Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 27
Aldeia Lua


Notas iniciais do capítulo

"Decidido, ele levantou a cabeça de Adália e então o olhar dos dois se encontraram. Ela tinha uma expressão vazia e triste. Bruce limpou as lágrimas que escorriam do rosto dela e tirou os longos cabelos negros caídos sobre seu rosto."



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Desolado, Steve sentou-se ao lado de Esmeralda. Eles haviam arrumado um local para passarem aquela noite, não era uma caverna, mas se assemelhava a uma. Por dentro era tudo muito pequeno e baixo, de modo que você deva andar de quatro para poder se movimentar lá dentro. Claramente, com essa falta de espaço, as únicas pessoas que permaneciam lá dentro eram as pessoas que estavam dormindo, e eles revezavam, naturalmente.

Do lado de fora, Steve, Esmeralda, Bruce e Stuart estavam de pé, guardando a entrada e se preparando para o ataque de qualquer possível criatura que, graças à escuridão, até o momento nenhuma havia perturbado eles.

Retornando ao ponto inicial, Steve se sentou ao lado de Esmeralda.

–Não vamos conseguir mais do que conseguimos antes. –Ele disse ao se juntar aos seus colegas.

–O que você falou com ele? –Stuart perguntou.

A pessoa da qual eles estavam falando era Dave, que inicialmente tinha recusado com todas as forças passar a noite com eles, e Steve até apoiou a decisão dele, mas ao ver que não tinha outra saída, acabou cedendo e se deixando levar.

Na verdade o que eles queriam com Dave por perto era arrancar dele o máximo de informações que podiam. Sabiam muito bem que possivelmente haviam alguém em Colina Nevada que estava trabalhando para o homem dos olhos brancos, e sabiam que quem quer que fosse essa pessoa, não devia ser alguém fraco. E então, de repente, Dave surge falando que Roger ordenou um ataque à casa de Bruce por motivos que ele justificou como magia, esse já era o primeiro passo para se desconfiar dele.

–Ele me disse que Roger falou sobre magia e aura mágica vinda da casa de Bruce, só o que já sabíamos... –Steve respondeu.

–Você o perguntou se ele falou com Roger sobre como ele sabia disso? –Esmeralda questionou.

–Perguntei, e ele me disse que ao perguntar isso a ele, Roger simplesmente ignorou o que ele tinha dito e, como se não tivesse ouvido, continuou falando do seu plano. –Explicou.

–E ele entrou em mais detalhes sobre o motivo desse plano envolver queimar minha casa? –Bruce perguntou.

–Bom, inicialmente nós já sabíamos que ele fez isso porque Roger disse que pressentiu uma aura mágica vinda da casa e que ele afirmou sermos perigosos. –Steve disse. –O que não faz sentido agora é como ele pressentiu isso, Esmeralda é a única entre nós que certamente carrega uma aura mágica, e estávamos bem longe da sua casa quando isso aconteceu.

–Não é possível que da última vez que Esmeralda esteve lá, - Bruce disse. - e já tem muito tempo, - Acrescentou. –ela tenha deixado algum rastro para trás?

–Impossível. –Esmeralda respondeu. –A aura mágica de um feiticeiro o acompanha onde quer que ele vá e só se manifesta quando está com ele, não deixando rastros. –Explicou. –Mas pelo que sei da história até agora, suponho que tenham pressentido minha aura mágica quando estive lá peça última vez, e desde então estão desconfiados de tudo o que acontece naquela casa.

Todos refletiram por um momento sobre as palavras da garota, e Steve foi o primeiro a se manifestar:

–Bem... Tentei entrar em mais detalhes sobre a conversa que eles tiveram.

–E aí? –Stuart perguntou.

–Ele me disse que Roger estava bastante tenso e agitado. Por algum motivo ele estava paranoico por essa aura que vinha da casa de Bruce e queria que tudo fosse destruído imediatamente. –Disse. –Dave disse que Roger falou que em na jornada para Téfires eu e Bruce nos envolvemos em certas coisas que não deveríamos nem saber que existiam e que estávamos condenando Colina Nevada vivendo lá. Ele citou algo sobre o demônio em chamas e a destruição do reino, e também sobre o fato de a filha do rei ter desaparecido junto com dois homens e uma garota, além de que a filha do rei agora era suspeita de bruxaria.

–O que Roger deve ter feito foi encher a cabeça dele de besteira e tê-lo deixado completamente alienado. –Stuart bufou.

–Ele falou que aquilo devia ser feito, e escolheu Dave porque era um homem de confiança. –Respondeu. –Ele havia guiado a tropa até Téfires para destruírem o Ninho de Creepers e agora confiava isso a ele.

–O que aconteceu de verdade entre os dois, ninguém vai saber por completo, - Esmeralda disse. –mas podemos ter certeza de que esse tal de Roger é bem mais do que parece, e muito provavelmente um feiticeiro, e dos bons, pois não senti a aura dele quando estive lá nas duas últimas vezes.

–Vamos supor que ele seja o feiticeiro mesmo e esteja do lado do homem de olhos brancos, -Bruce disse. –não devíamos voltar então para Colina Nevada em vez de irmos até Hammer? Temos uma pista agora, e bem debaixo do nosso nariz.

Ninguém respondeu. Realmente tinha sentido o que ele havia dito, estavam se lançado numa jornada distante sem terem certeza do que podem encontrar, sabendo que em Colina Nevada Roger escondia de todos muitos segredos ácidos.

–Bom, é complicado dizer... –Esmeralda respondeu. –Acho que devíamos investigar esse homem e vermos o que descobrimos, porém, ele me sentiu e eu não pude sentir ele, o que significa que ele é um homem muito mais poderoso do que eu posso imaginar, e nossa volta pode ter alguma surpresas inesperadas...

–Acho que se já temos tudo preparado devemos seguir o plano, sabemos que Roger não é um individuo comum, e ele não vai deixar Colina Nevada tão cedo. –Steve disse. –Vamos até Hammer, investigamos e vamos atrás do máximo de coisas que pudermos e voltaremos mais fortes para podermos enfrenta-lo.

Eles estavam numa situação delicada, mas já que estava tudo planejado, não iam abortar a missão agora, por isso concordaram com o que ele disse.

–Acho que agora vamos ter que levar o garoto conosco, não é? –Stuart perguntou.

–Sem dúvidas, ele viu o que Roger e Dave falaram, ele sabe de mais coisa do que Roger gostaria que ele soubesse, e sendo uma criança, não é bom confiar esse tipo de coisa a ele. –Steve respondeu. –Se ele voltar Roger arrancaria o couro dele.

–Que terrível... –Bruce comentou.

–Agora temos mais um membro conosco... –Stuart disse sem ânimo. –Isso está ficando cada vez mais fácil...

Eles ficaram em silêncio durante um tempo, analisando a escuridão procurando ver se algum monstro ousava atacá-los. Nada.

De repente, o único movimento que surgiu foi o de Dave. Ele, que estava afastado de todos, levantou-se se foi em direção a eles.

Ao chegar, parecia desconfortável com todos os olhares que eram dirigidos a ele, e claramente ele devia estar, ninguém ali era alguém que gostava dele.

–Se quiser dormir um pouco pode se deitar. –Esmeralda disse para quebrar o silêncio.

–Não... Não... –Ele respondeu.

–Então o que foi? –Stuart perguntou, direto e indelicado, sempre o seu clássico jeito.

–É... –Começou. –Bom... É difícil dizer isso... Eu sei que ninguém aqui está muito a vontade com a minha companhia, mas é que...

–Pare de enrolar e fale logo de uma vez. –Stuart censurou.

–Então tá... Eu queria saber se eu poderia ir com vocês durante um tempo nessa viagem que vocês estão fazendo...

Todos trocaram olhares, e somente com os olhos eles tiveram uma rápida e silenciosa conversa. Ninguém estava muito a vontade em ter que carregar o garoto com ele, agora ainda havia Dave, que era odiado por todos, isso tudo era demais. O plano inicial eram somente cinco pessoas e agora eles já eram nove.

–Quem diria, não? –Steve disse irônico. –O pobre Dave recorrendo a nós, mas o que é isso?

–Vamos ser francos, ninguém aqui vai muito com a minha cara, em especial você e Bruce, mas eu também não estou muito com vontade de voltar para Colina Nevada e ter que enfrentar outra conversa com Roger, não mesmo. –Dave disse. –Não sei aonde vocês vão, mas posso pegar uma “carona” até a vila mais próxima, qualquer coisa que evite eu ter que fazer contato com o Roger novamente.

–Que medo é esse? –Stuart perguntou. –Afinal, ele não confiava em você? Por que ter medo dele?

–Primeiramente porque ele desconfia de vocês, e acho que com razão, mas por causa disso ele está me intrometendo nessa história também. –Respondeu. –Como não tenho muito que fazer na aldeia por enquanto, vou aproveitar que já estou longe e dar uma “fugida”.

Todos continuaram olhando fixamente para ele, como se esperassem que ele dissesse que tudo aquilo não passava de especulação e que ele deixaria o caminho deles assim que o Sol surgisse, mas não disse nada.

–Dave, das pessoas que eu conheço, e não são muitas... –Steve disse. –Você está no final da lista daquelas que eu gostaria de passar um tempo junto.

Dave suspirou e continuou:

–Tudo bem, tudo bem... Eu sei que ninguém aqui gosta de mim, e com razão! Mas eu tentei reconciliar aqui, e pelo visto não deu certo!

–De maneira alguma. –Stuart disse somente para acirrar aquilo.

–Então se não me querem como companhia, tudo bem, não vou ligar, mas acho que deveriam repensar em ter ou não mais um membro durante um pouco do trajeto, pode ser útil de a situação ficar arriscada!

Dave saiu de perto deles e se enfiou em algum lugar nas sombras da noite, onde ninguém mais o viu então.

Todos se entreolharam e Bruce perguntou ironicamente então:

–Dá para acreditar nesse cara? Como assim?

Steve continuou a encarar o ponto em que ele havia desaparecido.

–Não gosto nem um pouco da ideia de ele ter que vir conosco... –Esmeralda disse. –Mas o meu senso humano me diz outra coisa...

–Não sei se deve seguir seu senso humano, conhecendo bem Dave duvido que ele faria o mesmo por nós se estivéssemos no lugar dele. –Steve respondeu.

Esmeralda não disse mais nada, porém, todos ainda continuaram a pensar sobre o que deviam de fato fazer quanto a Dave. Ninguém gostava dele, isso estava mais do que claro, entretanto, como ele mesmo havia dito, poderia ser útil em algum momento mais complicado. Ao mesmo tempo, eles podiam desconfiar das atitudes que ele tomaria, já tendo traído eles uma vez, pela segunda não seria difícil.

–Já pensaram na possibilidade de ele estar trabalhando para Roger? –Esmeralda perguntou de repente.

–Não... –Stuart respondeu pensativo.

–Duvido. –Steve respondeu. –Ele pode estar do lado de Roger, mas vir até aqui e ficar com nós só porque Roger pediu? De maneira alguma, tenho certeza de somente por uma bela recompensa ele faria isso.

–Só acho que não devemos ignorá-lo. –Esmeralda disse. –Escutem, se ele vier conosco, mais uma pessoa que podemos contar como ajudar...

–Ou não... –Bruce balbuciou.

–Talvez nossos suprimentos devam ser mais bem organizados, mesmo assim, com ele, podemos ficar mais tranquilo quanto a imprevistos e coisas do gênero. Tentem ser compreensíveis e vejam que não estamos numa posição muito boa desde que saímos de Colina Nevada...

Steve estava acabado, com sono e apesar disso sua mente continuava a trabalhar sem hesitar, deixando-o frustrado.

–Que seja então! –Respondeu. –Ele vem conosco, mas avisem-no que se pisar na bola uma única vez só... –Steve fechou o punho com tanta força que sua mão parecia que iria explodir.

Ele entrou no dormitório improvisado e não voltou mais.

–Ele sabe que Dave vir conosco não é uma má ideia, mas se recusa a aceitá-la. –Esmeralda disse.

–Steve é cabeça dura, depois que bota alguma coisa na cabeça não há quem faça ele mudar de ideia. –Bruce falou logo depois.

–Conheço bem a figura... –Esmeralda respondeu.

Stuart se levantou e disse então:

–Eu vou deitar, vou acordar Nicko para me substituir...

–Acorde Marty também já que Steve saiu. –Esmeralda pediu.

–E vocês dois?

–Eu vou ficar mais um pouco... Quero pensar...

–Eu também. –Bruce respondeu.

Stuart entrou e acordou seus colegas que assumiram os postos.

No dia seguinte, ao amanhecer, a própria Esmeralda tratou de ir falar com Dave sobre a decisão deles e que mesmo que ninguém estivesse à vontade com a companhia dele, ele poderia seguir uma parte da jornada com eles.

* * *

Dizer que o clima entre eles estava desconfortável é um eufemismo. Ninguém estava feliz com a presença de Dave entre eles, e tampouco gostavam de admitir que ele pudesse ser necessário em algum momento de perigo, mesmo que a verdade estivesse clara demais.

Esmeralda talvez fosse a pessoa que era mais flexível em relação a tudo isso, tentando amenizar a tensão que vivia ali entre eles, sem muito sucesso, claramente. Depois dela, Marty estava tentando também levar a situação de maneira diferente, pois sabia que se seguisse viagem desse modo, com raiva e ódio sempre, iria somente se prejudicar, e por ser mais compreensível que seus colegas, até que estava se saindo bem.

Steve, por outro lado, estava disposta a manter-se indiferente quanto a Dave. Ninguém podia dizer muita coisa a ele, sabiam dos acontecimentos passados entre ele e Dave e tinham noção de que os dois não tinham muitos motivos que fossem favoráveis a uma boa relação. Concordavam também que Dave era sim um aproveitador e mau caráter.

Fora isso, o fato de que Dave havia ateado fogo à casa de Bruce era mais um motivo dos muitos para sentirem raiva dele. Se era verdade ou não, não tinham como ter total certeza, mas só por ser Dave, já é mais do que um bom motivo, além de que ele mesmo confessou. Essa segunda questão era um pouco mais complicada de ser entendida, Dave até poderia ter tocado fogo na casa, mas para que admitir? Ninguém sabia ao certo, todos tinham teorias.

Todos também pensavam ainda sobre Roger. Se tudo o que ouviram foi verdade, não precisavam pensar para saber que Roger era um feiticeiro. E o mais preocupante de tudo é saber que o homem dos olhos brancos tem ajudantes por todas as terras de Collingunt, e Roger é o suspeito mais óbvio.

O próximo local no qual eles parariam com segurança seria a aldeia de Lua, que estava realmente longe da posição atual deles. Numa distância tão longe quanto Téfires, certamente demorariam mais de um dia até lá. Seguiam a rota que Esmeralda traçava, sendo guiados somente pelo mapa que haviam roubado.

O segundo dia de viagem prosseguiu como devia. Seguiram evitando sempre fazer longas pausas, tomando sempre muito cuidados com a comida e com a água para que fossem o bastante até Lua.

Todos juravam que Fred seria um problema a mais na jornada, principalmente por ser um garotinho, mas muito pelo contrário, ele não reclamou em momento algum que estava se sentindo cansado ou algo do gênero. Conversava sempre que podia e enchia todos de perguntas, como qualquer criança normal, e assim que percebia que as pessoas não estavam com paciência para falarem com ele, logo tratava de tomar seu rumo junto a Steve, que era a pessoa que ele não abandonava em momento algum.

Na noite do primeiro dia, fizeram como sempre, e o sempre todos já sabem muito bem como funciona. Revezavam, e enquanto uns dormiam, outros ficavam de guarda para prevenir ataques de qualquer criatura, e logo depois tinham seus postos substituídos.

Tiveram a sorte de encontrarem uma caverna ampla e escondida no pé de uma colina, e antes do Sol começar a se por, já estavam a preparar o dormitório.

Sabiam que a tendência a partir daquele momento seria somente ir ficando mais frio, e acender uma fogueira era a única maneira que tinham de se manter aquecidos. Uma, porém, não foi o bastante, e acenderam outras duas, o que acabou por chamar a atenção dos monstros noturnos. Tiveram dois ataques somente, fora isso, nada.

Foi uma noite turbulenta, mas nada comparada a que tiveram no dia seguinte. Sem encontrarem um local seguro, tiveram que passar a noite a céu aberto mesmo. O frio estava mais intenso do que na noite anterior, e os ataques foram quase sem parar. A cada minuto um monstro surgia do meio das sombras e os atacava. Ninguém dormiu de verdade.

E foi assim, os dias se arrastavam lentamente enquanto eles caminhavam e trocavam conversas um com os outros. Aproveitavam para se conhecerem mais e aos poucos a presença de Dave deixou de ser insuportável para ser aceitável.

No quarto dia, Esmeralda disse:

–Vamos continuar, provavelmente mais uma hora e chegaremos a Lua.

–E isso é certeza? –Stuart perguntou.

–Não vai ser nem um pouco bom vagar por aí quando estiver absolutamente de noite. –Marty completou.

–Tenho certeza. –Esmeralda respondeu. –Estou guiando vocês a viagem toda, por que desconfiar de mim agora?

Adália riu atrás deles.

–Pois é, garotos... –Disse. –Se tinham alguma coisa para falar sobre isso está meio tarde, não acham?

–Quatro dias e só agora? –Bruce entrou no meio. –Acho que demoraram um pouco para perceber isso, hein.

–Só vamos seguir Esmeralda então. –Stuart respondeu sério no final de tudo.

Apertaram o passo e cerca de meia hora depois que o Sol havia sumido, avistaram ao longe pontinhos brilhantes na paisagem negra e gelada daquelas terra congelantes de Collingunt. Era a aldeia Lua.

Quando enfim chegaram à aldeia, ela não se diferenciava muito de Colina Nevada. As casas, o ambiente, as construções, tudo era confortavelmente semelhante. A exceção ali era que a camada de neve que cobria o local era de fato bem mais grossa do que a que jazia caída por toda Colina Nevada. Fora o frio mais intenso, o resto era praticamente o mesmo.

–Me sinto em casa novamente. –Nicko comentou.

–Civilização! –Stuart gritou caindo de joelho sobre a neve sorrindo. –Aleluia!

Acharam então uma espécie de pousada e passaram a noite lá. Como pagamento Marty pagou duas moedas de ouro que trazia consigo e Dave deu uma também, para a surpresa de todos. O valor pareceu deixar o dono do local muito feliz, pois o velho careca abriu um sorriso largo e respondeu:

–Os colocarei nos melhores quartos que tenho!

Ele certamente não devia ter muito clientes, e quando havia, nunca devia receber muito mais do que aquilo, afinal, somente forasteiros deviam parar em Lua, assim como eles eram.

Steve, Nicko e Fred ficaram com um quarto; Marty, Stuart e Esmeralda ficaram com outro; Bruce ficou com Adália e Dave pediu ao homem que ficasse sozinho, pois sabia muito bem que Bruce não gostaria de ter que dividir um quarto com ele. E assim foi feito.

Todos dormiram assim que entraram no quarto, estavam exaustos e já tinham combinado tudo. Sabiam o que teriam de fazer assim que acordassem e todas aquelas coisas de sempre, e por isso não esperaram nem um segundo para poderem ter uma noite decente numa cama de verdade sem precisarem se preocupar com monstros.

Porém, no meio da noite, Bruce acordou sozinho e se deparou com Adália sentada em sua cama, encolhida e toda coberta num canto. Ela chorava baixinho e tremia muito.

Claramente assustado e preocupado, ele se levantou e foi até ela, tirando a coberta de cima dela.

–Adália? Adália? –Ele chamou tenso.

Ela não respondeu, mas o encarou assustada também quando ele puxou a conversa rapidamente.

–O que aconteceu? –Ele perguntou. Sua ideia inicial era perguntar se ela estava bem, mas pensou de novo e viu o quanto aquilo ia soar idiota e desnecessário.

–Oh Bruce! –Ela começou a chorar e caiu sobre os ombros dele, em prantos.

Bruce congelou por um momento. Aquilo estava exatamente como nas noites que eles passaram juntos nas masmorras em Téfires, onde todas as noites ela chorava sem parar.

Tomando uma atitude, ele a reconfortou e deixou-a deitar apoiada em seu ombro.

–O que aconteceu? Por que está chorando assim? –Ele perguntou com mais segurança.

Ela demorou a responder:

–Bruce... –Disse fragilmente. –Estou com medo... Muito medo...

–Medo... –Aquilo era para ser uma pergunta, mas soou mais como uma afirmação. –Admito que também estou assustado, mas porque chora assim?

–Bruce... Bruce... Se você pudesse entender... Se eu pudesse explicar... –Ela disse.

Bruce abraçou-a firmemente quando percebeu que ela começava a chorar mais.

–Adália... –Disse vagamente. –Seja o que for que esteja te assustando assim, pode me contar, pode confiar em mim... –Ele tentava parecer seguro.

Ela o abraçou mais forte também.

–Bruce, como eu posso não confiar em você? –Perguntou. –Depois de tudo o que você e Steve fizeram por mim...

–Então me diga o que tanto de amedronta...

Ela começou a chorar de novo, e naquele momento então Bruce compreendeu uma coisa de vez por todas. Com Adália ali chorando sobre ele, estando ambos no meio de uma jornada sem volta prevista, eles percebeu o que devia fazer. Gostava muito de Adália, e admitia isso somente para ele mesmo, e agora eles estavam numa viagem arriscada que podia não ter volta e ela estava ali, caída sobre ele, completamente desamparada. Aquilo doía na sua alma, vê-la naquele estado era terrível.

Bruce sabia que devia tomar uma atitude, e teria somente a perder se ficasse calado.

Decidido, ele levantou a cabeça de Adália e então o olhar dos dois se encontraram. Ela tinha uma expressão vazia e triste. Bruce limpou as lágrimas que escorriam do rosto dela e tirou os longos cabelos negros caídos sobre seu rosto. Continuaram olhando um no olho do outro. Bruce então segurou a mão dela e ainda com o olhar fixo no dela, disse:

–Se confia em mim, vai para de chorar agora, porque te conheço muito bem e você é a garota mais forte e corajosa que eu conheço, e nada pode fazer você chorar, não mais.

E então ele fez o que tanto esperava. Lentamente, os dois aproximaram-se e então, se beijaram. Foi delicado, foi suave, foi lindo. Foi um momento em que ambos desejaram que o tempo parasse e que fosse eterno. O vento que entrava pela janela pareceu cessar bruscamente para poder ver os dois e voltou então como uma leve brisa somente para ajudar no momento.

Quanto tempo se passou, não dava para saber, e eles tampouco se preocupavam. Bruce não largou as mãos de Adália nem por um segundo, e assim que terminaram, o olhar dos dois se encontrou de novo.

–Não precisa chorar, estou aqui com você, para o que der e vier. –Bruce disse.

Adália voltou a chorar, dessa vez, porém, não era de tristeza ou medo, e sim por felicidade.

–Oh Bruce! –Ela o beijou, e dessa vez foi mais intenso do que antes. –Eu não mereço alguém como você!

–Você merece muito mais... Acho que eu não mereço uma garota como você...

Ela o beijou de novo e falou bem baixinho em seu ouvido:

–Eu te amo.

Bruce abraçou-a de uma maneira como nunca havia feito antes. Ele derramou algumas lágrimas ali naquele momento também, seu coração palpitava e ele tremia.

–Eu também... Eu também. –Respondeu.

O motivo pelo qual ela estava chorando não foi respondido, mas Bruce não se preocupou em perguntar de novo, não iria estragar aquilo. Agora se algum dos dois derramou uma lágrima, por medo ou por tristeza não foi, muito pelo contrário. A noite passou tão rápido que mesmo que tivesse durado uma vida inteira eles diriam que foi pouco, pois não importava quanto tempo fosse, ia ser perfeito.

Assim que o dia raiou, eles se arrumaram e saíram do quarto para poderem seguir com o que havia sido combinado no dia anterior.

Mas agora, quem saía daquele quarto não eram mais Bruce ou Adália, eram novas pessoas. Ela não era mais aquela garota quieta e insegura, e ele não era mais aquele garoto desastrado e desengonçado de antes. Agora ela era uma mulher discreta, porém decidida e corajosa, e ele um homem que era firme e forte. Estavam mudados, e acima de tudo, eram um casal.

O amor pode ser uma coisa boa, e de fato é, porém, da mesma maneira rápida que ele começa, pode acabar, e o destino dos dois era tão confiável quanto um lobo faminto.


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