Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 21
Rota de Fuga


Notas iniciais do capítulo

"-Acho que vivi o bastante nessa noite para um ano inteiro... Ou uma vida inteira..."



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Ficou bastante explícito que Steve não estava se sentindo bem. Depois daquele ataque surpresa do soldado e do ato reflexo de Steve, sua vida nunca mais seria a mesma, disso ele tinha mais do que certeza.

Caído com o corpo do homem em cima de si, ele ficou petrificado e sem saber o que fazer, obviamente. Seu coração parecia não aguentar a si mesmo, querendo bater mais rápido do que podia. Sua garganta seca ardia e o incomodava angustiadamente. Sua mente aproveitou esse momento para ficar dando voltas e deixá-lo somente mais confuso.

A visão perturbadora de sua espada atravessada no corpo de outra pessoa, do sangue correndo por toda ela, era simplesmente demais para ele, não podia suportar. Matar monstros e criaturas era uma coisa, mas uma pessoa era completamente diferente. Steve ficou com coisas em sua cabeça, como por exemplo, se aquele homem tinha família, o que obviamente tinha, e agora não veriam chegar em casa depois do trabalho. Steve imaginou os amigos deles recebendo a noticia de que ele fora morto tendo uma espada atravessada em seu corpo e não iria chegar para aquela festa. Imaginou todos os conhecidos deles chorando e se desesperando no dia do enterro ou da cremação dele, enquanto praguejavam e lançavam maldições no assassino dele, que no caso era ninguém mais do que Steve.

Uma mão tocou seu ombro de repente e começou a puxá-lo, chamando-o:

–Steve! Steve!

Ele não ligou e tampouco se importou em quem era que o chamava, estava concentrado demais nas suas loucuras e no corpo morto caído em cima dele.

–Eles vão nos alcançar! Temos que ir! –Era Nicko que o alarmava.

Nicko, Esmeralda e Stuart entendiam perfeitamente o motivo da petrificação de Steve, afinal, presenciaram toda a cena e viram cada segundo do que acontecera até o momento fatal. Entendiam e sabiam perfeitamente que Steve não seria capaz de uma coisa daquelas, mas as circunstâncias o obrigaram, e por mais duro que fosse o fato, tinham de deixar isso para depois. Marty não sabia de nada por ainda estar apagado no chão.

Esmeralda veio e se juntou a Nicko na esperança de que poderia despertar Steve de seu transe. Stuart ficou atento a qualquer possível movimento estranho próximos a eles, a fim de evitar que outra cena como aquela voltasse a se repetir.

–Steve! Steve! –Esmeralda o chamava, sacudindo-o.

Steve ainda tinha o mesmo olhar vago e sem expressões, encarando o nada.

–A gente sabe que o que aconteceu aqui foi... Steve, olhe para mim! –Esmeralda segurou a cabeça dele e a mirou de modo que ele a encarasse. –Steve! Você foi obrigado! Não tinha outra escolha! Ele iria fazer o mesmo com você! O mesmo!

Nenhuma resposta.

–Steve? –Nicko o chamou. O corpo dele estava duro como pedra. –Ele não está bem, Esmeralda.

–Não me diga! –Ela retrucou.

–Tem gente vindo para cá! –Stuart avisou agachando. –Estou vendo algumas tochas ao longe.

Esmeralda e Nicko olharam simultaneamente ao redor, concluindo que realmente estavam sendo perseguidos e que cada vez mais os soldados chegavam mais perto.

–Não vai demorar para eles nos acharem... –Nicko disse tenso.

Steve apresentou então um sinal de vida, movimentando-se. Inicialmente todos (todos exceto Marty, obviamente) acharam que ele iria se levantar e agir normalmente de novo, mas o que ele fez foi um pouco inesperado. Steve começou a tentar tirar o corpo do soldado de cima de si, estava nervoso e do jeito que agia claramente não ia adiantar em nada. Conforme se movia sem pensar no que fazia, falava sem parar:

–Não... Não... Não... Não... Não...

Esmeralda, Nicko e Stuart se entreolharam. Stuart fez um sinal com a mão indicando que os homens estavam se aproximando e disse:

–Se ele não reagir logo vai acabar que nem o Marty. Por bem ou por mal.

–Steve! –Esmeralda voltou a falar. Tentava procurar as palavras certas para acalmá-lo. –Você não tinha escolha, ele ia te matar! Você não fez por querer! Agora pelos céus, se levanta porque senão vão nos pegar.

Nicko foi mais além do que somente tentar conversar. Levantando-se, puxou Steve pelo braço até ele ficar de pé. Deu certo.

O corpo de Steve estava todo banhado em sangue, completamente. Seus braços também não escaparam, e até aquele momento ainda escorria o sangue de seu oponente. Suas mãos tremiam e ele parecia estar corcunda.

–Não... –Balbuciou cambaleando para o lado.

–Temos que ir, eles estão chegando! –Stuart não esperou mais um segundo sequer.

Apressadamente, Stuart fez um sinal para Nicko, e pegaram então o corpo de Marty desacordado. Esmeralda pegou a mão de Steve e o puxou, caso contrário, ele nunca teria saído do lugar.

Porém, antes de abandonarem o lugar completamente, Stuart cessou a caminhada. Nicko parou junto com ele, mas Esmeralda seguiu com Steve, sem perceber que os dois haviam parado.

–O que foi?! –Nicko indagou.

–Aguenta aí um segundo. –Stuart disse, e soltou Marty.

–Onde você está indo?!

Stuart se dirigiu até o corpo caído do homem morto e com cuidado (e um pouco de hesitação), tirou a espada fincada no corpo dele. Estremeceu todo ao fazer isso, e depois sacudiu a arma para se livrar do sangue.

–O que você está fazendo?! –Nicko perguntou nervoso.

Stuart voltou a ajudar Nicko a carregar Marty e retornaram a corrida. Tinha a espada de pedra em sua outra mão e suas duas espadas de madeira estavam embainhadas em sua cintura, pesando e fazendo tropeçar.

–Ainda pode ser útil. –Respondeu simplesmente.

–Útil?! –Se engasgou com as palavras. –útil?! Steve vai terminar de morrer quando ele ver essa arma de novo!

–É só ele não usá-la mais, não vou desperdiçar uma arma dessas na nossa situação!

–Tudo bem...

Eles logo alcançaram Esmeralda que havia parado esperando por eles. Repreendeu Stuart por ter pegado a espada, mas não fez mais do que isso porque claramente a situação não estava a favor deles.

Correram cerca de uns dez minutos, tomando rotas alternativas e mudando a direção em que iam sempre. Estavam tentando se distanciar ao máximo, e para a sorte conseguiram, foram longe o bastante a ponto de se tornarem invisíveis para os soldados e estes desistirem de tentar pegá-los.

O Sol já havia nascido naquele momento e o céu, mesmo que ainda escuro e gelado, agora começava a dar lugar para ele, o que significava que eles não precisariam se preocupar por muito tempo em encontrar algum monstro.

Se largando no chão de novo, com exceção de Steve, todos começaram a respirar fundo.

–Conseguiu aquela dose de emoção que você tanto queria Stuart? –Nicko perguntou.

–Acho que vivi o bastante nessa noite para um ano inteiro... Ou uma vida inteira...

* * *

Horas depois de todo aquele distúrbio e que eles haviam se acalmado um pouco, todos estavam tentando se recompor. Marty finalmente despertou e ficou sabendo de tudo, inclusive do que acontecera com Steve, e agradeceu por não o terem deixado para trás, que tudo o que eles fizeram foi um verdadeiro sacrifício por ele. Ele comeu uma maçã logo depois para tentar retomar suas forças, mesmo assim continuou se sentindo fraco.

Stuart se deitou numa sombra num canto e cochilou um pouco. Marty ficou ao lado dele, acordado.

Steve ainda estava num estado de choque pelo acontecera, e isolado de todos, ele estava sentado sob a sombra de uma árvore um pouco distante deles.

Esmeralda e Nicko trocaram uma ideia entre si e foram falar com ele, já que eram os mais próximos dele ali.

Nicko se sentou então de um lado de Steve enquanto Esmeralda ficou do outro. Steve sequer se deu ao trabalho de cumprimenta-los.

–Steve... –Nicko o chamou.

–Hm... –Foi a resposta.

–Steve... Todos nós estamos cientes de que o que aconteceu mais cedo não foi culpa sua, você não fez porque queria. –Nicko continuou.

Steve continuou sem responder, Esmeralda então tentou dar um apoio.

–Olha, dá para imaginar como você se sente...

–Só não fale que você sabe como é se sentir assim, porque você não sabe, eu sei... –Ele a interrompeu.

–E realmente eu não sei... –Ela ficou meio perdida quanto o que dizer. –Mas você não pode ficar se matando em angustia por causa disso.

–Você viu o que ele fez. –Nicko continuou. –Por pouco não matou Marty e Stuart, além de que ele teria matado você sem pensar duas vezes. Foi puro instinto seu, não tinha como impedir.

–Steve, você é um homem bom, sem um pingo de maldade no coração. Tudo aquilo que aconteceu no Ninho, formamos uma equipe, e essa equipe não pode ser desfeita agora. –Esmeralda completou.

–É só que... –Ele continuou. –É... É... Essa sensação de que eu podia ter evitado tudo... Se eu não tivesse levantado a espada naquele ângulo... Ou se eu tivesse rolado para o lado e...

–Steve. –Esmeralda o repreendeu. –Como você podia saber? Como? Você agiu para nos defender e para defender a si mesmo! Escute, meu pai é o rei de Téfires, simplesmente o rei! –Ela deu ênfase. –Eu vivi meus últimos momentos com ele sempre ao seu lado, acompanhando todo o seu trabalho para poder me tornar uma boa rainha assim como ele é um bom rei, e acredite, não há nada nas ordens dele que inclua matar ou aniquilar o alvo, a menos que o mesmo tente atacá-lo mortalmente!

–Coisa que você não fez. –Nicko finalizou.

–Então, aquele homem, seja quem fosse, morreu por seus próprios atos, onde ele não mediu consequências! Não vou falar que ele teve o que mereceu porque não vou deixar a morte de ninguém, mas não foi culpa sua.

Steve estava encarando o nada a sua frente, e então virou a cabeça e se dirigiu a Esmeralda.

–O que me passa na cabeça... Ele era uma pessoa, como nós somos... Ele certamente tinha uma família, amigos, entes queridos... E eles certamente não vão ficar nada felizes em saber que seu companheiro foi morto, e aposto que eles também vão ficar mais furiosos ao descobrirem que ele não foi morto por uma criatura, e sim por uma espada de um covarde atravessada em seu tronco...

–Steve, o covarde foi ele que abusou de seu poder. –Esmeralda disse.

–Certamente os entes queridos dele ficarão muito tristes ao descobrirem o que aconteceu a ele. –Nicko falou. –Mas não deixe a morte dele ser em vão. Você tem um propósito de vida muito grande para desistir agora! E quanto aquele homem dos olhos brancos? E todos esses monstros que vagam por aí? Você não quer saber o motivo de toda essa destruição?

–Estamos ao seu lado, e sempre estaremos. –Esmerada disse. –Mas agora se você quer matar aquele desgraçado, ficar aí se culpando não vai adiantar de nada.

Steve assentiu, mas não respondeu.

Nicko se inclinou e dirigiu a Esmeralda um olhar estranho, com os olhos curvados. Mas Esmeralda pôde entender o que ele dizia, que era mais ou menos: “E agora? estou sem ideias!”

Felizmente eles foram poupados de continuar aquilo porque Steve se levantou e respondeu a eles uma resposta descente, na qual ele falou tudo o que pensava:

–Eu sei, mas não vai mudar o fato de que eu matei um homem. Não importa quantas vidas eu salve ou se eu fizer justiça com minhas próprias mãos. Minha culpa não vai ser encoberta por atos como esses. De qualquer maneira eu agradeço a vocês por se importarem tanto assim comigo, você são verdadeiros amigos, de verdade. A questão aqui agora é que eu preciso de um tempo a só para poder pensar e refletir, antes que eu tenha vontade de me matar...

Steve saiu andando e sumiu de vista. Nenhum dos dois tinha ideia da onde ele ia.

–Ele acabou de falar que pode ter vontade de se matar e está saindo sozinho para o meio da floresta? –Nicko perguntou confuso.

–Sim. –Ela respondeu simplesmente. –Mas e agora?

–E agora o quê?

–Onde devemos ir?

–Eu esperava que você ou o Steve soubessem... Acho que ele veio aqui porque acreditava que você teria alguma pista para onde seguir.

–Esperava?

–Sim, esperava... Vai me dizer que você não pensou em nada?

–Não seja tolo, é claro que eu pensei. –Ela sorriu.

* * *

Steve sabia muito bem o motivo pelo qual fora atrás de Esmeralda, o motivo pelo qual ele se arriscou e deixou para trás Colina Nevada, o mesmo motivo pelo qual Nicko foi atrás dele junto com Stuart e Marty. Não podia simplesmente abandonar tudo o que pensava e sentia assim, de uma hora para a outra. Porém, o que ele acabara de fazer ia mexer para sempre com ele, e Steve tinha certeza de que não iria deitar uma noite sequer sem pensar nisso.

Os olhos frios e mortos encarando ele bem na sua frente, o peso do corpo do homem morto caindo em cima de si, sua falta de reação. Todos esses e mais alguns momentos vividos somente serviam para deixá-lo mais tenso e desconfortável.

Se isolar não era a escolha mais sábia que ele podia fazer, pelo contrário, era um tanto quanto covarde. Mas ele estava assustado, com receio do que sua própria sombra poderia fazer consigo. Não podia conter suas mãos, que estavam trêmulas de um jeito que nunca estiveram antes em toda a vida dela. Sua mente lhe pregava peças constantemente, pois onde ele olhava via a figura do homem que ele assassinara.

Ficou alguns minutos debaixo de uma árvore, sozinho. Queria pegar um ar fresco e, como todos sabiam, queria ficar sozinho.

Um pouco longe dele, não muito, só o bastante para ele poder se sentir confortável com sua solidão, estavam Esmeralda, Nicko, Stuart e Marty, decidindo que rumo deveriam tomar.

–Pois bem, já que a senhorita já pensou em algo, aonde vamos agora? –Stuart perguntou com sua habitual delicadeza.

Esmeralda se virou para trás na esperança de que Steve estivesse vindo, porque se havia alguém para quem ela devesse contar o que ela pensava, esse alguém era Steve. Porém, ele não vinha.

–Bem... –Ela começou. –Pensei nisso rapidamente, mas não vejo outro lugar para ir agora.

–Estávamos sendo perseguidos por uma tropa inteira, - Marty disse. –Certamente você pensou nisso rapidamente.

–E espero que não seja uma ideia estúpida que você teve momentaneamente. –Stuart completou.

Esmeralda o fitou seriamente, mas ele ignorou, ou melhor, nem percebeu, e continuou:

–Porque se foi uma ideia que você teve enquanto corria desesperadamente daqueles homens... Acho melhor repensar um pouco.

–O que você quer dizer com isso? –Ela retrucou.

–Bom, você sabe... No meio de toda aquela correria e desespero, não é a melhor hora para se pensar em alguma coisa sensata, então se essa ideia que você teve... –Ele explicou, mas Esmeralda o interrompeu.

–Tudo bem, tanto faz. –Ela disse. –A questão é a seguinte...

–Prossiga. –Ele disse interrompendo-a de novo.

Esmeralda o encarou de novo.

–Posso? –Ele perguntou.

–Fique à vontade.

–Pois bem, a questão, como eu ia dizendo, é a seguinte: Eu pensei em um lugar em que podemos ir, mas como Steve, eu não tenho muitas pistas, e estou me baseando apenas em... Teorias. Acho que lá é o lugar certo para irmos, afinal, eu não tenho mais outro lugar para ir, Téfires para mim é passado agora, e, creio que Steve vá aceitar ir para lá também, pois ele não tem onde ficar também.

–Exceto Colina Nevada. –Nicko comentou.

–Coisa que eu duvido que ele vá querer fazer. –Esmeralda respondeu.

–Concordo... –Nicko assentiu. –Ele não vai ficar parado lá com esse cara a solta, seja ele quem for, ainda mais porque ele certamente deve estar atrás de Steve.

–Muito bem, agora você está na minha linha de raciocínio. –Esmeralda continuou. –Eu e Steve não temos muito lugar para onde ir, e por isso acho que qualquer rumo que tomarmos agora será mais satisfatório que Colina Nevada ou Téfires.

–Lembrando que não são só vocês dois. –Stuart disse.

–O que você quer dizer com isso?

–Depois de tudo isso que passamos para achar você, -Ele explicou. –Fugir da tropa inteira de um reino, derrubar uma torre, passar dias viajando a pé, acha que vamos desistir agora? Se cheguei até aqui, eu vou continuar, não sei quanto aos outros, mas eu não saio dessa fácil.

–Pode contar comigo também. –Nicko disse.

–E eu não posso ficar de fora, claramente. –Marty finalizou.

Esmeralda ficou em silêncio, olhando para todos com um olhar perdido e vago.

–Puxa...

–Ah, nos poupe dessa ladainha e vamos logo ao ponto, o que você pensou? –Stuart a interrompeu.

–Tudo bem... Tudo bem... –Ela balbuciou retomando a linha de raciocínio. –Não temos muito o que nos diga para onde ir, então me baseei em teorias. Aquela noite no Ninho de Creepers, Naum... Ou o homem dos olhos brancos... Não me recordo, mas sei que um deles disse que tudo o que está acontecendo é na verdade parte de um plano, de algo maior, e que em todas as aldeia e reinos existentes em nossas terras, em todas, eles estão juntando forças e pessoas para o lado deles.

–Assim como Naum estava do lado desse homem. –Nicko concluiu.

–Exatamente. –Ela respondeu.

–Então espera aí um segundo... –Marty disse se inclinado para frente com a testa franzida. –Se há um deles em todas as aldeias e reinos existentes, isso quer dizer que...

–Sim, possivelmente há alguém em Colina Nevada. –Ela completou. –E certamente alguém muito forte, porque eu mesma não consegui sentir a aura mágica de ninguém quando estive lá.

–O que também pode significar que lá não há ninguém. –Stuart acrescentou.

–Também, - Concordou. –Coisa que eu duvido, ainda mais com um dos ninhos de Creepers tão próximo de lá. E repito, essa pessoa, seja ela quem for, não é das mais fracas, pois quando estive lá, não notei a aura mágica de ninguém.

–E porque você acha que não devíamos procurar alguma coisa em Colina Nevada? –Marty perguntou.

–Seria perda de tempo, seja quem for que estiver lá, já sabe de nossa presença, o que torna mais difícil nossa busca.

–Mas que ótimo, estamos indo atrás de alguém que não sabemos nem quem é ou onde está... –Stuart disse irônico.

–E por isso eu acho que o lugar que devemos ir é o reino de Hammer. –Esmeralda respondeu.

–O reino de quem?! -Marty indagou com a voz esganiçada.

–O reino de Hammer, simplesmente o maior reino de Collingunt. –Ela respondeu.

–Colling o quê?! –Essa foi a vez de Stuart.

Esmeralda lançou a todos um olhar sério, como se estivessem somente brincando com ela e ela não estivesse gostando nem um pouco.

–Collingunt... Reino de Hammer... Nunca ouviram falar disso? –Questionou.

Todos balançaram a cabeça negativamente.

–Nunca. –Nicko respondeu.

Esmeralda se deu conta então de que eles eram de Colina Nevada, uma aldeia minúscula se comparada a tantas outras que existiam, o que também podia explicar o fato de eles não saberem coisas básicas que até mesmos algumas crianças sabem. Colina Nevada não deve ter muitas relações com o mundo exterior.

–Vocês nunca sequer ouviram falar nesses nomes?

–Reino de Hammer não me é estranho... –Marty respondeu pensativo.

Ela esperou que mais alguém falasse alguma coisa, do gênero: “Ah, com certeza já ouvi falar.” Mas ninguém disse mais nada.

–Presumo que vocês não fazem ideia da geografia do lugar onde vivemos... –Ela disse.

–Quando eu souber ler de verdade vou poder saber um pouco mais de geografia. –Nicko respondeu. –Mas se até hoje não precisei disso na minha vida, bom, dá para viver sem.

Stuart e Marty assentiram, concordando.

–Então... –Ela começou. –Tudo bem... Vamos por parte agora... Vocês sabem onde vivemos?

–O que você que dizer com “onde vivemos”? –Stuart indagou. –Acho que tem coisa mais importante para a gente discutir aqui agora, não acha?

–É, eu acho que não... –Ela falou para si mesma. –Só tentem entender uma coisa simples. Téfires, Colina Nevada e Hammer, todos se encontram num mesmo lugar, concordam?

–Bom... Sim. –Marty concordou.

–Pois bem, esse lugar onde todos os reinos e aldeias estão, inclusive Téfires e Colina Nevada, se chama Collingunt. Entenderam?

–Mas que nome mais estúpido! Quem nomeou isso? –Stuart interrompeu.

Esmeralda revirou os olhos e ignorou aquela parte da conversa, sabendo que não iam acabar em lugar nenhum. Voltando ao ponto crucial, ela continuou a conversa:

–Tanto faz, isso não importa agora. –Disse. –Só acho que o reino de Hammer é o local mais sensato no qual poderíamos ir.

–OK, tudo bem, vamos supor que vamos mesmo ao reino de Hammer. –Nicko disse. –Mas ao chegarmos lá, o que vamos fazer? Não temos nada, nenhuma pista. Vamos ficar rondando o reino inteiro esperando que alguma coisa aconteça?

–É... –Stuart concordou com Nicko. –E se formos lá fazer isso, é melhor ficarmos em Colina Nevada mesmo.

–É arriscado, eu sei, mas tentem entender, se o que o homem dos olhos brancos disse for verdade, há bastante gente ao lado dele agora mesmo e sabe muito bem o que pretende, e claramente o reino de Hammer não ia ficar de fora. Hammer é simplesmente o maior reino já construído pelo homem, Téfires parece coisa de criança perto da grandeza de lá.

–Eu acho que isso só vai dificultar nosso trabalho... –Marty comentou com o olhar vago.

–Hammer, sendo o maior de todos os reinos, com certeza não ficou de fora dos planos dele, e certamente há bastante gente lá que sabe de alguma coisa, e é o que eu pretendo fazer ao chegar lá.

–Ir atrás dos capangas dele? –Stuart perguntou.

–Sim.

–Mas você mesma não disse que esses caras são poderosos e invisíveis para os seus poderes?

–Stuart, nossa situação não é a melhor de todas, é só anda piorando, se não começarmos a arriscar não vamos sair do lugar. –Ela respondeu. –Eles ainda não sabem de nossa chegada lá e eu posso encontrar algum deles com mais facilidade.

–E se não encontrarmos? –Perguntou de volta.

–Bom, acho que a gente vai ter que esperar até o homem dos olhos brancos mostrar a cara de novo.

Ninguém gostou muito da resposta. Nicko se mexeu inquieto no seu lugar, Marty arrancou um tufo de grama e Stuart, que geralmente não tem uma cara muito alegre, estava mais sério do que o costume.

Ao fundo, eles puderam ver Steve voltando. Fizeram um sinal para que ele se juntasse a eles, e surpreendentemente ele concordou. Ao se sentar ao lado deles, contaram tudo o que tinham em mente. O plano de Esmeralda e algumas outras coisas que podiam acontecer com eles, como por exemplo, o fato de a viagem ser em vão e eles não encontrarem nada. Steve ouviu tudo em silêncio, não disse uma palavra sequer.

–Eu não gosto muito dessa ideia. –Stuart disse ao final de toda a explicação.

–Bom, suponho que ninguém tenha alguma outra ideia... –Steve respondeu.

Todos se entreolharam nervosos, sabiam que ir até Hammer era arriscado, porém, sabiam também que ninguém ali tinha outra ideia. O silêncio reinou então.

–Então... –Steve começou a falar e se levantou. –Sendo assim, acho que não temos outra escolha senão irmos até o reino de Hammer.


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