Enquanto corriam através de toda a extensão da praia, puderam avistar algumas outras criaturas nas proximidades. Claramente, as ignoraram, passaram direto como um raio.

–Você foi bem longe hein amigo... –Stuart disse ofegante.

–Já cansou? Espero que tenha energia para despistar os guardas ainda. –Steve respondeu.

–Não me subestime garoto.

Eles seguiram no mesmo ritmo durante mais uns dois minutos, até que ao longe puderam ver alguns pontos brilhantes no horizonte, eram tochas acessas.

–Nem têm tantos assim. –Marty disse.

–Espere mais um pouco e você verá. –Steve falou.

A partir de um ponto então eles pararam de correr e ficaram olhando para Téfires. Agora que já não corriam mais, puderam ver com toda clareza a situação deles. A muralha estava completamente do jeito que estava da última vez que deixaram o reino, em pedaços e somente algumas partes mais distantes estavam inteiras. Algumas partes estavam como ruínas de templos antigos, completamente desniveladas e com os destroços espalhados ao seu redor. Quem via aquilo não poderia acreditar o quão poderoso e imponente fora aquela muralha, que agora jazia destruída no chão.

O problema, entretanto, era outro. Como não havia mais um muro para defender o reino, ao que parece eles colocaram todos os soldados onde antes estava a muralha. Como num formigueiro, o número de homens ali era incontável, formavam uma barreira humana de extensão surpreendente, que não era possível ver aonde acabava na escuridão. Os pontinhos brilhantes que eram as tochas acessas se alastravam até o sumir da vista. Além disso, havia ainda, mais a frente, homens armados com arcos e espadas, preparados para pegar o invasor ou a criatura antes mesmo de ela se aproximar da cidade. Caso eles conseguissem adentrar o reino, havia homens de prontidão nas ruas e em construções mais altas dentro do reino, o problema era que eles não sabiam disso.

–Acho que vai ser um pouco mais complicado do que eu havia imaginado... –Stuart disse prendendo sua espada na areia e se apoiando nela.

–Foi o que eu disse. –Steve falou.

–Estamos ferrados. –Marty disse.

–Ferrados é apelido. –Nicko completou.

Ficaram ali, os quatro encarando o enorme batalhão. Não moviam um músculo sequer, pensavam numa maneira de furar aquela barreira e adentrar, mas estava completamente fora de questão. Eles não tinham nem como se aproximar, pois os soldados estavam dispostos antes mesmo das proximidades das cidades. Isso era o que eles conseguiam ver, não sabiam ainda se havia ainda outros escondidos ou camuflados.

–Alguma boa ideia? –Marty arriscou.

–Que tal darmos meia volta e esperarmos amanhecer. –Stuart sugeriu, pegando sua espada e a girando em sua mão.

–Não podemos, à noite temos pelo menos a vantagem de não sermos percebidos a distância. –Steve respondeu.

–Mas certamente a segurança no período da manhã não é tão intensa.

–É arriscado do mesmo jeito. –Voltou a dizer. –Se chegamos até aqui agora temos que acabar com isso agora.

–Se é assim...

Analisaram a situação durante muito tempo. A movimentação dos homens era intensa, e ao mesmo tempo minuciosa. Eles evitavam fazer muito barulho e estavam sempre atentos aos sinais que vinham de fora do reino. Alguns arqueiros estavam em pontos mais distantes, preparado para qualquer emergência. Os espadachins não mantinham suas espadas embainhadas e estavam sempre com elas em mãos.

Duas tendas haviam sido montadas em pontos distintos. A movimentação de gente entrando e saindo era alta, parecia que lá era onde os cabeças daquilo tudo ficavam. Steve chegou a uma conclusão única e óbvia.

–Vamos ter que destruir aquelas tendas. –Disse sério.

–Você está falando sério? –Nicko indagou. –Como a gente vai fazer isso? Olha o tanto de soldado espalhado por aí!

–Temos que atear fogo a elas. –Respondeu.

–E depois gênio? –Stuart entrou no meio. –Não podemos sair por aí tacando fogo nas pessoas, elas só estão fazendo o trabalho delas.

–Não estou com vontade de matar pessoas. –Marty disse.

–Ninguém vai morrer, se eles forem espertos vão sair de lá antes que o fogo se alastre.

–Mas e depois? –Nicko questionou. –Vão desconfiar que alguma coisa aconteceu, vão ficar mais atentos ainda.

–Vai ser um caos. –Marty terminou.

–Por isso teremos de ser rápidos, num único segundo que abrirem uma brecha para a gente nós corremos. –Explicou. –Não podemos vacilar em nenhum momento.

–Muito arriscado. –Marty disse. –Mas ideia melhor eu não tenho.

–Eu também não... –Nicko falou.

–Muito menos eu, então vamos logo fazer isso.

Planejaram tudo meticulosamente, mesmo que o que fossem fazer não exigisse muito esforço mental, somente habilidade.

Quando já estava tudo pronto, partiram para o meio da vegetação e se camuflaram.

–Assim que eu acender a tocha não teremos muito tempo, pois vão nos ver. –Steve alertou. –Então assim que eu atear, corremos.

–Tudo bem. –Marty concordou.

Marty e Steve ficaram responsáveis por uma das tendas enquanto Nicko e Stuart estavam do outro lado cuidando da outra tenda. Assim que Steve atacasse, eles ateariam fogo logo em seguida.

–Não estou me sentindo nada bem em fazer isso... –Nicko disse nervoso.

–Vamos lá, esses caras precisam de um pouco de adrenalina. –Stuart estava se divertindo.

Steve começou então o processo.

–Que a sorte esteja ao nosso lado. –Falou para si mesmo.

Ao terminar de falar, a tocha se acendeu. Rapidamente, ele a jogou em direção a tenda. Antes mesmo do fogo se alastrar, uma voz possante gritou:

–Invasores!

Uma corneta soou alta e todo o batalhão começou a se movimentar. O fogo dominou a tenda bem a frente deles assim como a outra do outro lado. Homens saíam desesperados de dentro antes que o fogo consumisse. A gritaria teve início e o barulho deles correndo de um lado para o outro ia somente crescendo.

De repente flechas foram lançadas bem onde ele e Marty estavam escondidos.

–Mas que mer... –Marty gritou assustado.

–Nos metemos numa bela encrenca, amigo. –Steve pegou sua espada e partiu para a próxima parte do plano.

Do outro lado, Nicko e Stuart fizeram um sinal e eles viram uma brecha meio no meio de toda aquela muralha de homens. Se eles conseguissem ser rápidos e ágeis o bastante conseguiriam passar e entrar em Téfires.

Correram e então ficaram visíveis para todos. Todos os olhares foram dirigidos até eles.

–Ladrões! –A mesma voz gritou.

Uma chuva de flechas voou sem precedentes na direção deles, mas escaparam, pois já esperam por isso.

O que eles não contavam, entretanto, foram os homens que surgiram como água na frente deles. Apareceram tão rápidos que pareciam terem saídos do solo. Eram quatro homens, assim como eles. Sacaram suas espadas e partiram para cima deles.

Steve defendeu o golpe, assim como todos. Marty carregava somente seu arco no momento, mas foi ágil o bastante e conseguiu se desviar da espada que certamente o tiraria sua vida. Sacou sua espada e partiu para cima de seu oponente.

–A gente devia ter pensado nisso! –Steve gritou.

–Uhú!!-Stuart gritou atacando rapidamente.

Os movimentos dele eram tão rápidos e insanos que nem pareciam humanos. O jeito como ele manejava sua arma era sobrenatural. Após defender o primeiro ataque, partiu para cima com tudo. Cortando o ar com uma velocidade sobre-humana, ele atacou somente duas vezes e já desarmou o cara. O homem, indefeso, correu.

–Volte covarde! –Gritou rindo alto.

Logo após, ele ajudou Nicko e ambos acabaram sem problemas com o outro soldado. Os outros dois que restaram recuaram em desvantagem clara.

–O que foi isso?! –Steve indagou falando da habilidade de Stuart.

–Eu faço o que posso garo... –De repente uma flecha veio e interrompeu a fala dele.

De uma longa distância certamente ela veio, mas atingiu um ponto crucial de Stuart. A flecha entrou com força em seu braço direito, sua espada caiu no chão e agora ele estava incapacitado de lutar.

–Ai! –Berrou. –Mas que droga!

Outras flechas vieram logo em seguida. Algumas não chegaram perto, mas outras colidiram com eles, que se protegeram por causa da armadura. Steve, que não trajava nenhuma, foi ferido de raspão duas vezes. Nicko conseguiu desviar três flechas com a espada. Novamente mais flechas. Steve foi dessa vez atingido na perna e caiu de lado. Marty teve a armadura amassada.

–Temos que correr! –Gritou ele.

Homens e mais homens começaram a surgir de todos os lados. Todos que estavam antes formando uma muralha humana para que ninguém entrasse em Téfires agora vinham correndo feitos loucos.

–É melhor irmos logo! –Nicko gritou.

Ajudou então Steve a se levantar e correram na direção oposta.

Mesmo ambos estando feridos, sabiam que não podiam vacilar, e deram o máximo que tinham para escaparem. A desvantagem estava clara, os quatro não podiam lutar com um exército inteiro, ainda mais machucados.

Na volta, Marty chutou um dos paus que sustentava um canto da tenda, e esta caiu, bloqueando a passagem com suas altas chamas. Isso deu a eles bastante tempo para fugirem.

Entraram no meio da mata e se agacharam. Steve tirou a flecha e Stuart também. Os dois sangravam muito.

–Mas que beleza! –Stuart gritou raivoso.

Flechas voaram logo acima deles, passando longe. Gritos altos podiam ser ouvidos atrás do esconderijo e logo depois ouviram o que pareciam ser cascos de cavalos correndo.

–Mas o quê?! –Steve indagou. –Cavalos?!

–E agora? –Marty perguntou. –Fugimos?!

–Não temos como fugir, vão nos perseguir até o inferno se possível. –Stuart respondeu. –Ou entramos agora ou...

–Abaixa! –Nicko gritou.

Os quatro se jogaram no chão quando dois homens montados a cavalo saltaram por cima deles e parando bem a frente deles. Marty pegou seu arco e acertou um homem bem no peito, ele não morreu, mas o impacto o derrubou do cavalo. Nicko então saltou e atacou com sua espada o outro soldado. O cavalo, porém, investiu contra ele e Nicko foi arremessado de volta.

Então mais homens montados surgiram do mesmo jeito, saltando por cima deles. Alguns traziam espadas, outros arcos e alguns até mesmo lanças.

–Fujam! –Steve gritou.

Eles começaram a correr na direção oposta, mas deram de cara com mais dezenas de homens. Estavam todos com as espadas empunhadas e os arcos carregados. O fogo crescia cada vez mais atrás deles, e o barulho era intenso.

Viraram-se e os cavaleiros estavam bem na cola deles.

–Vamos ter que lutar! –Steve alertou.

Stuart pegou a espada com a sua outra mão, mesmo que não fosse sua dominante.

–Eu dou meu jeito...

Flechas foram atiradas e os cavalos atrás deles avançaram. Num momento de pura confusão, as flechas atingiram alguns cavalos que acabaram caindo e derrubando outro. Os demais que sobraram, assustados, avançaram em direção à tropa de Téfires. Homens foram derrubados no chão como estacas. Eles viram um momento para fugir.

–Agora! –Steve gritou.

Eles passaram no meio da multidão, esbarrando e empurrando os soldados.

Já na saída, um homem atacou Marty pelas costas, e ele caiu duro no chão. Sua armadura o protegeu, mas ele desabou. O soldado ia terminar o trabalho atravessando a espada pelo corpo dele, porém, Steve se colocou na frente e com sua espada defendeu o golpe. O barulho de metal com metal colidindo foi estridente.

–Anda logo Marty! –Steve exclamou fazendo força para não perder a disputa que travava com o soldado.

Marty não demorou nada e saiu do chão, e a única coisa que o veio à cabeça foi tirar seu elmo e o atirá-lo contra o soldado que batalhava com Steve.

O elmo colidiu bem na cabeça e o homem caiu, atordoado.

Iniciaram novamente a corrida. Havia poucos homens na frente deles, mas em compensação atrás vinha dezenas. O barulho dos cavalos voltou a ser ouvidos e eles logos foram alcançados.

Nicko se virou a tempo de se defender e quebrar a lança de um dos inimigos. Ele caiu no chão e recuou. Nicko então teve brilho nos olhos.

–Os cavalos! Peguem os cavalos!

Nicko logo montou em cima do cavalo do homem que havia derrubado e partiu em direção a outro. Colidiu de frente e o homem caiu. Steve reagiu rápido e montou.

–Os cavalos! Monte nos cavalos!

Stuart fez o mesmo que Marty fez antes, pegou seu elmo e o atirou em direção a um homem montado. Ele não caiu, mas se desequilibrou e foi o bastante para Stuart. Sem nem usar a espada, ele mesmo puxou com suas próprias mãos e o derrubou.

–Desculpe amigo, tenho que pegar isso aqui emprestado.

Stuart montou e quando olhou ao redor Marty também já estava pronto.

–Corram para o reino!

Os quatro, montados a cavalo, avançaram em direção ao reino. Furaram as barreiras humanas que tinham, pularam os destroços dos muros e adentraram Téfires enfim.

O que eles não contavam era que anda havia muitos soldados dentro da própria cidade que estavam preparados para pegá-los assim que eles entrassem.