Logo que todos se conformaram com a ideia de que eles teriam que ir até o reino de Hammer, trataram logo de começar o caminho, ou na hora, do jeito que podiam.

–Tudo bem... –Stuart acabou concordando no final. –Mas então, alguém sabe como chegar lá?

Todos os olhares instantaneamente se dirigiram para Esmeralda, e ela retribuiu recuando um pouco, assustada.

–Bom... Eu provavelmente deveria saber... –Ela começou.

–Você não sabe? –Marty perguntou.

–Não sem um mapa. –Ela respondeu. –Que eu esperava poder encontrar no mesmo lugar em pegamos nossas armas... Tudo isso antes da tropa aparecer.

–Imagino que não seja perto daqui. –Stuart comentou fincando sua espada de madeira no chão.

–E realmente não é. –Ela respondeu. –A distância entre Téfires e Colina Nevada não é nada comparada à distância que vamos ter que percorrer para chegar lá, disso eu sei.

Nicko se encolheu no seu lugar. Das duas vezes que havia feito o caminho de ida e volta de Téfires e Colina Nevada seu corpo sempre terminava acabado e morto de cansaço, e se o que Esmeralda disse estivesse realmente correto, eles teriam mais do que uma grande distância para percorrer.

–Então suponho que teremos de achar um mapa? –Steve perguntou.

–Suponho que sim.

–Olha, -Stuart interrompeu os dois. –eu até concordei com a ideia de termos de ir até Hammer, mas se para a gente pegar esse mapa tivermos de voltar para Téfires de novo, podem esquecer.

Marty que geralmente nunca apoiava as atitudes de seu colega dessa vez teve que concordar.

–Eu acho que Téfires já deu o que tinha que dar... –Marty complementou. –Para uma noite só...

–Também acho que não devemos voltar para lá, não agora. –Esmeralda concordou. –E já que vamos ter que passar por Colina Nevada do mesmo jeito, vai ser lá que iremos encontrar o mapa.

–Pois é, Colina Nevada é uma aldeia pequena, mas deve haver pelo menos a porcaria de um maldito mapa lá... –Stuart disse pegando sua espada, arrancando-a com violência do chão. –Então como é que vai ser? Vamos logo ou vamos ficar aqui parados?

Marty suspirou, Nicko fez uma careta e Esmeralda respondeu:

–Então vamos logo antes que mais homens apareçam mais homens atrás de nós.

Todos estavam partindo, todos exceto Steve, que ficou petrificado encarando a espada de pedra que Stuart havia pegado. Ela ainda estava manchada com o sangue do homem que ele havia matado.

Criando coragem, ele foi até a arma e a pegou, lentamente. Ela parecia bem mais pesada do que realmente era, e muito mais mortífera do que qualquer outra espada que ele já carregara antes.

Ficou ali, com ela em mãos, analisando cada mínimo ponto que podia.

De repente uma mão pegou seu ombro.

–Eu acho que não devia ter pegado ela... –Era Stuart. –Steve, deixe-a aí e vamos continuar nosso dever, você somente se defendeu, não foi culpa sua.

Steve não respondeu na mesma hora, ficou mais alguns segundos analisando a espada com um olhar triste e medonho.

–Tudo bem, obrigado, mas eu não preciso mais que as pessoas me digam isso, já ouvi demais e só me deixa pior... –Respondeu enfim. –Mas sabe Stuart, acho que você não fez mal em pegar essa arma.

–Como assim?

–Bom... Se isso é um fato que eu vou ter que conviver para o resto da minha vida, acho que carregar essa espada comigo pode ser útil. Sabe, como uma motivação, para que sempre que eu pensar que não houver mais saída, eu olhe para ela e pense no homem que eu matei acidentalmente, e para que a morte dele não seja em vão, eu consiga me erguer e continuar por mais difícil que seja...

Stuart geralmente odiava esse tipo de assunto meloso e cheio de reflexão, mas ele viu como Steve havia ficado mal com o que acontecera, e conseguiu se conter de falar o que realmente pensava.

–Se você quer assim, que seja então...

Stuart saiu e Steve foi atrás dele, com a arma ensanguentada em mãos.

* * *

No caminho de volta para Colina Nevada, eles fizeram o mesmo trajeto que haviam feito quando Steve e os outros foram a Téfires atrás de Esmeralda, parando nos mesmo lugares para dormir.

Dessa vez, entretanto, eles enfrentavam outro problema, que era o fato de eles não terem comida, e agora as frutas estavam ficando cada vez mais difíceis de se encontrar.

Já no segundo dia, Nicko disse num momento:

–Acho que quem vai cair duro dessa vez vai ser eu... –Ele segurava sua barriga que roncava.

–Temos que lembrar de pegar alguns suprimento em Colina Nevada. –Marty disse.

–Disso a gente não precisa lembrar, -Stuart entrou no meio. –Estou mais preocupado com a comida do que com esse mapa.

–A não ser que matemos um animal grande, teremos que nos virar com a pouca comida que encontrarmos. –Steve disse. –Eu particularmente não estou com muita vontade de me sujar matando uma vaca para termos comida.

–Além de que isso custaria muito tempo nosso. –Esmeralda completou.

–Acho que num caso extremo isso pode vir a ser necessário... –Nicko continuou com a mão sobre a barriga.

–Amigo, estamos longe de passar por uma necessidade extrema, acredite. –Steve respondeu. –Eu passei oito dos meus anos de vida vivendo sozinho e perdido, isso não é passar fome.

Depois dessa, ninguém ousou falar mais uma palavra sequer sobre a escassez de comida. De quando em quando eles encontravam algumas poucas frutas e as guardavam para quando realmente estivessem passado um aperto.

Fora a questão da fome eles não tiveram muitos outros problemas. Na quantidade em que estavam, cinco pessoas, os monstros que geralmente tinham o azar de cruzar com o caminho deles eram no mesmo segundo aniquilados, restando somente restos mortais.

Resumindo bem resumido todo o trajeto de volta deles, o que aconteceu nesse tempo foi que eles se conheceram mais um pouco e Steve aos poucos tentava esquecer os problemas de sua mente.

Steve queria poder contar para Esmeralda sobre os sonhos que andava tendo, mas até o momento não tivera uma oportunidade boa. Tentara uma vez a noite quando somente os dois ficaram acordados, porém, ele acabou esquecendo completamente o assunto quando Esmeralda começou a falar sobre coisas engraçadas que aconteceram com ela quando ela era criança. A maneira como ela falava e sorria, Steve simplesmente não podia interromper aquilo para dar uma noticia ruim, ou pelo menos ele não queria. Poder vê-la sorrir daquele jeito, rindo aos montes era algo maravilhoso, principalmente para ele, que não sabia ao certo o que sentia por ela.

O que ele fazia então era rir junto dela, aproveitando aqueles bons momentos, que a partir dali seriam difíceis de acontecer de novo.

Eles chegaram em Colina Nevada em um fim de tarde agradável e gelado, como de costume. Havia, entretanto, uma movimentação estranha na vila. Um grupo de pessoas andavam agitadas, correndo todos na mesma direção. Algumas outras pessoas falavam alto e gritavam.

–Mas o que é isso agora? –Stuart indagou sacando sua espada.

–Não sei, mas coisa boa não é. –Steve afirmou pegando sua arma ensanguentada também.