–Chegamos.

Aquela voz não fora um pesadelo. Estava ali, era real. E a devorava como um monstro do lago. Estava amarrada e amordaçada. Abriu os olhos, finalmente, e olhou o relógio. Andaram de carro por pelo menos duas horas.

Não conseguia se mexer, então Roy/Hullu a carregou até lá dentro. Dentro de onde, não sabia. Estava confusa demais para perceber alguma coisa. Só se sabe que acabaram num quarto. Velho, porém conservado.

–Passamos por paisagens lindas. Que pena que fechou os olhos. Não gosta de ficar comigo, não é?- disse Hullu, tirando o pano sujo de sua boca.

–Eu gostava, até arruinar minha vida.- ao dizer isso, sua bochecha ardeu. Estava machucada, mesmo.

O Hullu andou pelo quarto e Miranda o acompanhava com os olhos. Chegou a um armário, do qual tirou um frasco com um líquido azul. Forçou Miranda a tomá-lo. Ela tentou resistir, mas ele era mais forte.

Ao tomar, sentiu paralisar-se. Não podia mexer nada além dos olhos. Sentiu medo. E ela, ali paralisada, foi estuprada novamente por Hullu, que não podia mais se chamar Roy. Ele a fez sangrar e chorar. Só não podia gritar, o veneno paralisara suas cordas vocais.

Ao parar, beijou-a por muito tempo. Até ela quase desmaiar com falta de ar. Finalmente, o veneno perdeu seu efeito e ela tentou batê-lo com todas as forças. Mas ele a segurou pelos braços e a jogou no chão, fazendo a cabeça bater com força.

Tonta, perguntou:

–Por que faz isso comigo?

Hullu não respondeu. Apenas se encaminhou novamente ao armário, de onde tirou uma pistola. Miranda morria de medo de armas e começou a gritar de medo. Hullu a amordaçou de novo, mais forte que antes.

–Eu te amo, Mirandoce. Amo muito. Você não me dava atenção. Precisava tomá-la. E tomei. Agora, sua vida está arruinada e a minha também. Afinal, essa casa não é minha e pessoas moram aqui. Não tenho para onde ir, minha mãe me expulsou de casa porque pichei um muro. Com seu nome, sabia? - e deu uma risadinha sem graça.- E quando os donos dessa casa voltarem, teremos que sair. E não posso sair, tivemos tantas memórias aqui.- começou a chorar.

Chorou muito, muito mesmo. Miranda sentiu-se enjoada. Já não sentia nada por ele, apenas nojo. Cara idiota. Ela não percebeu mas Hullu disse ter ouvido o portão se abrir. Ficou desesperado achando que os donos haviam chegado. Deu algumas voltas pelo quarto, correndo, até se jogar no chão e encaixar a pistola na boca.

Miranda se desesperou, odiava ver sangue. Num movimento rápido, Hullu retirou a pistola da boca e apontou para ela. Atirou, acertando seu ombro e novamente a colocou na boca, disparando a bala e explodindo sua cabeça. A poça de sangue já jorrava, e ela gritava de dor, de pânico, quando os donos da casa chegaram.