Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 35
Corsários


Notas iniciais do capítulo

"Steve começou a raciocinar mais rápido, tendo um milhão de ideias para tentar tirar ele e seu grupo dali, afinal, era o líder, tinha que admitir isso, e querendo ou não, as pessoas confiavam a ele sua vida."



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–Eu falei que não era uma boa ideia! –Stuart exclamou. –Eu disse, mas ninguém me ouve! Por que ouviram o rabugento do Stuart?!

Eles estavam todos amarrados num canto do barco, um pouco próximos a uma grande quantidade de baús amontoados um do lado do outro. Até mesmo o pequeno Fred não conseguira escapar imune e suas mãos estavam amarradas por cordas mais grossas do que o seu braço.

Steve e todos os outros haviam sido pegos não muito depois que o barco partira, mais precisamente no momento em que estavam indo atrás de alimento, e foram pegos tão desprevenidos que sequer puderam reagir. Não que eles não fossem fortes o bastante e capazes de lidar com aqueles homens que os prenderam, mas a consciência de Esmeralda refletiu sobre todos e eles se sentiram tentado a não machucar os infelizes, afinal, eram somente trabalhadores e eles eram os intrusos. Os homens estavam somente fazendo o que julgavam que era correto.

Estavam inquietos com o que quer que fosse que lhes pudesse acontecer.

–Eles não seriam capazes de cometer alguma atrocidade aqui, seriam? –Marty perguntou desconfiado em certo momento.

–Eu realmente espero que não, mas não duvide de ninguém... –Stuart respondeu enquanto se movia tentando se livrar do aperto das cordas, e cada vez mais somente se tornava mais difícil.

Steve analisava quais eram as possíveis saídas, mas o calor do Sol que baia contra o seu rosto e a luz matinal o cegava e atrapalhava demais sua concentração. Estava suando como uma cachoeira, e o contato quente de seus companheiros amarrados ao seu lado era algo muito incômodo. Adália estava praticamente jogada em cima dele, e Nicko estava numa posição lateral muito desconfortável e que incomodava muito o espaço de Steve.

Logo perto dali, eles viram os homens andarem apressados e conversarem, lançando olhares rápidos até onde eles estavam e rindo. Bruce não sentia muito medo, mas estava extremamente desconfiado do que eles seriam capazes, e temia que, mesmo que conseguissem vencê-los, alguém saísse seriamente ferido.

–Temos que pensar em alguma coisa logo. –Nicko disse para Steve num cochicho.

–Não precisa cochichar. Quem não pode nos ouvir, afinal? –Perguntou retoricamente. –E, aliás, eu sei disso...

Eles se moveram inquietos, ninguém dizia muita coisa e o pequeno Fred falava alguma coisa com Adália, trocando palavras rápidas e quase chorando de medo. Adália tentava acalmá-lo, mas sem poder se mover muito e num estado não muito melhor do que o dele mesmo, ela não tinha muito mais o que dizer para tentar confortar o menino do que somente palavras que indicavam que tudo iria ficar bem.

Steve estava odiando tudo aquilo, obviamente. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis? Eles estavam lutando por uma boa causa, estavam tentando descobrir o que um ser amaldiçoado que ronda pelo mundo quer. E o que eles ganham em troca é somente um monte de armadilhas e trapaças, vizinhos tentando matá-los e uma matilha de lobos tentando devorá-los.

Dave trocou algumas palavras rápidas com Nicko, mas seja o que fosse que eles estivessem planejando, logo descartaram porque depois de alguns segundos se calaram e não trocaram uma palavra a mais.

Um dos marinheiros, gordo e barbudo, se aproximou deles e ficou observando a todos, com um olhar cínico e um sorriso sádico no rosto. Tinha um charuto na boca e uma cicatriz enorme que atravessava sua face quase toda, saindo de sua testa numa extremidade direita e se estendendo em diagonal até sua bochecha do lado esquerdo. Dentes amarelos e tordos serviam também para dar-lhe uma impressão mais horrenda ainda.

O marinheiro deu mais algumas baforadas no cachimbo, cuspiu no chão e saiu falando alguma coisa para si mesmo.

Inseguros do que poderiam estar por vir, Bruce comentou em certo momento:

–Seja lá o que esse monstro quer, ele seria capaz de botar para correr toda a matilha de Adrian só de mostrar essa cara horrorosa.

Steve começou a raciocinar mais rápido, tendo um milhão de ideias para tentar tirar ele e seu grupo dali, afinal, era o líder, tinha que admitir isso, e querendo ou não, as pessoas confiavam a ele sua vida. Todos, ele diria, com exceção de Dave, mesmo que depois de um tempo ele tenha se mostrado mais competente, apesar daquela conversa fria que tiveram antes.

Foi então que, de repente, um cheiro de queimado e uma pequena fumaça negra começaram a surgir no meio deles. Todos se arrastaram assustados logo pensando que alguma coisa havia sido incendiada.

E, para a surpresa de todos, quando se viraram para ver o que era que pegava fogo, viram a figura de Esmeralda de pé, sem nenhuma corda amarrando-lhe os pés ou as mãos. As cordas que antes a prendiam estavam caídas e terminando de serem tostadas por um feitiço que ainda não se extinguira por completo.

Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, exibindo seus brilhosos dentes. Steve não conseguiu conter um longo e profundo suspiro de alivio, e retribuiu o sorriso para Esmeralda. Stuart, por sua vez, encarava-a boquiaberto.

–O quê? –Indagou.

–Acharam mesmo que com uma feiticeira entre vocês não conseguiriam escapar de míseras cordas podres? –Ela disse sorrindo e queimando o restante das cordas do grupo.

As cordas se incendiaram diante do toque da mão suada de Esmeralda, e, incrivelmente, as chamas não queimavam ou causavam dor a ninguém.

Dave também estava muito surpreso com o que ocorrera.

–É isso aí ruivinha! –Stuart exclamou se levantando e sorrindo. Esmeralda ignorou o apelido, nunca gostara muito quando as pessoas a chamavam daquele jeito, ao mesmo tempo em que se sentia orgulhosa pelas pessoas notarem sua característica mais presente.

É claro que não demorou muito para os marinheiros perceberem que eles haviam se libertado, e saíram correndo como cavalos e com armas em punhos para contê-los. O grupo de Steve estava desarmado e não puderam trocar muitas palavras antes de eles chegarem.

Se os marinheiros ficaram confusos sobre o modo como eles se libertaram, não demonstraram nenhum sinal de que gostariam de saber.

–Rendam-se, não podem nos vencer! –Um deles disse empunhando um machado enferrujado.

Dave sorriu, e se atreveu a lançar uma provocação, ato que era de sua natureza desde sempre e ele estava há muito tempo se contendo para dizer algo assim:

–Será? Nos livramos de suas cordas vocês nem sabem como! Podemos detê-los de olhos vendados! –Era óbvio que ele se aproveitava do poder de Esmeralda.

Na tentativa de evitar um possível futuro conflito, que certamente não acabaria sem sangue derramado, Esmeralda interveio. Ela saiu de onde estava, um pouco atrás de todos os homens do grupo, e se pôs no meio deles e dos marinheiros barbudos e fedorentos.

Um deles, que empunhava uma faca, riu:

–O que você quer garota? Saia daí! –Ele disse rindo.

Esmeralda se sentiu tentada a usar magia contra aqueles homens e acabar com todos os problemas ali de uma vez, mas sua mente e sua sanidade lhe impediam de continuar e fazer aquela loucura.

Então, Esmeralda não fez nenhuma menção de sair do lugar, o que, incrivelmente, deixou os marinheiros um pouco desconfiados.

–Vamos fazer um acordo. –Ela disse com uma voz firme, e para seu agrado, nenhum dos dois lados interveio. –Pois bem, - continuou-quem de vocês é o capitão aqui?

O homem barrigudo e barbudo que antes ficara encarando eles deu um passo a frente e sorriu maliciosamente, exibindo seus dentes amarelos e um bafo que era capaz de espantar um Creeper.

–Sou eu. –Ele disse orgulhoso.

E antes que o homem pudesse continuar falando, ela disse:

–Sabemos que vocês não nos querem aqui, mas já que não há como vocês nos deixarem para trás porque estamos a quilômetros da costa, tenho uma proposta para lhes fazer. –Dave fez um movimento, parecendo que iria dizer algo, mas seja o que fosse, a mão de Nicko em seu ombro o acalmou.

O marinheiro continuou encarando-a, sem mudar muito suas expressões.

–De duas, uma: Ou vocês nos matam aqui e agora, ou então vocês nos jogam no mar para morrermos afogados. –Quando ela disse isso, um sorriso sádico surgiu nos lábios de cada um deles.

–Que tipo de proposta é essa que ela quer fazer? –Dave cochichou, e Steve levantou a mão pedindo silêncio.

A essa altura, toda a tripulação do navio que restara já havia se reunido em volta e agora os encarava com expressões curiosas e sorrisos tão amarelos quanto o do capitão. Fediam a peixe e era cada um mais horrendo que seu companheiro, um completo circo dos horrores.

–Mas acho que podemos criar uma terceira opção para resolver isso aqui. –Esmeralda continuou.

O capitão do navio riu alto, sua risada estridente e estranha ecoando pelo céu azul claro daquela manhã morna.

–Não sei por que garota, mas estou gostando de você. –Ele disse tirando um frasco pequeno do bolso e dando um longo gole, e logo depois fazendo uma careta. –Prossiga com essa sua atuação aí. –Ele disse indiferente sacudindo o recipiente.

Se aquilo abalou ou intimidou Esmeralda, ela não deixou demonstrar. E conhecendo-a, Steve e os demais sabiam que aquilo não a deixara nem um pouco mais nervosa.

–Então tudo bem. –Ela sorriu sombriamente assim como aqueles marinheiros faziam. –Creio que você e seus homens prezam muito o quê fazem e o seu navio.

–Sem dúvidas. –O homem disse.

–E sei que o orgulho de vocês é um ponto alto de suas personalidades, venho aqui propor o seguinte: Escolha cinco dos seus melhores lutadores, e com você serão seis. –Ele assentiu. –E então, vocês enfrentarão meus colegas, e se ganharmos, vocês nos deixarão ficar nesse navio até o fim da viagem e não nos fará nada de ruim, simples assim.

Bruce quase se engasgou com o nada quando ouviu o que ela dizia, e pela primeira vez, concordou com Dave.

–O quê?! –Ele indagou.

Todos os homens não conseguiram manter as expressões sérias e duras como antes, foi um choque, algo totalmente inesperado.

O capitão sorriu e gargalhou mais alto do que antes, e perguntou:

–Deixe-me ver se entendi: Você está propondo que eu e meus homens lutemos com vocês para poderem ficar no navio? –Esmeralda assentiu. –É sério isso? Você tem ideia do que está sugerindo garota? Vamos matar seus amigos com os olhos vendados.

–Está recusando a proposta? –Ela instigou.

O capitão rangeu os dentes e olhou em volta, pensativo, mesmo que sua face não demonstrasse isso.

–Se ganharmos, ficaremos até o fim da viagem, nada de ruim vai nos acontecer e vocês nos tratarão como membros da tripulação.

Ele riu.

–E se ganharmos? –Perguntou.

–Façam o que bem entenderem. –Ela respondeu sem hesitar.

Dave saiu do meio de Nicko e Adália e no caminho quase derrubou Steve por conta da pressa, e logo depois disse a ele:

–É melhor você ir pará-la antes que ela nos mate com essas ideias malucas!

Steve, apesar de inquieto, manteve-se em seu lugar.

–Também não tenho a mínima ideia de onde ela quer chegar com essa proposta, mas podemos derrotá-los facilmente, ainda mais porque ela pode atear fogo na hora em que bem entender. –Respondeu.

–E por que já não fez isso? –Ele perguntou furioso, e saiu.

O capitão saiu de onde estava, andou alguns passos até ficar perto o bastante de Esmeralda, e disse bem em sua cara, com um hálito horrível:

–Você tem ideia de quem somos garota dos cabelos de fogo?

Esmeralda não respondeu nada, e continuou a encará-lo nos olhos, retribuindo seu olhar aniquilador. Apesar disso, Esmeralda teve vontade de se virar por conta daquele fedor.

–Somos os maiores corsários que Collingunt já teve! –Ele disse e brandiu uma adaga que tirou do bolso, e os marinheiros rugiram em resposta. –Somos os piratas mais ferozes que já navegaram pelas águas desse continente! Navio mercante, bah! Isso é só fachada! Temos uma frota inteira, marujos o bastante para saquearmos todos os reinos dessas terras! Temos tantas espadas e ouros que roubamos e matamos só por diversão! E você vem nos desafiar?!

Os homens explodiram em aplausos e gritos, sacudindo lâminas afiadas e fazendo um barulho infernal. Esmeralda continuou imóvel em seu lugar, a brisa morna sacudindo seus cabelos e balançando-os serenamente, e ao redor de seus olhos, suas sardas tinham um destaque especial.

–Então suponho que não vão recusar uma boa briga, aqui e agora, em alto mar. - Ela respondeu sem hesitar ou demorar muito.

O homem riu alto, como sempre, e deu as costas a ela, batendo os pés fortes.

–A menina é atrevida. –Falou entre uma risada e outra, e, logo depois que se juntara aos seus homens de novo, se virou e disse: - Pois bem, que seja assim então. Homens, peguem suas espadas, vamos ter uma bela luta aqui hoje!


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