Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 32
O Fim da Cordilheira


Notas iniciais do capítulo

"-Mesmo que isso possa nos matar? –Esmeralda indagou.

-E o que não pode?"



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É uma situação muito estranha quando se tem como guia de um trajeto animais. Os lobos andavam tranquilamente como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Não olhavam para trás, não faziam menção de atacá-los, somente faziam o que deviam fazer. Normalmente animais selvagens como eles não obedeceriam tal ordem, e caso fizessem, não fariam como eles faziam. Era surpreendente como conheciam a rota.

O barulho do uivo do vento, o som da água correndo e as sombras deixavam o clima agradável, simpatizando com o ar gelado. Era muito bom ter um momento de paz como esse depois de tantos acontecimentos turbulentos e arriscados.

Enquanto andava em silêncio junto com o restante do pessoal, Steve ia pensando sobre o que havia acabado de ouvir de Adrian. Não podia ser verdade, simplesmente não podia. Não havia a mínima possibilidade de alguém entre eles, com exceção de Esmeralda é claro, ser um feiticeiro. Bruce era seu companheiro desde que se conheceram, sabiam tudo um do outro, claro que ele não era um bruxo. Já Nicko, assim como Bruce, era amigo de longa data, passaram por muitas coisas juntos e em nenhum momento houve algo relacionado à magia vindo dele. Stuart e Marty eram os menos conhecidos de Steve, na verdade quem ele conhecia há menos tempo, e mesmo assim, ambos não podiam ser bruxos. Stuart é bruto, agressivo, magia não faz o estilo dele, e Marty era um pouco diferente, quieto e esperto, se encaixa nos padrões de um mago, porém, se ele realmente fosse um, para que esconder?

Lembrou-se da noite em que desconfiou de Marty por um segundo. Fora a noite em que Steve não conseguia dormir por causa de seu pesadelo que tanto o atormentava, e Marty conversara com ele, parecendo saber de tudo o que Steve sentia. Ele desconfiou de Marty momentaneamente, pensando que ele era um feiticeiro por saber de tudo aquilo, entretanto, logo descartou a ideia chamando a si mesmo de maluco por duvidar de seu companheiro.

Então, de repente, Steve ouviu a voz de Dave próximo a ele. Sua atenção foi completamente desviada para ele. Seus pensamentos começaram a se organizar rapidamente e seu raciocínio a fluir. Pensava na possibilidade que acabara de pensar, e tentava concluir se podia ser verdade.

Dave era a pessoa menos próxima dele ali, entre todos. Ambos se odiavam, a única vez que realmente se ajudaram por vontade própria mesmo foi quando Colina Nevada estava sob ataque dos Endermans, e isso foi antes de Steve saber realmente quem Dave era. Os dois, e Bruce, lutaram juntos aquela noite, defenderam uns aos outros e, principalmente, à aldeia que eles consideravam como casa, Colina Nevada. Mataram e aniquilaram dezenas de criaturas sem nem mesmo se conhecerem direito, e depois veio a decepção, de saber a verdade sobre quem Dave era, um sádico e perverso. Aceitar que ele se juntasse àquela jornada foi realmente uma aceitação difícil para Steve, ainda mais por saber que Dave fora quem ateara fogo à casa de Bruce.

Nesse momento outro pensamento veio à mente de Steve: Se Dave não deveria nem ter ido naquela jornada inicialmente, o que ele ainda fazia ali com eles? Ele dissera que queria iria acompanha-los somente por um ou dois dias e logo os deixaria e tomaria seu rumo, coisa que não fizera.

Dave estava ajudando-os, por isso não falavam nada a ele, mas mesmo assim, não justificava a presença dele ali. Isso somente serviu para aumentar as suspeitas de Steve. Fazendo uma ligação de todos os acontecimentos passados, ele chegou à conclusão de que ele poderia estar escondendo algo deles. Dave disse que Roger fora quem o mandara queimar a casa de Bruce, pois ele suspeitara de que lá havia um feiticeiro, o que não fazia sentido, pois Bruce e Adália não eram, nem nunca foram. Havia o fato de que Roger também podia ser um feiticeiro, o que ajudava o homem dos olhos brancos. Dave podia estar trabalhando com ele, e Roger, não conseguindo o que queria queimando a casa de Bruce, mandou-o atrás deles para finalizar o serviço.

Era uma possibilidade bem sem noção, ao mesmo tempo em que não era. Tinha sentido, porém, havia mitos fatores dentro dela para que realmente Dave estivesse contra eles.

Não querendo pensar mais sobre o assunto, Steve tentou o dispersar de sua mente, afinal, como poderia confiar na palavra de Adrian? Ele mesmo tentara matar todos eles antes, crer em tudo o que ele falava podia leva-lo a insanidade. O melhor a fazer era deixar o assunto de lado e, talvez mais tarde, somente talvez, falar com Esmeralda a respeito.

Não muito longe de Steve, um pouco a frente, Bruce andava sozinho enquanto atrás dele Adália seguia de mão dada ao pequeno Fred. Bruce admirava-a e sorria enquanto olhava aquela bela garota que agora ele podia chamar de sua.

Uma mão tocou-lhe o ombro então e Nicko surgiu ao seu lado falando:

–Que vida louca a nossa, não? –Perguntou puxando assunto.

–Dizer que é louca é um eufemismo dos grandes... –Ele riu. –Olhe só isso... Lobos... E o Adrian, o que é aquilo?

–Pois é, a palavra maluco não é o bastante para definir o que aquela criatura é. –Nicko riu.

Eles deram mais alguns passos antes de Bruce fazer uma pergunta mais séria:

–Nicko, você está com medo?

–Medo? Do quê?

–Sei lá... De muita coisa... Olhe essa jornada em que estamos envolvidos, atravessando uma nação toda e indo para um lugar que não sabemos nem se vai dar alguma coisa, e o pior, sabemos de uma coisa que ninguém sabe, que há alguém por aí com segundas intenções bem malignas...

–Não ter medo é um pouco difícil. –Disse. –Até mesmo Stuart por baixo de todo aquele machismo deve estar se tremendo todo. Veja bem, deixamos tudo para trás, a nossa vida e nossas casas para ir numa busca que nem sabemos se vai dar certo e para enfrentar alguém que nem sabemos o quão poderoso é. É loucura, mas... Pense bem, eu pelo menos acho isso melhor do que viver uma vida pacata e normal em Colina Nevada plantando trigo.

–Pode ser melhor... Pode...

–Pelo menos entre nós alguém mais está feliz. –Disse.

–O que quer dizer com isso?

–Ora, não finja que não sabe do que se trata, todos já perceberam o que está rolando com você e Adália.

–Já? –Perguntou meio sem jeito.

–E eu tenho que dizer meu amigo... Parabéns. –Nicko deu um abraço amigável em Bruce e disse: - Desejo toda a felicidade do mundo para você dois porque está ficando cada vez mais complicado para nós, e saber que estamos mais unidos do que antes é muito bom. Espero que sejam felizes.

–Puxa... Muito obrigado... –Ele sorriu e retribuiu o abraço.

Já mais a frente ainda estava Esmeralda, conversando com Stuart e Marty.

–Será que conseguiremos um barco para atravessarmos o estreito de Curry? –Marty questionou.

–Não deve ser muito difícil. –Stuart respondeu. –Vamos parar naquele reino que eu não me lembro o nome...

–Mísfene. –Esmeralda respondeu.

–Esse aí... Oras, é um reino, possuem riquezas e coisa do gênero, sua frota comercial deve ser grande, ainda mais por ele ser litorâneo, barcos com certeza saem de lá o dia inteiro sem parar.

–Ou pedimos com delicadeza...

–Ou vamos ter que ir à força. –Stuart completou a frase de Esmeralda.

–Vocês estão sugerindo que roubemos um barco?! –Indagou assustado.

–Se necessário... –Esmeralda respondeu com a voz baixa. –Mas acho que só entrarmos como intrusos no barco já será o bastante, não precisaremos fazer tanta confusão. Só precisaremos ficar quietos.

–Assim eu espero... –Marty respondeu.

OS lobos pararam de repente e ficaram olhando de um lado para o outro, pareciam procurar por algo. Ambos farejavam o ar cuidadosamente como se verificassem alguma coisa. Então, um deles abaixou-se e farejou algo no chão e caminhando numa trilha imaginária que somente ele tinha ideia do que se tratava. Escalou umas grandes pedras caídas ali próximas e se enfiou num buraco, e logo saiu de lá de dentro com um grande pedaço de carne. Estava podre e suja. Os lobos não ligaram, retomaram a caminhada e foram comendo ao mesmo tempo.

–Achei que íamos ter problemas. –Marty suspirou aliviado.

–Sorte a nossa que não. –Esmeralda respondeu.

Seguiram os lobos silenciosamente, prestando atenção somente em seus comentários internos, enquanto suas mentes conversavam com si mesmo, fazendo reflexões e raciocínios distantes do mundo real.

Stuart tinha uma de suas mãos no cabo da espada, e a outra ele batia em sua perna ritmicamente.

–E Stuart? –Perguntou enfim.

–O que tem ele? –Esmeralda respondeu perguntando.

–Ora, o que tem ele? –Ele repetiu a pergunta com desprezo. –Muita coisa! Steve e Bruce já nos disseram coisas o bastante sobre eles, além de que eu moro em Colina Nevada também, eu sei como ele é.

–Pois é... –Marty concordou.

–Ele disse que ia passar só um tempo conosco. –Continuou. –E ainda está aqui, se bem me lembro ele devia ter ficado em Lua e depois voltar sozinho. –Ele deu uma pausa para Esmeralda compreender suas palavras. –E não se esqueça que foi ele mesmo quem admitiu de ateado fogo à casa de Bruce, além de que ele estava trabalhando para Roger, que convenhamos, é outra pessoa bem suspeita.

–E estava por aqui perseguindo Fred, e olha isso, Fred é apenas um garoto. –Marty finalizou o argumento de Stuart.

–Isso mesmo. –Seu companheiro terminou.

Esmeralda passou a mão em sua adaga.

–Eu sei, eu sei... Tenho pensado nisso também... –Respondeu pensativa. –Mas Stuart, como você mesmo disse, convenhamos, temos que admitir que ele está sendo útil para nós também, sem eles teríamos muitas dificuldades para passar as noites e nos livras dos monstros.

Stuart não respondeu de imediato. Tirou a mão do cabo de sua espada e colocou-as atrás de sua cabeça e suspirou relaxadamente.

–Sim, eu sei... Talvez realmente tivesse sido mais difícil sem ele conosco, só não me agrada a ideia de ele ter que nos acompanhar até agora, não foi o combinado. –Respondeu.

–Além de que eu não sei como manda-lo embora, acho que eu não posso simplesmente chegar e falar para ele ir embora, assim, de uma hora para a outra. –Disse.

–Isso quer dizer que ele virá conosco até Hammer? –Marty questionou.

–Não sei, mas ninguém o está obrigando. –Respondeu. –Só acho que devemos esperar mais, ele não fez nada até agora, a não ser nos ajudar, e manda-lo embora seria uma imprudência.

–Não confio nele ainda. –Stuart insistiu. –Ele é perverso, e o pior, é inteligente... Ou nem tanto, se bem sabe, foi por conta da negligência dele que dezenas de soldados morreram na ida para Téfires... E o que leva um homem como ele perseguir uma criança?! Uma criança!

–Tudo bem, acalme os nervos Stuart... –Esmeralda disse colocando a mão no ombro dele. –Estamos todos do mesmo lado, e estamos prestes a enfrentar algo que não temos ideia do quão perigoso pode ser, por isso, devemos nos manter unidos e sem brigas internas, e se Dave está nos ajudando até agora, devemos trata-lo como um dos nossos. Confio a você minha vida, você saiu e Colina Nevada junto com Steve e Nicko para ir atrás de mim, e eu sequer tinha ideia de quem você era... só acalme-se.

Stuart segurou a mão de Esmeralda tentando se conter e concordou:

–Tudo bem, é verdade, ele só está nos ajudando... Desde que ele não faça nada fora da linha. –Acrescentou.

–Acho que não é maluco de fazer alguma besteira agora. –Marty disse.

Eles seguiram conversando distraidamente durante o resto do dia enquanto os lobos os guiavam.

As únicas paradas que o grupo fez foi para sanar as necessidades de cada um e comer, além de descansar. Não encontraram nenhuma criatura pelo caminho e não precisaram tocar em suas armas durante um segundo sequer.

Já próximo ao anoitecer, eles montaram um acampamento a céu aberto, ali onde eles estavam não havia perigo nenhum de monstros, os próprios lobos de Adrian haviam exterminados todos que ousavam entrar naquele território ao longo de toda a sua vida. Acenderam uma fogueira e outras menores para se manterem aquecidos. Montaram camas improvisadas e se acomodaram ali mesmo. Os lobos ficaram um pouco mais a frente.

–É muito estranho pensar que estamos seguindo animais... –Nicko comentou no momento em que todos estavam ao redor da fogueira principal.

–Pelo menos eles não tentaram nos comer, como antes. –Bruce disse.

Bruce estava abraçado com Adália e havia, minutos antes, anunciado a todos que ele e ela estavam juntos. Todos saudaram e os parabenizaram, desejando-os felicidades. Stuart e Marty levantaram Bruce no ar e o sacudiram até que ele ficasse tonto. Foi pura comemoração, e quando se acalmaram, minutos e minutos mais tarde, estavam naquela conversa.

–Até agora. –Dave disse, apesar de quase sempre não se manifestar.

–E espero que não o façam nunca. –Marty falou.

–Estamos na direção certa? –Stuart perguntou a Esmeralda.

–Ao que tudo indica, sim, estamos. Parece que os lobos estão mesmo do nosso lado. –Respondeu.

–Nem sei mais no que acreditar nesse mundo... –Adália falou sorrindo.

Aos poucos, o sono foi abatendo cada um e eles foram aos poucos dormindo.

Mesmo sabendo que não corriam risco de monstros surgirem, não deixaram de fazer as típicas guardas de turnos, não podiam arriscar, e era nesse momento que Steve queria falar com Esmeralda, pois todos estariam dormindo e ele poderia conversar sobre tudo aquilo que o perturbava.

Esmeralda ainda não havia adormecido e estava sentada próximo à fogueira principal, admirando as brasas e o calor do fogo. Seus cabelos cor de fogo ondulavam enquanto o gelado e agradável sopro das montanhas os banhavam naquela noite atípica.

Hesitando se aquele era o momento correto para fazer aquilo, Steve se levantou sem fazer muito barulho e ficou de joelhos em sua cama improvisada olhando para os lados. Analisou todos e confirmou que estavam completamente adormecidos. Apesar de confiar a própria alma a eles, Steve queria que aquela conversa ficasse só entre ele e Esmeralda, pois ele temia que se mais alguém soubesse, a euforia e o barulho seriam gigantes. Decidido, foi até Esmeralda e sentou-se ao seu lado.

–O que está fazendo aqui acordada? –Ele perguntou. –Não é o seu turno.

–Eu sei, só estou sem sono... Aliás, esse turno também não é seu, o que está fazendo aqui também?

–Bom, estou sem sono. –Ele respondeu sorrindo.

–Haha. –Ela fez uma risada forçada e intencional. –Já viu os nossos guardas desse turno?

Esmeralda apontou para Nicko e Bruce que deviam estar acordados de guarda, mas na verdade estavam num sono tão profundo que Nicko estava até roncando e Bruce arfava fazendo seu peito descer e subir descontraidamente.

Os dois riram alegremente, tentando se conterem para não acordarem os outros que dormiam.

–Acho que se a gente dependesse só deles para sobreviver a gente já era... –Steve disse enquanto ainda ria.

–Já era... –Esmeralda riu também.

Depois de esse momento descontraído, o silêncio reinou sobre os dois novamente e aquele clima gelado retornou ao seu lugar, deixando a noite exatamente como estava antes de Steve surgir.

–Então, por que não consegue dormir? –Steve perguntou a Esmeralda.

Esmeralda suspirou e pegou uma pedra que estava jogada perto dela. Girando a pedra em sua mão, ele a arremessou dentro do fogo levantando altas chamas e faíscas e criando um efeito belo e único, que só poderia se recriado numa noite como aquela.

–Ah... Muitas coisas... –Esmeralda respondeu. –Penso e penso, reflito e raciocino...

–E isso a preocupa? –Ele continuou.

Esmeralda olhou para o céu e seus olhos refletiram o belo céu negro e banhado em brilhantes estrelas. Steve ficou admirando-a, ainda sentia muita coisa por ela, e ele se sentia muito confuso.

–Bom... Sim, e muito... –Disse com voz baixa.

Steve pegou sua mão e disse:

–Então por que não compartilha? Afinal, é sempre a gente que cuida de tudo aqui, não é justo que só você se sinta assim... Vamos, pode falar.

Ela suspirou.

–Tem tanta coisa que eu nem sei direito por onde começar... –Ela falou ainda olhando para o alto e contemplando o belo céu negro. –Acho que começar pelo fato de que nossa missão é uma missão sem... Digamos, um objetivo definido...

–Claro que é, por que diz que não? –Ele indagou.

–Steve, estamos atravessando um continente inteiro para irmos até um reino completamente desconhecido para nós, e quando chegarmos lá, vamos procurar pelo o quê?

Steve franziu a testa e a encarou.

–O que já estava combinado, vamos atrás de pistas sobre o homem de olhos brancos. –Respondeu. –Vamos atrás de qualquer coisa que seja suspeita, de qualquer coisa que chame a nossa atenção, e principalmente, a sua, já que consegue sentir as coisas muito além de nós. Hammer é o maior reino entre todos, como você mesmo disse. Não sabemos o que aquele maldito quer, mas se ele está em Téfires, Colina Nevada e em Lua, está claro que ele está em Hammer também.

Esmeralda soltou a mão de Steve e chegou mais perto dele, deitando-se em seu ombro.

–E depois? –Ela perguntou simplesmente.

–Depois? Oras... –Steve pensou.

Foi aí que tudo começou a se clarear na mente de Steve. Qual era a meta deles ali?

Ele não respondeu.

–Entendeu Steve? –Ela perguntou com a voz macia como algodão. –Olhe o que isso se tornou, veja o tanto de pessoas que estão conosco nessa busca, estávamos cegos pelo ódio e pela falta de informação. O que sabemos? Sabemos que há um homem bem mais forte do que qualquer coisa que possamos imaginar vagando por aí, e unindo ao seu lado uma nova ordem de feiticeiros e bruxos para fazer sabe-se lá o que. Só nós sabemos disso e estamos fazendo o que? Atravessando o continente inteiro sem rumo decidido?

Steve ficou sério. Estava tudo fora de controle, na verdade, tudo sempre esteve fora de controle, eles só não haviam sido capazes de perceber até aquele momento. A busca deles era fútil, eles não tinham um objetivo totalmente definido, tinham somente medo e ódio, que foram o que os levaram até ali.

–Esmeralda, olhe por tudo o que passamos para chegarmos até aqui... –Ele disse pensando delicadamente nas palavras antes de dizê-las. –O que nos trouxe até aqui não foi nós mesmo, e sim as consequências de tudo aquilo que passamos... –Ele fez uma pausa. –Ou do que somos...

–Como assim?

–Oras, consequências do que somos... Você, uma feiticeira e princesa, herdeira do trono de um reino inteiro e que vivia às escondias... E eu um homem solitário que aprendeu com a dor como lidar com os monstros que nos rodeiam...

–Não sei... E por que isso nos trouxe até aqui?

–Esmeralda, se lembra de quando lutamos com aquele demônio flamejante no meio de Téfires? –Esmeralda assentiu. –Então... Não faço ideia de como, mas aquele homem dos olhos brancos, seja quem for, ele sabe quem eu sou, sabe tudo sobre mim... E eu não faço ideia de quem ele seja. Ele me odeia, ele me quer morto, e eu sequer sei seu nome. Como pode ele saber tanto sobre mim? Será que ele sempre me perseguiu durante toda minha vida? Então onde estava ele? Por quê?

Esmeralda não sabia o que dizer, tampouco precisou preocupar-se muito com isso, pois logo Steve continuou falando:

–Não sei como, mas ele sabe de mim... E naquela noite você também sabia de algo, sabia que tinha algo a mais acontecendo por detrás das cortinas e que alguém não era quem parecia ser, e você estava certa sobre Naum... E como você lutou aquela noite, o que foi aquilo... Não tenho palavras para descrever o quanto você me impressionou, e tenho certeza que o infeliz também deve ter se tremido todo.

–Ah, para, nem foi assim tão bom, nós nos salvamos por pouco, além de que muitos perderam a vida para aquele desgraçado. –Ela disse séria.

–Nem foi assim? –Ele perguntou surpreso. –Esmeralda, você o enfrentou sem medo e conseguiu por abaixo a muralha de Téfires! A muralha de Téfires! Sozinha! Olhe isso, como você fala que não foi nada?!

Esmeralda relembrou o seu feito aquela noite e de como aquilo quase gastou todas as suas energias e também quase a levou a morte. Toda a muralha que cercava Téfires foi abaixo de uma vez, ela surpreendeu a si mesma naquele fato, mesmo quando se lembrava disso dias e dias mais tarde duvidava ainda que tivesse sido ela mesma quem fez isso.

–Quem sabe realmente tenha sido um belo feito... –Ela disse sem graça. –Mas aonde você quer chegar com isso?

–Não vê? Olhe nossas vidas, desde que eu saiba, elas não tiveram um pingo de normalidade... E então nossos caminhos se cruzaram em Téfires... Talvez tenha sido o próprio destino que nos escolheu para impedirmos seja lá o que tiver que ser.

Ela abraçou-o com força e perguntou baixinho:

–O que fazemos então? Desistimos dessa busca e voltamos para Colina Nevada?

–Não, chegamos até aqui, não vale a pena. –Ele respondeu sereno. –Além de que aqui ou lá em Colina Nevada os problemas vão nos perseguir. Roger tentou matar Bruce e Adália e com certeza ainda não se esqueceu deles, e de nós também, além de que todo o reino de Téfires ainda está atrás de você e de mim.

–Realmente nossas vidas são bem perturbadas...

–E acho que é por isso que não nos resta opção, somos possivelmente as únicas pessoas que sabem disso e que podem impedir o que pode estar por vir. Nós somos os únicos que sabemos que aquele maldito existe e planeja algo, e só nós podemos impedir.

–E como? –Ela perguntou.

–Não faço ideia, mas já que chegamos até aqui com nosso plano, vamos seguir com ele e lá procuramos por tudo que seja suspeito, tudo e qualquer coisa. Se somos os únicos e já chegamos até aqui, não vamos desistir agora.

–Mesmo que isso possa nos matar? –Esmeralda indagou.

–E o que não pode?


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