Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO escrita por chaosregia


Capítulo 12
O poder que tem o amor, de gerar milagres.




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– Hinata-sama?! - Chamou a amiga antes de entrar no quarto onde a havia deixado com o primo. Ela havia ouvido os gritos, estava preocupada com os dois, foi impossível evitar subir até lá.

– Ela não está! - Naruto respondeu rispidamente. O rapaz encarava a janela, evitando o olhar curioso e preocupado da empregada de cabelos róseos.

– E onde ela está, Naruto-sama?

– Não sei, nem quero saber. - Apesar de estar mantendo sua pose de arrogância e despreocupação, a voz tremula, e uma lágrima fugitiva que escorreu despercebida por sua bochecha, acabaram denunciando seu estado. Sakura já sabia que haviam discutido, mas pelo estado dele, a coisa devia ter sido feia.

– O senhor... - Se aproximou com cautela, sabia que ele não daria o braço a torcer. - Está chorando?

– C-Chorando? - Esfregou os braços contra o rosto para secar as lágrimas. - Claro que não! Porque eu estaria chorando?

– Mas acabou de secar suas lágrimas...

– Meus olhos lacrimejam sem motivo. - Permaneceu a observar a janela e a paisagem que se via por ela, evitando as perguntas e olhares atentos da garota.

– Naruto-sama... - Sentou-se na beirada da cama onde o rapaz estava. - Posse lhe dar um conselho?

– E pra que... Pra que eu iria querer um conselho seu?

– Porque você e a Hinata-chan brigaram, e eu percebo que está arrependido.

– Não estou não! E se estivesse não seria da sua conta.

– Claro... Mas, se quer saber uma coisa, assim, só por saber mesmo... - Ele começou a mostrar interesse, olhando-a por cima dos olhos, mas disfarçando para não ser pego em sua curiosidade. - A Hinata-chan gosta muito de você, Naruto-sama! - Foi tudo o que ele precisou ouvir. De repente o coração do rapaz, que ameaçava desistir de bater, voltou a trabalhar a todo vapor, como se tivessem lhe dado uma injeção de vida. Foi inevitável surgir no rosto dele um sorriso, as bochechas pálidas até pareciam estar corando, Sakura não teve dúvida, ele estava amando, amando a Hinata.

– Isso... - Disfarçou sua alegria, murchou o sorriso e desviou o olhar novamente para a janela. - Isso não pode ser verdade...

– E porque não?

– Porque se fosse ela não teria me deixado sozinho outra vez. - Começando a se exaltar.

– Deixou porque estava magoada, provavelmente. Deve ter ficado triste ou brava com a discussão, afinal o Naruto-sama tem um jeito bem arrogante e turrão...

– Como é que... - Ameaçou repreendê-la, mas ela logo o cortou.

– E a Hinata-chan tem uma personalidade forte, apesar de seu recato e timidez. - Ele pareceu se acalmar, Sakura prosseguiu. - Mas se há uma coisa que fica evidente e que os dois possuem em comum é que um gosta de verdade do outro.

–... - É, poderia até ser, mas Hinata não gostava dele exatamente do jeito que ele gostava dela, pelo menos era o que ele acreditava.

– Só estou dizendo isso porque percebo em seus olhos, Naruto-sama, que gosta mesmo, e muito, da Hinata-chan. E se isso for verdade, não faz bem ficar escondendo isso dela, ou de qualquer outra pessoa que seja, principalmente de si próprio. Admitindo o que sente por alguém, fica mais fácil de convencer a pessoa da veracidade desse sentimento, assim, consequentemente, conseguira fazer com que a pessoa também sinta algo por você, algo especial. Algo que, muitas das vezes, não demonstramos por medo de uma rejeição, ou por não termos certeza ou confiança em nós mesmos. Mas um dos dois deve dar o primeiro passo, para que o outro se sinta com coragem para dar um passo também. - Naruto ouvia cada palavra com total atenção, o que deixava ainda mais claro o interesse dele em Hinata. - Vou ser bem sincera Naruto-sama. Eu torci muito para que a Hinata-chan e meu irmão, Sai, se acertassem... - Então o ciúme dele não era tão bobo assim, havia um motivo para ele não ter "ido com a cara" daquele fulano. - Mas ela nunca demonstrou sentir nada por ele, nada além de uma inocente amizade... - Naruto sentiu-se menos ameaçado, mais seguro e tranquilo, e feliz, em ouvir aquilo. Sakura parecia estar sendo sincera, não havia porque duvidar. - Meu único intuito com tudo isso é ver minha amiga feliz. Hinata-chan é uma pessoa meiga, que não julga as pessoas, nem as trata baseada em sua posição social. Ela merece alguém que a faça feliz, e se você a ama deve lutar por ela. Sai a ama também, não vou mentir para você, mas não é o suficiente, pois Hinata-chan já está sentindo algo diferente por alguém, ela gosta de você, Naruto-sama!

••

• FLASH BACK •

– Eu não quero ir nessa droga de jardim!

– N-Nani?

– Eu não quero ir nesse jardim idiota que o seu namoradinho infeliz ajudou a arrumar.

– Na-Namorad...?

– E tem mais... Eu quero vocês dois fora do jardim da minha mãe!

– N-Naruto-kun?! Mas, porque você está agindo assim?

– Não entendeu ainda? - Segurou o braço dela com força, trazendo-a para perto. - Eu não quero você e seu namorado infeliz no meu jardim! Não quero aquele idiota do seu namoradinho lá!

– Nani? Porque não quer deixar o Sai-kun entrar lá? O que você tem contra ele?

– Eu não vou com a cara dele, e daí? Não posso não gostar do seu namorado idiota?

– Você não tem motivo para ter raiva dele, logo ele que te ajudou a sair daquele quarto...

– PREFERIA TER FICADO LÁ! NÃO PRECISO DA AJUDA DAQUELE SEU NAMORADO IMBECIL!

– ELE NÃO É MEU NAMORADO! PARA DE FICAR FALANDO ISSO, EU JÁ DISSE QUE ELE NÃO É MEU NAMORADO!

– ENTÃO PORQUE VOCÊ FICA FALANDO DELE O TEMPO TODO? APOSTO QUE ELE NÃO PRECISA FICAR IMPLORANDO A SUA COMPANHIA COMO EU! ME DIZ HINATA, É PORQUE ELE TEM DUAS PERNAS QUE FUNCIONAM? VOCÊ SÓ ESTÁ AQUI PORQUE SENTE PENA DE MIM, NÃO É?

• FLASH's END •

Hinata ainda não conseguia entender o que havia acontecido. Na noite passada Naruto era seu melhor amigo e havia o ajudado a sair daquele quarto de uma vez por todas, voltando ao convívio social e buscando uma vida normal e saudável novamente. E de repente, num passe de mágica, todas aquelas ofensas e gritos haviam voltado, o primo chato e malvado tinha tomado o lugar do “amigo” que ela tanto queria bem.

O que mais magoava a garota não eram uns gritos bobos, já estava acostumada com o temperamento do rapaz, mas como ele podia duvidar dela, das intenções e sentimentos dela para com ele. Se existia um sentimento nesse mundo que Hinata jamais ousara sentir era pena, detestava que sentissem pena dela, por ter perdido os pais e ficado sozinha, por isso não sentia pena de ninguém, essa era uma palavra muito feia, a uma atitude pior ainda.

Era difícil também entender o porquê dessa revolta repentina contra Sai, que jamais fizera nada contra ele. Porque ele ficava tão irritado quando ela mencionava o amigo? Só havia uma explicação: pura implicância, arrogância. Talvez fosse possessividade, mas se ele pensa que pode ser dono dela, esta muito enganado. Ela não era propriedade de ninguém, não era um objeto a ser disputado ou possuído por alguém.

Quer saber? A opinião dele não importava, nada que viesse dele agora tinha importância. Que ele ficasse lá, trancado com sua arrogância e superioridade. Jamais ela o perdoaria, jamais. Não voltaria atrás dessa vez, nem por um decreto iria atrás dele de novo.

•••

• FLASH BACK •

– VOCÊ NUNCA IMPLOROU PELA MINHA COMPANHIA, PELO CONTRÁRIO. A ÚNICA COISA QUE VOCÊ FEZ DESDE O DIA QUE NOS CONHECEMOS FOI ME TRATAR MAL! VOCÊ GRITA E ME OFENDE, SÓ ISSO QUE VOCÊ SABE FAZER! EU É QUE SOU UMA IDIOTA, UMA VERDADEIRA IMBECIL... NUNCA SENTI PENA DE VOCÊ, PELO CONTRÁRIO. MESMO QUANDO VOCÊ PISAVA EM MIM, EU SEMPRE VOLTAVA E TE DESCULPAVA DE TUDO, SEMPRE TINHA PRAZER EM TE AJUDAR. [...] VOCÊ TAMBÉM TEM DUAS PERNAS, MESMO QUE ELAS AINDA NÃO ESTEJAM EM USO, LOGO VÃO ESTAR. E MESMO QUE NÃO ESTIVESSEM, NÃO FORAM AS PERNAS DO SAI QUE ME FIZERAM SER AMIGA DELE, FOI O CORAÇÃO. MEU ERRO COM VOCÊ FOI PENSAR QUE, APESAR DESSE MAU HUMOR... Não são suas pernas que estão mortas Naruto... É o seu coração!

• FLASH's END •

Ela não o perdoaria, não depois de ter dito tudo isso. Estava magoada demais, e com razão. Ele era um animal, um burro, e um inútil que não tinha nem controle sobre as próprias pernas para ir atrás dela e se desculpar.

• FLASH BACK •

– A Hinata-chan gosta muito de você, Naruto-sama!

– Isso... Isso não pode ser verdade...

– E porque não?

– Porque se fosse ela não teria me deixado sozinho outra vez.

– Deixou porque estava magoada, provavelmente. [...] Só estou dizendo isso porque percebo em seus olhos, Naruto-sama, que gosta mesmo, e muito, da Hinata-chan. E se isso for verdade, não faz bem ficar escondendo isso dela, ou de qualquer outra pessoa que seja, principalmente de si próprio. Admitindo o que sente por alguém, fica mais fácil de convencer a pessoa da veracidade desse sentimento, assim, consequentemente, conseguira fazer com que a pessoa também sinta algo por você, algo especial. Algo que, muitas das vezes, não demonstramos por medo de uma rejeição, ou por não termos certeza ou confiança em nós mesmos. Mas um dos dois deve dar o primeiro passo, para que o outro se sinta com coragem para dar um passo também.

• FLASH's END •

Talvez esse fosse seu único problema, não as pernas, ou o estado peculiar de sua saúde, mas a barreira que isso tudo tinha imposto em sua mente. Com medo de uma rejeição muitas vezes ele tratou mal não só Hinata, mas toda e qualquer pessoa que ousou se aproximar. Também o medo de se apegar aos outros e depois perdê-lo, fez com que se excluísse do mundo e se privasse de qualquer sentimento bom para com as pessoas.

Quando conheceu Hinata não foi diferente. Foi sendo pego de surpresa por sensações novas e sentimentos agradáveis que foram aos poucos o dominando, fazendo-o se tornar dependente daquela relação. Mas, do contrário ao que havia pensado até ali, isso não era ruim. Era melhor se apegar a alguém especial e aproveitar todos os momentos maravilhosos com essa pessoa, do que passar o resto da vida sozinho, sem descobrir a verdadeira felicidade.

• FLASH BACK •

Vou ser bem sincera Naruto-sama. Eu torci muito para que a Hinata-chan e meu irmão, Sai, se acertassem... Mas ela nunca demonstrou sentir nada por ele, nada além de uma inocente amizade. Meu único intuito com tudo isso é ver minha amiga feliz. Hinata-chan é uma pessoa meiga, que não julga as pessoas, nem as trata baseada em sua posição social. Ela merece alguém que a faça feliz, e se você a ama deve lutar por ela. Sai a ama também, não vou mentir para você, mas não é o suficiente, pois Hinata-chan já está sentindo algo diferente por alguém, ela gosta de você, Naruto-sama!

• FLASH's END •

Pelo menos em uma coisa ele havia acertado, seu instinto masculino havia o alertado do perigo. O ciúme tinha mesmo motivo, Sai também gostava de Hinata, e, provavelmente, não iria dar o braço a torcer. Ele teria de lutar pelo amor de Hinata, mesmo sabendo que ela já sentia algo por ele, ou pelo menos era o que Sakura havia dito, teria de confirmar.

Mas se quisesse ficar mesmo com ela e ter uma nova chance, depois da última burrada cometida, tinha que fazer alguma coisa imediatamente, tinha de se redimir. E assim que ela o perdoasse, contaria sobre seus sentimentos, sem medo da resposta dela, quer fosse positiva ou negativa.

Se ela realmente o amasse, faria dela a mulher mais feliz do mundo, mas se ela não o quisesse, deixaria ela livre para ficar com aquele que ela escolhesse. Porque o amor é assim, desejar a felicidade do outro, mesmo quando estamos morrendo por dentro. O amor, esse sentimento maravilhoso que é capaz até de trazer de novo a vida, alguém que está morto a mais de dez anos.

••

Quando a porta estremeceu com as batidas inesperadas do visitante, o coração da garota deu um salto. Seria ele? Não, não podia ser. Até porque como ele viria até ela se não podia ainda comandar as próprias pernas? Talvez ela devesse ir até ele, afinal Naruto poderia estar querendo se desculpar, mas não encontrava meios de fazê-lo, já que não podia sair de seu novo quarto. Será que o possível arrependimento seria tamanho a ponto de fazê-lo se rastejar até ali só para vê-la? Por Deus! Tinha que abrir logo a porta e...

– Sai? - Exclamou ao abrir a mesmo. Esperava tudo, menos o amigo.

– Vim perguntar se quer dar uma volta pelos campos, como costumávamos fazer antes de... Antes de conhecer seu novo melhor amigo.

– Novo melhor amigo? - Inicialmente não compreendeu a ironia na voz do rapaz, mas logo se atentou para o pequeno ciúme que essa nova situação devia tê-lo causado. Claro que Hinata não fazia ideia do real motivo desse ciúme, nada a ver com uma simples amizade. - Se está se referindo ao Naruto-kun, saiba que... - Lembrou-se do desaforo que o primo lhe fizera há pouco. - Estou com muita vontade de dar uma volta pelo campo, Sai-kun. - Agarrou-se no braço do amigo e foi o puxando pelo corredor, passando em frente à porta de seu "agressor", e aumentando propositalmente o volume de sua voz para que ele a ouvisse em cada palavra. - Vamos logo, Sai-kun. Vamos passear pelo campo.

– Porque está falando alto?

– P-Por, por nada, ora! - Desceram as escadas juntos, e assim saíram da mansão.

•••

A tentativa de provocar o rapaz havia falhado, pelo menos até então, já que o mesmo não ouvira nada do que a jovem tentara lhe dizer indiretamente. Naruto estava ocupado demais para prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse à cadeira de rodas a alguns metros de distância de sua cama. Tentava calcular mentalmente quantos passos seriam necessários para chegar até a mesma, e, consequentemente, quanto tempo levaria para que pudesse chegar ao quarto de Hinata e se jogar aos pés dela em arrependimento total e completo.

Num primeiro momento usou toda a força possível de seus braços para colocar-se sentado na cama. Já era uma vitória para ele, claro, mas se quisesse chegar até o quarto da amada, teria que fazer melhor, teria que juntar forças de onde elas não existissem de fato. Levou alguns minutos até que ele conseguisse mover, com auxilio das mãos, as pernas para jogá-las para o lado esquerdo da cama. Quando os pés tocaram o chão, com as costas apoiadas na cabeceira da cama, Naruto fez incomensurável esforço para se por de pé, apoiado pela parede, e segurando firme na cama, depois na cômoda.

Era difícil coordenar o "manter-se de pé" com o "movimente-se", mesmo porque dez anos sem andar, sob, praticamente estado vegetativo, não contribuíam muito para que ele desenvolvesse funções básicas e normais a pessoas comuns. Ao desequilibrar-se, caindo sentado no colchão, decidiu que seria mais fácil encurtar a distancia entre seu corpo e as rodas que lhe serviriam de pernas logo mais, usando a própria cama, arrastando-se sentado nela, até o outro extremo da mesma. Isso já diminuiria bastante o caminho.

Quando atingiu seu objetivo inicial, resolver tentar novamente pôr-se de pé. Conseguindo, agora só restava enfim atingir a cadeira almejada. Ainda segurando-se num dos mastros que prendiam as cortinas em volta da cama, deu dois passos em direção a cadeira. Hinata tinha razão afinal, com um pouco de esforço já conseguira tamanho progresso, talvez não fosse tão difícil assim se recuperar. Mas agora vinha a parte difícil, precisava ainda de pelo menos quatro passos até alcançá-la, quatro passos que mais lhe pareciam quatro quilômetros agora. A desistência foi dominando-o aos poucos.

Foi então que a imaginação o fez revigorar-se no desejo de vitória, vendo não a cadeira, mas sim os braços de Hinata como seu objetivo final. Era muito mais motivante imaginar-se repousando naquele colo com o qual sonhara em seus maiores devaneios. Moveu uma perna, depois à outra, esta estremeceu. Teve medo, mas manteve-se de pé, escutando em sua mente a doce melodia daquela voz que dizia: “Venha até mim, Naruto, venha. Mais um passo... Venha, você consegue!”. Quando deu por si, já estava repousando na cadeira, pensando como seria melhor se aquilo não fosse ferro frio e sem vida, mas a pele macia e quente da mulher que tanto amava.

Mas ainda não havia terminado. Ensaiou por alguns minutos os movimentos com a cadeira, tentando se livrar da dificuldade inicial de quem nunca passara por isto antes. Foi até a porta, conseguiu manobrar e sair sem maiores tormentos. Já ia indo feliz em direção à porta que Hinata lhe mostrara na noite anterior, quando lhe disse que ali era onde repousava doce e angelical todas as noites. Apenas alguns centímetros o afastavam do local almejado, ou melhor, os centímetros e as figuras estáticas no inicio do corredor, que o observavam incrédulos.

– Na-NARUTO? - Apesar de aquilo não ser exatamente o que planejavam, Jiraya não pode esconder a felicidade que era ver aquele garoto que conhecia desde moleque visivelmente melhor, quase completamente saudável, a se deslocar pelo corredor do segundo andar com aquela cadeira. Não fazia ideia de como ele conseguira chegar até ali, descer as escadas com a cadeira e todo o resto, mas sabia muito bem onde ele estava tentando chegar. Mas isso não fazia diferença, a única coisa que importava agora era a reação de Tsunade.

– Não pode ser... - Tsunade não sabia como reagir. A esperteza lhe mandava forçar-se a mostrar uma expressão comovida, a alegrar-se com a façanha do garoto. Porém a revolta era tamanha que poderia ela mesma arrancar cada pedaço de vida que ainda jazia naquele corpo inútil com as próprias mãos.

– É isso mesmo que estão vendo. Estou bem, melhor do que nunca. E, a título de esclarecimento as perguntas infindas que devem estar se formando em suas cabeças alopradas, a partir de hoje resido aqui, no segundo andar, neste quarto. - Indicou a porta que ficara mais atrás.

– Mas como...? - Repetia mentalmente para manter o disfarce, mas era impossível, ainda mais quando seus planos estavam indo por água a baixo.

– Não precisa saber de nenhum detalhe maior, apenas saiba que a partir de hoje sou eu quem manda nessa casa na ausência de meu pai, e vocês como meus empregados terão de me obedecer. Começarei de forma simples, primeiro dispensando seus serviços Jiraya. - Se dirigindo ao homem que, contrariamente ao propósito da parceira e as últimas notícias recebidas sobre seu emprego, ainda ria feito bobo diante da cena. - Não leve a mal, mas não sinto maior necessidade em continuar com esse tratamento inútil.

– Tratamento inútil? Acaso enlouqueceu? Não pode dispensar assim o homem responsável por ainda estar vivo Naruto...

– Pra você é Naruto-sama, Tsunade! E quanto ao "enlouquecer", engana-se. Nunca estive tão são em minha vida. Já em relação à "me manter vivo", não posso concordar. Estava morto até poucos dias, até conhecer a verdadeira responsável por isso.

– "Então..." - Sim, ela não havia se enganado. A culpa de tudo aquilo era da garotinha intrometida que se mudara para a mansão. Aquela vagabunda pagaria caro por afrontá-la dessa forma, e pagaria com a própria vida.

– Hinata é a única responsável pela minha melhora, e possível cura.

•••

Ao subir a escada para buscar o livro sobre flores raras que mencionara para Sai, Hinata se deparou com as imagens inertes daqueles que pareciam ser Tsunade e Jiraya, observando atônitos algo no corredor. Foi então que se lembrou da "transgressão" cometida na madrugada anterior, quando ela, Sai e Sakura haviam trago Naruto para o segundo andar, contrariando as premissas da governanta, que a proibira terminantemente de subir ao encontro do rapaz. Imaginou então o que estaria acontecendo no corredor para congelá-los daquela maneira.

– "Naruto-kun..." - Preocupou-se. Pelo menos até ouvir a frase que poria fim, se é que ainda existia qualquer traço de, na mágoa que jurara manter para o resto dos dias, afastando-se em consequência do primo malcriado.

– Hinata é minha nova razão para viver, e é ela quem vai me curar. Porque Hinata é o único remédio do qual necessito.

Não era a primeira vez que ouvia aquilo: "Só você pode me tirar dessa cama Hinata! Você é o único remédio do qual eu preciso.". Mas a reação, apesar de não ser nova, ganhou nova intensidade, assim como o tom da voz dele que deu uma conotação nova a tudo aquilo que ela estava sentindo. De repente era óbvia a resposta à pergunta de Sakura:

"- Hinata-chan, seja sincera. Seu coração está balançado por esse rapaz, não está?"

Não, seu coração não estava balançado por seu primo. O coração dela estava completamente rendido a Naruto Uzumaki, e não havia remédio no mundo capaz de curar isso. Não que fosse uma enfermidade, esse tal do amor, do qual os poetas tanto falavam em seus textos, mas uma vez contraído, esse vírus jamais a deixaria, nunca por completo, mesmo que quisesse. E ela não sabia mais se não queria.

– Você só pode estar mesmo fora de seu juízo. A doença afetou seus miolos? Como pode dispensar um médico renomado para ficar a mercê de uma estranha sem qualquer experiência ou conhecimento medicinal?

– Ela fez mais em semanas do que vocês dois juntos tem feito em anos. Começo a pensar se estavam mesmo querendo me ver saudável...

– COMO PODE... - Tsunade fez menção de avançar em Naruto, mas Hinata foi mais rápida, atravessou-lhe o caminho, empurrando ela e Jiraya, e correu em direção a Naruto, pondo-se de pé ao lado dele com uma expressão firme e decidida em seu rosto.

– Não pode impedir o Naruto-kun de fazer aquilo que ele quer!

– Hinat... - Naruto não pode conter a felicidade que era vê-la novamente, ainda mais o defendendo, mesmo depois da idiotice que ele cometera, gritando com ela outra vez. Ele não merecia aquilo, mas ficava cada vez mais grato por Hinata existir e ser tão generosa e benevolente como ela era. No ímpeto de se desculpar, quase foi capaz outra vez de colocar-se em pé, mas Hinata o impediu concluindo seu discurso desafiador.

– Ele é tão dono de si, como seu pai é dono dessa casa. Se fizer qualquer coisa contra ele meu tio, Minato-sama, ficará sabendo.

– Sua...

– Queiram desculpar Tsunade... - Jiraya se interpôs antes que a parceira fizesse qualquer besteira. - Nós ficamos apenas surpresos com essa... Novidade! Sabe como é, o instinto materno da minha pomb... - Tsunade o olhou feio, mas foi se acalmando, ao perceber a burrada que estava prestes a fazer. - Minha querida amiga sempre se portou como uma mãe para Naruto, só está reagindo como tal, preocupada com a integridade física e mental do nosso querido garoto.

– S-Sim... - Ela sorriu, pensando ter compreendido o possível plano de Jiraya, que na verdade não tinha nada a ver com aquilo que ela estava imaginando. Tudo o que ele queria com aquilo era encerrar o assunto e ir embora dali com a companheira, dando-se por vencidos e deixando o garoto em paz, mas Tsunade via naquilo uma oportunidade de renascerem seus planos iniciais, dessa vez com uma nova e drástica abordagem. Mas não seria ali, nem agora. Precisava de algum tempo para pensar em tudo, para realizar tudo com perfeição. – Me perdoem pela forma aparentemente rude como reagi. – Fingindo-se arrependida. – Na verdade ainda não me recuperei do susto, realmente foi uma surpresa vê-lo aqui Naruto-sama. – Sorriu para o rapaz que a ignorava completamente. – É ótimo saber que está se sentindo bem, você parece mesmo tão cheio de vida... – A cena continuava, agora ela mostrava-se emocionada. – Para mim é como se eu fosse uma mãe ao observar os primeiros passos do filho.

– Vou deixar bem claro! A partir de hoje Hinata tem livre acesso a todo e qualquer lugar dessa casa, bem como aos meus aposentos. Ninguém há de passar por cima de minha autoridade e tentar sequer proibi-la de me ver. – Naruto nunca esteve tão sério, já Hinata ruborizara ao ouvir sobre o “acesso aos meus aposentos”, quem ouvisse pensaria até mesmo que havia alguma intimidade entre eles.

– Entendo meu querido... Não se zangue comigo! Se a proibi de inicio foi porque tive medo que lhe causasse algum mal.

– Pois Hinata só bem tem me feito desde que apareceu nesta casa. – E dizendo isso ergueu sua mão para agarrar a dela, mostrando assim toda a gratidão e arrependimento que sentia naquele momento. A moça, claro, manteve as bochechas coradas por um bom tempo, até se acostumar com aquela nova situação. – Agora que está tudo esclarecido, creio que está na hora de organizar nosso almoço, não é Tsunade?

– ...Claro, Naruto-sama. – Com certeza eles irão pagar por aquelas humilhações, mas na hora exata. Por hora deteve-se a ir a cozinha preparar o almoço.

– Jiraya?

– Sim, meu jovem. Espere um minuto, gostaria de ter uma última palavra com você. – Indicando-lhe a porta de seu quarto.

– Mas será um prazer... – Jiraya se encaminhou para o quarto do jovem, onde esperaria pelo mesmo breves minutos.

•••

– Hinata... Eu... – Procurava as palavras certas para dizer.

– C-Como você... Como chegou aqui? – Sorriu meio sem jeito, tentando disfarçar as últimas sensações e pensamentos que ainda rondavam sua mente.

– Err... Você não vai acreditar... – Sorriu enquanto coçava a cabeça, era assim que ele reagia quando se constrangia. – Eu consegui sozinho chegar até a cadeira, me levantei da cama e andei até ela.

– V-Você... Andou? – Boquiabriu-se.

– É! Só não sei se consigo de nov... – Foi surpreendido por um abraço, ou melhor, o abraço que tanto esperava. Hinata se jogou com força nos braços dele, ajoelhando-se no chão para melhor fazê-lo, e ele, nem bobo, nem nada, retribuiu abertamente. O primeiro gesto audacioso de ambos em relação ao outro, e como era boa essa tal audácia.

– Isso, isso é maravilhoso, Naruto-kun... – As lágrimas desceram aos olhos, não havia como se controlar diante de tamanha alegria. Ele respondeu o pranto com pranto, enquanto afagava-lhe os cabelos e se inebriava com a fragrância adocicada que exalavam seus fios negros.

– Você, você me perdoa Hinata? Me perdoa por ser um estúpido e não merecer sua amizade? Você não me odeia, não é?

– Eu jamais conseguiria te odiar, mesmo que quisesse. – Continuaram assim por mais alguns segundos, se pudessem não se soltariam jamais, mas era preciso, pelo menos de momento.

Nenhum dos dois sequer imaginava que, enquanto viviam aquele glorioso e significativo momento, Sai os observava desolado. Voltara lá em cima para ver o que havia acontecido com a amiga que tanto demorava a voltar. Hinata tinha dito, apenas um livro, e de repente a encontrara nos braços do inimigo, o rival, trocando caricias num abraço que revelava muito mais do que pretendia.

Apesar da dor aguda que tal visão lhe provocara, decidiu que aquilo não abalaria seus objetivos. Hinata estava apenas iludida pelas promessas e palavras bonitas daquele canastrão, que a humilhava, como ela mesma havia lhe contado pouco antes do fato, e agora a abraçava como se nada tivesse acontecido. Não, Sai não desistiria tão fácil.

Faltavam dois dias para a primavera, dia em que prometera uma surpresa a amada. Levaria Hinata ao jardim e lhe cortejaria, daria a ela o anel que seu falecido pai certa vez comprara a sua falecida mãe, para pedir a mão da mulher em casamento. E quando ele a beijasse, Hinata, ela não resistia a seu amor, perceberia que ele era a escolha certa desde o inicio, ele e seu amor puro e sincero.

Por hora tudo o que fez foi descer choroso as escadas e se recompor, forçando-se a agir naturalmente quando a visse. Hinata não tinha culpa do cinismo de Naruto, aquele malandro se aproveitava de uma doença – se é que estava de fato doente – para tirar a inocência da angelical e indefesa prima. Mas isso não aconteceria, somente sobre seu cadáver. Não deixaria que Hinata sofresse nas mãos de um desgraçado qualquer.

•••


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