Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 17
Desacordado


Notas iniciais do capítulo

"De tudo o que ele carregava em sua mente, o que mais se destacava era a imagem de Esmeralda, que ele via a cada minuto."



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Todos provavelmente já passaram por um momento em que a gente se sente muito estranho. É um daqueles momentos quando se acorda de um sono profundo, que ao abrir os olhos tudo ao seu lado parece distante e surreal. Quanto mais nos concentramos para entender alguma coisa, menos elas fazem sentido. Os olhos se recusam a abrir-se e tudo que está ao seu lado parece pertencer ao seu sonho, o qual ainda passa em sua cabeça.

Foi exatamente como Steve se sentiu ao acordar em cima daquele monte de palha. Ao abrir os olhos, não se deu conta do lugar onde estava, sua visão, embaçada e confusa, somente fez com que ele entendesse menos ainda. Suas pálpebras pareceriam pesar toneladas, porque mesmo acordado seus olhos queriam continuar fechados.

Não sabia onde estava muito menos aonde estava deitado. Tentou se lembrar de alguma coisa que aconteceu antes de ele chegar ali, e as imagens que via eram somente de um monte de homens armados correndo atrás dele. O som dos cascos dos cavalos que corriam disparados ainda soava em sua mente, assim como o relinchar deles.

Passando o olhar ao redor do ambiente, encontrou Stuart, Marty e Nicko no mesmo estado do que ele próprio. Todos estavam com grandes machucados e boa parte do corpo estava banhada em sangue seco. A respiração de todos era pesada e descompassada.

Olhando para si mesmo, Steve viu os machucados que tinha e os cortes. Antes, quando ele ainda não os havia visto, não doíam nem um pouco, mas agora que os percebera, seu cérebro parecia ter acordado e então uma onda de dor o atingiu em todas as partes do corpo. Os músculos ficaram rígidos, algumas feridas ardiam, além de outras dores menores que comparadas a essas, não eram grande coisa.

Mesmo com tudo isso, o cansaço o abatia, e com a cabeça solta em cima de seu pescoço, ele se largou novamente e adormeceu, desmaiando.

Como ele mesmo sabia, seus sonhos, ou melhor, pesadelos com o seu passado, nunca significam alguma coisa boa, e por mais que ele ouvisse de todas as pessoas que isso era, muito possivelmente, somente paranoia dele, Steve tinha certeza de que eles os serviam como um aviso de que algo ruim estava a caminho. Porém, porque determinado momento de sua vida foi o escolhido para atormentá-los em seu sonho, isso ele não tinha muita ideia do que poderia ser, mas também tinha medo de descobrir.

Ele já havia sonhado algumas poucas vezes com esse momento uns dias atrás, e agora ele voltava a ter essas visões. Era sempre o mesmo momento e sempre do mesmo jeito. Ele parecia não fazer parte do que se passava, mas estava lá, era um espírito que ninguém tinha ideia de sua presença lá, e ele ficava só a espreita.

As imagens eram vagas e distintas e ele só sabia o que estava acontecendo de fato porque participara do que ocorrera aquele dia, caso contrário, teria somente ideias do que podia estar acontecendo.

Lá estava ele novamente, no meio de um baita temporal, que castigava o mundo abaixo dele sem um pingo de piedade. Raios, trovões e relâmpagos estavam juntos para complementarem aquele dilúvio.

Eles estavam sendo atacados, isso era o que Steve sabia, tinham de fazer alguma coisa. As mulheres estavam dentro da caverna ainda, se não fossem rápidos, elas seriam pegas. Mas do lado de fora, Steve e os homens enfrentavam uma situação igualmente arriscada. Cercados pelos monstros e dominados pela chuva, eles não tinham condição alguma de ajudarem, só podiam ser ajudados.

Steve se lembrava de tudo aquilo e seu coração já começava a acelerar. Quando aquilo tudo se passou, ele era realmente mais novo do que ele era agora, não tinha tanta experiência e o medo só servia para desconcentrá-lo do foco do que tinham de fazer. A tempestade o encharcava e obstruía sua visão, os barulhos os assustavam e os monstros que o cercavam, fechando cada vez mais o cerco, nunca foram tão assustadores.

Lembrava-se, cada vez que sonhava isso, dos pensamentos que transcorriam em sua mente naquele momento. Um deles era que, acima de tudo, tinha que salvar as mulheres que haviam ficado na caverna. Mas como ele ia fazer isso não tinha ideia, porque não tinha capacidade de salvar a si mesmo, quanto mais às outras pessoas.

Aquela sensação de querer ajudar e não poder também era igualmente perturbadora. Steve via a ele mesmo lutando e sofrendo, via seus conhecidos batalhando também, e o pior, sabia o desfecho de tudo aquilo, e não podia fazer absolutamente nada. Vagava pela cena como um fantasma, invisível aos olhares de todos. Sua voz soava inaudível até para ele mesmo, e seus movimentos não saiam como queria, pois não tinha total controle de seu corpo. Era uma sensação que a palavra incomum não seria o bastante para descrevê-la.

E quando tudo se acabava num clarão de luz laranja e vermelho, ele voltava para si, acordando. Entretanto, aquela vez foi diferente. Ao final desse pesadelo, Steve acordou de fato, mas não acordou totalmente. Tudo o que ele havia passado ainda o dominava e o cansaço falava mais alto que seus instintos. E naquele transe, meio acordado e meio dormindo, ele ficou passeando pelo seu subconsciente, explorando seus pensamentos mais secretos.

De tudo o que ele carregava em sua mente, o que mais se destacava era a imagem de Esmeralda, que ele via a cada minuto. Nos momentos sérios aos de risco extremo, ele só botava na cabeça uma coisa: Tinha que encontrá-la, não importava o tamanho daquilo. Tinha diversos motivos para ir atrás dela, uns relevantes e outros absolutamente patéticos. Desde que ele conversara com Marty sobre ela, um pensamento que antes ele preferia manter em segredo foi enfim aberto. Não que ele se importasse muito, porém, esse tipo de coisa é melhor guarda para você mesmo. Sentia de verdade alguma coisa a mais por ela, alguma coisa que só ele sabia como era. Steve queria poder passar algum tempo com ela sem todos esses distúrbios que sempre rondam os momentos em que eles andam juntos. Por outro lado, ele sabia muito bem que aquilo estava totalmente fora de questão na situação. Com tudo o que eles passavam, um romance era o que eles menos tinham que se preocupar.

O outro motivo relevante que o levava até ali naquela loucura era o fato de ele estar completamente desolado. Não sabia o que fazer, não sabia como agir, não tinha ideia do que esperar e ela era a única pessoa no momento que sabia mais coisa do que ele, mesmo que ambos soubessem quase as mesmas coisas. Steve estava muito mal informado sobre o que eles estavam enfrentando, além de que não sabia também o que podia estar por vir. Coisa boa não era.

O homem que agora vagava mundo afora com o corpo dele, suponha, era o pior dos problemas. Como aquilo era possível? Steve morreu momentaneamente, viu a si próprio se esvair pelo ar como poeira, desintegrando-se. E depois ressurge da morte sem mais nem menos. A magia tinha sim partes obscuras e inexploradas, mas aquilo com certeza ia bem mais além do que qualquer um dia podia ter ideia.

E os monstros. Havia essas estranhas criaturas que todos tinham ódio e medo, que surgiram da noite para o dia e agora faziam da terra o inferno. Ao final de toda aquela trama, ele esperava saber como aqueles demônios surgiram, mas se desapontou com a descoberta. O homem dos olhos brancos afirmou não ter sido ele o criador daquela “magnífica obra”, e que somente se aproveitara da situação, tomando os monstros para o seu lado. Steve duvidava daquilo sem um pingo de arrependimento, não se pode confiar nesse tipo de gente, ainda mais quando elas tentam matar seus amigos e te possuir, aí você pode ter certeza de que ela não é nada confiável.

Entretanto, caso o homem falasse a verdade, então da onde vinha aquela criaturas afinal? Por que matam o ser humano sem qualquer motivo aparente?

Eram muitas perguntas e poucas respostas, ou melhor, nenhuma resposta. A origem deles e as suas motivações sempre foram um grande mistério e motivo de especulação entre todas as pessoas. Havia sido esse um dos motivos pelo qual Steve se lançou a busca do Ninho de Creepers, descobrir a origem dos malditos, além de vingança também. Tudo em vão.

Mal sabia, porém, que logo daria de cara com essa resposta.

Mas como todos os devaneios, em alguma hora aquele ia acabar, e passeando pelos cantos de sua mente, Steve foi abruptamente interrompido por alguém que o chamava:

–Steve! Steve! –A voz dizia.

Aos poucos, sua visão foi se acostumando à claridade do ambiente, mesmo que baixa. Foi tudo de repente e ele ainda estava meio confuso. Tateou o local ao seu redor a procura de sai espada para se defender, esquecendo-se completamente que a havia perdido, assim como o arco que Bruce lhe dera.

–Steve! Steve! –A voz insistia.

Finalmente sentado e se dando conta de onde estava, Steve se acalmou. Olhou para a pessoa a sua frente, que o sacudia e o chamava sem cessar.

–Steve!

–O que foi Nicko? –Steve indagou assustado, com um tom de sono na voz ainda.

Atrás da silhueta de Nicko a sua frente, havia uma luz alaranjada estranha e, além de Stuart e Marty que já estavam acordados, havia mais alguém. Essa pessoa trajava um manto marrom e seu rosto estava completamente encoberto pela escuridão. Steve já havia visto aquele disfarce antes.

–Tem alguém aqui que eu acho que você gostaria de ver. –Nicko disse.


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