Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 33
Os Portões do Reino


Notas iniciais do capítulo

"-Só cala a boca! –Dave falou mais alto do que ele. –E me escuta agora!"



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Steve despertou de seu profundo sono assustado e quase num salto. Um dos lobos estava roçando seu focinho em sua perna, e num pulo Steve acordou pensando que o animal tentava ataca-lo. Igualmente assustado, o lobo recuou quando Steve se acordou violentamente e quase o atacando, porém, assim que ele entendeu tudo o que passava a sua volta, Steve compreendeu que o animal não tentava ataca-lo, e sim acordá-lo.

Se sentindo com um peso na consciência, ele acariciou a cabeça do animal enquanto tentava espantar o sono de dentro de si. O lobo, no entanto, logo saiu dali e foi se juntar a seu companheiro como se seu trabalho já estivesse feito, e de fato estava.

Olhando a sua volta, Steve constatou que todos ainda dormiam. Seu peito continuava pulsando freneticamente por conta do seu susto, e ele respirava fundo para voltar ao normal. Fora a surpresa do lobo tentando acordá-lo, Steve tinha simplesmente acabado de sonhar com aquela noite terrível de novo. Aquele pesadelo não o atormentava havia muito tempo mesmo, e com tudo acontecendo tão rápido e só mais problemas surgindo, Steve havia até se esquecido dele, mas essa noite ele voltou tão real e vivo como todas as vezes antes. O fogo, a explosão, os monstros, os gritos, o medo, a insegurança, reviver aquilo noites e noites estava deixando-o insano, se continuasse nesse ritmo, Esmeralda teria de continuar sozinha, pois ele perderia toda a sua sanidade e sua mente se perderia num mar de devaneios. Esses pesadelos tinham que ter um fim.

Ainda pensando em Esmeralda, Steve olhou ao seu lado e percebeu que ele havia dormido ao lado dela. Os dois ainda estavam próximos à grande fogueira, que agora não era nada mais do que uma simples brasa queimando no gelo da cordilheira. A noite havia sido muito tranquila no geral, tirando os assuntos que envolviam um cuidado maior. Apesar disso, Steve não conseguiu contar a Esmeralda metade do que queria, e principalmente o que Adrian lhe havia dito, e também tudo o que ele sentia por ela, precisava desabafar. Essa última parte era um conflito interno para Steve, ele não sabia se era correto sentir isso por ela, ainda mais na situação que estavam, porém, ao ver Adália e Bruce juntos e felizes, um breve pensamento de que algo pudesse acontecer entre eles brotou em sua mente. Por outro lado, como eles iam ser felizes enquanto casal se tudo pelo que estavam passando eram só problemas e mais riscos? Seria muito complicado conciliar as duas coisas, ainda mais quando os dois são os responsáveis por todas as decisões que são tomadas no grupo.

Levantando-se e sentindo a costumeira brisa gelada no rosto, Steve se alongou e tentou mandar embora esses pensamentos melosos também. Passou a vista e se deu conta de que não havia ninguém de guarda.

Maldição! Praguejou em sua mente. Vacilamos mais uma vez! Ficamos sujeitos a ataques de novo!

De repente uma figura não muito longe dali chamou sua atenção. Era Dave. Ele se encontrava sentando numa rocha e limpava a lâmina de sua espada com movimentos delicados. Aquilo, ao mesmo tempo em que tranquilizou Steve, também o deixou igualmente preocupado. Tranquilo por saber que na verdade ainda havia alguém de guarda e que eles não estavam sujeito a risco algum, no entanto, Dave era a pessoa em que ele menos tinha confiança ali.

Foi até ele lentamente, passando pelos outros que dormiam sem preocupações. Andou sem pressa e perguntou-o quando já estava bem perto de Dave:

–Está de vigia?

–Um bom dia seria bem agradável. –Dave respondeu sem tirar os olhos de sua bela arma.

–Bom dia... –Steve disse indiferente. –E então, está de guarda?

–Sim, acordei e vi que Bruce viajava a todos sozinho. –Ele passou o pano na lâmina repetidas vezes e com movimentos suaves antes de continuar. –Decidi tomar a guarda então, ele parecia exausto.

Aquilo deixou Steve desconfiado.

–Por que não pediu para que alguém ficasse com você? –Perguntou.

–E acordar os outros? –Ele perguntou retoricamente. –Estamos praticamente isolados de qualquer criatura por aqui, não precisamos mais do que uma pessoa de guarda, estamos bem seguros. Sem falar nos lobos, ele com certeza destroçam qualquer monstro na maior facilidade.

Steve não se agradou muito com aquilo, mesmo que o raciocínio de Dave não estivesse errado. A verdade era que Dave não o agradava, em nenhum aspecto.

–Por que ainda está com a gente? –Steve perguntou de repente e sem medo de parecer grosso.

Dave soltou uma risada sem graça e abafada enquanto ainda continuava a polir sua arma.

–Não está gostando de mim aqui? –Ele perguntou, e Steve não fez a menor menção de respondê-lo. –Pois bem Steve, acho que gosto tanto de você quanto você de mim.

–Então porque ainda continua conosco? Estamos realmente muito longe de Colina Nevada, você devia ter voltado quando ainda estávamos na aldeia Lua. –Disse.

Dave passou o pano uma última vez em sua espada e logo depois, embainhou-a e jogou o pano sobre seus ombros.

–Steve, ainda acha que quero voltar para Colina Nevada? –Ele perguntou.

–Sim. –Ele respondeu firme.

–Bom, de fato eu quero, só não posso... Minha família vive lá ainda, como se eles ligassem para mim também... O caso aqui é: você acha mesmo que eu percorri toda aquela distância só porque eu estava perseguindo Fred?

Steve ficou encarando o rosto de Dave sem mudar sua expressão, ambos tentavam se mostrar o mais sério possível, não podiam falhar.

Steve não o respondeu.

–Ele é um garoto, um menino! –Dave continuou. –Não acha que se eu quisesse eu podia tê-lo alcançado a hora que eu quisesse? Além de que, que maníaco corre atrás de um garoto?

–Então por que não o fez? –Steve indagou. –Se podia, por que não o capturou?

–Porque eu não estava nem um pouco a fim de ter que voltar para Colina Nevada, Roger sabe que Fred viu o que fizemos, e tenho medo do que ele possa fazer com o garoto...

–Que bonito você se importando com o pequenino! –Steve o interrompeu. –Mas você não pareceu nem um pouco importado com Nicko quando eu e ele caímos daquele penhasco! E ele era seu amigo!

–Só cala a boca! –Dave falou mais alto do que ele. –E me escuta agora! Roger está maluco, está insano! Ele me mandou queimar a casa de Bruce e perseguir uma criança! Não sei mais o que eu teria que fazer se voltasse para a aldeia agora, e o pior, não sei o que ele seria capaz de fazer com o menino! Ele está implicado com vocês Steve! Com você e toda sua turma, não sei qual é a de vocês, mas já vi muita coisa que está me deixando muito confuso!

–Então só não faça o que ele pede. –Steve respondeu simplesmente.

–Ah, muito obrigado! –Ele retrucou. –E agora gênio? Devo contar para Robert que ele pirou? Claro que não! Não me ouviu dizer que ele está maluco, insano? Como eu posso desafiar Roger, não posso ir contra ele, simplesmente não posso, se desafiá-lo não vai restar nada de mim! Roger já lutou com tantos homens que nem mesmo ele pode contar, ir contra mim vai ser brincadeira de criança!

Steve ficou imóvel ouvindo tudo o que ele dizia, e assim que percebeu que Dave terminara, falou:

–Então está com medo de Roger? Se esconder conosco também não é muito seguro colega, não viu pelo o que acabamos de passar? Lá ou aqui, você está ferrado. E vou te dizer uma coisa, se Roger está implicado conosco, saiba que ele tem motivo. Essa nossa jornada aqui não é qualquer viagem não.

Dave se levantou decidido e ficou parado em frente a Steve. A respiração dos dois era pesada e eles se encaravam olho no olho, sem sequer piscar. Ficaram nisso por um tempo que nenhum dos dois tinha ideia de quanto fora.

–Quer que eu vá embora então, é isso? Porque se for, estou indo. –Dave quebrou o desconfortante silêncio. –Mas se ainda pensa que será mais fácil seguir sem mim a partir daqui, está muito enganado. Você pode não gostar, Steve, mas é verdade, se eu não tivesse vindo com você até aqui, quem garante que ainda estariam vivos?

–E quem garante que não? –Steve perguntou de volta.

–Esmeralda já reconheceu isso, é difícil aceitar a verdade? –Dave continuou instigando aquele momento de inquietação.

–Talvez porque você seja um idiota e sádico, que ateou fogo à casa de Bruce, e nos traiu e nos deixou para trás aquela noite em Colina Nevada. –Steve respondeu firme. –Quer mais exemplos? Posso fazer uma lista.

Dave continuou encarando-o durante muito tempo ainda. Os dois tremiam os músculos de seus punhos, se segurando para que um não pulasse em cima do outro e começasse um ataque desenfreado.

Depois de algum tempo que nenhum dos dois sabia de quanto se tratava, Dave seguiu andando e desviou de Steve.

–Dave, você quer ficar conosco, mas como quer que ignoremos tudo o que fez antes? –Steve o questionou antes que ele partisse de vez e não restasse mais palavras para nenhum dos dois.

Dave cessou a caminhada e, sem olhar para trás, respondeu:

–Não pedi que esquecessem o que fiz.

* * *

Aproximadamente uma hora depois de todos estarem acordados, eles retomaram a caminhada, e esperavam conseguir sair da cordilheira de Kellvington ainda no final daquele dia. Sabiam que não tardaria para logo verem o final daquela imensidão de pedras e seguirem para o reino de Mísfene, onde procurariam por um barco para atravessarem o estreito de Curry. Talvez procurar um meio de atravessar o estreito de Curry fosse a parte mais difícil para eles agora.

Steve não trocou mais uma palavra sequer com Dave, e isso poupou ambos de muitos outros desentendimentos. Esmeralda conversou rapidamente com Dave em um momento e ninguém fora os dois sabem do que se tratou o papo deles, só que, seja o que fosse, Dave não foi embora e seguiu viagem com o restante do grupo.

Os lobos guiaram a viagem como o combinado, por incrível que fosse. Os animais iam sempre muito à frente do grupo de Steve e só paravam quando percebiam que estavam se distanciando mais do que deviam. Chegou um momento, horas mais tarde, em que eles já estavam tão próximos de sair da cadeia de montanhas que não importava mais que rumo tomar, eles encontrariam uma saída de qualquer jeito.

O Sol de fim de tarde estava começando a ganhar suas características típicas no céu quando eles enfim conseguiram sair do acumulado de montanhas. As nuvens que pairavam acima da cabeça deles tinham uma cor alaranjada belíssima e a brisa gelada soprava as enormes massas de algodão para o infinito do céu. Era um belo espetáculo sem igual.

Os lobos ficaram sentados não muito longe da saída da cordilheira.

–Será que damos algo a eles como forma de agradecimento? –Bruce perguntou.

–Que tal um pouco de carne? –O pequeno Fred sugeriu. –Eles são carnívoros, animais carnívoros adoram comer carne.

–Só se darmos a nossa própria carne, não temos mais nada, só pão velho e água. –Steve respondeu.

Os animais ficaram parados durante um tempo encarando eles, e Steve e o restante do grupo fez o mesmo. Os lobos logo se cansaram, latiram amigavelmente para eles e partiram, sem sequer olharem para trás mais uma vez.

Foi uma cena muito nova e inesperada, mas a busca tinha que continuar.

–E agora Esmeralda? –Stuart perguntou se aproximando dela e Bruce, além do pequeno Fred que se escondia atrás de Steve e de Bruce.

–O mapa não é muito preciso nessa parte... –Ela disse analisando o pedaço amarelado de papel. –Não sei exatamente em que lado da cordilheira saímos, mas... –Ela não completou a frase, pois raciocinava uma possível saída. –Mas... Se eu não me engano, se formos a qualquer rumo nessa direção-ela apontou com o dedo indicador-, iremos encontrar o reino de Mísfene.

–Suponho que também deva ser fácil avistá-lo de longe, é um reino oras. –Stuart comentou.

–Então não vamos perder tempo. –Steve disse. –Só teremos que acampar aqui próximo hoje, não quero arriscar seguirmos mais uma ou duas horas e não acharmos um bom lugar para acampar, além de que amanhã mesmo estamos chegando já.

O acampamento foi montado ao pé de uma montanha, quase dentro da cordilheira. Os procedimentos adotados foram os mesmos de sempre, as pessoas que ficariam de guarda foram escolhidas e eles acenderam uma fogueira principal e outras duas menores.

Felizmente eles não tiveram nenhum incidente aquela noite com monstros, afinal, os mesmo se recusavam a chegar perto da cordilheira, pois seu bom senso os diziam que seriam rechaçados caso ousassem entrar ali.

O dia raiou e eles seguiram viagem como tinha que ser, e caminharam como faziam todos os dias desde que saíram de Colina Nevada.

Horas mais tarde, quando a tarde tinha cerca de duas horas que havia começado, eles avistaram o reino ao longe. Somente os uma enorme muralha de pedra o cercando, como em Téfires e em qualquer outro reino. Nesse paredão, no entanto, havia quatro torres proporcionalmente distribuídas, cada uma com um telhado vermelho e chamativo.

Foi quase uma hora até que eles chegassem a Mísfene, e se depararam com um intenso movimento logo na entrada. Esmeralda não queria arriscar se encontrada, ainda era uma princesa foragida do reino de Téfires, e podia ser reconhecida e perseguida agora em qualquer outro reino de Collingunt. Por isso, cobriu o rosto com sua clássica manta marrom.

Esbarrando em pessoas e animais que entravam e saíam do reino, eles esperavam entrar sem dificuldades, mas claramente com um grupo daquele tamanho eles chamariam atenção.

–Ei, você aí. –Um guarda chamou antes que eles pudessem cruzar os portões.

Steve parou no mesmo instante e praguejou baixinho, fechando os olhos e chutando uma pedra. Os outros pararam simultaneamente.

–Para onde estão indo? –O guarda perguntou, ele se encontrava numa pequena janela na muralha, mas fora ele, haviam muitos outros espalhados na entrada.

–Não mostre seu rosto em hipótese alguma. –Steve cochichou para Esmeralda.

–Não me diga. –Ela respondeu sarcasticamente.

–Estou tentando ajudar. –Ele retrucou.

–Vão me responder? –O guarda tomou a pergunta novamente.

Ninguém conseguiu pensar numa resposta rapidamente. Entreolharam-se nervosos, procurando em seus próprios olhares uma resposta que fosse plausível e fizesse o guarda acreditar no que eles dissessem.

As pessoas passavam ao lado deles sem parar, o dia seguia normal e barulhento. Gritarias, sons de animais, conversas frenéticas e aos berros, tudo se resumia basicamente a isso. A multidão também não se importava em esbarrar com eles, e eram atropelados a todo segundo.

–Alguma ideia? –Marty indagou nervoso.

–Qualquer coisa! –Stuart exclamou.

–Qualquer coisa? –Bruce perguntou aflito olhando para Esmeralda.

Ela deu de ombros.

–Estou sem ideias. –Respondeu.

–Vão me responder ou eu vou ter que descer? –O guarda continuava a ser ignorado.

–Podemos correr. –Nicko sugeriu.

–Não mesmo! –Stuart respondeu quase gritando. –Mais uma vez não! Não quero ter outro reino inteiro atrás mim novamente!

–Ficarmos parados sem respondê-lo também não é uma boa alternativa. –Dave entrou na conversa.

–Estão me ouvindo? –O guarda perguntou pela última vez.

–Somos mercadores. –Steve respondeu enfim, sem olhar para os outros e sem pensar duas vezes.

–Mercadores? –O homem riu. –E cadê seus produtos? Vocês só têm mochilas.

Steve olhou ao redor procurando uma desculpa.

–Acabamos de vender tudo. –Esmeralda salvou a vida de todos, apesar de não estar mostrando seu rosto. –Viemos até o reino para passarmos uma noite e conseguirmos mais mercadorias para trocarmos ou vendermos depois.

O homem seguiu encarando eles com uma expressão indiferente, e enquanto a conversa entre eles se encontrava estática, o mundo seguia frenético ao redor deles.

–É a primeira vez de vocês aqui? –Perguntou.

–Sim... –Steve respondeu hesitante.

–Hum... –O guarda disse. –Imaginei, nunca havia visto vocês por aqui, e é um grupo bem grande, não podem passar despercebidos nunca.

–Pois é... –Steve respondeu e puxou Esmeralda pelo braço fazendo um sinal para que os outros o seguissem.

–Só vou precisar o nome de vocês então e umas assinaturas para que tenham liberdade de ir e vir sem problemas aqui no reino. –O guarda disse e eles pararam bruscamente olhando para ele. –Sabem como é, burocracias desse mundo... Vou encontra-los aí embaixo, me aguardem aí próximo.

O homem sumiu da janela e eles trocaram mais olhares tensos.

–Eles não podem reconhecer Esmeralda! –Stuart alertou a todos.

–Como se a gente não soubesse! –Steve respondeu.

–Então dá uma ideia melhor, gênio! –Stuart revidou.

–Correr? –Nicko sugeriu.


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