Maître de Marionnettes (Hiatus) escrita por Jack Byron, Tom


Capítulo 3
Pôles Opposés


Notas iniciais do capítulo

"Pólos Opostos", escrito por Mozi e digitalizado por Lyra. Com muito amor para Murrina e para quem quiser ler! :3



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– Isso não te incomoda? – Indagou Beatrice naquela manhã à mesa do café.

Zabéle ergueu os olhos do seu bolo de laranja para identificar do que a irmã estava falando. Sig soltou um suspiro quando percebeu que o assunto era aquele de novo.

– Chermount é pago para garantir a minha segurança e não para se tornar amigo da família Mortensen. – observou a mais jovem voltando-se ao seu bolo.

– Armand também e mesmo assim ele se esforça para ser agradável. – retrucou Beatrice.

– Talvez porque tudo o que importa para Armand é que você abra as pernas para ele depois do jantar.

Um silêncio reinou na copa enquanto Beatrice fazia o possível para se recuperar da facada que foram as palavras de sua irmã. Armand que, ao contrário de Chermount, sempre se sentava à mesa junto da família, engasgou com o leite e trocou olhares nervosos com Beatrice. Chermount, por sua vez, continuou fingindo que não via ou ouvia ninguém se concentrando em manter-se recostado na cadeira de Zabéle.

– Mademoseille Dorleac deve ter chegado. Vamos Chermount, tenho aula de piano. – começou Zabéle percebendo a besteira que tinha dito, e puxou o homem pela manga do paletó.

Os dois saíram da copa deixando Beatrice e Armand na mesa.

– Chermount, hoje não tem aula de piano. – murmurou Zabéle como se ele tivesse pedido alguma explicação.

Eles foram para fora da casa, na direção do jardim onde o espinho perfurara o olho de Zabéle e dali caminharam até a garagem, onde a lamborghini negra da jovem estava estacionada. Zabéle não dirigia, claro, mas Chermount recebia o suficiente para fazer isso por ela. O homem ajeitou-se no banco do motorista, enquanto a moça sentava-se no banco do passageiro.

E ele nem precisou perguntar para saber que eles estavam indo para o teatro, encontrar Mestre Salazar e aprender novos truques. Zabéle encostou a cabeça no estofado do banco e fechou os olhos enquanto o rosto da tal Mabelle tomava conta de sua imaginação.

•••

Zabéle estava debruçada sobre o vidro da mesa de centro da grande sala de estar. Diante seu olho são passavam as imagens coloridas. Após o incidente com o espinho a jovem Zabéle passara a dar mais importância às cores. Gostava muito de amarelo e azul, mas sua vida era tingida de preto e vermelho. Preta era a metade do mundo que ela não podia enxergar, a metade envolvida em sombras e nas passadas noturnas de sua irmã e de seu avô, tais ocasiões não eram de seu total conhecimento, mas ela sabia que possuíam muito vermelho, a outra cor de sua vida.

A porta da casa se abriu revelando uma figura pálida trajando uma vestimenta completamente negra. Zabéle fitou a irmã fixamente enquanto a outra fazia o mesmo. Os lábios finos de Beatrice estavam brancos, o que sugeria que do lado de fora estava realmente frio. Ela confirmou a observação da irmã enquanto se aproximava desenroscando o cachecol do pescoço.

– Está frio lá fora.

– O corpo também estava. – retrucou Zabéle levianamente.

– Ok... O que quer saber, Sig?

Zabéle quase sorriu com aquela pergunta. Queria saber tantas coisas, a começar pela identidade do assassino de seu pai. No entanto, algumas perguntas não deviam ser indagadas, algumas respostas não deviam ser compreendidas e alguns assassinos simplesmente deviam continuar nas ruas caminhando nas calçadas e sorrindo para os comerciantes porque isso impedia que mais pessoas morressem. Impedia que um verdadeiro banho de sangue se iniciasse. A jovem sabia que a liberdade daquele homem mantinha milhares de pessoas vivas. Ela só não sabia quem exatamente ele era.

Mas mesmo que tudo aquilo passasse pela cabeça da menina do tapa-olho nenhuma daquelas palavras devia ser proferida. Mestre Salazar lhe ensinara. Não pergunte, seja respondida. Isso só significava algo para quem entendesse, significava que você devia encontrar as próprias respostas, você devia ir lá e conseguir que o maldito mentiroso dissesse a verdade. Não importam os meios. E realmente não importavam! Você sabe mais do que eles. E ela sabia. Beatrice era uma boa mentirosa, mas não melhor que Sig. Quanto estava perto da irmã a mais velha das gêmeas acabava deixando algumas coisas escaparem, pormenores que faziam toda a diferença no futuro.

– Só estava pensando alto. – murmurou Zabéle fitando o reflexo da irmã no vidro da mesinha.

– Eu estive... Fazendo algumas coisas que vovô mandou que eu fizesse. – Beatrice respondeu a pergunta inaudível.

– Primeira Lei de Newton.

Beatrice franziu o cenho.

– Como...?

Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que...

– Eu sei qual é a Primeira Lei de Newton! – esbravejou Beatrice.

– Então você sabe do que eu estou falando. – retrucou a outra friamente.

As duas fitaram-se em silêncio por um longo momento.

– Por que você simplesmente não pergunta? – a voz de Beatrice estava embargada.

– Eu não faço perguntas, eu obtenho respostas, Freud. O vovô é a força aplicada sobre você, se ele não aparece você continua em linha reta, mas é só ele intervir que você faz tudo errado. Papai não queria que fizéssemos o que ele fazia...

– O papai está morto, Zabéle!

E a jovem Zabéle sentiu seus lábios tremerem ao som de seu nome de batismo sendo pronunciado pela irmã. Beatrice nunca a chamava assim.

– Ele morreu por isso.

– Sim! Ele morreu por isso. – e Beatrice estendeu um pedaço de papel para Zabéle. – e nós vamos vingá-lo.

A jovem encarou o pedaço de papel onde se via um homem degolado.

– Eu obtenho respostas. – murmurou baixinho, mais para si mesma do que para a irmã. Havia muito mais por trás daquelas palavras.

Nesse instante Mestre Salazar adentrou na mansão e não era mais Salazar, era Joseph Mortensen, o avô das gêmeas, o pai daquela tal Mabelle. O homem fitou de longe a fotografia que Sig deixou jogada em cima da mesa, apanhou o charuto no bolso e acendeu, sentando-se na poltrona de couro enquanto fumava avidamente. Suas netas o fitavam em silêncio. O silêncio costumava ser predominante na Mansão Mortensen.

– Parece que aprendeu a lição, Freud.

Beatrice concordou com rapidez.

– Um ímã de pólos opostos. – sussurrou a menina de tapa-olho pensativa.

– Sem precisar perguntar. – ele incentivou a neta como se a estivesse incitando a fazer algo.

Beatrice observava incrédula.

– Isso não é justo! – proferiu repentinamente. – Você nos deu treinamentos completamente distintos, mas Sig sempre vai ter vantagem porque ela pode entender o que eu faço muito mais do que eu entendo o que ela faz!

Mortensen esboçou um sorriso irônico.

– Será que ela entende Freud? Você acha que entende?

– A diferença é o porquê. – retrucou Sig, direcionando-se ao avô.

– Vocês podem parar de falar como se fossem poetas ou filósofos ou, apenas, pessoas esquisitas?! – esbravejou Freud.

Sig calou-se. Mortensen deu uma longa tragada no charuto.

– Beatrice, você foi criada pelo Mortensen. Isso está tão claro, querida.

A jovem revirou os olhos.

– Essa é a parte que eu entendo. – retrucou.

– Zabéle foi criada pelo Salazar. – completou displicente.

O queixo de Beatrice tremia de raiva.

– Eu fui criada para matar! – exclamou sarcástica.

Zabéle voltou os olhos para o vidro, ele refletia Freud, as lágrimas cristalinas escorrendo pelos seus olhos turquesa. O único problema de Freud foi ter sido moldada errada, se não fosse por isso ela poderia ter sido perfeita. Como uma boneca. Delicada e graciosa. Mas desde que ela se lembrava Freud foi obrigada a trocar as bonecas por facas, o piano por lutas e os perfumes por revólveres. Sig deslizou os dedos brancos pelo carpete até encontrar os dedos de Freud, que ela tinha certeza que tinham sido feitos para encaixar nos seus. Freud fitou a irmã tentando lutar contra as lágrimas.

– E eu fui criada para mentir, Freud. Mas não é como se alguma de nós tenha tido uma escolha.


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Notas finais do capítulo

Mil perdões pela demora monstruosa, pessoas! E me desculpem se esse capítulo não ficou tão bom, mas ele é mais um capítulo ponte para apresentá-los alguns personagens (Armand, Chermount, Mabelle e o próprio vóvis, Joseph Mortensen). Eu demorei esse tempo todo porque fiquei sem internet e ela não tem prazo de volta, mas eu recebi uma MP super fofa da Murrina pedindo para que não desistíssemos da fic, então está aí, baby. Esse capítulo foi postado graças a você! ^^' Bom, a Lyra deve postar em breve, eu acho. E provavelmente haverá um capítulo com mais ação e tals. Agradeço a quem, mesmo com toda essa demora, continua acompanhando a história. A partir de agora a gente vai tentar se dedicar mais. Beijocas! :3