LUKE

"Às vezes, podemos ser úteis de maneiras que não são totalmente óbvias." Como Mudar a História de um Dragão

Após expulsar James do apartamento, resolvi sair para correr ao som de Pompeii dos Bastille.

A melodia explodia em meus ouvidos enquanto meus pés batiam com força no chão alternadamente. Aquela manhã estava límpida de nuvens e a temperatura era amena.

Correr sempre fora algo que eu gostara de fazer. Quando menino, corria juntamente com as crianças de meu bairro em nossas brincadeiras costumeiras, quando adolescente corria dos meus pais e de figuras de autoridade; já no começo da vida adulta corria de Sara e suas palavras cortantes, porém carregas de realidade, e meses anteriores corria dos maus elementos de meu bairro que um dia eu chamara de parceiros. Ou seja, correr era mais do que um esporte para mim, ia muito além de um passatempo e que se dane a saúde! Eu corria porque o precisava fazer, precisava estar sempre correndo, fugindo de algo.

Corri por algumas horas, até sair por um dos portões do Central Park e correr em direção a faculdade de Rachel.

✶✵✴

Rachel caminhava pelo campus com os livros de encontro ao peito e protegidos por seus braços. Estava ao lado de uma menina com descendência latina. Eu sabia disso porque havia muitos imigrantes em meu antigo bairro.

Rachel! acenei.

Ela olhou em minha direção arqueando uma sobrancelha e falou algo com a menina latina, que obteve uma expressão nada inocente.

Oi, Luke. disse Rachel ao chegar mais perto.

Oi, cabelo-de-capim-seco.

Essa é a Missy. Missy, esse é o Luke.

A latina sorriu.

Olá, Luke! Muito prazer. A Rachel fala muito de você.

Todas falam.

¡Díos mio! Rachel, és um ángel que fue expulsado del cielo!

Caramba, Missy! Já lhe disse que detesto quando fala em espanhol!

Bom, comecei Ela disse Meu Deus! Rachel, é um anjo que foi expulso do céu. Algo assim, acho.

Eu entendia um pouco de espanhol, porque como já disse, havia muitos em meu bairro antigo e eles falavam suas línguas mãe o tempo todo, e em muitas complicações ou coisas erradas, usávamos espanhol, uma língua não conhecida pelos policias locais.

Missy enrubesceu até a alma.

Como você sabe? Rachel perguntou.

Não vem ao caso.

Coloquei as mãos nos bolsos do casaco. Uma mania.

Você está com fome, não é? ela adivinhou.

Estou. E Kate não deixou nada pronto para nós.

Rachel suspirou.

Ela andou ocupada com a Emily, não é? Vamos arranjar algo para comer, então. Vem conosco, Missy?

Não, gracias. Prometi ao padre que iria a ABC hoje. Ele confisca meu carro se eu faltar a mais algum estágio.

Certo. Bom trabalho! Tchau, tchau!

Missy foi andando em direção ao estacionamento da escola e Rachel e eu a direção oposta.

Está a fim de comer o quê? ela perguntou me entregando sua mochila azul escura com tarraxas em forma de estrelas. A coloquei nas costas.

Depois de ver sua colega latina, eu quero um burrito.

Certo.

✶✵✴

Eu mal havia aberto a porta principal e Rachel entrou em casa igual um míssil, que aterrissou direto no banheiro.

Pelo visto molho picante, feijão e excesso de carne não lhe fizeram bem.

Bati na porta do banheiro. Rachel gemia dentro do local.

Acho que aconteceu porque seu estômago não estava acostumado.

Você podia ter avisado antes que isso poderia acontecer! ela disse, com a voz abafada, lá de dentro.

Você come comida brasileira! Não deve ser muito diferente. Não deve haver muitas diferenças entre mexicanos e brasileiros, afinal.

Luke! Seu retardado! NÃO TEM NADA A VER!

Relaxa, moça. Vai passar. Só preciso passar no supermercado...

Pode pegar o dinheiro dentro da minha mochila, então. Rápido, Luke!

Andei calmo e lentamente até o WALMART mais próximo. Andei pelas sessões até chegar à de frutas, onde procurei algumas que minha mãe dizia que seguravam o intestino. Na época que eu também insistira de comer um burrito feito pela Dona Consuelo, que os vendia na rua. Isso acontecera algumas vezes antes do meu estômago finalmente acostumar.

Com o que precisava em mãos, fui até o caixa e entreguei uma quantia maior à mulher do caixa/ caixeira (existe isso?) e esta me devolveu o troco junto com um pedaço de papel com caligrafia perfeita que continha: Tifanny 555-0132

A moça do caixa sorriu. Guardei o papel dentro da carteira. Talvez um dia pudesse vir a ser útil.

✶✵✴

Em homenagem a minha infância e meu programa de TV favorito da época, cheguei ao apartamento estrelando Dino, da Família Dinossauros.

Rachel! Cheguei!

E coloquei as sacolas pardas e ásperas em cima da bancada da cozinha.

A loira estava deitada em sua cama com as mãos pousadas na barriga.

É... Acho melhor você não ficar na sua cama não. Só se você quiser que seu quarto cheire igual a um fraldário.

Que nojo, Luke!

É a verdade, moça. Vem, eu comprei banana, goiaba e pera para você.

Ai, frutas são caras...

São, mas vão fazer parar com essa sua cag

Ela me interrompeu:

Certo! Eu já sei o que está acontecendo. Não fale essa palavra.

Deixe de ser mulherzinha, Rachel!

Mas eu sou mulherzinha, idiota!

Fui à cozinha, passei por Deanzinho, e voltei para o quarto com o felino me seguindo.

Está vendo esse galão dágua? Toma tudo! Para se hidratar. E fique bem longe do galão de suco de laranja ou você defecará até o pâncreas.

Para de falar essas palavras!

Eu falei defecar, não caganeira. Você só reclama, caramba!

O culpado disso é você! ela choramingou na cama.

Filha de uma macaca manca!

Ok. Foi mal. Pisei na bola, mas vai passar. Eu prometo.

Miau! -Deanzinho manifestou sua opinião. Ele com certeza dissera algo como "Cof cof mentiroso"

Nesse exato segundo, ouvi a porta da frente sendo aberta e um casal de gostosas logo apareceram no quarto.

Que houve? Kate perguntou cruzando os braços e olhando diretamente para minha pessoa.

Levei as mãos ao alto da cabeça, em sinal de rendição.

É... Rachel está com dor de barriga.

Por sua culpa! a loira ressaltou com o rosto contra o travesseiro.

Calma, calma. Muita calma nessa hora! Vou dar um jeito. disse Emily, sentando-se ao lado da sofredora de estômago fraco. Luke, vai lá no jardim do prédio e busca um matinho. Algum galho de qualquer planta.

Virou macumbeira agora, morena? perguntei arqueando uma sobrancelha.

Claro! Eu, com essas tatuagens todas, uma rama de qualquer planta e uma roupa toda branca com colares gigantes, consigo fazer qualquer mandinga! Mas não preciso da roupa. Sei o que estou fazendo.

Vocês estão se aproveitando para rir da minha pobre situação, isso sim. resmungou Rachel.

Fui ao térreo, peguei um galho de qualquer planta que eu vi e voltei para o décimo terceiro andar, onde as três mulheres continuavam no quarto.

Emily ria ao mesmo tempo em que tentava manter a seriedade.

Rachel também ria de vez em quando.

E por mais incrível que pareça, até a Kate ria descontroladamente.

Emily gesticulava o galho pelo corpo de Rachel, que estava deitada em posição frontal, enquanto dizia:

Me chame de Mãe Mary.

Mary? perguntei.

É o primeiro nome dela. disse Kate com seu costumeiro dar de ombros.

Mary Emily... eu pensei em voz alta. É. Nem todos podem ter nome apresentável, fazer o quê.

Miau! -meu parceiro do crime me repreendeu, para variar.

Não me chame de Mary, Senhor Dean. Agora é sério! Vamos botar para arrasar. Não se preocupe Rachel, eu me garanto. e piscou para a loira.

Novamente ela gesticulava o pedaço de planta/ramo pelo corpo de Rachel, enquanto pronunciava tais palavras:

Eu te benzo. Eu te curo. Amanhã, tu evacua duro.

Se iria funcionar, não sabíamos. Mas que rendera tantas risadas, que viraram até lágrimas... Ah, isso sim.

Porra, somos um bando de esquisitos! -Kate disse por fim.