então...

Steve deu um rápido abraço de despedida em Adália e se dirigiu para Bruce depois, sério:

–Infelizmente acho que não há mais o porque esperarmos...

–Infelizmente...

Bruce abriu a porta para Steve e os dois deram um rápido abraço de despedida.

–Volte um dia. –Bruce disse.

–Não posso prometer tão cedo. –Steve respondeu. –Mas não veja isso como uma despedida.

–E vou ver como o quê?

Steve se afastou e antes de partir de vez, disse:

–Não sei, mas não como uma despedida.

Ele deu um último aceno e a porta da casa de Bruce chegou a fechar atrás dele, mas não tardou muito e logo Bruce veio correndo.

–Steve!

–O quê?

Bruce o alcançou e assim que estava próximo, entregou-lhe um arco e uma aljava, não muito cheia de flechas.

–Acho que vai ser mais útil para você agora do que é para mim, leve como lembrança.

–Mas Bruce...

–Não, só leve com você.

Steve olhou Bruce nos olhos e aceitou o presente.

–Obrigado amigo, tenha certeza de que isso vai ser útil.

–Eu espero...

–Cuide de Adália.

–Vou tentar. Até...

–Até...

E desse modo, Bruce voltou para sua casa conforme Steve ia se afastando e deixando para trás o conforto da casa de seu companheiro.


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