Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 28
Volta à realidade


Notas iniciais do capítulo

Oi Meninas, tudo bem? Espero que gostem... A Lua de mel foi maravilhosa... Mas a realidade espero pelo casal... O capítulo ficou longo... Boa Leitura...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/427840/chapter/28

Volta a realidade... (Capítulo 28)

Acordei e estava abraçada a Edgar que ainda dormia. Ao levantar fui até a janela e vejo que ainda cai uma chuvinha fina. O clima deliciosamente frio e a vontade de voltar para cama é imensa, todavia resisto a primeira tentação e faço minha toalete. Volto para o quarto e Edgar ainda dorme tranquilamente, como era bonito, cada dia mais bonito e não me cansava de admirá-lo. Desço e encontro Dona Carmen já levantada e tinha acabado de preparar um belo café da manhã.

– Bom dia, já levantou ainda é tão cedo.

– Bom dia Dona Carmen. Achei melhor levantar, o Edgar ainda dorme e a senhora me ajuda a preparar uma bandeja de café da manhã para ele, quero surpreendê-lo.

– Faz bem minha filha, você se casou com um menino de ouro. Não imagina o quanto gosto desse menino.

– Edgar é um homem maravilhoso... – Estava tímida e feliz com o comentário de d. Carmen.

– Querida, vejo que são felizes, os olhares de vocês... Não tem como negar que são muito apaixonados um pelo outro.

– Eu gosto muito do Edgar... – Sentia-me acanhada.

– Querida, gostar é pouco, pelo brilho dos seus olhos vejo que ama muito o meu menino. E isso me deixa muito contente porque sei o quanto ele merece ser feliz, sempre foi um bom filho, um garoto maravilhoso e sempre fez o bem a qualquer pessoa que precisasse de ajuda. Tenho muito orgulho dele e fico alegre que tenha encontrado uma boa moça.

– Ele é maravilhoso mesmo. – Quase sussurrei.

– E vejo que é uma boa moça, meu menino não teria escolhido qualquer uma. Sempre soube que a moça que escolhesse para ser sua esposa seria alguém especial. Você foi sua escolhida e mesmo não te conhecendo direito, tenho certeza que é merecedora do amor do meu menino.

– A senhora me deixa sem jeito. – Estava mais tímida ainda.

– Sabe senhora Vieira...

– Por favor, me chame de Laura.

– Assim eu fico sem jeito... – Agora era d. Carmen que estava tímida.

– Não fique, prefiro que me chame de Laura, não é justo a senhora chamar o Edgar pelo primeiro nome e me comigo ser tão cerimoniosa... Prefiro Laura, por favor.

– Está bem. Não disse que deve ser alguém especial.

– Não acho que eu tenha nada de especial. – Disse humildemente.

– Tem sim, e meu menino descobriu isso. Nunca o vi tão encantado por uma moça como o vejo por você. Sei que se casaram há alguns anos, e ainda tem o olhar dos jovens apaixonados é como se fossem recém-casados e isso é tão bonito de se vê. Pena que ainda não tenham filhos. Eu tenho certeza que em um dia Deus lhes dará esta benção.

– Pode ser... – Lembrei-me da minha gravidez.

– Que foi minha filha? Disse alguma coisa errada? De repente ficou com uma carinha tão triste. – Dona Carmen percebeu que eu havia ficado triste.

Não queria falar sobre isso com d. Carmen e nem queria ser indelicada com ela, fiquei sem jeito e nem sabia o que dizer direito.

– Filha, desculpa não foi minha intenção... Se falei alguma coisa que não devia eu peço desculpa...

– Não se preocupe comigo, estou bem, apenas me lembrei de algo.

– Aconteceu alguma coisa, posso ajudar em algo? – Estava preocupada comigo.

– Nada, não aconteceu nada. Estou bem, não se preocupe comigo. A senhora pode me ajudar a arrumar a bandeja. – Tentei mudar de assunto.

– Tem certeza? Eu e minha boca. Tenho certeza que falei algo que a deixou triste. Desculpa esta velha tola. Às vezes falo mais que o necessário.

– Que é isso, a senhora não tem o porquê de se desculpa. Estou bem.

– Tem certeza?

– Absoluta. – Apenas queria não comentar.

– Vou acreditar em você. Deixe-me preparar a bandeja, fiz aquele pão que o meu menino adora. – Dona Carmen finalmente mudou de assunto, para meu alívio.

Vi o pão em cima da mesa, parecia que havia acabado de sair do forno, o cheiro era maravilhoso.

– O pão da senhora é delicioso... – Peguei um pedaço e comi.

– Se quiser te dou a receita, é fácil de fazer, tenho certeza que seu marido vai adorar comer sempre.

– Não sou muito boa na cozinha, com certeza, não chego aos pés da senhora. Não sei se o Edgar iria achar parecido com o da senhora. Minhas prendas domésticas nunca foram das melhores. – Ri de mim mesma.

– De dou a receita mesmo assim. Tenho certeza que vai acertar a mão e seu marido vai adorar tanto carinho. Quando se faz com amor qualquer receita dá certo, minha filha, tente e tenho certeza que dará conta de fazer um pãozinho tão bom quanto este...

– Dona Carmen, a senhora é uma mulher muito otimista... Agradeço a receita, prometo que vou tentar, não garanto nada. - Achava graça da minha pouca habilidade como cozinheira.

Dona Carmen preparou a bandeja com tudo o que o Edgar adora, inclusive com seu pãozinho favorito. Ao chegar ao quarto, ele ainda dormia, nem percebeu que havia saído, deixei a bandeja de lado e lhe beijei o canto da boca, como sempre fazia para despertá-lo.

– Bom dia dorminhoco? – Sussurrei no seu ouvido e o beijei o mais uma vez.

– Bom dia, acho que dormi demais, que horas são? – murmurava preguiçosamente.

– Quase dez. – O beijei mais uma vez.

– Nossa, tão tarde? Quero dá uma volta com você antes de voltarmos para a casa.

– Ainda chove fino. Não quero desanimar o senhor, mas acho que nosso passeio vai ficar para uma próxima oportunidade. – Preparava um pedaço de pão com geleia de amora para ele.

– Que pena, queria tanto passear com você. – Ele dá uma mordida no pãozinho.

– Não tem importância. Haverá outras ocasiões.

– Será Laura?

– Claro que sim, meu amor. – Tomei um gole do meu café.

Edgar parecia preocupado, tinha uma ruguinha na testa que aparecia quando algo o preocupava. Passei a mão sobre ela.

– Parece preocupado, tem algum problema?

– Laura, eu não sei... Na realidade há algo que me incomoda. Uma vontade de ficar um pouco mais. Será que não poderíamos ficar mais alguns dias, eu não quero voltar para casa hoje.

– Edgar, eu não posso, tenho que trabalhar amanhã e pelo que me consta você também. – Não entendi porque ficou daquele jeito, parecia inseguro.

– Eu sei, mas não podemos adiar nossa volta em alguns dias. Tenho alguns encontros com clientes, nada que não pode ser adiado e você poderia tentar pedir um pouco mais de tempo no trabalho.

– Edgar, eu mal comecei a trabalhar, eu tenho responsabilidades, eu não posso faltar porque você quer. Não quero dá uma má impressão no meu emprego. – Tentava explicar, sem muita convicção que ele estava entendendo, ou melhor, aceitando...

– Eu sei Laura, seria por apenas alguns dias. – Estava angustiado.

– Edgar, se você quiser podemos fazer esta viagem em outra ocasião, temos que voltar para casa hoje. Não posso ficar e nem você, temos nossos compromissos e não é certo deixar tudo em suspenso porque você quer.

Normalmente Edgar não tinha atitudes desse tipo, sempre era tão seguro de si, parecia fragilizado, algo o angustiava. Eu não consegui entender o motivo desse comportamento.

– Edgar, está acontecendo alguma coisa que não quer me falar.

Ele respirou fundo, continuava angustiado.

– Eu senti medo agora. – Mas angustiado ainda.

– Medo, mas de quê?

– De volta e, de repente, perder tudo o que tivemos aqui nestes últimos dias.

– Edgar, da onde você tirou isso? Não tem porque ter medo, ou mesmo se preocupar com isso.

– Laura, por favor, vamos ficar mais alguns dias, estou te pedido, vamos ficar... É apenas alguns dias a mais.

– Eu já disse que não posso, tenho que voltar, amanhã trabalho cedo. Eu gostaria muito de ficar, infelizmente tenho que voltar. – Fui racional e tentava ponderar com ele, mesmo não entendo o que acontecia ali.

Aparentava está mais angustiado ainda, tenta fazê-lo ficar mais tranquilo, porém sem sucesso.

– Eu não vejo motivos para você ficar assim. Podemos voltar em outro momento, prometo que volto com você. Não há com que se preocupar, estamos juntos agora. - Queria animá-lo.

– Laura, já teve uma sensação ruim?

– Já, no porto quando você embarcou para Portugal, mas não quero falar disso agora... E já estamos cansados de saber no que tudo aquilo resultou.

– Eu tenho uma sensação assim... Tenho medo de voltar e algo mudar entre nós.

Ainda não compreendia, queria tranquilizá-lo, em vão.

– Não tem motivo para isso, está tudo bem entre nós.

– Será Laura?

– Estamos tentando ao menos. – tentava convencê-lo, sem muito êxito.

– Tenho medo e voltar e perder você novamente. – Tristonho.

– Mas eu estou aqui, não há nada que possa mudar isso agora, não tem motivo para ter medo.

– Não consigo ver dessa maneira. – Ainda angustiado.

– Edgar, eu estou aqui, junto com você. Não tem por que ficar assim.

– Não consigo evitar. Fica um pouco mais comigo, por favor. – Ele me abraçou com força.

– Não há motivo para isso Edgar, vamos ser razoáveis, não tem razão para se sentir assim.

Ele ainda estava se sentido angustiado, por mais que fizesse tentar mudar isso, não conseguia. Nunca tinha visto Edgar assim e me preocupava sua aflição. Por outro lado eu tinha que ser mais racional naquele momento e tentar fazê-lo enxergar que sua preocupação não tinha fundamento.

– Edgar, eu prometo que vai ficar tudo bem. Vamos aproveitar o resto de tempo que nos resta aqui e mais tarde pegaremos nosso trem de volta para casa. Tenta tomar uma xícara de café, tenho certeza que lhe fará muito bem.

– Ah Laura, se tudo se resolvesse com uma xícara de café.

– Eu sei que não. Eu quero que fique tranquilo, não pense nisso agora, tenho certeza que tudo isso vai passar e você verá que foi uma bobagem sem importância.

– O quê me preocupa é esta sensação...

– Vai passar Edgar, eu lhe garanto.

– Você mesma disse que teve um pressentimento no porto enquanto eu embarcava para Portugal. Estava errada?

– Não estava... Não posso nortear minha vida por causa de pressentimentos. Preciso ser mais racional neste aspecto. E mesmo que tenha um pressentimento, o quê se pode fazer contra ele? Nem mesmo sabemos do que se trata. A única coisa a fazer e continuar com nossas vidas e caso aconteça alguma coisa, tentar administrar isso da melhor maneira possível Edgar. Sei que algo o está angustiando, tenta esquece isso por hora e vamos aproveitar este momento. É o que eu quero, aproveitar o pouco tempo que nos resta aqui, e com você.

Levantei-me e fui até a janela, a chuva fina continuava a cair. Abri bem as cortinas e para aumentar a luminosidade no quarto.

– Não se pode falar que o dia está bonito, porém estamos juntos e acho isso perfeito, estamos neste quarto lindo que você arrumou para nós. Temos ainda algumas horas antes de voltar para casa. Tenta tirar esta ruguinha da sua testa e vamos aproveita a companhia um do outro. – Eu o abracei e dei-lhe um beijo naquela ruga.

– Eu vou tentar... – Ele me abraçou, com mais vontade ainda. – Laura se você soubesse o medo que tenho de te perder novamente.

– Edgar, eu estou aqui, sempre estarei... – Tentava ainda consolá-lo.

– Promete?

– Prometo... Eu também tenho medo de perder novamente você, só que estamos aqui, juntos e é nisso que temos que confiar. – Desejava tanto que não se sentisse assim, preocupado.

– Queria ter esta certeza. – Ele acariciava meu cabelo.

– Ao menos temos que confiar... Se acontecer algo, vamos enfrentar juntos... Está bem?

– Juntos, sempre juntos. - Sussurrou como tentasse convencer a si mesmo.

– Para sempre juntos... Melhor assim? – Tentava animá-lo.

– Laura eu te amo tanto... – Ele me olhava de um jeito tão meigo, mas com a fisionomia ainda angustiada.

– Eu também te amo muito e nunca duvide disso.

Ele me abraçou com tanto carinho.

– Não imagina o quanto é bom ouvir isso, eu precisava muito ouvir isso. – Ele continuava me abraçando. – Não sabe o quanto me faz bem.

– E você a mim. Tira esta ruguinha de preocupação de sua testa. Vamos mudar de assunto. Sabe que conversei um pouco com a Dona Carmen... Fiquei encantada com ela... – Queria tirar o foco de Edgar daquela conversa.

– Gosto muito dela, sempre foi muito carinhosa comigo e com o Fernando, aliás, com toda a família...

– E ela de você, ela fez tantos elogioso ao senhor... Fiquei impressionada... Se não o conhecesse teria uma imensa vontade de fazê-lo, ela praticamente descreveu você como o homem mais maravilhoso que já passou na face esta terra... – Tentava brincar com ele.

– Exagerada... – Finalmente tirava um sorriso, mesmo que tímido, do Edgar.

– É verdade, eu tenho certeza que voltei até mais apaixonada pelo senhor depois que conversei com Dona Carmen... – Continuei a brincar.

– Então acho melhor conversar mais vezes com ela... Quem sabe assim a senhora não resolve voltar para casa...

– Menos Edgar... Cada coisa ao seu tempo.

– Eu tinha que ao menos tentar... Ninguém pode negar que não sou persistente... E, também, um homem esperançoso.

– Eu que o diga... Afinal de contas estamos aqui... Se não fosse sua persistência...

– Neste caso prefiro dizer se não fosse pelo meu amor... – Estava menos tenso.

– Pensando bem... – Murmurei comigo mesma. - A Dona Carmen me deu até a receita do seu pão favorito.

– Definitivamente, ela não conhece você... – Brincou comigo.

– Edgar, eu sei que nunca fui boa na cozinha... Quem sabe um dia eu tento... – Nem eu mesma confiava no que falava.

– Prefiro deixar a Matilde tentar. Laura, eu te amo muitíssimo, mas temos que reconhecer que é uma excelente professora, porém uma cozinheira com poucos dotes culinários. Eu amo quando cozinha para mim, porém sou suspeito, afinal de contas adoro tudo que faz, mesmo quando não é lá essas coisas... – Brincava comigo. - Não se preocupe Senhora Laura Assunção Vieira, não foi pelos seus dotes culinários que me apaixonei, e sim por sua inteligência, seu senso de humor e porque é a pessoa mais maravilhosa que a vida me deu de presente. – Adorei ouvi isso dele.

– Menos mal, agora sei que nunca irei perdê-lo por causa da minha comida. Ao menos a Baronesa nos fez o favor de nos mandar a Matilde... Lembra-me, um dia de agradecer pessoalmente. – fingi-me de ofendida.

– Não fica assim, meu amor... Se precisar de ajuda na cozinha, sempre estarei por perto... Até para sovar o pão se necessário for... – Sorria para mim.

– Vamos, debocha de mim... Logo eu que te amo tanto... – Brincava com ele.

– E isso é o que mais me encanta...

– Pois saiba o senhor que é um homem de muita sorte por ter uma mulher como eu apaixonado por você.

– Não nego isso, ao contrário, eu me considero um homem de muita sorte por ter alguém como a senhora apaixonada por mim. Uma mulher de sua estirpe, filha de Barões e ainda apaixonada pelo filho de um ex-caixeiro viajante. E ainda por cima, alguém que não se limita a ser uma simples dama de salões, e sim uma pessoa que deseja conquistar, pelo seu próprio mérito, um lugar nesta sociedade machista e patriarcal, abrindo, talvez, precedente até para outras mulheres, no futuro fazer o mesmo... Alguém de sua linhagem, olhar para um simples plebeu, como eu... De fato, posso considera-me um homem de muita sorte. Afinal de contas, a senhora não é uma pessoa qualquer e sim a mulher que amo profundamente e que tive a sorte de ser merecedor de seu amor.

– Nossa. Nunca imaginei ser ter tantos predicados, apenas almejo ter um trabalho para me manter e nada mais que isso... Agora observo que meu amado marido, possui um imenso senso de humor, ou seria sarcasmo? Todavia, certamente, meu querido marido é um homem bastante... Debochado? – Não segurei o riso, mesmo me esforçando muito para isso. Finalmente via Edgar relaxado e isso me deixava bastante aliviada.

– Apenas me esforço... – Ele ainda debochava de mim, só que eu não podia negar... Como adoro ver o seu lindo o seu sorriso para mim.

– Pois seus esforços foram deram resultado... – Aproximei-me dele, beijando o seu pescoço.

– Vejo que a senhora gostou bastante da minha brincadeira... – Retribuía cada um dos meus beijos.

– Nem tanto... Porém... A companhia... É adorável... – Continuava a beijá-lo.

– Não sabe o quanto é bom ouvi isso... – Beijo-me em seguida e senti segurar com força a minha cintura, puxando-me para si.

– Não acredito que nossa Lua de Mel esteja acabando...

– Não me lembre que daqui a pouco temos que embarcar naquele trem. Estes dois dias foram perfeitos... Queria que durasse mais. Tem certeza que não quer ficar um pouco mais?

– Ninguém mais do que eu adoraria ficar... É uma pena... Porém temos que voltar, infelizmente nossas vidas não é aqui.

– Então quero lhe pedi algo... Quando voltarmos, não vai ainda não para a casa da Isabel, fica um pouco mais comigo, dorme na nossa casa...

– Edgar eu...

– Por favor, Laura, fica comigo mais um pouco, dorme lá em casa, prometo que amanhã cedo levo você para o trabalho. – Seu semblante estava tristonho novamente.

Apenas o mirava, sabia que ainda estava angustiado, nem sei bem com o quê. Queria deixá-lo menos ansioso e preocupado.

– Eu fico com você. Também não quero voltar para a Isabel hoje, afinal de contas, ainda estamos em Lua de Mel.

– Passou tão rápido. – Apenas me abraçava.

– Passou sim... Acredito que não será nossa única vez aqui. Gostei muito que me trouxe aqui, de conhecer um pouquinho mais sobre sua infância. De conhecer a D. Carmen e Seu Joaquim. Nem senti falta de passear pela cidade, já que tudo que queria estava exatamente aqui, neste quarto... Apenas senti falta de uma pessoa...

– Melissa?

– Sim, da Melissa? Não sentiu falta dela?

– Claro. Apenas não tinha como trazer uma criança para nossa Lua de Mel. Amanhã mesmo, depois de deixar você, a primeira providência é ir ver minha Abelhinha. Abraçar minha filhinha... Quero levá-la para o Colégio. Tenho certeza que deve ter sentido nossa falta.

– Quem sabe um dia nós três possamos vim até aqui, tenho certeza que Melissa vai adorar.

– Só os três? – Fez uma cara maliciosa

– Por que tem planos para mais alguém? – Estava surpresa com ele.

– Não sei. Talvez um filho nosso... Quero muito ter este filho... Nos devemos isso, Laura...

– Uma nova criança... Nem almejava mais isso... Talvez... Quem sabe... Tenho certeza que tudo acontecerá no tempo certo... Desejo muito também... Vamos deixar a natureza seguir seu curso... O que tive que ser, será. – Fiquei sensibilizada com a ideia de um novo filho.

Arrumar tudo e voltar. Edgar tinha razão passou tão rápido. Deixar para trás este final de semana tão maravilhoso... Embarcamos e fiquei com um aperto no coração de deixar a Serra para trás. Esse final de semana tinha nos aproximado mais e deixar aquela casa... A realidade nos chamava e não tinha como não atender seu chamado. Assim como havia prometido ao meu marido, ainda em Petrópolis, passei a noite com ele, e queria ficar um pouco mais, abraçada, sentindo-me amada e amando cada vez mais.

– Almoça comigo, na Colonial? – Mal tinha estacionado o carro na frente da casa de Isabel.

– Ainda nem nos despedimos e já quer me ver novamente... – Brinquei com ele.

– É que já sinto saudades de você.

– Passamos mais de três dias juntos, sem nos descolamos um do outro e mesmo assim ainda quer me ver?

– Por acaso já cansou de minha companhia? – Praticamente me desafiava.

– Nunca me canso de sua companhia... Isto é impossível para mim.

– Então, Senhora Vieira, aceita ou não almoçar comigo na Colonial.

– Tenho outra opção? – Quase rendida.

– Pego a senhora às treze horas. – Decretou praticamente.

– Definitivamente não tenho opção... – O beijei suavemente.

– Até daqui a pouco...

– Até...

– Laura... Te amo...

– Eu também te amo muito. - Acenou-me e partiu.

Já estava no trabalho, a manhã correu normalmente, o Senador Laranjeiras não apareceu e pude adiantar o trabalho. Estava tão ocupada que as horas passaram rapidamente, quando dei por mim faltava pouco para Edgar vim me buscar. Terminei de datilografar um documento e fui ao encontro de meu namorado que já me esperava perto da fábrica.

– Então, como foi a sua manhã? Viu Melissa?

– Ela está bem, cheguei a tempo de levá-la para o Colégio... Sobre a minha manhã eu estava com saudades suas... O tempo demorou muito para passar... Já não aguentava de tanta saudade.

– Mais que homem mais ansioso eu fui arranjar...

– Saudoso, pode até ser... – Fazia-se de desentendido.

– Então vamos, não quero desanimá-lo, eu tenho que voltar daqui a pouco...

– Então é melhor irmos logo...

Edgar já tinha reservado uma mesa para nós, tudo, como sempre estava feito com bastante esmero. Conversamos animadamente até ouvir uma voz feminina chamar pelo Edgar e ao virar vi uma bela jovem, elegantemente vestida, de voz e gestos suaves, não a conhecia pessoalmente, mas em minha mente veio o único nome: Heloísa. O nome, finalmente, havia tomado forma.

Edgar levantou-se e virou para a jovem.

– Heloísa, há quanto tempo? Pensei que estivesse viajando ainda.

– Voltei a pouco de São Paulo. Desculpe atrapalhar seu almoço... Suponho que seja Laura, como vai, prazer em conhecê-la.

– Laura, esta é Heloísa, uma amiga de minha mãe e minha também.

– Prazer em conhecê-la Heloísa. – Observava a suavidade de seus gestos e da voz. Ela me estendeu a mão.

Retribui o gesto... Como era bonita, tinha uma beleza clássica. Edgar parecia ser tão íntimo dela.

– Então é Laura, reconheço que já a conheço bastante de nome.

– Lamentavelmente ainda não a conheço, vejo que está em vantagem em relação a mim.

– Edgar e Dona Margarida me falaram de você... Com certeza não quiseram ser indiscretos, não posso negar que tinha curiosidade em conhecê-la pessoalmente, não imaginei que fosse ser tão rápido... Vejo Edgar que finalmente conseguiu o que tanto desejava...

Heloísa o olhava de uma maneira que me incomodou bastante, ia além da admiração. Sem contar que parecia ter intimidade com Edgar, ao ponto dele ter contado sobre nossa vida a ela.

– Desculpe-me, mas o quê tanto meu marido desejava? – Sentia-me incomodada com a presença da jovem ali.

Edgar não deixou que ela me respondesse...

– Heloísa, não deseja almoçar conosco?

– Seria um imenso prazer, infelizmente já possuo outro compromisso, vim me encontrar com meu advogado, que já está em uma mesa ali adiante... Laura, mais uma vez foi um imenso prazer conhecê-la pessoalmente... Edgar, como sempre foi ótimo revê-lo... – Mais uma vez aquele olhar.

– Tem certeza que não quer se juntar a nós? – Edgar a convidou, e não vou negar que isso me incomodou.

Conversavam como se fossem amigos íntimos. Era nítido que um se sentia a vontade na presença do outro.

– Absoluta... Quem sabe em outra ocasião... Foi um imenso prazer. Com licença. Até outro dia... Laura foi um imenso prazer conhecê-la... Vemos-nos em outra hora. – E assim como entrou, Heloísa saiu. Isabel já havia me falado dela, na realidade mal me lembrava disso, e vê-la ali, o nome ganhou um corpo e era uma mulher muito bonita, com todo gestual delicado, a voz baixa e suave, quase sussurrando... E que olhava para Edgar com mais admiração que o necessário. Não gostei disso.

Edgar, ainda permaneceu em pé observando a saída da moça que subiu as escadas da Colonial e se encontrou com um senhor de idade no mezanino.

– Muito bonita a sua amiga, elegante, delicada... – Comentei.

– Nem chega aos seus pés... – Parecia adivinha que havia ficado incomodada com a presença da tal moça.

– Vejo que são bons amigos. – Isso realmente me incomoda, tentava não transparecer.

– Somos amigos sim. Porém ela é mais amiga de minha mãe. – Edgar percebeu que havia algo de errado comigo. – Laura, algum problema?

– Nenhum, estou bem. Edgar, eu tenho que voltar para a fábrica, ainda tenho muito serviço que fazer.

– Não seria melhor terminarmos de almoçar... Vamos ter um almoço agradável, por favor. – Ele havia percebido e estava mais carinho ainda comigo.

– Claro. Tem razão. – Queria não demonstrar, mas eu estava enciumada.

Terminamos de almoçar, porém, não era mais a mesma coisa, Edgar era todo atencioso comigo, e eu apenas pensava na Heloísa. Ela parecia tão à vontade na presença dele. No carro, de volta a fábrica, fiquei quieta, não foi intencional, e mais uma vez Edgar percebia meu incomodo.

– Laura, eu conheço você, desde que viu a Heloísa, você mudou. – Ele foi bastante direto.

– Impressão sua. – Tinha razão.

– Laura, eu imagino o que esteja acontecendo, mas não há motivo para ficar incomodada.

– Não há nada Edgar. Eu tenho que ir. Como disse tenho muito trabalho.

– Então, ao menos nos vemos mais tarde? – Ele também havia mudado, agora estava angustiado e eu tinha causado isso nele.

– Hoje não. Eu não vejo a Isabel desde sexta e estou com saudades dela, gostaria de conversar um pouco com a minha amiga... Nos vemos, talvez, amanhã. – Sem querer eu o estava punindo.

– Eu fiz alguma coisa errada, Laura? – Era nítido para ele que a presença de Heloísa havia mexido comigo.

– Não. Nada. – Tentava não demonstrar, inutilmente.

– Então por que só amanhã? – Ele queria entender o quê nem mesmo eu conseguia naquele momento.

– Edgar, eu realmente preciso ir... – Apenas queria sair dali.

– Está bem... Também tenho que colocar em dias a leitura de alguns processos. Até amanhã. Só não se esqueça de uma coisa... – Eu o tinha deixado chateado com aquela situação, e nem mesmo merecia isso, porém eu não conseguia evitar.

– O quê?

– Eu amo você, e apenas a você... Não se esqueça disso... Vejo você amanhã então. – Sem querer eu o havia magoado. Ele apenas partiu.

Fiquei ali.

– Também te amo. – Disse sussurrando, a mim mesma e vendo o carro se distanciar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tomara que tenham gostado... Principalmente da surpresa que coloquei para a Laura... Por favor, me digam o que acharam... a opinião de vocês é importante para mim... Obrigada por acompanhar esta fanfic e até o próximo capítulo... Bjs