"O sorriso dele não era amistoso. Era um sorriso que queria dizer problema. Problema garantido." -Sussurro; Hush Hush

Saímos daquele hospital doze horas mais tarde, ou seja, no horário de almoço.Entramos em meu carro, colocamos o cinto e enfrentei o trânsito até o meu apartamento, vendo nas ruas a decoração e as luzes de natal, juntamente a neve que caía lentamente. Kate que já sabia do ocorrido, ficou de boca aberta ao ver Luke ao meu lado. Ele entrou no apartamento olhando ao redor e Kate aproveitou a oportunidade para me puxar pelo braço em direção a cozinha.

–Como assim você trouxe um estranho para o nosso apartamento, Rachel? Você ficou maluca, quer dizer, mais do que já é?

–Olha, será por pouco tempo e é véspera de natal. Você me conhece... Como eu iria deixá-lo na rua?

–Ele não tem casa, não? –ela perguntou ironicamente.

–Na verdade não. Não tem parentes e nem amigos.

–Que ótimo sujeito você arranjou para morar conosco. –ela disse e revirou os olhos.

–Se ele aprontar terá o seu castigo. Qualquer deslize e eu passo o nariz dele no chão e o jogo pela janela.

–Ok. –ela cruzou os braços e caminhou até o sofá, onde ficou imóvel por um tempo.

–Ham... Kate? Luke deve estar com fome e você sabe que eu não levo jeito na cozinha e...

Ela se levantou e foi em direção a cozinha com passos largos.

–O que o novo animal de estimação gosta de comer? –Kate perguntou com a cabeça dentro da geladeira.

–Qualquer coisa. –Luke respondeu no vão da porta se apoiando nas muletas.

Ele havia aparecido de repente e eu achei que Kate ficaria sem graça, mas ela simplesmente respondeu:

–Ótimo, pois é véspera de natal e os supermercados devem estar vazios e a ceia de hoje a noite já está quase pronta. E Rachel, por favor não deixe o novo animal de estimação fazer xixi na árvore de natal. Gastei muitas horas enfeitando-a.

Assenti, pois era mais seguro. Ajudei Kate no almoço –na verdade só fiz o suco e passei os ingredientes e enquanto isso, Luke esperava na sala de estar.

Horas depois estávamos os três comendo macarrão ao sugo –um molho vermelho com manjericão e sem carne- em silêncio. Depois Kate foi para seu quarto, Luke voltou para a sala de estar e a louça havia ficado na minha responsabilidade.

–Fumaça! Cadê você, lindinho? –gritei.

–Eu estou aqui... –Luke disse e fez uma pausa tentando se lembrar de meu nome – Hm, Rachel.

–Claro que não estou falando com você, moço! Estou procurando meu gatinho.

–Espere, qual o nome dele mesmo?

–Fumaça, Fumaçinha, Coisa Cinza... Depende.

Luke gargalhou.

–Nossa, não tinha um nome pior para colocar não?

–Cala a boca! Ele é um membro desta “família”. E se você quiser continuar sob este teto é melhor respeitá-lo.

–Ok. Que seja.

–Seu grosso. –bufei.

Segui o corredor e virei no primeiro cômodo à direta, o meu quarto.

–Ah, você está ai! –exclamei ao ver Fumaça deitado em minha cama dormindo. Peguei o bichano no colo, deitei em minha cama e coloquei aquele ser em cima de minha barriga, ele mexeu tentando achar uma posição confortável e logo voltou a dormir.

Encarei o teto por um tempo, me perguntando se havia feito o certo em abrigar Luke em casa. Balancei a cabeça tentando desviar os pensamentos, afinal algumas coisas é melhor fazermos sem pensarmos muito, pois se pensarmos acabamos não a fazendo.

"R' u mine?" começou a tocar em meu bolso, quando estava quase dormindo. Peguei o aparelho celular olhando o identificador de chamadas.

–Oi mãe!

–Oi filha, como está o rapaz?

–Um pouco melhor. –respondi omitindo o fato de que Luke estava hospedado em meu apartamento.

–E não dará para vir passar o natal conosco?

–Esse ano não, mamãe.

–Tudo bem então. Feliz natal, filha.

–Feliz natal, mamãe. Diga o mesmo para Jonathan.

–Ok. Beijos.

–Outro. Tchau.

Coloquei meu pequeno gatinho ao meu lado e dormi por algumas horas.

Acordei melhor e com as energias recuperadas. Deixei Fumaça dormindo em minha –na verdade, nossa cama– e fui até o quarto de Kate, que estava deitado lendo um livro em sua cama. Sentei ao chão, cruzando as pernas.

–Que foi? –a quatro olhos perguntou.

–O Luke está com a perna quebrada. Então vai ajudá-lo no banho, Kate.

–Se fosse mulher eu até ajudaria, mas...

–Eu nunca posso quebrar uma perna então. –conclui rindo.

–Pode sim, se sinta a vontade, querida amiga hétero.

Comecei a rir descontroladamente, rolando no carpete.

–Ah, que quebre o crânio no Box. –conclui entre risadas.

–Apoio a ideia.

Levantei do chão e andei até a sala, onde Luke continuava jogado no sofá.

–Percebi que gostou do sofá. –falei.

–Sim, é confortável.

–Que bom que acha isso, pois ele é seu novo quarto.

–Foi o que imaginei.

–Hm... Bem, você tem que ir tomar banho agora. A toalha azul é da Kate, a branca é minha e tem uma rosa dentro do armário, na parte direita para ser exata. Será a sua.

–Eu por acaso tenho cara de quem usa rosa? Por que você ou a Kate não usam a rosa e eu uso uma de vocês?

–Porque não usamos rosa! E essa é a sua única opção, então vai logo para o banho porque eu e Rachel temos coisas a fazer. –Kate adentrou a sala gritando.

Luke não falou mais nada, apenas levantou-se e foi em direção ao banheiro com a ajuda das muletas.

–Educação mandou lembranças hein, Kate? –retruquei.

–Ele é um adulto, Rachel! Ele que precisa de educação. Demos um teto, comida e onde dormir para esse homem e ele ainda vem dar piti por cor de toalha?!

Assenti concordando.

✶✵✴

A sala do nosso apartamento era composta por um sofá de quatro lugares e um menor, de dois, ao seu lado. Na frente do sofá grande havia uma televisão, e atrás dele, a nossa cozinha, separada da sala por um balcão. Atrás do sofá menor ficava a porta de entrada e, do outro lado, a porta do corredor, que levava aos quartos e ao banheiro.

Eu estava parada no meio da sala, já pronta e com o celular na mão tentando ligar para Emily, até que ela finalmente atendeu.

–Oi Rachel, que foi?

–Emily! Eu preciso de você, sério.

–Ahn... Está bem, fale.

–Eu quero que você furte algumas roupas do seu irmão ou do seu pai e traga para cá.

–Por quê?

–Você vai ver quando chegar. Ah, anda rápido, porque a Kate tem uma surpresa.

–Ok. Chego daqui alguns minutos.

Respirei fundo e ao me virar deparei com Luke me encarando.

–Perdeu alguma coisa? –retruquei.

–Não. Bonito vestido.

–Obrigada. –sorri. –Eu acabei de ligar para Emily e ela trará algumas roupas para você.

–Ah, nem se preocupe com isso. Eu gosto de ficar assim. –ele sorriu maroto. Luke estava apenas de calça.

Nesse instante Kate adentrou a sala de estar, quase pronta também. Olhou Luke de cima a baixo, fez uma cara de nojo e disse a ele:

–Veste uma blusa, Luke. Ninguém merece olhar para...isso.

–Eu só tenho a roupa que estava no meu corpo e ainda tive que colocar essa calça, que usei o dia inteiro. E não finja que não gostou, baby.

–Eu não preciso fingir, Luke. Disso eu não gosto mesmo.

Luke me lança um “hãm?” com o olhar.

–Esquece. Depois você entende.

Ele continuou parado na sala de estar e eu corri até o quarto de Kate, para ajudá-la a terminar de se arrumar. Até que a campainha tocou e eu tive que correr para atender.

–Olá Emily! Não sei porque você ainda toca a campainha, afinal de contas você é de casa e sabe onde fica a chave reserva.

Emily deu de ombros, colocando as sacolas de roupa em cima do sofá.

–Ahn... Quem é esse daí? –ela perguntou olhando para Luke.

–Luke Dean, muito prazer em te conhecer. –Luke disse estendendo a mão para Emily, que levantou uma sobrancelha e me olhou com cara de interrogação.

–Ahn... Ok. Onde está a Kate?

–No quarto, terminado de se arrumar. Vai lá. –indiquei com a cabeça, mesmo Emily sabendo perfeitamente onde se localizava o quarto da ruiva.

Emily foi em direção ao quarto e Luke não parava de olhá-la.

–Desiste. –o avisei. –Vá logo se arrumar, anda.

Ele bufou e foi em direção ao banheiro. Comecei a colocar as comidas em cima da bancada da cozinha.

–Socorro! –ouvi a voz de Emily e andei até o quarto.

–O que está acontecendo aqui? –perguntei abrindo a porta com medo de ver algo que não deveria.

–A Kate quer que eu vista um vestido!

–Ah, mas vai ficar linda, Emily. O vestido é demais. –tentei ajudar.

–Não, não e não.

–Por favor! –Kate implorou.

–Argh. Está bem, mas eu vou usar all star.

–Ok, pode usar o all star. –a ruiva sorriu.

Saí do quarto deixando-as a sós. Luke estava na cozinha com uma blusa gola “v” verde clara e jeans azul marinho.

–Elas ainda vão demorar muito? –ele perguntou.

–Talvez. –sorri. –Está com fome?

–Estou.

Peguei um pouco do macarrão e coloquei em uma pequena tigela e em seguida e entreguei para Luke.

–Fica sendo nosso segredo. Ok moço?

–Ok, moça. –ele esboçou um sorriso de lado sedutor.

Luke rapidamente comeu todo o conteúdo da tigela e eu a lavei. Segundos depois Kate apareceu com um vestido verde.

– Feliz Natal! –levamos nossas taças de champagne ao alto e brindamos.

Depois cada um se serviu e nos sentamos juntos na sala, para conversar e passar o tempo.

–Ah, Luke... –comecei- Mil desculpas, mas é que como eu não sabia que iria encontrar um homem ferido em uma estrada, acabei não comprando um presente para você.

–Não se preocupe com isto, moça. Só a Kate e essa Emily já foram um ótimo presente de natal.

Eu e Kate reviramos os olhos e Luke ganhou olhares fuziladores de Emily Adams.