Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 18
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

"Ninguém ousou falar mais uma palavra sequer, Stuart avançou calmamente e subitamente ela sacou a adaga."



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Resumindo o que aconteceu antes de Steve despertar: Stuart ouviu um barulho estridente vindo do lado de fora do local aonde eles estavam desmaiados. Criando coragem e reunindo forças, ele se levantou e foi lá fora ver do que se tratava, se fossem soldados ou alguém assim, estavam sem saída. Pegando uma pedra pontiaguda, que foi a única arma que ele encontrou no momento, saiu se esgueirando até o lado de fora. Com a pedra em mãos, ele se arrastou pela lateral da velha construção de madeira. Stuart conseguia ouvir passos logo a sua frente, e viu, um pouco a sua frente, uma figura encoberta passar rapidamente, como um vulto. Aquilo acelerou seu coração, ao mesmo tempo em que o tranquilizou, pois ele sabia pelo menos que não se tratava de soldados.

Indo cada vez mais rápido, porém silencioso, ele avançou e dobrou no mesmo lugar onde viu a figura virar segundos atrás. Ao passar, já veio com a pedra em mão e preparando um ataque. Cortando o ar com sua arma improvisada, ele se surpreendeu, porque não havia ninguém. Olhando ao redor, novamente nada. O ventou uivava e o som das ondas violentas se quebrando contra o reino de Téfires eram os únicos sons audíveis.

Ainda desconfiado do que podia estar acontecendo, Stuart seguiu avançando, sempre com sua improvisada arma em mãos. Sua atenção não era desviada nem por um instante, e mesmo todo ferido e machucado, continuou. Chegou ao fim da construção e como antes, nada. Passando a vista em todos os cantos, em todos os pontos visíveis, se certificou de que realmente aquele vulto não estava ali. Não tinha certeza absoluta se aquilo fora alucinação ou não, tampouco tinha ideia se representava algum risco para eles, e permaneceu desconfiado.

Após um tempo parado no silêncio observando o ambiente ao seu redor, concluiu que fosse o que fosse, não estava mais ali. Virou-se devagar e gelou na mesma hora quando deu de cara com a pessoa que vira antes. Seu rosto e todo o seu corpo estavam cobertos por um manto de cor amarronzada, parecia um fantasma.

Reagindo do jeito que podia, ele foi com a ponta da pedra bem na direção do rosto daquela figura, porém, seu movimento foi interrompido rapidamente, quando a pessoa habilmente se defendeu, segurando a mão dele com uma força sobrenatural. Apelando para um chute, errou feio a mira.

Já dominado, a pessoa misteriosa o pegou pelos seus dois braços e o jogou contra a parede, segurando-o ainda.

–Você não vai querer fazer isso. –Disse uma voz feminina, pertencente à pessoa encoberta.

Na mesma hora, os pontos foram ligados e Stuart concluiu sem sombra de dúvida quem era a pessoa. Podia estar errado, mas tinha certeza de que as chances estavam ao seu lado.

–Como pode ter certeza disso, - Ele perguntou sorrindo malignamente. –Esmeralda?

Simultaneamente, a pessoa, fosse quem fosse, soltou seus punhos e se afastou, com a mão numa adaga que trazia em sua cintura.

Ninguém ousou falar mais uma palavra sequer, Stuart avançou calmamente e subitamente ela sacou a adaga. Recuando, ele disse:

–Vai devagar aí, não vamos precisar disso. Quero dizer, pelo menos não agora. –Não adiantou, ela se manteve firme. –OK... Vamos começar novamente. Meu nome é Stuart, venho de Colina Nevada... –Silêncio, nenhum movimento. –E...

–Veio a Téfires para quê? –Perguntou, cortando-o.

–Bom, eu vim aqui acompanhado de dois amigos seus... –Ele disse. –Steve e Nicko, suponho que ainda se lembra deles.

Guardando a adaga e recuando, a garota tirou o manto, e revelando seus brilhantes cabelos cor de fogo, Esmeralda disse:

–É Stuart... Acho que ambos temos muito o que contar um para o outro...

* * *

Depois de todo esse desentendimento, Stuart acordou a todos gritando. Marty e Nicko foram despertados logo e ficaram sabendo da situação sem muitas explicações, afinal, a garota ruiva ali indicava tudo. Somente Steve continuou dormindo, num sono pesado, que nem mesmo os gritos de Stuart foram o bastante para acordá-lo. Foi então que Nicko foi despertá-lo pessoalmente e esse fato já foi narrado antes.

–Tem alguém aqui que eu acho que você gostaria de ver. –Nicko disse a Steve assim que ele acordou.

Steve lançou um olhar que não teve muito sentido. Seus olhos ainda pesados por conta do sono se recusavam a abrir, mas assim que ele avistou quem estava ali, eles foram obrigados a se abrir de espanto, dando a ele uma expressão monstruosa, com os olhos vesgos e semiabertos.

–Mas... –Balbuciou, com o queixo caído. Abria a boca para tentar falar alguma coisa, mas seu raciocínio não ia muito além disso.

–Eu disse que tem alguém aqui que acho que você gostaria de ver. –Nicko repetiu sorrindo.

Todos tinham uma nítida cara de cansaço e dor no rosto, mas tentavam se mostrar o mais forte que podiam, o que estava sendo difícil, no estado deles ainda.

Steve se levantou lentamente, apoiando-se de todas as maneiras possíveis em todos os cantos possíveis, até ficar em pé totalmente. Assim, começou a cambalear em direção à fogueira, onde os demais estavam reunidos. Esmeralda tinha o rosto encoberto no momento, mas logo o tirou, revelando-se.

Depois da curta caminhada, que foi a mais desengonçada da vida de Steve, ele ficou frente a frente dela. Os dois ficaram ali, encarando um ao outro, sem dizer uma palavra. Esmeralda não estava muito melhor do que eles, obviamente não tinha todas as feridas e machucados como eles, mas mesmo assim, tinha uma expressão de cansaço, estava suada e seu cabelo estava completamente mal cuidado. Os olhos estavam um pouco vermelho, provavelmente de sono, e tinha poucos machucados pelo corpo todo.

Olhando olho a olho, não disseram uma palavra sequer. Stuart, Marty e Nicko estranharam aquele momento mais do que tudo, porém, mantiveram-se calados para não estragar o que fosse que estivesse se passando ali.

Depois de cerca de um minuto imóveis, eles simultaneamente se moveram e deram um abraço. Não que aquilo significasse alguma coisa a mais, que foi o justamente o que Marty pensou, era somente o alivio de estarem juntos de novo.

–Nunca mais faça isso de novo... –Steve disse.

–Isso o quê? –Ela perguntou franzindo a testa.

–Nunca mais suma desse jeito. –Respondeu.

–Bem, não era eu que estava sendo perseguida por toda a tropa do reino... –Brincou.

Os dois se soltaram enfim e se acomodaram, os cinco em volta da fogueira.

O silêncio reinou de repente, ninguém sabia o que dizer, ou na verdade sabiam, só que tinham tantas coisas na cabeça que não sabiam por onde começar e permaneciam caladas.

Com o olhar passando de uma pessoa para a outra, Nicko enfim arriscou:

–Quem vai começar falando alguma coisa? –Perguntou meio desconfiado.

–Bom, acho que se tem alguém aqui que deve mais explicações é a senhorita ruivinha, então... –Stuart respondeu, como sempre, com seu jeito delicado de ser.

Esmeralda não sorriu e não demonstrou nenhuma emoção perante a situação. Ficara claramente feliz ao reencontrar Steve e Nicko ali, mas do mesmo jeito rápido que a emoção veio, ela se foi, e agora ela tinha o olhar baixo e uma expressão de exaustão.

–Esmeralda? –Steve chamou-a. - Você está bem?

–Tão bem quanto vocês... –Respondeu somente.

–Então estamos todos com sérios problemas. –Stuart disse, sem mudar sua cara de sono e desinteresse, apesar de que no fundo ele sabia que queria explodir em perguntas.

–É só que... –Ela começou. –É só que foi um verdadeiro abalo o que aconteceu hoje, e... –Esmeralda falava devagar e arrastado, som levantar o olhar e encarando sempre o chão, séria.

Percebendo que ela estava realmente mal, Steve lançou um olhar a Marty e depois outro a Nicko, que retribuíram. Deixou Stuart de lado, não ia fazer diferença mesmo.

–Então vamos nos apresentar primeiro, é justo. –Marty falou, assim como Steve esperava que ele fizesse.

Esmeralda levantou a visão e o olhou suavemente.

–Estou ouvindo. –Ela sorriu de leve. Não que não estava grata, muito pelo contrario, só que estava muito abalada com algo que acontecera antes.

–Me chamo Marty. –Apresentou-se se levantando. Afastou seu longo e encaracolado cabelo do rosto e estendeu a mão a ela, que retribuiu. –Como deve saber, venho de Colina Nevada e junto de Steve e Nicko, vim atrás de você.

–O mesmo que ele. –Stuart entrou no meio, com preguiça de se apresentar. –Olhe, já nos conhecemos antes lá fora e ela quase meteu uma faca no meu pescoço, já foi o suficiente para um primeiro contato.

–Posso saber por que vieram atrás de mim se eu sequer sei quem são? –Esmeralda os questionou, ignorando o último comentário de Stuart.

–Somente um grande favor a um grande amigo. –Marty respondeu, olhando em direção a Nicko.

–Igualmente... –Stuart completou.

–Puxa... –Ela não sabia o que fazer. Ficara igualmente surpresa, assim como Steve, afinal, o ato de Stuart e Marty não eram dos mais comuns, ainda mais com o risco que aquilo trazia.

–Vamos deixar isso para mais tarde, podemos nos conhece melhor depois e... –Stuart disse. –E... E... E é, depois falamos disso.

–Esmeralda. –Steve o interrompeu, sendo mais delicado. –Só não temos muito o que lhe contar. Viemos atrás de você porque estávamos preocupados. Marty e Nicko são pessoas boas que querem ajudar, por isso estamos aqui.

–Como sabiam que eu estaria em Téfires? –Perguntou.

–Não sabíamos. –Steve respondeu. –Mas era nossa melhor alternativa, tínhamos que começar em algum lugar, e Téfires era a escolha mais óbvia inicialmente.

Esmeralda assentiu, compreendendo o que ele falava. Lançou então um olhar para Nicko.

–Bom, mas Nicko, estou meio surpresa em te ver. –Ela disse mais alegre que antes. –Achei que estivesse...

–Morto. –Ele completou, odiava quando as pessoas tinham medo de terminar aquela frase. –Eu sei... Mas acho que minha narrativa agora vai ser um pouco longa demais para o tempo que temos.

–Tudo bem... –Ela concordou. –Só tenho que absorver essa ideia ainda...

Mais um momento onde o silencio reinou. Estavam todos inquietos. Ao mesmo tempo em que queriam falar muitas coisas, não queriam falar nada. Estavam todos muito exaustos e despedaçados, mas por outro lado, aquele momento era de extrema importância, afinal, encontraram Esmeralda, o motivo pelo qual saíram de Colina Nevada completamente desarmados; e Esmeralda reencontrou Steve, dois caras que ele nunca vira antes e Nicko, que ela tinha certeza ser um cara morto.

–É... –Esmeralda começou. –Acho que se vocês vieram atrás de mim, é justo eu contar alguma coisa.

–Bem justo... –Stuart balbuciou riscando o chão com a unha.

Esmeralda suspirou, realmente não estava nos seus melhores dias, e qualquer coisa era motivo de desânimo.

–Bom... –Ela começou. –Por onde eu começo...

–Seria bom sabermos o motivo pelo qual acordei deitado numa cama em uma enfermaria de repente ao mesmo tempo em que ninguém sabia o seu paradeiro. –Steve sugeriu.

–Seria bom... –Ela repetiu olhando para o chão. –Então vamos lá. Creio que você não saiba porque acordou lá, muito menos como.

–Sim...

–Pois bem, acho que você deve saber o quão poderoso é aquele homem que encontramos lá no Ninho. –Steve apenas assentiu enquanto ela falava. –Então... Bom, nem eu mesma sei direito o que aconteceu com a gente. Quando o vi atrás de nós naquela escuridão, só tive um pensamento, que não foi o rápido o bastante para prevenir um ataque, mas deu para o gasto. Igual a você e Bruce... –A voz dela foi falhando nessa parte. –Onde Bruce está?

–Ele ficou em Colina Nevada junto com Adália. –Steve respondeu. –Foi melhor para os dois.

–Entendo... –Ela disse. –Voltando, não pude evitar aquele ataque, somente amenizar o que estava por vir. Fomos nós três jogados do alto da colina. –Fez uma pausa. –Acordei antes que todos vocês. Imaginei que, caso me encontrassem ali com vocês, daria muito problema. A princesa de Téfires desmaiada ao pé da Colina Nevada. –Ela disse com uma voz fina. –Eu podia acordar vocês, e tentei, mas o estado seu e de Bruce era tão deplorável que... Enfim, não os abandonei, tentei chamar atenção para aquela região e assim que achei que alguém estivesse vindo, fugi.

–Você nos deixou para trás... –Steve disse como se tivesse levado um soco.

Esmeralda não se desculpou nem nada, apenas ficou calada.

O fogo crepitava nervosamente, e o barulho das brasas era a única coisa que evitava que o ambiente caísse num silêncio pleno.

–Não vou tentar me redimir. –Esmeralda admitiu. –Mas saiba que eu tive meus motivos, não fugi simplesmente abandonando vocês, sabia que tinha mais alguma coisa para fazer.

Nesse momento Steve pensou em fazer uma interjeição, porém, se conteve, não conseguia ficar bravo com Esmeralda, ainda mais do jeito que ela estava.

–Eu vim direto para Téfires. –Continuou. –Claramente, tive os cuidados de não deixar ninguém me reconhecer, muito menos me ver.

–Espera aí. –Stuart interrompeu. –Como você passou por todos aquele homens? Já viu a quantidade de soldados?

–Pergunto o mesmo para vocês, o que vocês conseguiram hoje não foi nenhuma proeza qualquer. –Ela disse. –A questão é que, diferente de vocês, eu tenho meus próprios meios.

Ao terminar sua frase, ela fez a mesma coisa que havia feito quando se apresentou para Nicko. Sua mão estava aberta, e assim que a fechou, o fogo que queimava na fogueira foi direto para a palma de sua mão, e ao abri-la, ele ficou queimando ali mesmo. Logo depois de alguns segundos desfrutando daquele momento de mágica, ela retornou o fogo ao seu devido lugar.

–Tem sentido... –Marty disse encabulado com o que acabara de ver.

–Bom, eu vim direto para Téfires porque... –Ela retornou. Sua voz falhou nessa parte. –Porque... Eu acho que devia explicações para o meu pai...

Steve entendeu de repente o porque de ela estar daquele jeito. Desde que batalharam com aquele demônio e ela fugiu do reino, Esmeralda nunca mais vira seu pai e nem contara a ale que era uma feiticeira. Ela ficou com uma paranoia de que ele a desertaria, que a negaria como filha. Esmeralda dizia que tinha medo do que ele podia fazer. Steve tentava amenizar aquilo do seu jeito, dizendo que um pai bom, que provavelmente era o caso dela, não seria capaz disso. Ela insistia na ideia contrária.

–E o que aconteceu? –Perguntou, incerto se era o que ele devia fazer.

–Você tinha razão. –Ela desabafou. –Ele não fez toda aquela loucura que eu jurava que ele ia fazer, mas...

Esmeralda não continuou.

Nervosos, Steve, Marty e Stuart trocaram rápidos olhares. Cada um captando a mensagem rapidamente, mudaram rápido de assunto. O que ela falou ou não falou com o pai dela não os importava.

–E o que pretendia fazer depois? –Steve a interrompeu, e ela se sentiu realmente grata por aquilo. –Quero dizer...

–Eu voltaria para Colina Nevada atrás de você e Bruce, mas vejo que isso não é necessário mais.

–E depois... –Steve disse, alongando-se.

Esse era o ponto no qual ele queria chegar na conversa. Não queria ficar parado em Colina Nevada esperando algo ruim acontecer, tinha de agir, só não sabia como. Ir atrás de Esmeralda era sua ideia então, e essa deu certo até então, agora faltava ela saber o que fazer também.

–E depois? –Ela perguntou.

–Acho que teríamos de fazer alguma coisa, não posso simplesmente ficar parado enquanto tem um maníaco que quer me matar.

Stuart e Marty não falavam quase nada.

–A partir daí eu não sei mais o que faria. –Esmeralda admitiu. Steve sentiu tudo despencar ao seu redor, mas para seu animo, ela não parou aí. –Esperaria saber o que você pensava para saber aonde ir, e agora sei que não quer parar.

–Então?

–Então... Não sei ao certo, não tenho muitas ideias de onde começar. –Disse enfim.

–Que ótimo! –Stuart bradou ironicamente. –E agora ficamos parados aqui sem ter onde ir!

–Na verdade não. –Esmeralda o cortou. –Tem um lugar que podemos ir enquanto pensamos no rumo em que tomar.


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