Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 36
Um desejo


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, tudo bem? Laura fez uma linda declaração ao Edgar, porém aquela conversa ainda não terminou... Aliás, muitas questões rondam o coração da moça e um desejo muito forte volta com muita força... Espero que gostem e comentem, gosto de saber a opinião de vocês... Obrigada...



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Um desejo... (Capítulo 36)

– Então por que você não entende o fato de querer conhecer o Ferreira?

– Incomoda-me você querer conhecer outro homem... – Ainda perdido, parado em pé e olhando para mim.

– Edgar, eu será que voltamos agora à história da redoma de vidro... Antes era porque queria me proteger, agora porque sente ciúmes... Se for isso... Eu não aceito e tão pouco admito... – Será que adiantaria argumentar com ele... Estava tão inseguro...

– Não é isso... – Tristonho.

– É o que então? – Queria entendê-lo, não via motivo par ser sentir assim – Edgar, eu te amo, não imagina o quanto, entretanto não vamos nos acertar se quer, agora, mandar em quem eu quero ou não conhecer... Pelo que me consta você nunca foi disso e agora você aparece com essa... Eu não vou admitir que queira mandar em quem, ou não, eu deva conhecer... Assim, nunca vamos ficar em bons termos... – Não iria e nem podia admitir isso.

– Eu jamais faria isso... É que... Você tem razão quando diz que estou com ciúmes do Ferreira... Falou dele de uma maneira... Disse que ao ler aquela matéria era como se ele tivesse entendido você... A sensação que tenho é que sou um idiota por não entendido você naquele momento...

– Disse sim... Você leu a matéria... Ele foi muito corajoso em expor algo que a maioria das pessoas prefere ignorar... Ele compreendeu sim meu sofrimento... E isso não quer dizer que seja um idiota... Você nunca foi idiota, não quero que pense isso... – Fitava-me com ar ainda tristonho.

– Li sim... – Parecia ansioso. - Laura na realidade o Ferreira... Ele... Eu... Somos... – Não compreendia nada do que queria me dizer.

– Então Edgar? O que tem o Ferreira... – Ele não era assim.

– Ele... Sei que é um excelente jornalista... Não sei se você irá gostar muito dele como pessoa...

– Como assim? – Estava começando a ficar um pouco impaciente com ele.

– Eu vim aqui conversar com você... Eu te peço desculpas pela maneira como sai de casa no outro dia... Fui um idiota completo... – Estava desnorteado.

– Edgar, se a questão é ciúmes... Naquele dia eu também não fiquei nada contente em ver a Heloísa na nossa... Quer dizer, na sua casa... Você mesmo fez questão de me explicar o motivo da Heloísa ali... Não me agradou nem um pouco, porém aceitei por hora...

– É verdade... – Tristonho.

– Edgar, eu vou procurar o Guerra, vou pedir a para que me apresente o Ferreira e ficarei profundamente chateada e magoada com você se tentar impedir isso, se você falar com o Guerra para não me apresentar o Antônio Ferreira... – Era melhor saber por mim que pelo Guerra. Não queria magoá-lo, porém não queria esconder isso dele... Era melhor assim. Ficaria muito decepcionada.

– Laura, você está me julgando muito mal... Não vou negar que ainda me sinto bastante incomodado... Se você prefere assim... Então fale com o Guerra... Não serei eu que vou me intrometer e muito menos impedir... – Ainda tristonho comigo, mas tinha que ser honesta com ele.

– Eu acho bom... Ficaria muito decepcionada com você se fosse de outra maneira... Então você já está avisado, eu vou conhecer o Ferreira... Vou pedir para o Guerra me apresentá-lo... – Não gostava de falar com ele daquela maneira.

– Laura... Esta conversa... Sei que ficou magoada comigo... Eu não quero brigar mais uma vez com você... Nem pelo Ferreira nem por ninguém... Se soubesse como estou cansado disso tudo... Cansado de brigar com você... Eu não quero isso...

– Edgar, eu tento entender seu lado... Porém, neste caso do Ferreira...

– Laura, por favor... Podemos esquecer o Ferreira... Ao menos por hora... Eu vim aqui... Trouxe a Melissa... Sei que temos muito que conversar... Não quero adiar nada... Apenas quero ter alguns momentos bons com você e com a minha filha... Eu nem sei bem como estamos... Depois daquela briga... Falamo-nos, porém... A sensação que tenho é que não estamos juntos... Eu já disse várias vezes, estou cansado de brigar com você... Antes era a questão de emprego... Depois aquela história toda que eu nem quero me lembrar... E agora o Ferreira que nem existia até pouco tempo atrás... Quando uma coisa se resolver, aparecem outras tantas para complicar tudo novamente e isso começa a me deixar muito cansado...

– Não dá para resolver uma questão achando que não surgiram outra mais adiante... – Fitava-me.

– Eu sei que não... É que tudo isso começa a me deixar bastante cansado... Sinto-me como se tivesse andando no meio do deserto e vejo um Oasis e quando penso que cheguei perto era apenas uma miragem... Cansa Laura...

– Não pense que é apenas você que se cansa Edgar... – Estava tão cansada quanto ele.

– Então Laura, mais um motivo para tentarmos, por hora, descansar um pouco e aproveitar a companhia um do outro... A Melissa está ali, na cozinha, estamos aqui e por isso não quero brigar com você, apenas desejo aproveitar a companhia de vocês... Eu amo as duas e não imagina o quanto me faz bem ver nós três, assim, juntos...

– Eu também gosto ver estar com você e com a Melissa, de ver nós três juntos... Apesar de isso não resolve nossas questões... – Eu o compreendia... Não queria brigar, porém tínhamos tanto que revolver.

– Laura, é como eu disse antes... Se resolvermos uma coisa aparece outras tantas para complicar... Temos é que aprender a administrar isso... Sempre surgiram coisas novas e se deixamos para tentar resolver cada uma delas nunca vamos sair do lugar em que estamos agora... – Desnorteado.

– Talvez tenha razão... – Ele tinha razão... Sempre surgiria algo novo e tínhamos que aprender a lidar com isso...

– Então Laura... Eu estou aqui, a Melissa também... Você também está aqui... Será que não podemos tentar ter um resto de dia agradável... Sem brigas... Sem Ferreira... Sem Heloísa... Apenas a gente... Os três como deve ser... Vamos nos dar este momento... Aproveitar o momento... Como se diz por aí... Carpe diem. – Eu apenas o observava. Tentava amenizar, como não concordar com ele.

– Edgar, é que...

– Laura, como eu disse antes... Nem sei como estamos... Por outro lado estamos aqui agora... Brigamos aquele dia... Fiquei muito feliz que mesmo que eu tenha deixado você falando sozinha como no outro dia... Ao chegar em casa e ver você ali... Ali, Laura, mesmo que quisesse brigar comigo... Você estava ali... Na nossa cama... Na nossa casa... Afinal de contas, como estamos?

– Quer saber... Estamos aqui... Vamos aproveitar o momento... Carpe Diem, senhor Vieira... – Estávamos os três ali, assim como Edgar não queria brigar e por que não aproveitar o lindo dia, mesmo que tivesse alguns assuntos sobre a escola que teria que resolver.

– Isto é uma resposta... – Um sorriso tímido surgiu no seu rosto tristonho.

– É a melhor que posso dá no momento... – Sorri para ele.

– Estamos aqui, Laura...

– Ainda bem... – Permanecia ainda com o ar tristonho, não brigamos e isso, para nós, já era um grande feito. - Acho que esqueci uma menininha na cozinha... Vou buscar a Melissa...

– Eu vou com você... – Ele segurou a minha mão.

Melissa estava na cozinha como eu a havia deixado... Ainda saboreava o bolo de mandioca.

– Então minha filha gostou do bolo da tia Isabel? – Edgar pegou a menina no colo.

– Está uma delícia pai... – Edgar beija a testa da filha carinhosamente.

– Eu não sei como esta menina não engorda... Adora uma guloseima... – Ele faz uma leve cócega na barriga da menina que solta uma gargalhada com a brincadeira.

– Ela ainda está crescendo... Deve ser assim mesmo... Eu não entendo muito disso... - Apenas admiro a cena entre pai e filha.

– Eu não sei se a senhora reparou, mas temos o dia inteiro livre...

– Já eu... Tenho mil coisas para fazer...

– O quê, por exemplo...

– O marceneiro que esta fazendo as carteiras... Tenho que vê como anda os trabalhos...

– Só isso?

– Quero ver uns livros que pretendo usar no colégio... Pensei em dá uma olhada na livraria Garnier, eu quero conversar com o dono... Tenho uma lista grande de livros e quem sabe ele pode nos vender por um preço mais em conta já que o volume é grande...

– É o quê mais?

– Por hora isso...

– E não quer a companhia de um pai divorciado e sua linda filha...

– Talvez seja entediante para a linda filha em questão, afinal de contas, é apenas uma menina...

– Pode ser... Por outro lado ela adora a companhia da professora dela e o pai dela mais ainda... Já que tem trabalho tão maçante a fazer... Acredito que em boa companhia aliviaria o farto em questão...

– Não é um farto, afinal de contas, é para a nossa futura escola... Estou muito animada com isso... Já a companhia, se ela não for se incomodar de andar de um lado para o outro...

– Tenho certeza que podemos fazer algum passeio interessante neste meio tempo... Ir a uma confeitaria os três... Seria um programa muito agradável...

– Tem coragem de voltar a Colonial depois de todo aquele escândalo?

– Eu tenho e por que não teria, sempre fui um ótimo cliente, apesar de que não falo da Colonial... Não sei se a senhora sabe, todavia a cidade do Rio de Janeiro não é exatamente uma aldeia e há outras confeitarias... Há outra, linda e tão conceituada como a Colonial que eu adoraria ir... E nem fica tão longe assim... Depois de sairmos do marceneiro podemos ir até lá...

– Eu não quero dá trabalho Edgar...

– O único trabalho que me dá é a sua insistência em se manter longe de mim... Um dia eu venço tal resistência... – Seu rosto já não tinha aquele ar tristonho de antes.

– E ainda temos a livraria...

– Para mim será um ótimo passeio, adoro ir até lá... Sempre vou e adoraria comprar novos livros de estórias para Melissa... Filha quer que eu compre novos livrinhos de estórias para você?

– Adoraria papai...

– Vejo que a senhora não vai se livrar tão facilmente da gente, senhora Vieira.

Foi agradável passar àquelas horas com Edgar e Melissa... Fiz tudo o que tinha que fazer e ainda pude contemplar ver pai e filha juntos... Era tão bom está com os dois... Como não pensar na nossa família... A família que não veio... Ver o Edgar tão amoroso com Melissa e comigo também... A maneira como cuida da filha, sua preocupação com ela... Seu carinho, sua dedicação... Edgar sempre foi um homem carinhoso e com a filha isso é tão evidente... Teria sido um ótimo pai para nosso filho... Nosso filho... Melissa tem muita sorte em ter Edgar como pai... Gosto tanto de ver os dois juntos... Aprendi a amar a filha dele como se fosse minha... A teria novamente como aluna e assim poderia ficar um pouco mais de tempo com ela... Edgar... Não gostava de ver ele com ciúmes do Ferreira, apenas quero conhecê-lo e pretendo falar em breve com Guerra sobre isso... Sei que meu marido não vai gostar, porém não pretendo desistir disso... Terá que entender... Ao menos o farei tentar compreender a minha vontade de conhecer o Antônio Ferreira... Por hora era melhor deixar esta questão de lado e pensar naquele momento nele e Melissa.

Depois que Edgar me deixou em casa, meus pensamentos foram para outro lugar... Ver nós três ali, como uma família, um brincando com o outro... Melissa feliz por está ali, seu pai que comprou os livros que ela tanto queria... Como seria bom ter tido aquele bebê... Ser mãe... , pensei na minha mãe... Não vou negar... Depois de todos estes acontecimentos um pensamento vinha sempre... Desejava um pouco ter o colo da minha mãe... Sempre tinha o carinho do Edgar, da Isabel... Precisava de um colo que certamente se recusaria a me acolher e me acarinhar com seus abraços...A Baronesa da Boa Vista, minha mãe... Ainda carregava comigo a tristeza de ter sido renegada por ela no momento mais difícil de minha vida... Nem sei bem o porquê de pensar nela logo agora... Depois de tudo... Ela era mãe e mesmo assim... Por que tinha que pensar logo nela...

Pensava na minha mãe, provavelmente, já soubesse que tinha voltado ao Rio de Janeiro... Este silêncio... Por outro lado minha mãe talvez não tivesse consciência de onde eu morava e principalmente com quem... Ao menos eu pensava assim... O motivo que não ter procurado pelo meu pai e meu irmão é que sabia que minha mãe, talvez, me procuraria, e isso, confesso, foi o motivo de adiar este encontro. É claro que sentia saudade dos meus, entretanto, quando me divorciei, minha mãe me renegou e isso doeu profundamente em mim, principalmente no momento mais delicado de minha vida, já não bastava às outras que já carregava comigo... Queria o aconchego do colo me minha mãe, é só obtive apenas repulsa por minha decisão. Se a D. Constância fosse, ao menos, como a D. Eulália tudo teria sido mais fácil. Do que adianta pensar sobre isso agora. Minha mãe havia me renegado e não creio que queria saber sobre mim, apenas lamentava que tivesse que me separar dos meus queridos pai e irmão. A saudade deles era grande, também tinha saudades de minha mãe, todavia ela colocou um oceano entre nós... Pensava na palavra mãe, que tipo de mãe eu seria? Certamente a Baronesa da Boa Vista não era um referencial para mim, enquanto D. Eulália tinha dado a mim, uma desconhecida, um carinho e amor que não reconhecia na minha verdadeira mãe, não que D. Constância fosse indiferente, é que sua principal preocupação sempre foi manter-se com uma senhora de sociedade, mostrar riqueza e poder... Amava aos filhos, e também, amava mais ainda manter as aparências. Agora que meu pai era Senador da República, minha mãe tinha voltado ao lugar que acreditava que lhe era devido. Agora era a esposa de um senador. A senhora Baronesa nunca se conformou com o fim da Monarquia e, principalmente, em perder o prestígio que o título lhe dava. Para dona Constância, nem a monarquia e nem a escravidão teriam terminado. Simplesmente não aceitava os novos tempos. Mas para quê pensar nisso agora.

Como era irônico... Havia alguns meses que havia voltado... Já tinha passado por tantas coisas desde que cheguei e agora me vejo pensando logo em quem me tirou da sua vida, nem levou em consideração o fato de ser sua única filha... Será que as aparências eram mais importantes que eu... Por que tinha que ser assim... Minha mãe, apesar de tudo não conseguia não amá-la... Até uma farsa ela armou... E envolveu Edgar nela... Era minha mãe e me doía pensar que não queria me ver... Sinto um grande aperto no peito quando penso nisso... Não me lembro que tivéssemos nos entendido... Nunca aceitou o fato de ser professora, de querer trabalhar fora... De me dedicar aos meus estudos... Até no meu casamento com Edgar ela se intrometeu... Por outro lado, se não fosse por ela jamais teria entrado naquela igreja... Havia momentos que tinha vontade de procurá-la, nada que não passasse depois das lembranças de suas palavras me renegando... Minha mãe, a Baronesa da Boa Vista... Tão diferente de D. Eulália, uma senhora tão simples e tão amorosa comigo... Maternidade era isso, ela não teve filhos e me tratou como sua filha... O amor de mãe era isso... Amar alguém, sem julgá-lo, mesmo que esta pessoa tenha cometidos erros... Sem restrições...

Que tipo de mãe eu teria sido... Como seria o filho que perdemos... Hoje, estava com Melissa e ela não saiu de perto de mim... E eu me preocupo tanto com ela... Como se fosse minha... Quando Edgar pediu para que desse aulas para ela... Aceitei por ela... Pensei apenas nela...

Um filho, em nossa Lua de Mel Edgar manifestou seu desejo de voltar a ser pai... Ter um filho nosso... Um filho... Por que a vida não me deu a chance de ter sido mãe... Até hoje sido saudades daquele filho que não veio... O desejo de ser mãe... Eu quero ser mãe de um filho do Edgar... Demorei tanto para engravidar e pedi pouco depois... Como doeu... Como dói até hoje senti seus braços vazios... A ausência mais constante de minha vida... A criança que não veio... Quero tanto ser mãe e tenho medo de não conseguir novamente... De perder...

Quando penso na minha mãe... Maternidade... A gravidez perdida... Tenho vontade de falar com Edgar... Dizer que quero muito engravidar, e tenho medo... De não conseguir e frustrá-lo, não apenas a ele, mas a mim também... Ao ver nós três, como uma família... Por que tudo tinha que ser tão diferente... Que caminhos a vida percorre... Se ao menos pudesse ter algum controle... Como somos tolos... Minha mãe, por que não aproveitou mais seus filhos, por que não éramos amigas... Se tivesse tido a chance de ter sido mãe... Amaria tanto meus filhos... Seria amiga deles, brincaria com eles, os colocaria para dormir, contaria estórias... Não vieram... Este filho que perdi, nem mesmo o senti em meu ventre e já o amava tanto... Até hoje, ainda amo...

Catarina teve a chance de ser mãe... Principalmente de uma menina maravilhosa e não aproveitava isso... Melissa tinha adoração pela sua mãe... Estranho como algumas pessoas se tornam mães... Nunca teve o perfil de uma mãe dedicada... Neste tempo em que volte a conviver com Edgar via o pai amoroso que é... O pai que quero para meus filhos... Os filhos que a vida ainda não nos deu... Uma vez, há alguns anos Dona Eulália me disse que a vida não lhe dera filhos... Os anos passaram... Sua juventude se foi... Depois perdeu seu marido... Porém, que a vida tinha lhe dado a chance de me conhecer... A filha não veio de meu ventre, me dizia. Mas veio do coração... Foram as palavras mais belas que tinha ouvido... Ela me considerava sua filha de coração... Era assim que ela me chamava... Sua filha de coração... Aquilo era a maternidade...

Durante anos pensei que Edgar não tivesse sofrido como eu... Estava nos olhos deles... A dor da nossa perda... Nossa e apenas nossa... Será que um dia terei a chance de carregar em meu ventre uma criança... Senti-la mexer dentro de mim... Sonhar com seu rostinho... Senti minha barriga crescer a cada dia... Senti as dores e finalmente tê-lo em nossos braços, depois de tantos anos... Uma criança muito esperada... Quantas vezes eu chorei por ela... Rezei por ela... Imaginei... Segurar seu pezinho... Senti seu cheio... Acalentá-la em braços e poder dizer meu filho, ou filha... Escolher um nome... Desejei tanto isso... Quantas dores... Por que pensava em maternidade... Veio mais forte me mim agora este desejo... Ver Edgar com Melissa... Saber que um pequenino ser veio de mim... Quando aquela mulher surgiu com a filha do meu marido e eu havia perdido o meu... Meu Deus que dor... Uma dor que avassalou a minha alma... Pensei que não fosse suportar... Tudo desmoronando em minha volta...

Precisava tanto falar com a Isabel... Ela sabia da minha dor... Assim como eu tinha os braços vazios, a dor de perda... Esperei acordada por minha amiga...

– Isabel, precisava tanto falar com você... Hoje me aconteceu uma coisa... Eu nem sei explicar bem o quê...

– Algum problema? Você e o Edgar brigaram novamente?

– Não, hoje ele veio aqui e trouxe a Melissa... Conversamos... Isabel eu comecei a pensar na minha mãe...

– Dona Constância?

– Senti falta do colo de mãe... – Senti um aperto no peito.

– Por que se sentiu assim Laura?

– Eu estava ali com a Melissa, com Edgar, sempre vejo a dedicação dele com ela, o carinho, o amor... Eu pensei no filho que não tive... Ter um filho... Ser mãe, pai... Pensei na minha mãe... Na Dona Eulália que cuidou de mim como se fosse a minha mãe... Isabel eu senti uma saudade tão grande do meu filho... Do nada... Apenas senti... Que tipo de mãe eu seria... Perguntava-me... Enquanto viajávamos em Lua de Mel, Edgar manifestou o desejo de ser pai novamente... Não foram uma ou duas vezes... Ele sempre me fala neste desejo... Da vontade de ter este filho... Isto marcou profundamente nossas vidas... Eu queria ter tido a chance de ter sentido esta criança em meus braços... De ter tido a oportunidade de amamentá-la... Sentir meu ventre crescer...

– E isso ainda dói muito?

– Sempre dói... Ver o Edgar com a Melissa, ali... Saber que aquela pessoa é a sua continuação no mundo... Amar e acalentar em seus braços... Pensei na minha mãe que teve a mim e ao Albertinho e mesmo assim... Manteve-nos distantes dela... Ela foi mãe e sei que nos ama, só que do jeito meio torto dela... A mãe da Melissa, por mais que não seja lá grande coisa... É mãe.

– E você também foi mãe...

– Eu nem sequer senti o meu filho no meu ventre... Apenas senti que ele existia...

– E mesmo assim o ama até hoje... Laura quando eu perdi meu filho... Foi uma dor tão grande que pensava que fosse morrer também... Até hoje rezo por ele... Eu carrego comigo a dor de ter perdido... Levou flores ao seu túmulo e penso, a cada dia, como ele estaria se tivesse sobrevivido...

– Ao menos o carregou em seus braços... É estranho... Amar tanto a alguém que apenas soube que estava em mim...

– Isto é ser mãe também... Chorar por um filho que não vingou... A dor deste filho, sempre estará com vocês... Ele não veio, e sua presença sempre será constante em sua vida... Quantas vezes no dia me pego pensando no meu pequeno Afonso... Quando vejo um moleque desse de rua, brincando, fico imaginando que poderia ser meu filho... Só que não é... Sinto falta de ouvir alguém me chamar de mãe... Gritar, mãe e eu ir acudi-lo... E pensar que vou carregar comigo isso pelo resto da vida... A eterna ausência do meu Afonsinho... Estranho porque acabou se tornando uma presença constante na minha vida...

– Não pensa em ter outros filhos...

– Filhos requer um pai... Quem eu gostaria que fosse o pai dos meus filhos... Não quer saber mais de mim. Você tem a sorte de ter alguém que queira muito ter um filho de vocês...

– Edgar quer muito dá um irmãozinho para a Melissa... Eu tenho medo...

– Medo de quê...

– De criar expectativas nele e acabar frustrando-o ainda mais... Demorei tanto para engravidar daquela vez... E mesmo assim eu perdi pouco tempo depois...

– Você quer ser mãe Laura?

– É o que mais desejo na vida... E mesmo assim tenho um medo do tamanho do meu desejo... Medo de não engravidar... Medo de engravidar e perder... Medo de passar por todo aquele sofrimento novamente...

– Já conversou com Edgar sobre isso?

– Já conversamos sobre ter filhos, mas não do meu medo... Apenas uma vontade... Eu sempre penso nisso...

– Você tem se prevenido...

– Não... Outro dia estava um pouquinho atrasada, por um momento até pensei que pudesse, ache melhor ficar quieta e deixar confirmar... Veio dois dias depois, pouco antes de viajarmos... Não quis ficar pensando muito nisso... Por outro lado não consigo não pensar... A possibilidade de ter outro filho...

– E não contou para o Edgar...

– Não contei... Já era frustrante para mim, não precisava ser para ele também... Eu não quero criar expectativas...

– Um filho... Isto muda uma pessoa... Estranho que nossos filhos nos mudaram e não os temos em nossos braços... Apenas uma saudade doída...

– E hoje isso foi tão forte em mim... Isabel como eu gostaria de ter tido a chance de ter esta criança em meus braços, ver seu rostinho... Por que logo hoje isso me atormentou tanto...

– Por que seu desejo de ser mãe aumenta a cada dia... Aquela criança não vingou o que não quer disse que o próximo não possa vingar...

– Sabe Isabel... Há momentos que tenho vontade de procurar a Dona Constância... Foi outra saudade que senti hoje... O da minha mãe... Irônico porque ela me renegou... Sua única filha... Se eu tivesse tido uma filha e ela passasse por tudo o que eu passei... Eu iria querer acalentá-la em meus braços... Ficaria junto a ela, mesmo que não concordasse com suas escolhas, apenas ficaria pelo fato de ser minha filha... Isso é tão errado, Isabel?

– Isto é ser mãe... Amar incondicionalmente... Como você mesma disse, de uma forma ou de outra Dona Constância a ama, porém a maneira dela que é meio torta... Mesmo que para isso precise passar por cima dos próprios filhos... Apesar de sua mãe ter sido criada para ter uma família, ter filhos, ela, também, foi criada para ser uma senhora de sociedade... Uma Baronesa... E para isso era necessário manter as aparências, mesmo que tivesse que sacrificar os próprios filhos... E foi o que ela acabou fazendo... Ela te ama Laura, apenas do jeito torto dela... Ela se esforçou tanto para manter seu casamento com Edgar... Criou aquela farsa...

– Ela não fez isso por amor a mim e sim para manter as aparências... Diante de todos, continuava a ser mãe da senhora Edgar Vieira... A posição perante a sociedade, esta foi à preocupação de minha mãe e não o meu bem estar naquele momento e ainda conseguir ludibriar o Edgar para aceitar tal farsa...

– Não se esqueça que o Edgar fez tudo isso por amor a você...

– Eu sei...

– E não se esqueça também, que agora, o divórcio já é de conhecimentos de todos e isso já fez sua primeira vítima... Melissa. – Desanimada.

– E pensar que ela foi expulsa do colégio por causa de um preconceito ridículo...

– Foi vítima do preconceito de uma freira, felizmente, Edgar conseguiu agir rapidamente... E agora Melissa terá a melhor professora que poderia imaginar... Que é praticamente uma mãe para ela...

– É... E infelizmente não sou sua mãe... A mãe é aquela lá e eu tenho que respeitar isso... - tristonha

– Neste aspecto tem razão... Por outro lado, já reparou que o Edgar sempre dá um jeito de ter as duas juntas a ele... – Isabel tentava me animar.

Balancei a cabeça concordando com Isabel.

– Vai me dizer que estas aulas extras que ele pediu a você não é uma maneira de ficar por perto... De você e da filha também...

– Pode ser... – Pensava em nós três.

– Laura, o Edgar tenta sempre reunir a família dele... E você e a Melissa são a família dele... Ou você não o vê e a filha como sua família... – Questionava-me.

– Eles são a minha família, eu os sinto assim... Por outro lado sempre há aquela ausência... – Uma dorzinha no peito.

– Acho Laura que já está mais do que na hora desta família crescer... E se eu fosse a senhora pensaria nisso com muito carinho... Por que há um cavalheiro louco para se tornar pai novamente de um filho de vocês...

– Eu sei...

– E o que a senhora está esperando?

– Tudo se resolver...

– Esquece isso Laura, se eu fosse você não pensaria duas vezes... Há alguém te esperando há muito tempo e sedento para reconstruir a família de vocês... Laura isso é tão raro, não perca mais esta oportunidade... Vá ser feliz... Tente ter esta criança que vocês esperam há tanto tempo... Edgar tem razão... Melissa precisa de um irmãozinho e vocês precisam ter um filho de vocês em seus braços... Não conheço ninguém melhor para ser mãe... Será uma mãe maravilhosa e disso eu não tenho a menor dúvida... Sem contar que faço questão de ser madrinha... – Era tão encantador ver a Isabel tentando me estimular...

– Disso eu não abro mão... – Finalmente um sorriso...

– Laura, você esta naquele momento em que toda mulher sonha em ser mãe... Seu desejo de ter uma criança apenas vai crescer a cada dia... Edgar deseja este filho e você também... Deixe a natureza seguir seu curso natural... Tenho certeza que em pouco tempo estará grávida... Já a vejo como mãe... Tenho certeza que daqui a pouco tempo terá seu filho nos braços... Vocês merecem esta felicidade e a terão em breve...

– Queria tanto ter a sua certeza... – Um tanto desanimada.

– Deixe a natureza seguir seu curso... Este filho estará logo a caminho... E vai ser uma linda criança... Tenho certeza e olha que não preciso dos búzios e orixás da Tia Jurema para saber... Você vai ser mãe e não vai demorar muito... Está em seus olhos... – Como queria ter o entusiasmo de Isabel.

– Como eu gostaria que isso fosse verdade... – Sem muito entusiasmo...

– Laura tenha fé...

– Estou tentando... – Esbocei outro sorriso tímido.

– Então já começou muito bem... Se eu fosse a senhora iria fazer uma visita ao Edgar... E não deixaria isso para amanhã... Quem sabe?

Apenas lancei um sorriso tímido para Isabel... Um filho... Seria um sonho... Ir até o Edgar... Será?


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Notas finais do capítulo

Então, o quê acharam... O desejo de ser mãe cresceu muito na moça... Ainda por cima lembrou-se da própria mãe e a maneira como foi tratada e isso não impediu que sentisse saudade da Baronesa... Laura ainda recebeu um conselho... Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo e um excelente final de semana... bjs