Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 37
Dois reencontros


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Este capítulo nossa querida Laura terá dois reencontros... Um com seu amor... O outro só lendo para saber... Obrigada pelo carinho com a minha fanfic... Obrigada pelos comentários e boa leitura, espero que gostem...



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Dois reencontros... (capítulo 37)

Isabel tinha razão e apenas segui meu impulso, ao bater na porta dele, tarde da noite, poucas palavras e nossos olhares e um beijo... O toque... A pele... O aroma... Quando dei por mim já estava ali, nos braços de Edgar, em nosso quarto, e nos deixamos levar pelo que sentíamos... Nossa entrega... Não queria que aquele momento terminasse, eu ainda o sentia em mim, cada toque, cada carícia... A entrega... O desejo... A saudade... O amor... Um sentimento de plenitude... Estávamos ali, juntinhos... Edgar ainda dormia, mas não quis acordá-lo, Melissa estava no seu quarto, em frente ao nosso, não queria que a menina me visse ali, como explicaria para ela que tinha ficado ali, sem acordar o Edgar, coloque minha roupa e vou até o quarto de banho e fiz a minha toalete. Depois vou até o quarto de Melissa, não resisto e dou um beijinho no rosto dela, ainda bem não acordou... Parece um anjo... Antes de ir embora, volto ao nosso quarto e vejo que ele continua a dormir, não resisto e lhe beijo no canto da boca, como costumava fazer, ele acorda e me vê pronta.

– Já vai? Ainda é tão cedo. – Pegou o relógio de bolso e viu as horas.

– Eu sei, Melissa está no quarto ao lado se esqueceu. Não quero que me veja aqui quando acordar. – Termino de colocar os sapatos...

– O que tem de mais? Afinal de contas um dia ela terá que saber que fomos casados. – Quero tanto que ela saiba... Pelo menos entenderia a felicidade do pai dela ao acordar daqui a pouco... – Lançou seu mais lindo sorriso. - Será que não mereço um café da manhã em família? – Fez um semblante tristonho...

– Edgar, não é tão simples, não acho que seja o momento de falarmos disso para ela, vamos aos poucos... Eu não quero assustá-la... Tenho certeza que vamos ainda ter muitos cafés da manhã em família... Eu prometo isso... – Como eu me sentia feliz...

– Eu vou cobrar esta promessa também, senhora Laura Vieira... É um absurdo isso, haverá o momento em que Melissa vai ter que saber... Não vou discutir... Estou muito feliz por você ter ficado aqui esta noite, por ter aparecido assim, do nada... E pensar que não foi um sonho, eu e você aqui novamente... – Edgar me abraçava com carinho. - Eu não consigo acreditar, nós três dormimos debaixo do mesmo teto, como uma família, como deveria ter sido todos estes anos... – Apenas contemplava-me... Seu olhar... - Dê-me dez minutos e eu te levo. – Ele deu um pulo da cama.

– Nada disso, a Melissa pode acordar e não quero que sinta falta do pai. Eu pego um bonde, ou coche...

– Está bem... Por hora eu entendo... A gente volta se vê hoje?

– Talvez sim... Espero que sim... – Beijo-o mais uma vez...

– Então eu te espero... – Outro...

Eu já ira saindo do quarto quando Edgar segurou-me pela cintura.

– Que foi?

Edgar não responde apenas me beijou profundamente... O que poderia fazer além corresponder.

– Que foi isso?

– Meu desejo de que tenha um ótimo dia. – Edgar mirou-me daquele jeito...

Eu apenas retribui, da mesma maneira...

– Sei que não foi original, também quero que tenha um ótimo dia... Deixo que me leve até a porta. - Não resisto e nos beijamos mais uma vez... Tinha que ir embora, apesar da imensa vontade de ficar. Em seguida saí rapidamente de minha antiga casa e peguei um coche de aluguel. Minha mente ia longe, pensava em Edgar, em Melissa, na escola que tanto sonhava e que faltava pouco para se tornar realidade... O coche cortava as ruas até chegar à frente da casa de Isabel no Cosme Velho. Ao entrar encontrou minha amiga tomando o desjejum na mesa da cozinha.

– Nossa, pelo seu rostinho vejo que teve uma noite maravilhosa. Pelo jeito a senhora seguiu o meu conselho... – Isabel via minha a felicidade.

– Tive, uma linda noite... Inesquecível... Ainda bem que ouvi seu conselho. – Respondi sapecamente, nem se quisesse conseguia esconder a minha felicidade.

– E aposto que o sorriso tem um bom motivo, aliás, o único motivo que a deixa realmente feliz, um certo advogado... Dr. Edgar Vieira, suponho? – Isabel brincava comigo.

– E existe outro? – O sorriso nos meus lábios contagiava a Isabel.

– Que bom que seguiu o meu conselho, Laura se pudesse ver seu rosto agora, se a felicidade plena existe, ela está ai, em você... Você está tão linda, tão feliz como sempre deveria ser... Laura, agora mais do que nunca eu tenho certeza... Vai dá tudo certo e vocês merecem esta felicidade...

– Sabe que agora eu até consigo acreditar... Eu quero tanto isso... Melissa estava lá, foi a primeira vez que nós três dividimos o mesmo teto... Edgar chegou a falar sobre isso... Esta noite foi tão especial, era como se eu sentisse que finalmente... Eu tenho medo até de falar...

– O quê...

– Aquela nossa conversa de ontem... Eu quero tanto que aconteça...

– Laura, vai acontecer... E isso está estampado no seu olhar... E você deu o passo mais importante, procurou quem ama e isso minha amiga, fez toda a diferença... Você está tão linda, radiante... Plena... Vai acontecer, se não foi hoje, vai ser logo, logo... Tenho certeza... Não pense nos problemas, pense no Edgar e no amor que sente por ele...

– Não tenho como negar, o Edgar é o homem da minha vida, o único, pode passar o tempo que for... Sempre será ele e apenas ele. Não quero outro em minha vida, pertencemos um ao outro... Se tiver filhos, ele que será o pai dos meus filhos... O homem que amarei minha vida inteira... E pensar que consegui viver longe dele durante tantos anos, como eu consegui viver longe dele... Viver não! Sobreviver... Hoje não quero ficar nem um dia sem poder olhar para ele... Eu não quero pensar minha amiga, apenas quero sentir

– Disso, minha amiga, eu não tenho a menor dúvida... Vocês dois pertencem um ao outro... Se não fosse isso, estes anos todos de sofrimento, de saudade suas e dele também... Quando vi o Edgar naquela primeira vez depois de todos estes anos era de você que ele queria saber... Todo o esforço que fez para você procurar e encontrar você... Sempre buscando por você... Como se buscasse o próprio caminho... O motivo da própria existência... E isso tudo por você, ou melhor... Por vocês... – Isabel falou de um jeito tão delicado...

– Nossa Isabel... Isso foi lindo...

– Lindo, Laura é ver que o Edgar sempre buscar por você, errando, acertando, mas sempre buscando... Por vocês... Isto é tão raro... Não deixe isso escapar... Vá de encontro a ele e sejam felizes... Formem a família de vocês... Viva isto... É o melhor conselho que posso te dá...

– Eu vou seguir o seu conselho... Se depender de mim, sempre vou buscar por ele, ou melhor, por nós dois... – Apenas me lembrava da linda noite com Edgar...

– Ótimo, é isso mesmo que a senhora tem que fazer, porém, agora temos que conversar sobre a escola, eu sugiro à senhora que se apronte e vamos até o morro da Providência. Quero ver como está à reforma da casa que escolhi, temos mil coisas para fazer... A Sandra me deu uma lista de material que temos que pesquisar e compra, olha, eu nunca imaginei que fosse necessário tanta coisa.– Isabel estava tão entusiasmada como eu.

– Tem razão, agora temos muito que fazer, eu não vejo à hora de ver nossa escola funcionando.

– Eu também não, vá tomar banho que vou mandar um recado para a Sandra nos encontrar no Largo de São Francisco. Temos muito o quê fazer... Temos uma escola para inaugurar...

Isabel e Eu pegamos um coche de aluguel e fomos em direção ao Largo e nos encontraram com a Sandra, ali perto tinha um comércio que vendia material escolar a um preço mais acessível. Fizeram pesquisa, compramos algumas coisas, Isabel pediu que entregassem tudo no Teatro Alheira, depois nós três, fomos à Rua do Ouvidor, na Livraria Garnier, a minha preferida, e aproveitei e comprei o último livro de Machado de Assis, Memorial Aires, fazia tempo que queria ler era o último de meu escritor favorito, infelizmente já falecido. Depois nós nos dirigimos para almoçar na Colonial, e para minha surpresa, uma pessoa que há muito não via estava ali, almoçando com minha tia Carlota, a elegante senhora era ninguém menos que minha mãe Dona Constância, a ex-Baronesa da Boa Vista. Fiquei paralisada ao ver a figura imponente de minha mãe, ali, em plena Colonial. Desde que voltei ao Rio de Janeiro, tantas coisas haviam acontecido, não consegui procurar minha família, queria muito estar com seu pai e seu irmão Albertinho, e ver a mãe ali, na minha frente, depois de todos estes anos, depois da rejeição, tudo foi tão difícil e estranho para mim a ver ali depois de todos estes anos, era ela... A minha mãe.

A Baronesa apenas me olhava, seu olhar não era de reprovação pela minha presença, era a primeira vez que nos víamos depois de todos estes anos... Será que em algum momento sentiu saudades minhas... A maneira como agiu no passado era reprovável... Não admitia uma filha divorciada, era um insulto a sociedade carioca, dizia na época... Seu medo de ter o nome da família exposto por minha causa, a farsa que montou para esconder meu divórcio... Minha mãe diante de mim, depois de tantos anos... – Senti um nó na garganta. – Ela conseguiu convencer Edgar a participar de sua farsa... Minha mãe ali... Outro dia pensei tanto nela... Na sua maneira de ser mãe... Era ela ali, estávamos diante uma da outra... Seu semblante, como sempre, tranquilo e altivo, sempre envolta de suas rendas e seda francesa... Belamente vestida... Tinha vontade de ir falar... A dor da sua rejeição ainda estava ali, presente, queria tanto seu colo e o negou a mim... – Busquei o ar, e senti uma lágrima se formar. – Será que sabia de meu retorno... Sempre foi tão sagaz em seu raciocínio... Certamente com aquela fotografia publicada... Não era possível que não soubesse, principalmente, depois da briga do Edgar com Gisele Laranjeiras em plena Colonial... Era a minha mãe diante de mim, depois de mais de seis anos... Eu mal conseguia raciocinar...

– Laura você está bem? – Isabel estranhou meu comportamente.

– Minha mãe está bem ali... - Isabel e Sandra finalmente viram a imagem imponente da grande dama.

A Baronesa da Boa Vista, levantou da mesa e veio em nossa direção, atravessou o salão da confeitaria, com sua figura imponente, em nossa direção... Normalmente eu não era disso, mas senti minhas pernas moles... Realmente não esperava, tive que me recompor e segurar a vontade de chorar.

– Vejo que está bem? Resolveu voltar depois do todo o esforço que fiz para esconder seu divórcio. – Nem sequer me cumprimentou, tampouco as meninas, foi direta comigo.

– Bom dia... Será mãe, que é tudo que tem que me dizer depois de todos estes anos? - Apesar de estar acostumada com as atitudes da minha mãe, ainda conseguiu se surpreender.

– Não se preocupe, no final da tarde irei à casa de sua amiga, sei que mora com a mulatinha da Isabel, já era hora de ver minha filha. Vemo-nos no final da tarde. – Sai sem olhar para trás, como sempre altiva.

– Laura, lamento por isso, não imaginava que poderiam se encontrar assim com ela. – Se quiser podemos ir para casa. – Isabel segurava em meu braço.

Respirei fundo mais uma vez e me recompus... Minha mãe sabia que eu estava com a Isabel e nem se dispôs a procurar-me... Sei que não foi certo não procurá-la, ela havia me renegado, apagado-me de sua vida como se eu não fosse nada... Mais uma vez procurei o ar, fechei os olhos e os abri em seguida e levantei a cabeça.

– Agora não, viemos almoçar e vamos almoçar. Não nego, não estava preparada para ver minha mãe, mas um dia isso aconteceria, era um encontro inevitável... Aconteceu, como ouviu a Baronesa dizer, depois conversaremos. – Procurava força nem sei de onde.

– Então vamos almoçar, hoje é por minha conta. – Isabel tentava me distrair um pouco e tirar o clima pesado que ficou depois da passagem de minha mãe por nós.

– Vamos sim, olha que estou apenas com o café da manhã. – Sandra também tenta me distrair.

– Vamos sim. Apesar de que perdi um pouco do apetite. – A decepção em meu rosto era visível.

Nós três almoçamos, porém pouco toquei na comida, meus pensamentos estavam em uma elegante mansão, em Botafogo, a casa onde vivi durante até me casar, a senhora daquela casa, sempre belamente vestida com rendas e sedas, extremamente bela, mas que não conseguia entender sua única filha... A senhora que lutava para se manter em evidência, que se preocupava mais com opiniões alheias e ignorava os desejos dos filhos... Que mantinha a imagem de família perfeita, mas esquecia que tal imagem não existe... A mulher que rejeitou a própria filha no momento mais delicado de sua vida... Esta era a Baronesa da Boa Vista, minha mãe.

Voltamos para casa, a tarde transcorria naturalmente, ao menos era isso que queria pensar, ciente que em pouco tempo bateriam na porta e veria a figura imponente de minha mãe adentrar por aquela sala. Meus pensamentos ainda estavam no encontro na Colonial quando ouço baterem na porta, abro e a imagem de minha mãe surge em minha frente, mais bonita ainda, mais bem vestida, delicada nos gestos, mas implacável nas atitudes. Minha mãe.

– Boa tarde Laura, faz tanto tempo que não nos vemos. – Queria tanto um abraço dela e não tive.

– Desde o dia que a senhora me renegou. – Não sabia definir o sentimento que havia em mim naquele momento... Na realidade era como se houvesse um turbilhão de sentimentos... Enquanto eu não conseguia definir qual sentimento me consumia naquele momento, a imagem que minha mãe me passava era de alguém segura de si, sem demonstrar muito que realmente passava dentro de seu coração... Será que eu era tão indiferente para ela.

– Ora Laura, sabe perfeitamente bem que não aceito o rumo que deu para sua vida. Se divorciar... De um homem como o Edgar... – Ela diz isso como se pedisse um chá a Luíza, sua fiel serviçal...

– Vejo que a senhora continua a mesma... Como à senhora está? E meu pai e meu irmão, como estão, não os vejo há muito anos... Sinto saudades deles... – Será que ao menos uma conversa civilizada, seria possível?

– Seu pai agora é Senador da República, foi com muito esforço que eu consegui fazer dele um senador... Se dependesse apenas da vontade de seu pai, ele estaria clinicando em um pequeno consultório e recebendo galinhas como pagamento... Seu irmão está no Exército, ainda está no sul, provavelmente, voltará daqui algum tempo... Parece que conheceu uma jovem herdeira, muito rica e de família tradicional, seu nome é Esther... – Ela não muda. – Finalmente deve ter esquecido a sandice de ter se envolvido com a mulatinha...

– Eu perguntei por eles, não pelos cargos que ocupam. Eu agradeceria muito que não falasse da Isabel, basta tudo o sofrimento causado pelo Albertinho... Sem contar que estamos na casa dela...

Olhou-me de cima e respondeu.

– Eles vão bem. E você minha filha, como está?

– Bem, mesmo com algumas rasteiras que a vida me dá, continuo em pé... Como a senhora pode constatar por si mesma... Continuo como professora...

– Já se encontrou com seu marido?

– Já nos encontramos eu e meu ex-marido. – Enfatizei.

– Pois para mim vocês continuam casados. É o casamento religioso que tem valor para mim. Apenas fico chateada por Edgar não me contar que tenha a encontrado... Esperava mais do meu genro... Espero que ao menos tenha oferecido para você ficar na casa dele.

– Sim, o Edgar ofereceu sim, como à senhora pode vê, eu preferi ficar aqui, não faz nenhum sentido eu ficar na casa dele depois de todos estes anos separados... Principalmente sendo divorciados... – Nada mudou.

– Nunca me conformei com isso, uma filha divorciada. É a maior vergonha que uma mãe como eu pode ter. Logo você, minha única filha, que acalentei em meus braços, que amei, que tentei dar um pouco de juízo, e mesmo assim se divorciou de um homem como Edgar... Nunca consegui entender tal atitude. Quando mais penso nisso mais desgostosa de você eu fico. – Como pode... Mesmo com o passar dos anos, algumas pessoas continuarem as mesmas, minha mãe era uma dessas pessoas.

– Desculpa, a sensação que tenho é que estou naquela discussão de seis anos atrás quando disse que me divorciaria e a senhora fez questão de me renegar... Será que a senhora nunca vai entender que o divórcio é um direito, é lei, apenas fiz o que minha consciência me mandou, eu realmente não creio que estou tento esta conversa. – Estava incrédula.

– Laura, mesmo com os anos que passou fora, eu vejo que continua a mesma. – Tão altiva.

– É recíproco, não é mesmo. A senhora entrou e até agora... Percebeu que nem fez menção de me abraçar. De perguntar como estou... A senhora vêm aqui apenas para me dizer coisas que me disse há seis anos... Não precisa me lembrar, eu sei de tudo o que aconteceu, afinal de contas, foi comigo e com Edgar que aconteceu... Ninguém melhor que o casal para saber que acontece entre as quatro paredes de sua casa... Eu sei do meu sofrimento, e sei que foi legítimo... Ao contrário da senhora, minha preocupação não era manter um casamento para os outros, mas era manter para mim, principalmente em um momento de muita dor... Apenas eu sei o quanto me doeu sair, deixar tudo para trás, se renegada pela própria mãe em um momento que mais precisei ser acalentada pela senhora, quando precisei que fosse minha mãe. – Os meus olhos estavam marejados. – A senhora me renegou, por pura vaidade e egoísmo, eu fui embora sozinha, eu perdi tudo que mais amava e não tive seu apoio, ao contrário, fui duramente criticada por não aceitar a imposição que uma sociedade inteira queria que eu aceitasse, começando pelo Edgar e indo para a senhora... Apenas, mãe, eu segui meu caminho, mesmo que tivesse destroçada, e estava, apenas segui em frente e esta agora é sua filha, mesmo que não seja a menininha que a senhora acalentou no passado... Esta sou eu... Divorciada, porém decidida a seguir em frente, com, ou sem, o consentimento da senhora ou de qualquer outra pessoa.

Ela me apenas me olhava... Nem nenhum momento pareceu perder sua altivez...

– Acredita mesmo que a egoísta aqui sou eu? Qualquer mulher teria aceitado a situação que seu marido propôs, apesar de que, você é diferente, aceitasse a menina... Realmente não tinha que se divorciar... Tinha que jogar o nome de nossa família na lama? Cadê aquela menina meiga e doce que eu criei? Olho para você e não vejo a minha filha... Não a reconheço... A única coisa que vejo é uma mulher dura e ressentida na minha frente. – Definitivamente minha mãe sabia ser cruel.

– Dura e ressentida... É assim que a senhora me ver, como alguém que guardou magoa todos estes anos, que sou eu a egoísta... É isso mesmo mãe que a senhora vê? – eu respirei fundo enquanto enxuga algumas lágrimas que correia pelo seu rosto. - Meu problema nunca foi à filha do Edgar, ao contrário, sei que é uma menina encantadora, meu problema era a mãe dela, esta sim, nociva, vil, baixa... Esta que fez de tudo para ficar com Edgar, que infernizou minha vida... Não tinha por que aturar aquela mulherzinha... Não tinha por que aceita tudo isso no momento mais difícil da minha vida, a perda do meu bebê... Mãe, se a senhora veio aqui para me julgar mais uma vez, por favor, se retire. – Quanta dor em ver que nada havia mudado.

Neste momento alguém bate na porta, fui abrir e surge a figura de Edgar. Ele me vê naquele estado e me abraça e assim que entra se depara com a figura de minha mãe.

– Dona Constância, a senhora aqui? – Assustado.

– Edgar, meu genro, vejo que você e a Laura voltaram a se falar. – Diz naturalmente.

– D. Constância, sabemos que não sou mais seu genro e tão pouco a senhora é minha sogra. – Parecia que Edgar adivinhava que a presença da minha mãe ali não era de alguém saudosa de sua filha.

– Vocês dois estão juntos? Isto justificaria a sua presença aqui... Mas isso é uma maravilha... Finalmente Laura fez algo que prestasse... Não imagina o quanto fico feliz em ver vocês dois juntos... Poderíamos celebrar isso com uma linda festa... Chamar as pessoas importantes e mostrar a todos que estão juntos... Assim a sociedade finalmente acreditaria que tudo isso foi um engano... Acabariam as fofocas e calaríamos a boca de todos os que tiveram a audácia de comentar... Será um tapa de luva de pelica em todo o falatório...

– Eu não acredito no que estou ouvindo aqui... – Disse.

– Por que não, Laura... O nome de nossas famílias seria finalmente tirado da lama que você nos colocou e que o Edgar fez questão de afundar ainda mais depois daquela infeliz briga com Gisele Laranjeiras na Colonial... Logo você Edgar, meu genro, um homem tão sensato se deixar levar por meia dúzia de palavras da Gisele... E na frente de todos... Esperava mais de você... Um cavalheiro não se deixar levar por tolices sem importância...

– Tolices sem importâncias... – Edgar ficou indignado. - Dona Constância, aquela mulher ofendeu a honra da Laura e a senhora se preocupa com as aparências... Acha realmente que deixaria alguém falar o que bem entendesse e ouviria calado? Definitivamente não seria nada cavalheiro de minha parte a deixar dizer impropérios sobre sua filha...

– Ora Edgar, expor nossa família também não foi nada cavalheiro de sua parte... Deveria ter pensado na sua mãe, em seu pai... Na posição que nossas famílias ocupam na sociedade, agora com este divórcio exposto a todos assim... Definitivamente não precisávamos disso.

– Baronesa, minha mãe me ensinou a ser alguém de caráter... A defender alguém que for injustiçado... Aquela mulher ofendeu a sua filha na minha frente e eu jamais deixaria que fizesse isso e permaneceria calado... Não admito que falem de Laura... E não sou um marionete de sociedade apenas preocupado em manter as aparências... Minha preocupação é com a felicidade da minha família e não com o que podem ou não dizer... A senhora sabe perfeitamente bem que nunca fui norteado pelo falatório alheiro e tão pouco me deixei levar pelos falsos valores dos outros...

– Edgar, você aceitou participar da farsa que inventei por causa das aparências...

– Errado Dona Constância, apenas aceitei para não expor mais a sua filha no momento mais difícil de nossas vidas... Se fiz isso não foi por aparências, foi por amor a Laura e apenas por isso... Não me confunda com a senhora... Apenas aceitei o absurdo desta farsa foi apenas pela Laura... Quem sabe do nosso sofrimento somos nós dois e pouco me importa o que pensa as outras pessoas... E com todo respeito... Menos ainda importa-me o que a senhora pensa...

– Mãe, a senhora pode ir embora agora, por favor. – Enxugava mais uma vez as lágrimas que insistiam em descer pela minha face.

– Está pedido para eu sair? – Aparentava uma leve surpresa.

– Dona Constância, por favor, é melhor a senhora ir embora agora. – Pediu educadamente Edgar.

– Está bem. Pense no que eu disse Laura. Enquanto a você Edgar, poderia ter tido um pouco mais de consideração por mim e contado sobre o regresso de sua esposa.

– Não cabia a mim, neste caso, contar, Baronesa. – O tom de voz de Edgar é ríspido.

Dona Constância saiu e nos deixando sozinhos, Edgar me abraça enquanto eu choro copiosamente. Nós nos se sentamos no sofá. Edgar enxuga as minhas lágrimas.

– Não fica assim, sabemos que D. Constância nunca foi uma mulher fácil de lidar.

– Eu sei, já deveria ter me acostumando, só que ela sempre me surpreende. Ah, Edgar, queria tanto que minha mãe fosse mais compreensiva comigo... Passaram-se seis anos e ela nada mudou... Sabia da minha volta e mesmo assim não me procurou... Queria tanto que fosse diferente, que fosse igual à dona Eulália... Tolice minha, dona Constância sempre será assim... Queria tanto um abraço dela e apenas recebi seu julgamento... Mesmo depois de todos estes anos... Ela me chamou de dura, ressentida e egoísta.

– Laura se há alguém que nunca foi ressentida, dura e tão pouco egoísta, está pessoa é você. Laura, você é a pessoa mais doce, que conheço e também é forte, algo que para sua mãe é inadmissível... Nunca vi você ter com alguém um ato de egoísmo. Ao contrário, a maneira como acolheu Melissa em sua vida é um ato de generosidade, e ela te adora. Esquece o que sua mãe falou, nada do que ela disse corresponde a quem você é. Eu sei quem você é, e sei, também, o quanto é maravilhosa e é por isso que sempre sei apaixonado por você.

– Edgar, só você para me consolar, ninguém sabe consolar com você. – Finalmente esbocei um leve sorriso.

– Mas é verdade Laura, você é maravilhosa e sempre vou amá-la por isso, por se alguém doce, forte e generosa, é assim que a vejo e é assim que você é... – Edgar cariciava o meu rosto. – Eu não te quero ver chorar, a não ser que seja por alegria.

– Obrigada.

– Pelo quê?

– Por você existir. Por ser parte da minha vida. Por ter me defendido na frente da minha mãe... Não foi nada fácil encontrar com ela, por um momento pensei que pudesse ter mudado... Como fui ingênua... A Baronesa da Boa Vista é quem é e isso jamais irá mudar... Sabe que por um momento pensei que fosse ser acolhida por ela e nada, deveria ter notado isso logo que nos vimos hoje mais cedo... Se naquele momento ela não me abraçou, não seria agora que o faria... Edgar, ela sabia que eu tinha voltado para a cidade... Sabia que morava aqui, com a Isabel... Se não a procurei, apesar da vontade que tinha, era por ela ter me renegado no passado... Tinha vontade... Ela sabia da minha volta e nada... Sei que errei por não procurá-la... No fundo parecia que adivinha que seria assim... Sou filha dela e mesmo assim pouco se importa... Que tipo de mãe e essa... Outro dia pensei nisso... No desejo de ser mãe... Na maternidade... Na acolhida de Dona Eulália e na rejeição da minha mãe... O que se pode esperar de alguém que prefere renegar a própria filha a aceitá-la...

Edgar sorri.

– Então se for por isso, quem deve agradecer sou eu, por você existir e principalmente por fazer parte da minha vida e me ensinado a amar você todos os dias. E sobre dona Constância... Ela é quem é... Lamento pelos valores que tem... Laura, o que importa é que você não é como ela, ao contrário, você é a pessoa mais maravilhosa que eu conheço, e é por isso que não consigo não amar você... Você é doce... Linda... Generosa... Para mim você é perfeita, não importa o que os outros digam... Laura se soubesse o quanto eu aprendo com você... Sempre foi melhor do que eu, e isso me faz ser cada vez mais apaixonado ainda por você...

Fiquei sensibilizada pelas palavras de Edgar.

– Que bom que veio Edgar.

– Eu senti saudades, sempre sinto saudades suas mesmo agora, aqui, tendo você junto a mim, eu ainda sinto saudades. Eu não consegui parar de pensar na noite passada, você, de repente, lá em casa... Nós dois juntos novamente... Pode sentir você... Mal conseguia trabalhar, queria te ver, olhar para seu rosto... Poder tocar novamente na sua pele... Ter a certeza que não era apenas mais um sonho entre tantos que tive... Laura se você soubesse o quanto eu fiquei feliz por você ter ido até mim...

– Eu também.

Abracei Edgar novamente, naquele momento, era o aconchego que precisava. O abraço negado pela minha mãe... A briga com D. Constância me machucará, mas a presença de Edgar era o bálsamo que aliviava o peso do meu coração. E nós ficamos ali, abraçados e conversando durante algum tempo. Edgar me consolava e sentia finalmente acolhida...


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Notas finais do capítulo

Meninas, tomara que tenham gostado... Quero muito sabe a opinião de vocês sobre este capítulo... Mais uma vez obrigada e até o próximo capítulo... bjs...