The Fallen Angel escrita por Beta23


Capítulo 2
Salvação


Notas iniciais do capítulo

Aí está o segundo, obriga Raquel de Oliveira, por comentar.
Espero que gostem.



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O dia estava lindo, pássaros cantavam e voavam livres, borboletas agitavam suas delicadas asas, flores desabrochavam, nuvens fofas como pedaços de algodão cobriam o céu. Voei por entre as nuvens, encontrando o caminho de mármore que levava ás portas da assembleia dos anjos, meu destino, neste momento. Abri as portas, revelando o salão cheio e, ainda assim, calmo. Anjos voavam, procurando seus caminhos, nossos pequenos aprendizes seguiam seu instrutor, cães celestiais seguiam o treinamento. Espíritos livres rodavam a sala, felizes, sem qualquer lembrança de sua antiga vida. Esses espíritos, um dia virariam anjos, se suas almas fossem puras o suficiente para fazê-lo.

- Blair! – chamou alguém á minha esquerda.

Virei na direção da voz, meu superior, Samuel, vinha até mim á passos firmes.

- outra alma estragada – falou – a terceira em duas semanas.

Baixei a cabeça, aquela mulher me pareceu boa.

- não vejo o problema arcanjo – falei baixo.

- aquela mulher vendia o corpo, um pecado – revelou – presenciou uma morte, sua alma estava manchada.

Olhei em seu rosto, posso descrevê-lo como angelical. Longas asas cor marfim, longos cabelos loiros e encaracolados, gentis olhos azuis e orelhas levemente pontudas.

- perdoe-me – falei – não vai mais se repetir.

- acho melhor – falou – já é a sua segunda ação errada.

Assenti, ele pareceu relaxar sua postura.

- tenho algo para você – falou – sua chance de provar que merece ser um de nós.

Olhei em seus olhos, imagens passaram em minha cabeça.

- um prisioneiro? – perguntei – não são almas impuras?

Ele negou com a cabeça.

- esse quer a redenção – revelou – pediu perdão por seus atos, e irá ser submetido á fins desumanos.

- será morto – deduzi

Samuel assentiu, respirei fundo.

- quero que vá até lá, recolha sua alma – mandou – guie-o pelos caminhos da justiça, para que ele encontre a paz.

- sim senhor – respondi.

Virei de costas, pronta para seguir meu dever.

- Blair – chamou novamente

Virei o rosto, Samuel parecia firme.

- não seja vista outra vez – falou – só apareça ao condenado.

Ele perecia saber do ocorrido no píer, suspirei.

- claro senhor – respondi.

Saí pelas portas, abri minhas longas asas e alcancei o céu.

***

O condenado soltava lágrimas á minha frente, não podia me ver, á menos que eu permitisse. Ele baixou a cabeça, fechou os olhos e cruzou as mãos.

- peço perdão por meus crimes, peço perdão por ter pecado. Eu errei pai, eu sei que errei – orou, em meio as lagrimas – mas peço seu perdão, peço sua salvação. Me perdoe, por favor.

Senti seu remorso, e era verdadeiro. Senti sua angustia, e era verdadeira. Toquei sua cabeça e vi cada erro de sua vida, ele crescera sem pais, sozinho nas ruas, roubara para sobreviver, até ser recrutado por um mafioso. Matara seis pessoas, sentira dor ao fazê-lo, mas era preciso, ou não viveria. Rendeu-se ao poder da luxuria humana, submeteu-se á ira, viveu com a inveja, e principalmente, cometeu o crime mais forte de todos, esqueceu-se do bem maior.

- vejo seus crimes, sinto sua dor – sussurrei – podes ser salvo, se realmente te arrependes.

Toquei seus olhos com as pontas dos dedos, fechei os olhos.

- vou estar contigo, para guiar-te na hora da morte – falei – não temas, pobre homem, serás salvo, nada que os mortais possam te fazer será o bastante para ires ao inferno.

Toquei o coração do homem, transmitindo-lhe a paz. O detento abriu os olhos, não viu nada além de uma forte luz branca, criado por mim, para informar-lhe que sua vida fora acolhida no seio de Deus.

- pai, obrigado – ofegou – obrigado.

Ele sorriu, teve seu momento de paz, ainda que á beira da morte.

Esse era meu trabalho, eu era um anjo ceifeiro, recolhia as almas, dando um fim ao sofrimento humano, dando o caminho da luz á ele.

Dois guardas abriram a cela, o detento não fez nada, não protestou, não disse nada ofensivo, aceitou seu destino.

- é a sua hora – disse o guarda mais baixo.

O detento levantou-se, encarou ambos os guardas com convicção, sabia que não morreria ali, sabia que encontraria a tão sonhada paz.

Ele foi algemado e conduzido á uma sala cheia de aparelhos hospitalares, segui-os, invisível aos olhos mortais. O detendo deitou-se na maca, respirou fundo, aliviado, pronto para morrer. Postei-me ao seu lado, toquei-lhe a testa e fechei os olhos.

- estou contigo – sussurrei – venha para mim.

Ele fechou os olhos, a injeção letal fora dada, dando um fim na vida do pobre homem. Abria as mãos em conchas, recebendo a bolinha branca, levemente amarelada, uma alma pecadora.

- mais uma alma se vai, que seus pecados sejam absolvidos – falei – recebam-no na paz, ele merece isso.

A bolinha subiu e desapareceu, olhei por uma ultima vez o rosto do homem, ele fora em paz, e ficaria em paz, para sempre.

***

Passei o resto do dia ceifando vidas, acolhendo suas almas em minhas mãos, mandando-as á paz, ou ao inferno. Aconteceu apenas uma vez, um homem tão mal á ponto de matar seus próprios filhos e sua esposa, dentro de casa. A policia levou sua vida, com uma bala certeira no peito, arrancando-lhe seus últimos segundos. Agachei-me junto ao corpo das crianças, recolhi suas almas nas mãos, fechei os olhos.

- mais almas se vão, almas puras de inocentes crianças – sussurrei – recebam-nas no seio do nosso lar, eduquem-nas e cuide-as. Essas almas encontraram a paz, serão anjos.

As duas almas em forma esférica subiram, não desapareceram, apenas foram em direção ás nuvens, encontrando os portões da paz. Caminhei até o corpo da mulher, o sangue em seu corpo me deu agonia, senti a dor que ela sentiu, vi o momento em que seu coração parou de bater. Segurei sua alma nas mãos, a forma esférica descansou em minhas palmas.

- mais uma alma se vai, alguém inocente acaba de morrer – sussurrei – recebam-na na paz do nosso seio, essa irá ser livre no paraíso.

Assim que decretei seu destino, a alma subiu em direção ás nuvens, teria a vida eterna no paraíso. Caminhei até o homem, agachei-me e recolhi sua alma, a esfera formou-se, vermelha, da cor do sangue dos inocentes que tirara a vida.

- tenho em mãos uma alma pecadora, essa vida não contribuiu á paz, apenas pecou – sussurrei – morte á família é um crime terrível, será julgado á penas eternas. Levante-se e encare seu destino, vague eternamente no inferno.

A alma agitou-se em minhas mãos, um lamento ecoou em meus ouvidos, fechei os olhos e lutei contra a ira daquele homem, quebrei com minha paz todos os seus rancores. A alma saiu de minhas mãos e desceu, penetrando o chão, deixando um rastro de fumaça. Aquela alma realmente fora má, mereceu seu próprio destino.

Algo me abalou, meu corpo tremeu, minhas asas se agitaram. Pressentimento de morte, almas para eu guiar.

Abri as longas asas e voei pela janela, os apelos da alma me guiaram á um beco escuro, esperei, misturando-me ás sombras.

Alguém entrou correndo, uma senhora, agarrada á uma bolsa. Era perseguida por um assaltante, senti o cheiro do sangue que aquele homem derramara em sua alma, pecador.

- passa a bolsa! – mandou

A senhora refreou um grito e passou-lhe o objeto, mas o homem não se deu por vencido. Ele esfaqueou a senhora e fugiu, deixando ela sangrando e morrendo, sem chance de socorro. Agachei-me junto á seu corpo, soltando uma lágrima fria e branca, como leite. Peguei sua alma e fechei os olhos.

- morte por algo sem valor – sussurrei – merece a paz, que a justiça dos anjos cuide de seu caso. Vá em paz, alma inocente.

Soltei a alma, que misturou-se ao ar e desapareceu, só poderia descansar quando seu assassino fosse pego, não podia partir impune.

- quem é você! – disse uma voz.

Virei, encolhendo minhas asas, temendo por ter sido descoberta. Um rapaz jovem me encarava, perecia surpreso e incrédulo. Dei um passo em sua direção, ele fitou meus olhos com certa frieza.

- viu um homem matar essa mulher, tirou sua vida por uma bolsa – falei com calma – vai esquecer que me viu, nunca mais pensará em minha existência.

Ele franziu as sobrancelhas, permaneci parada, olhando em seus olhos escuros. Era um belo rapaz, tinha cabelos lisos que caia-lhe até a nuca com perfeição, seu nariz era perfeitamente equilibrado ao rosto, fino e gracioso. Era raro um humano como aquele, com rosto realmente angelical.

- não vi ninguém, apenas você, na cena do crime – falou – estava tentando me manipular?

Meu coração congelou, pisquei, incrédula. Olhei nos olhos do humano, concentrando todo meu poder no ato.

- vai fazer o que eu disse – sussurrei – esqueça minha existência.

- não – respondeu – quem é você?

Minhas asas agitaram-se, eu estava assustada com aquele humano. Apenas demônios não são afetados por nós, eu nunca vi humanos resistirem á esse poder, nada á mais forte do que a morte.

- o que você é? – perguntou

Ele encarou minhas asas, não deixei que ele me visse, concentrei todo meu poder nisso.

- por que você tem asas? – perguntou

Pisquei, em choque, ele não era afetado por nada que eu tentava usar.

- nunca verás á mim novamente – sussurrei – está decretada a minha vontade.

Abri minhas asas, o humano se assustou, mas continuou me encarando com curiosidade. Lancei-me para cima, voando para longe do lugar.

Nada me assustou mais do que isso, um humano que podia resistir á mim. Algo que nunca vi antes, alguém imune ao poder do anjo ceifeiro.


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Notas finais do capítulo

Prontinho, um grande beijo.



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