Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 16
A Torre de Pedra


Notas iniciais do capítulo

"-Vamos... Ter... Que... Ficar e... Lutar... –Disse ofegante, parando em cada palavra para respirar."



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Os cascos dos cavalos ecoavam no chão rochoso das ruas de Téfires conforme eles corriam disparados. Stuart e Nicko os guiavam, mas sabia que não poderiam continuar naquela situação por muito mais tempo.

Atrás deles, homens e mais homens vinham apressados e decididos em pegá-los. Armados até os dentes e em grande número, despistá-los não ia ser a tarefa mais fácil do mundo, senão a impossível.

Além disso, Steve e Marty corriam em cima dos telhados, pulando e se esquivando habilmente, porém, no ritmo que iam, o cansaço logo os dominava.

O plano de Stuart para tirá-los dali consistia em um ato não muito complicado, teoricamente, mas na prática, se apresenta impossível. Ainda mais nas condições que se encontravam, afobados e apavorados.

–Pule logo! –Stuart gritou, fazendo um sinal com as mãos.

–Eu vou pular para a morte, isso sim! –Steve respondeu pulando uma chaminé baixa.

–Você já viu nossa situação? –Marty entrou no meio, gritando.

Stuart e Nicko tiveram que desviar a rota de repente por conta de uma multidão de pessoas que se encontravam paradas feito estátuas no meio da rua. Os cavalos, assustados, relincharam e viraram, indo na direção oposta, direto para a tropa.

Percebendo que estavam se enfiando num caminho sem volta, Stuart e Nicko dobraram na primeira entrada que passaram. Deram então uma volta nas ruas e surgiram numa rua mais a frente, já a frente da tropa novamente.

Steve e Marty continuavam correndo por cima das construções, mas logo o caminho deles ia acabar. Seja o que for o que eles fossem fazer, tinham de se apressar.

A ideia de Stuart era, em parte, suicida. Caso alguma coisa saísse por poucos milímetros errada, podia significar a morte, com uma colisão direta no chão. Por outro lado, eles não tinham outra saída senão essa ideia.

–Vamos logo! –Stuart voltou a berrar quando alcançou os dois novamente.

Steve se esquivou de alguns obstáculos e ao voltar ao seu ritmo normal, que era muito acelerado, encarou Stuart seriamente com um olhar frio.

–Já te disse, não há como fazer isso! É pular para morrer! –Voltou a dizer.

Em parte, Stuart sabia que era verdade, mas estava desesperado demais para pensar em alguma coisa fora essa, sua cabeça estava cheia de pensamentos e a aflição e o desespero daquele momento não ajudavam em nada naquilo.

Os cavalos, que já não estavam em um bom estado físico quando eles os pegaram, começaram a diminuir o passo cada vez mais, e não demoraria até que parassem de vez. O pior era que, caso eles não parassem, a rua ia acabar uma hora e eles não teriam para onde correr.

–Vamos ter que descer dos cavalos! –Nicko alertou conforme eles iam ficando mais devagar.

–E eu não sei?! –Stuart perguntou retoricamente. –Mas como vamos que todos esses canalhas atrás de nós?

Nicko virou a cabeça para trás, analisando o tamanho do problema e calculando quanto tempo tinham para poderem descer dos cavalos e procuraram uma saída.

–Não vamos ter muito tempo –Concluiu. -, vamos ter que ser ágeis!

–Não me diga! E para onde vamos quando descermos daqui?! –Indagou.

Nicko olhou para as casas ao lado e respondeu:

–Para onde Steve e Marty estão!

–Vamos subir nos telhados? Não vamos ter tempo o bastante!

Nicko não respondeu, continuar aquilo só ia atrasá-los, tinha de pensar em alguma coisa já que era o único que tentava não se desesperar de vez. Aumentou a galopada do cavalo e chegou bem perto das casas. Gritou então para os dois:

–Nós vamos subir!

–Como? –Marty gritou em resposta. –Não vão ter tempo!

–Temos que arriscar! Se vocês não podem descer, nós vamos subir! –Disse.

Continuou galopando. Os cavalos já não tinham o mesmo pique, e a tropa já estava praticamente na cola deles.

–Vocês vão ter que nos puxar! –Gritou.

–Com o cavalo correndo?! –Steve questionou arregalando os olhos.

–Parado que não!

Nicko se aproximou mais das casas e ergueu um dos braços. Fez um sinal com a cabeça para que Stuart fizesse o mesmo, e ele retribuiu, fazendo o mesmo.

–Nos puxem! –Nicko gritou. –Agora!

Ainda correndo, Marty fez uma manobra arriscada. Se jogando de joelhos, ele saltou e agarrou a mão de Nicko, que ainda estava montado correndo no cavalo.

O que aconteceu em seguida foi uma sequência de fatos muito complexos e confusos para serem explicados em palavras. Assim que Marty conseguiu segurar a mão de Nicko, que ainda cavalgava, ele foi arrastado pelo telhado da casa. Steve correu e o segurou. Neste momento, o cavalo continuou correndo e Nicko ficou pendurado, sustentado somente pela mão de Marty, que fazia o máximo de força para não soltá-lo.

–Me puxem! Rápido! A tropa está chegando!

Marty e Steve fizeram força e em conjunto ergueram Nicko da beirada. Levantaram-se e mesmos machucados e acabados continuaram a correr, mas ainda faltava Stuart.

–Stuart não pode fazer o mesmo que você! –Steve alertou. –Vamos perder muito tempo, vão nos alcançar se arriscarmos isso de novo!

–Tente dizer isso a ele! –Nicko apontou para a lateral das casas, da onde Stuart já vinha cavalgando esperando pelo resgate.

–Ei! Alguém ainda está aí? –Ouviram a voz de Stuart.

–Stuart, não podemos puxá-los agora! Caso tentarmos, irão nos alcançar! –Marty gritou.

A resposta não veio naquele momento. Continuaram a correr, a saltar e a tentar salvar suas vidas, e no meio de tudo isso, ao longe avistaram o fim da rota deles. O conjunto de casas no qual eles corriam em cima estava já no fim, acabando em uma última torre de pedra alta. Esta torre era o último edifício no qual eles podiam se refugiar.

De repente a voz de Stuart voltou a ser ouvida:

–Agora acho que já conseguimos uma boa distância, que tal me puxarem agora?! –Disse.

Realmente eles já tinham garantido uma boa distância entre eles e a tropa, e o melhor que podiam fazer agora seria resgatar Stuart, mas não do mesmo jeito que fizeram com Nicko, era arriscado para todos.

Correndo bem próximo às casas, Stuart foi diminuindo a velocidade de seu cavalo até ele praticamente parar. Alguém veio então e puxou sua mão, e erguido como um peso leve, o trouxeram para cima.

–Como fizeram isso tão rápido?! –Ele indagou se erguendo.

–Não pergunta nada agora não, só corre! –Steve avisou, voltando a correr desesperado.

Agora que haviam parado para resgatar Stuart, perderam a distância que tinham com a tropa, e caso não fossem mais depressa, seriam pegos.

Em compensação, a tropa que os seguia também estava um pouco fragmentada, homens ficaram para trás e outros iam ficando pelo caminho. Os cavalos deixados por Stuart e Nicko recuaram correndo passando por entre os homens e os atordoando um pouco. Tinha ainda as pessoas que saíam de suas casas e, curiosas, tumultuavam o caminho.

Aquela perseguição não apresentava nenhuma vantagem para os dois lados, mas para o lado de Steve estava pior ainda porque ficariam sem ter aonde ir rapidamente.

–Aquela torre vai ser nossa única saída! –Stuart gritou, sem parar de correr.

Eles não tinham como voltar, obviamente, também não podiam descer dos telhados, pois não tinham para onde ir também, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo da rua. Ou seja, estavam literalmente num beco sem saída.

–Espero que a sorte queira nos ajudar hoje. –Marty balbuciou para si mesmo.

Quando enfim chegaram ao pé da torre, perceberam que escalá-la não seria uma tarefa das mais fáceis. Por outro lado, sua estrutura falha e velha apresentava já diversas rachaduras e falhas, o que de certo modo contribuía formando uma parede de escalada.

Sem ninguém dizer mais nada um para o outro, foram subindo o mais rápido possível, enfiando as mãos nas rachaduras e se erguendo.

Logo abaixo deles, alguns poucos soldados que já haviam alcançado a torre começaram a subir também, ou pelo menos tentavam.

–Mais rápido, mais rápido... –Nicko falava sozinho num transe.

Não demoraram muito para chegarem ao topo, porém, foi o bastante para sugar o pouco de energia que ainda tinham. Esgotados, caíram largados no telhado.

A vista de lá de cima era de impressionar qualquer um. O reino de Téfires inteiro iluminado logo abaixo deles, a vegetação estendida atrás deles e o mar quebrando ao longe. Fora a boa brisa com cheiro de maresia que os atingia. Era bastante atrativo, só que na situação deles, isso não tinha a menor importância.

–Estamos ferrados... –Nicko balbuciou caído no chão.

–Ferrados não chega nem perto de descrever nosso problema. –Stuart disse num comentário infeliz.

Steve fungava, seu peito chiava e seu estômago queimava como se houvesse uma fogueira ardendo dentro dele. Sua visão falhou momentaneamente e sua cabeça parecia não estar mais conectada ao seu corpo.

–Vamos... Ter... Que... Ficar e... Lutar... –Disse ofegante, parando em cada palavra para respirar.

Stuart desembainhou sua espada, assim como todos, inclusive Marty que preferia o arco.

–Prontos? –Perguntou se levantando.

–Não... –Marty respondeu manuseando sua arma.

–Só vamos tentar não matar esses caras... –Steve avisou. –Eles só estão fazendo o trabalho deles.

–Se o trabalho deles é cortar nossas cabeças fora, não vejo porque não fazer o mesmo. –Stuart disse, e logo depois que Steve o fitou, ele se desculpou. –Mas se necessário... –Acrescentou.

–Só nos casos mais extremos. –Steve falou enfim.

O primeiro homem surgiu em uma das laterais. Stuart deferiu um golpe na armadura dele, não muito forte, como combinado. O soldado se desestabilizou e caiu, não morreu, mas se feriu bastante.

Mais e mais soldados foram aparecendo nas laterais e facilmente eram impedidos de cair. Assim que o primeiro colocava a cabeça para fora, ninguém tardava e partia para cima do individuo.

No meio dos ataques, da confusão e do distúrbio, o chão abaixo deles, ou melhor, ou telhado, de repente, começou a tremer. Tremeu brutamente durante alguns segundos e logo cessou. Os homens que subiam e até mesmo Steve, Marty, Nicko e Stuart se desequilibraram.

–Mas o que foi isso? –Marty questionou retomando a postura.

–Seja o que for, não parece nada bom! –Nicko respondeu impedindo um homem de alcançá-los com um único golpe de sua espada.

Continuaram a batalhar mesmo assim.

Quanto mais resistiam, mais homens surgiam, e mais difícil estava começando a ficar para eles. Logo não teriam como conter todos os soldados e seriam pegos. Podiam apelar para ataques mais brutais, entretanto, o bom senso deles não os permitia, mesmo que juízo não fosse uma coisa muito relevante naquela situação.

De repente o chão estremeceu de novo, mais forte do que antes e por mais tempo. Homens que escalavam o paredão de pedra caíram no meio do caminho e pedras da estrutura da torre se soltaram e se espatifaram no chão.

–Isso não me parece nada bom... –Marty repetia.

Mais um terremoto momentâneo. O telhado rachou e criou falhas bem abaixo dos pés deles. A torre se inclinou para frente de repente.

–Isso é o que estou pensando? –Nicko perguntou, com medo da resposta.

–Para o bem de todos aqui, espero que não... –Steve respondeu desconfiado.

Mais tremedeira, mas falhas surgiram e mais uma vez a torre se inclinou para a frente. Agora a queda era clara.

–A torre está caindo! –Algum homem berrou lá de baixo, mesmo que já estivesse óbvio o que estava acontecendo.

Inclinando-se cada vez mais, não havia mais saída para ninguém. Os que estavam no chão correram para se afastar do ponto e colisão. Steve, Marty, Nicko e Stuart, que estavam lá em cima, só puderam correr na direção oposta da queda.

A torre caiu lentamente, e como num sonho, cada movimento dela pode ser visto detalhadamente. A estrutura estralando, as pedras voando e o grande edifício se partindo ao meio.

Quando enfim ela atingiu o chão, destroços voaram para lugares distantes dali, uma poeira enorme foi levantada no ar e tudo ficou em silêncio, somente o barulho das pedras se quebrando.

Do meio dos destroços, Steve conseguiu se erguer. Por sorte, não fora atingido por nada e caíra longe de tudo mais.

–Stuart! Nicko! Marty! Cadê vocês? –Gritou, ignorando o fato dos homens poderem pegá-lo.

Uma mão apareceu no meio das pedras, junto com uma voz abafada que disse alguma coisa indecifrável. Steve puxou-a, e do meio de um monte de pedras partidas, Nicko ressurgiu.

–Caramba! –Berrou, verdadeiramente alto. –Isso foi...

–Temos que achar os outros. –Steve o interrompeu.

–Podem se poupar disso. –Alguém disse.

Steve se virou e o dono da voz não era ninguém mais do que Stuart.

–Acho que não precisamos discutir o que aconteceu agora...

–Vamos embora. –Steve saiu.

Incrivelmente, não havia mais ninguém ali, somente eles.

Atravessando becos, como sempre, acharam, minutos mais tarde, uma casa afastada e velha. Certamente era um esconderijo óbvio, e certamente eles estavam dando a mínima para isso.

Entraram e se acomodaram em cima de um monte de palha. Todos tinham enormes cortes em várias partes do corpo, sangravam nas mais diversas feridas, o estado deles era deplorável. Perderam as armas na queda e até mesmo partes da armadura. Incrivelmente, sentiam menos dor do que deviam, devido ao excesso de adrenalina que corria nas veias e artérias de cada um.

Deitados lá mesmo de qualquer jeito, Stuart disse:

–Já falei e repito... Tomara que essa garota valha nosso esforço.

–E tomara que ela esteja aqui mesmo. –Nicko acrescentou.

–Para o bem dela. –Stuart disse. –Porque se ela não tiver aqui... Eu a mato...

–Se ficar vivo até lá... –Marty comentou.

–Somos fortes...

Ficaram caídos e desmaiaram ali mesmo, sem ligar para mais nada. O corpo deles não distinguia mais o que estava acontecendo, somente se preocupavam em se desligar e recuperar as forças.

E foi exatamente o que fizeram.


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