Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 29
A Matilha de Kellvington


Notas iniciais do capítulo

"O vento soprava loucamente, seu barulho era infernal, e nem o último uivo da matilha foi ouvido antes do ataque final."



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Dentro da cordilheira, tudo era denso e nebuloso. O vento uivava quando atravessava no meio daquela imensidão de rochas e o Sol fazia questão de ir embora lentamente para que pudessem sentir uma última onde de calor antes que o frio dominasse tudo por ali.

A vegetação ali era pobre, plantas quase não havia. O clima também não colaborava muito para isso. Tufos de grama e musgo cresciam aqui e ali, de vez em quando.

A neve deixava uma finíssima camada de neve por onde eles estavam. Certamente não estavam na época mais fria do ano, senão eles com certeza teriam problemas. A aldeia Lua estava realmente com a temperatura mais baixa quando passaram a noite por lá. Porém, não poderiam contar com a sorte, se uma nevasca decidisse cair ali, eles não teriam saída.

Algo que os perturbavam bastante é que por essas regiões sempre há bastantes monstros, por ser frio e a ação do Sol não ser tão intensa, é um bom lugar para eles viverem. Não haviam encontrado nenhum até o momento, o que com certeza deixava todo mundo desconfiado de qualquer coisa suspeita que se movesse na paisagem morta ao redor deles. Algo estava errado.

O Sol já havia sumido no horizonte e a noite já havia caído havia relativamente muito tempo, e eles não tinham encontrado ainda uma caverna que servisse de abrigo. Quando encontravam, esta não era grande o bastante para acomodar todos, e logo tinham de partir a procura de outras. Em certo momento foi sugerida a ideia de que se separassem em grupos e que dormissem separados em cavernas, pois assim haveria espaço para que todos dormissem, fora o fato de haver cavernas em abundância por ali, mas logo todos concordaram que não era uma boa ideia eles se separarem, definitivamente alguma coisa errada ia acontecer com eles caso fizesse isto.

Mesmo a noite já tendo chegado e não haver mais nenhum raio de Sol sequer, não encontraram nenhuma criatura. Nenhum Creeper, nenhum zumbi ou esqueleto, nem mesmo Aranhas, não esbarraram em nada. Ao mesmo tempo em que isso era uma coisa boa, era ruim também, pois indicava que algo ali estava errado. Monstros sempre veem a noite, não importa a situação, pois são irracionais, são insanos, o desejo único deles é sangue e carne, e fazem qualquer coisa sem pensar para se saciarem. Ali, no meio do nada, no frio e no escuro, certamente é um bom lugar para eles viverem, e não havia sequer indícios de que estiveram ali em algum momento.

Cerca de duas horas mais tarde, acharam uma caverna enfim. Não era das melhores, mas já era o bastante para eles. Começaram então a montar o acampamento provisório, acendendo as fogueiras e montando a barreira.

–Até que enfim um lugar para passarmos a noite! –O pequeno Fred comemorou já cansado.

–Pois é pequeno, até que enfim... –Steve passou a mão bagunçando o cabelo de Fred. –Até que enfim...

Como era rotina já eles terem que prepararem acampamentos provisórios em cavernas, cada um já sabia sua função e o que fazer e chegando, já iam direto para seus postos e devidos cargos.

Não muito depois de eles terem chegado e acendido a figueira, ouviram ao longe um longo e alto uivo.

–Lobos... –Fred disse com medo.

–Não se preocupe Fred, são apenas lobos. –Esmeralda tentou acalmá-lo. –Já enfrentamos monstros muito piores e mais assustadores, e você sabe que em Colina Nevada lobos estão todos os dias por lá perto.

–Eu sei... Mas eles dão medo... –Ele disse baixinho como se a contasse um segredo, e chegou mais perto dela, abaixando ainda mais o volume de sua voz: - Se algum deles vier para cá, não olhe nos dentes deles, são muito assustadores e muito afiados.

Esmeralda achou muito bonita a reação da criança. Dando-lhe um beijo na testa, ela disse:

–Não se preocupe, porque se algum deles vier não vou deixar que nada ocorra a você.

–Muito obrigado! –Fred deu um abraço nela e saiu correndo para se juntar Marty, que ele gostava muito.

Adália estava num canto observando tudo, e sorriu também.

–Às vezes a inocência de uma criança é necessária para nos mostrar que nem tudo está perdido. –Adália disse.

–E como... E como é necessária... –Ela concordou.

De repente, ao longe, mais uivos puderam ser ouvidos. Dessa vez foram mais de um, em conjunto e completamente uníssono, uivos eram lançados no ar e a presença de uma matilha ali na proximidade era clara.

Na saída da caverna, Steve e Dave observavam a volta a procura dos supostos lobos, e de monstros também.

–Isso não parece bom, são muitos lobos... –Dave comentou.

A relação dos dois ainda não estava boa, mas já melhorara bastante desde o inicio da jornada, afinal, Dave estava se mostrando competente e útil, além de fiel até o momento.

–Não sei... –Steve respondeu. –Quase nunca cruzei com lobos em meu caminho, e quando aconteceu, nunca tive problemas.

–Não sou nenhum sábio, mas podemos estar em ameaça... Talvez eles tenham sentido nosso cheiro e pensem que somos invasores... –Continuou.

–O jeito é esperar e ver se eles vão vir atrás de nós. –Steve disse.

E já ia entrando na caverna de novo quando a mão de Dave pousou em seu ombro e o segurou, fazendo-o voltar.

–Acho que isso não vai ser mais necessário... –Dave respondeu e apontou para um ponto alto em frente à caverna deles, onde um lobo os encarava curioso.

Um lobo cinzento e solitário estava parado com a cabeça inclinada olhando fixamente para o ponto em que eles estavam. O animal não demonstrou nenhum sinal de que atacaria, tampouco demonstrou algum sinal de amizade, somente continuou parado os encarando.

Então mais lobos chegaram. Outros dois surgiram das sombras e se posicionaram assim como o primeiro, olhando para eles com o olhar curioso. Tinham sempre o mesmo jeito engraçado, com a cabeça inclinada os olhando.

O restante deles, logo percebeu o que Steve e Dave estavam vendo. Logo, Bruce, Adália, Esmeralda e todos os outros estavam parados logo na saída da caverna olhando silenciosamente para os lobos, e os lobos para eles.

Fred andou devagar e ficou do lado de Esmeralda, abraçando-a, amedrontado. Ela passou a mão por sob o ombro dele e tentou mostrar segurança, na intenção de não assustá-lo mais.

Mais e mais lobos então voltaram a surgir. Saindo de todos os pontos da cadeia de montanhas, os mais diversos lobos iam aparecendo. Brancos, cinzentos, amarronzados, todos tinham a mesma reação de ficar encarando os novos visitantes.

A cada minuto que passava não cessava a chegada dos animais, e já era praticamente impossível de se contar quantos haviam ali. Grandes, pequenos, fortes ou fracos, eram muitos.

Institivamente todos pousaram suas mãos sobre as espadas, e Bruce e Marty sobre seus arcos. A tensão no ar estava alta, e a adrenalina começava a tomar conta do corpo de cada um.

Foi então que um dos lobos decidiu avançar. Lentamente ele começou a andar até a caverna. Seus passos o levavam devagar e sombriamente, seu pelo marrom balançava ao vento frio e suas orelhas estavam altas, sempre atentas a qualquer mínimo imprevisto. Ele parecia não ter nenhuma pressa, pelo contrário, ele ia devagar para se certificar de que era seguro.

Não chegou a ser nem um minuto, mas foi uma eternidade conforme ele se arrastava até eles. Queriam poder reagir de alguma maneira, mas sabiam que algum movimento brusco poderia fazer com que a matilha avançasse sobre eles.

–Só não façam nada... Fiquem parados e só ataquem se ele atacar... –Dave falou entre os dentes.

–Falar é fácil... –Nicko respondeu entre os dentes também.

Fred abraçou Esmeralda mais forte e Adália segurou sua outra mão.

O lobo continuou sua lenta caminhada, fazendo os segundos se arrastarem até que enfim ele chegou perto deles. Parou a uma distância de cerca de um metro e meio e ficou parado. As orelhas em pé, os olhos bem abertos e o rabo imóvel. Agora cada passo era mais lento ainda. De pata em pata, ele continuou mais lento do que antes. Fred puxou Adália para perto e as duas garotas agora escondiam Fred dos animais lá fora. O garoto estava perdidamente amedrontado.

O lobo amarronzado começou então a rodeá-los. Andando em círculos, ele deu voltas e mais voltas ao redor do grupo. Farejou em alguns momentos cada um deles.

Quando ele se aproximava para farejar, Dave sibilava:

–Não façam nada... Não mexam um músculo... Não reajam...

O animal continuou nessa rotina até que parou de rondá-los e voltou a ficar na frente deles. Estava a uma distância de quase dois metros agora, não muito diferente de onde estava antes. E ficou imóvel, olhando para eles ainda.

–E agora? –Fred indagou com medo.

–Fique quietinho pequeno... Ainda não sabemos se é seguro... –Marty respondeu.

E foi então que o lobo marrom que havia observado eles ergueu a cabeça em direção ao céu e soltou um longo e temível uivo. Foi extenso e intenso, pareceu que ele não ia se calar enquanto saia de sua boca aquele som estridente.

Assim que ele calou-se, baixou a cabeça e rosnou para eles, mostrando os dentes afiados. Suas feições mostraram-se monstruosas e raivosas. Mas o pior de tudo foi que todos os outros lobos restantes ali fizeram o mesmo.

–E agora?! –Fred quase gritou.

Ninguém respondeu.

O lobo vinha maliciosamente para cima deles, sempre alerta. Cada passo dele era de pura tensão, e de repente ele saltou num bote feroz.

Por puro instinto, Steve somente defendeu a si mesmo a aos outros, e sua espada cortou o ar, cortando também o tronco do lobo, aniquilando o animal. O lobo caiu duro no chão gelado espalhando logo uma poça de sangue. Mais enfurecidos ainda, seus companheiros não hesitaram em atacar seus intrusos.

–Corre! –Ele gritou.

–Para onde?! –Stuart gritou em resposta.

Steve também não fazia muita ideia, mas para o interior da caverna não era, isso ele tinha certeza.

Todos correrem então para fora, que era a única saída. Fred se agarrou a Esmeralda, mas ela sabia que se a situação ficasse mais complicada ainda, sua magia seria necessária. Ainda bem que Adália percebeu isso e pegou o garoto no colo antes que todos saíssem em disparada. Bruce pensou também em segurar a mão de Adália na fuga, mas ele precisaria manejar o arco e ela carregava Fred nos braços.

Um lobo que vinha ao longe pulou de cima de uma rocha, mas seu trajeto foi interrompido por uma flecha atirada por Marty. O animal foi lançado e caiu de lado, ferido.

Eles seguiram pelo lado direito, que estava igualmente cheio dos animais. Por aquele lado, porém, havia uma pequena passagem que poderiam usar como saída. Era uma falha entre as rochas que levava para outro lugar da cordilheira. Iam somente cortar caminho para tentarem escapar.

Todos que tinham espadas em mãos as brandiam nervosamente e faziam movimentos cortando no ar na esperança de assustar os lobos ali próximos. Esmeralda decidiu recorrer a sua magia, tinha mais controle com ela do que com uma espada mão.

Outro animal ousou saltar sobre ele, e Nicko desferiu um golpe que cortou a lateral do corpo do lobo e ele recuou rosnando. Mais e mais vinham junto, e Esmeralda conseguia impedir que eles matassem a todos ali criando um tipo de barreira invisível toda vez que um deles saltava. Só que ela não poderia fazer aquilo para sempre.

Alcançaram a fenda e entraram nela, disparando. Adália soltou Fred e agora o garotinho começou a correr também. O medo no olhar dele estava claro, estampado nitidamente.

Atravessaram a falha rapidamente e logo saíram do outro lado. Enquanto isso os lobos iam entrando aos montes na fenda, eles tinham de se apressar ou virariam jantar.

Decidiram seguir o caminho do rio que cortava as montanhas, pois certamente ele os levaria até a saída agora que já haviam perdido completamente a direção. Saíram correndo pela margem, porém o espaço ali era pouco para que todos pudessem correr juntos, e alguns dos homens tiveram que ir pela água, que por sorte não era funda, atingindo somente o tornozelo deles.

O barulho dos passos apressados deles ecoava por todas as paredes rochosas, ricocheteando e ecoando até o além. Mais alto do que os passos deles, porém, eram os latidos e os uivos dos lobos enfurecidos que os perseguiam insanamente. Os rosnados penetravam no ouvido deles e fazia gelar até a alma.

–Ninguém merece, a gente só sabe fugir... –Stuart disse correndo ao lado de Steve. –Aqui, em Téfires...

–Quer enfrentar eles? –Steve o olhou franzindo a testa seriamente.

–Acho que não... Mas o quê?! –Stuart apontou para cima.

Dos dois lados, onde as altas montanhas se estendiam nas alturas, mais lobos vinham descendo na direção deles. Saíam da misteriosa escuridão e vinham descendo numa inacreditável velocidade e habilidade, raivosos como eram.

E para piorar, na direção em que eles iam correndo, mais outros vinham em disparada.

–Vão nos cercar! –Marty gritou.

–Já nos cercaram! –Esmeralda respondeu. –Se ficarmos juntos vão nos pegar mais facilmente!

–Não! –Stuart gritou de volta. –Não! Não! Não mesmo! Fizemos isso já, só vai dar mais problemas!

–Cuidado! –Bruce apontou para um lobo que vinha dos céus, com a boca aberta preparada para abocanhar algum deles.

Uma flecha foi certeiramente na sua cabeça, atravessando-a. O animal sem dúvidas caiu morto no rio, com a água levando seu sangue.

Mais dois vieram, um de cada lado. Dave defendeu-se de um enquanto o outro era repelido pela magia de defesa de Esmeralda. Percebendo então que não tinham mais como correr, em qualquer direção, pararam bruscamente e se preparam para enfrentar toda a matilha. Bruce e Marty recarregaram seus arcos com flechas, Esmeralda preparou-se para usar seus poderes enquanto o restante mantinha as espadas em mãos, atentos. Adália tentava conter Fred antes que ele tivesse um infarto ali mesmo, e o garotinho mantinha-se abraçado a ela.

Os lobos chegaram e começaram a cercá-los de novo. Alguns pararam de correr e ficaram rosnando e babando para eles. Outros ousavam avançar e recuavam logo com medo do ataque das espadas.

Instalou-se então um momento de altíssima tensão e medo. Dezenas, ou centenas, não tinham como saber, de lobos estavam cercando eles, rosnando e tremendo de raiva preparados para atacá-los, e a única coisa que podiam fazer era se defender.

Ninguém atacou inicialmente, como antes. Todos ficaram ali se encarando, esperando quem ousava ser o primeiro a desafiar os inimigos. O barulho das batidas do coração de cada um parecia ecoar como tambores, sendo terrivelmente irritante. O suor frio escorria pelo corpo deles enquanto a adrenalina desafiava os batimentos cardíacos a irem mais rápido. Eles seguravam as espadas com as mãos trêmulas.

A água do rio atravessava o meio daquela confusão inocentemente, ecoando pela cordilheira calmamente. O leve barulho da água é sereno, não importa qual a situação, pena que ele não é capaz de acalmar lobos sedentos por carne e sangue.

E como antes, um dos animais ergueu a cabeça aos céus e soltou um longo e terrível uivo. Entretanto, dessa vez, logo após o primeiro, todos os outros fizeram o mesmo. Foi um barulho ensurdecedor, centenas de lobos uivando coletivamente numa noite silenciosa. O som atravessava e penetrava o corpo de cada um, arrepiando a todos.

Incrivelmente, eles pararam simultaneamente e viraram a cabeça com um olhar mortal para eles. Rosnaram e uma parte deles partiu para o ataque. Cerca de vinte deles saltaram com os dentes afiados preparados para uma fatal mordida. Bruce e Marty conseguiram acertar dois deles, Esmeralda afastou três com sua magia e os homens desferiram golpes com as espadas. Dois lobos foram mortos, outros feridos, mas dois deles conseguiram passar livremente pela barreira deles atacaram. Um mordeu Dave no braço enquanto o outro atacou a perna de Nicko. Dave gritou de dor e soltou sua espada, deixando-a cair na água. Marty se virou e habilmente atirou uma flecha que atravessou o animal de um lado até o outro. O lobo largou o braço de Dave e caiu no rio, já morto. O braço dele sangrava muito e uma pequena parte da carne estava exposta.

Nos mesmos instantes em que tudo isso ocorreu, Nicko tinha outro deles agarrado em sua perna, enfurecido. Sem hesitar, ele atacou o animal, mas em seu desespero, sequer conseguiu acertar a criatura que estava debaixo dele mesmo, e caiu sentado. O lobo iria destroçar sua face se Steve não tivesse impedido. O resto já é previsível: Mais outro cadáver animal estendido no chão.

Esmeralda e Bruce foram os únicos que não haviam desviado a atenção e continuaram a se defender e a defender os colegas. Ela exigiu de si mesma mais força, e usou de sua magia mais intensamente naqueles momentos, chegando a atacar cinco animais de uma só vez. Bruce tirava rapidamente contra aqueles que ousavam avançar demais, ou então contra aqueles que já haviam avançados e iam invadir o espaço deles.

Nicko se recuperou rápido, levantou-se, pegou sua espada, balbuciou nervosos agradecimentos a Steve e voltou a tempo de desferir outro golpe. Por outro lado, Dave estava caído de joelhos, segurando seu braço ferido que sangrava intensamente. Ele tentava conter gritos de dor, e as veias saltadas eram sinal disso. A dor seria maior ainda se o nível de adrenalina que o possuía fosse menor. Os lobos o atacavam, pensando que ele estava desprevenido, e de fato ele estava, mas seus companheiros sempre o defendia assim que era possível. O sangue quente escorria para fora da ferida e encharcava seu braço.

–Dave! Dave! –Adália, que era a única que não tinha como defender o grupo, foi ajudar Dave. –Você está bem? Está muito mal?

Dave ergueu o olhar e sua cara estava completamente vermelha como uma pimenta, ele parecia que ia explodir ali mesmo. Seu braço continuava a jorrar sangue pela ferida. Enquanto isso, o barulho da batalha deles contra os animais seguia ao redor dos dois.

–O que você acha? –Ele perguntou irônico com a voz rouca.

Olhando ao redor e raciocinando, Adália rasgou então uma parte de sua roupa e enrolou no braço dele, na esperança de estancar o sangramento. Enrolava rapidamente com medo de serem atacados antes. Consegui u terminar seu curativo improvisado a tempo. Ele não dera muito certo, mal ela acabara de fazê-lo e já estava completamente encharcado com sangue. Mesmo assim, deu uma amenizada na ferida.

–Obrigado... –Ele agradeceu com a voz fraca.

Dave usou seu outro braço para procurar sua espada debaixo da água, e a encontrou logo. Mas ele estava fraco, conseguia erguer a arma, todavia, não teria força para manejá-la depois, ainda mais com o braço ruim.

O sangramento foi magicamente se curando e se disfarçando aos poucos devido ao curativo de Adália.

Já ao redor deles, o restante continuava a lutar com os lobos. Alguns animais, já feridos, recuavam e ficavam no canto, recuperando-se para atacar brevemente.

Percebendo, portanto que conseguiriam logo uma brecha se continuassem trabalhando desse jeito, Steve avisou aos outros para que estivessem preparados para continuarem correndo a qualquer momento. Stuart sugeriu que eles escalassem o paredão rochoso ao lado deles.

–Dave está ferido! Não vai conseguir! –Adália alertou. –E tem Fred ainda!

Stuart deu um passo para trás e desenhou um oito no ar enquanto atacava outro lobo. Foi um belo ataque.

–Temos que conseguir! –Respondeu. –Se continuarmos correndo seguindo o curso do rio eles vão nos alcançar logo!

–E se escalarmos seremos mais rápidos?! –Marty indagou com a voz esganiçada logo após atirar uma flecha, que infelizmente ele errou.

–Agora! –Steve gritou de repente.

Cada um foi para um lado então, e outros continuaram parados. A maioria deles seguiu a ideia de Stuart, mesmo que não fosse muito boa. Começaram a escalar o paredão, que não era muito inclinado para a sorte deles. Logo, todos entraram num consenso e começaram a subir o paredão.

–Vamos logo! –Stuart disse ajudando Dave a subir, já que ele estava ferido. Bruce o ajudava também.

Eles começaram a escalar, e alguns lobos se dirigiram até eles. Esmeralda ficou com as costas apoiadas na parede e começou a desferir seus ataques, impedindo que os animais subissem. Ela ficou ali, apoiada, e disse:

–Subam! Eu seguro eles!

–Não mesmo! São muitos! –Steve respondeu.

Ela não respondeu, mas Steve estava decidido a ficar e ajudá-la. Fez um sinal para que o restante subisse, e eles concordaram. Stuart e Bruce levaram Dave para cima, pois ele estava prestes a desmaiar; Adália pegou Fred e subiu com ele. Marty também se dispôs a ficar para que o restante subisse.

Steve com a espada, Marty com o arco e Esmeralda com sua magia, agora eles eram um trio imbatível, assim como no Ninho de Creepers, a diferença é que agora era Marty em vez de Bruce. Com menos gente era mais fácil manter a organização, acabava sendo bem mais fácil do que tendo mais pessoas para ajudar.

Os lobos, mesmo que viessem de todos os lados, não tinham nenhuma chance. As flechas de Marty iam a longas distâncias, assustando e afugentando os lobos feridos. Steve impedia que os lobos já próximos a eles atacassem e fizessem o mesmo que fizeram com Dave. Esmeralda tinha a vantagem de conseguir atingir seus alvos tantos próximos a ela quanto distante.

Fizeram isso durante uns dois minutos até que ouviram a voz de Bruce vinda lá de cima:

–Subam rápido! –Ele dizia. –Eu defendo a guarda de vocês!

Eles não estavam muito confiantes que Bruce sozinho defenderia os três de todos os animais, mas não tinham outra saída, de novo. Viraram-se simultaneamente e começaram a escalar. Algumas flechas de Bruce podiam ser percebidas voando e cruzando o ar. Era possível também ouvi-las atingindo os lobos atrás deles.

Quando estavam quase alcançando o restante deles, um lobo mordeu o tornozelo de Marty.

–Me ajudem! –Ele gritou assustado quando caiu e começou a ser arrastado para baixo.

O lobo cinza que o pegara começou a arrastá-lo para baixo, em direção aos demais. Steve foi atrás dele assim que percebeu.

–Fique aqui! –Disse para Esmeralda.

Ela ficou, mas quem foi com ele foi Stuart.

–Ele é meu companheiro! –Gritou.

Os dois desceram praticamente saltando.

Outro lobo chegou e mordeu o outro pé de Marty e começou a puxá-lo mais rápido para baixo. Marty soltou um grito de desespero.

–Mais rápido! Vão destroça-lo! –Steve gritou.

Stuart saltou quando estava quase a uns quatro metros dos lobos e saiu rolando pelo chão. Feriu-se bastante. Porém, alcançou Marty. Atacou um dos lobos e o outro rosnou raivosamente para ele antes de fugir.

–Levanta Marty! Vamos! –Stuart disse erguendo seu colega.

Marty, mesmo ferido, começou a subir com a ajuda de Stuart. Steve foi defendendo a guarda deles, seu trabalho foi facilitado também devido ao fato de já terem feridos muito lobos.

Alcançaram o fim e não pararam de correr. Algum deles mancavam, outros já estavam bastante acabados, mas sabiam que se parassem, era suicídio.

Alcançaram um pouco depois o curso do rio novamente e decidiram segui-lo para ver onde iria parar. Seguiram apressados pelo caminho que a água guiava quando foram surpreendidos numa espécie de encruzilhada.

De repente os lobos surgiram dos quatro lados possíveis, feridos e machucados, mas em grande número. Estavam raivosos e agitados. Latiam e alguns tinham até sangue na boca (ninguém sabia do que se tratava). Estavam cercados.

Dave caiu de joelhos, estava muito fraco. Todos estavam esgotados, sem forças para segurar uma espada, e ao se depararem com aquelas situação, viram a figura da morte ali mesmo. O vento soprava loucamente, seu barulho era infernal, e nem o último uivo da matilha foi ouvido antes do ataque final. Um lobo saltou do meio dos outros e ia destroçar com a maior fúria Bruce quando foi interrompido.

No meio da matilha, um uivo diferente pode ser ouvido. Todos puderam ouvi-lo, só não sabiam o que tinha nele que o deixava diferente. Ele era artificial, era agudo, era... Humano.

Uma figura humana surgiu no meio dos lobos e das sombras de repente. Parecia ser a silhueta de um homem. Trajava uma capa marrom como a que Esmeralda sempre usava (e que ela estava no momento), e mantinha seu rosto encoberto.

O dono do uivo era claramente ele, e de repente uma voz masculina saiu daquela figura:

–Mas o que é isso? –Perguntou.

Todos acharam que ele falava com eles, mas um lobo se aproximou dele e ele se agachou e começou a “falar” com o animal. O mais estranho é que o ataque dos demais cessara.

–Como assim? O que é tudo isso? –Ele perguntava para o lobo. –Não sabemos ainda quem eles são, olha a bagunça que vocês fizeram! Que modos são esses?

O homem se levantou, andou no meio dos animais tranquilamente, como se eles não fossem bestas vorazes, e disse ao grupo:

–Desculpe pelo ocorrido, mas acho que podemos começar de novo, não? –Ele estendeu a mão e tirou o capuz, revelando uma aparência bem peculiar para um “garoto” como ele.


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