LUKE DEAN’

"-Você não acha isso maluco? Se destruir por uma história de amor?

–Pode até ser maluco, mas acontece todos os dias. Acho comovente e terrivelmente humano." –A Garota de Papel

É estranho pensar em como o ser humano é apegado. Eu imagino que devemos ser a raça mais apegada de todas. Nós nos apegamos a pessoas, a animais, a meros objetos, a lugares e simples raios solares de um dia cinza.

Rachel sofria piamente por alguém que havia entrado em sua vida, nem permanecera por muito tempo e se fora na mesma rapidez que chegara. Eu tentava ser sensível quanto a isso. Tentava mesmo. Mas...

–Rachel, já tem uma semana que ele foi embora! Isso é quase tanto tempo quanto vocês ficaram juntos!

–Cala a boca, Luke! Vai se ferrar! –e atirou em minha direção uma perigosa almofada com estampa de mini elefantes. Ela sabia que não havia doido nada?

–Argh! Vai se ferrar você!

–Vai você!

–Você!

–Você!

–VÃO SE FERRAR OS DOIS ENTÃO! –gritou Kate do quarto.

Eu ri, apesar da raiva crescente da loira a minha frente.

–Rach, -tentei ser mais doce- você precisa superar.

–Eu já estou melhor, Luke. –ela cuspiu meu nome.

–Sabe, meu nome fica mais bonito gemendo do que sendo dito com desprezo.

Ela revirou os olhos.

–E já que você está melhor, vamos sair!

–Sair? Luke, nós ficamos uma semana inteira saindo! Fomos à academia quase todos os dias, treinamos boxe por horas durante as tardes, depois corríamos no central park e comemos algo por lá. Isso sem contar as frequentes idas ao McDonald!

–Moça, eu amo o McDonald!

–Merda nenhuma. Você ama é a atendente e seus seios gigantes.

–É verdade, mas eu comeria um hambúrguer a qualquer hora do dia. –sorri só de pensar em um Big Mac e na atendente do estabelecimento mais próximo.

–Sinceramente, comendo esse tanto de porcaria, não sei como você tem esse corpo.

–Corpo? Que corpo eu tenho? –sorri, provocador.

–Saudável, definido e... –ela corou ao notar que minha pergunta havia sido proposital. –Você não presta mesmo, hein? –ela bufou.

Ô mulher estressada, Jeová!

–Olha, moça, você quer ficar sozinha no domingo a noite? Vou te dar duas alternativas. 1. Você sai comigo. 2. Vai ficar em casa ouvindo os gemidos não tão abafados da Kate.

✶✵✴

Entramos no pub em que Miranda era DJ. Eu usava uma calça jeans normal, uma blusa preta e um paletó de couro por cima. Se era coro de verdade, eu não sabia, e não me importava. Rachel se arrumara em exatos trinta minutos. Acredito que fora um record para ela. Ela havia ido para o banho primeiro que eu e enquanto essa se arrumava, eu me banhei, me vesti e fiquei esperando na sala como um bom cavalheiro que eu tentava em vão ser.

Rachel aparecera com um vestido bem justo roxo, sandálias de salto alto e uma bolsa preta com um laço no meio. Seus cabelos estavam soltos e rebeldes, sua maquiagem estava bem demarcada, destacando os olhos escuros.

–Está razoável. –eu disse a olhando de cima a baixo. Está gata.

Ela me bateu com a diminuta bolsa preta. Aquilo era uma bolsa ou uma carteira? Dava no mesmo, certo?

Uma música animada ecoava por todo o local. O cantor eu não havia identificado, apesar de obviamente ser a sensação do momento. Segui com Rachel diretamente para o bar e pedi uma bebida para ambos. Não demorou muito e James apareceu, parando seus olhos por demorados segundos em Rachel.

–Uau! Está uma verdadeira princesa, Rachel! Uma princesa moderna! –e beijou-lhe a mão direita.

Rachel sorriu.

–Já chegou chapado, cara? Assim não dá! –dei-lhe um tapa no ombro.

–Mas essa Rachel está bonita, hein? –ele disse perto do meu ouvido.

–Está, sim. –dei de ombros.

Viramos para o bar, onde nos sentamos e jogamos conversa fora enquanto bebíamos. Rachel andava pelo local, dançava e conversava com homens e mulheres. Eu fiquei de olhos abertos sobre ela, pois ela estava de coração partido e não precisava de nenhum outro homem para quebrá-lo mais ainda.

Você faria isso, se um dia ela ficasse com você. Uma voz dentro da minha cabeça disse.

Talvez não. Respondi.

Não é seguro para ela e nem para ninguém ficar perto de você. Você sabe muito bem disso, Luke. Você é a pior pessoa do mundo. Aquela voz continuou a dizer. A voz dela. Sara. Vamos, Luke. Afaste-se. Desvie os olhos. A deixe. Vai caçar qualquer uma pelo estabelecimento, já que é isso que você sabe fazer.

Não hoje. Respondi e sua voz sumiu.

Olhei para minha esquerda e James “conversava” com uma mulher. Dei de ombros e fui para a pista de dança, onde Rachel mexia os quadris e braços conforme o ritmo da dança. Coloquei a mão em sua cintura para alertá-la de minha presença e assim que Rachel me olhou, a tirei.

Dancei juntamente com ela e outras mulheres. Rachel parecia estar se divertindo. Ela ria, jogava o cabelo para o lado, dançava e se abanava com as mãos.

Uma mão fria me puxou do meu “arem” de mulheres.

Encarei a morena de olhos castanhos e pele incrivelmente branca.

–Miranda.

–E ai, Luke?

–Como vai? –resolvi perguntar.

–Estou ótima! E você?

–Bem.

–Onde está James?

–Caçando mulher.

–Exatamente! E por que diabos você está parado?

–Não estou parado, estou dançando.

–Olha, é melhor você parar de falar assim, está me irritando. Parece até meu ex namorado! Pensei que você era o “líder” dessa corporação imaginária masculina de pegar o sexo oposto.

–Eu sou!

–E quem é a loira? –ela disse APONTANDO para Rachel.

–Ham... Ela mora comigo.

–Como assim você namora uma pessoa e vem ao pub pegar outras? Cara, eu não transo com homens comprometidos. Isso é baixo demais!

Miranda quase gritava. A peguei pelos pulsos e coloquei contra a parede.

–Me ouve, sua louca! Rachel mora comigo. Apenas isso. É uma longa história, mas eu não sou comprometido. Nunca fui.

–Você nunca namorou? –ela me olhou, perplexa. Até alguém independente, diferente, louca e seca como Miranda já havia namorado.

–Não exatamente. São longas histórias. Olha só, essa loira –apontei para Rachel– me deu um lugar para morar. E ela está triste, precisando de diversão, eu sou obrigado a ajudar. É o mínimo que posso fazer.

Ela cruzou os braços.

–Sei. Boa sorte, então. –ela piscou e saiu andando ao encontro de um homem uniformizado de policial.

Voltei para a pista de dança e não encontrei Rachel. Rodei o local diversas vezes, trombando entre pessoas chapadas e se pegando loucamente milhões de vezes, até finalmente observar a loira de vestido justo e roxo, no bar, conversando e rindo com James.

–Oi. –eu disse, me colocando ao lado direito de Rachel.

–Ei! Aonde você foi? –ela perguntou.

James riu.

–Melhor você não saber, meu bem.

Sorri de lado. Metido a garanhão que eu não havia sido naquela noite.

Rachel riu.

–Essa foi rápida. –ela disse.

Dei de ombros, como se fosse verdade.

–Está se divertindo, moça? –perguntei-lhe.

–Estava. Agora cansei. Queria dormir um pouco... Eu tenho aula daqui algumas horas, para falar a verdade.

–Então vamos embora.

–Eu acompanho vocês. –James disse e nos seguiu até a saída.

✶✵✴

Me espreguicei lentamente. Um sol fraco entrava pelas frestas da cortinha da sala de estar e irritava meus olhos. No sofá menor, um James entediado passava os canais da TV a cabo.

Bocejei.

–E ai? –ele disse.

–Quê?

–Rachel já foi para a faculdade. Tomei café da manhã com ela.

–Certo.

–Você está gamado/laçado por ela, Luke?

–Argh, James. Está cedo demais, ok? Não começa.

–Qual é, cara! O senhor sedutor, o "fodão" não consegue conquistar alguém como a Rachel? Olha, bem que eu poderia tentar... –James disse, dando de ombros e sorrindo provocadoramente.

Filho da puta.

–O senhor sedutor, divindade de todos os reinos, invejado por todos os homens, está te mandando à merda.