Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 29
Um mau caráter


Notas iniciais do capítulo

Oi Meninas, tudo bem? Mais um capítulo, espero que gostem... No capítulo passado Edgar teve um pressentimento... E tinha razão em querer ficar um pouco mais longe...



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Um mau caráter (capítulo 29)

Naquela noite não fui para casa de Edgar. Fiquei pensando na tal de Heloísa, não parecia uma pessoa como a mãe da Melissa, porém a maneira como olhou para o Edgar é mais que para um simples amigo. Não sei se ele tinha notado em mesmo perguntaria por isso. Apenas queria ficar um pouco sozinha, para digerir o almoço que ainda tinha ficado engasgado da minha garganta. Sem querer havia o deixado chateado. Ela em nenhum momento se insinuou para ele, mesmo assim em seu olhar havia aquele brilho ao observá-lo.

Naquela manhã, para minha surpresa Edgar apareceu e com um lindo arranjo de alecrim. Quando vi as flores eu apenas o abracei, nem me tinha dado conta o quanto senti falta dele naquela noite, depois do nosso final de semana. Não queria pensar na Heloísa e era no Edgar em quem tinha que pensar.

– Não deveria ter fica longe de você. – Sei que fui eu que pedi para ficar sozinha e mesmo assim senti tanta falta dele.

– Você ficou tão estranha depois do nosso almoço, e sei que foi depois que a Heloísa apareceu. – Compreensível comigo.

– Edgar, não vamos falar disso agora... Senti tanto a sua falta... – Eu o abraçava mais uma vez. – Não quero falar dela...

– Laura eu quero muito que entenda uma coisa... A Heloísa é uma amiga e apenas isso, não tem o porquê de ficar do jeito que ficou ontem. Somos bons amigos. E você é a mulher que amo, é a única e nada e nem ninguém pode mudar isso e nem quero que seja diferente... Vi como ficou ontem e fiquei chateado porque não fiz nada e mesmo assim você me puniu... Não gosto de ficar longe de você, já fiquei tempo demais. Eu não quero brigar com você, já brigamos demais e não existe motivo nenhum para se senti enciumada. Meus olhos são para você e nunca se esqueça disso. – Abraçados ainda.

– Eu vi a maneira como ela olhou para você e não foi o olhar de uma amiga para um amigo, o brilho era de alguém apaixonada, eu conheço esse olhar e quando o vi lançar a para você, eu fiquei sim, muito chateada.

– Pelo que eu saiba que, a Heloísa ainda é muito apaixonada pelo seu marido já falecido e não por mim.

– Não foi o que pareceu para mim.

– Se isso for verdade, eu nada posso fazer... E lamento muito por ela porque seu coração já tem dona e esta pessoa é você. – Beijou a minha testa.

– Eu fiquei tão enciumada...

– Percebi, mas não há motivo para isso. É você quem eu quero e sempre vou querer, a Heloísa sabe disso perfeitamente e nunca escondi isso dela ou de quem quer que fosse. Eu te amo senhora Laura Vieira e nunca duvide disso... Eu não vou admitir que se esqueça disso, lembre-se da nossa Lua de Mel, era com você que eu estava e com ninguém mais... Meus pensamentos são para você, minha vida é sua. Não quero que volte a pensar nela e nem tem motivo para isso. Sempre deixei claro que é você quem eu amo e nada pode mudar isso nem mesmo eu. Confie um pouco mais em mim...

– Eu confio, desculpa-me fui tão tola, é em você em quem devo confiar. Fiquei insegura, ela é tão bonita... Delicada... Uma mulher que qualquer homem se encantaria.

– Só que ela não é você Laura... – Estava mais tranquilo ainda.

Ele me abraçou e beijo-me, era como se quisesse deixar claro que era a mim quem ele amava. Receber aquele beijo... Como pude ser tão tola...

– Desculpa-me... – Eu o abraçava com mais vontade ainda.

– Com uma condição. – Ele acariciava meu rosto.

– Qual?

– Eu não admito que me deixe dormir sozinho na nossa cama novamente. Foi horrível me ver sozinho naquele quarto sem você. Principalmente depois do nosso final de semana. Não vou perdoá-la tão facilmente da próxima vez, principalmente por um motivo tão tolo como este. – Fingia está bravo comigo.

– Prometo tentar ser uma mocinha mais obediente... – Ironizei.

– Não é necessário ficar tão obediente, apenas prometa confiar mais em mim e não me deixar sozinho por tanto tempo. Não consigo me acostumar a dormir sem você novamente...

– Sério? – Divertia-me com seu falso ar sério.

– Seriíssimo. Não ouse me deixar sozinho naquela cama novamente... Eu venho aqui e a busco contra sua vontade... – Brincou comigo...

– Como posso desacatar ao senhor meu marido... – Eu o beijei novamente.

– Promete que nunca vai esquecer isso...

– Prometo... – Beijei-o novamente...

– Laura, eu te adoro sabia.

– Sabia... Sempre soube que tem bom gosto... – Continuei a brincar com ele.

– Falo sério Laura... – Fez uma cara séria.

– Edgar, eu te adoro... Te amo muito... Te quero tanto... Tem razão, não vamos deixar que Heloísa e companhia nos atrapalhem.

– Vamos viver nossas vidas.

– Concordo com você...

– Concorda comigo? Eu adoro quando concorda comigo... – Ele abriu um sorriso tão largo...

– Eu não disse para nunca perder a esperança... – Eu o beijei novamente com tanta vontade. – Eu tenho que ir trabalhar.

– Eu levo você, meu amor.

– Não é necessário, eu pego o bonde...

– E ficar mais tempo longe de você? Nem pensar, eu te levo e ficamos mais tempo junto. Já basta termos ficados separados noite passada...

– Então é melhor irmos logo, estou em cima da hora...

– É uma pena que tenha que trabalhar, seria tão bom passar o dia com você.

– Edgar, eu gosto de trabalhar, eu me sinto útil... Não vamos falar disso agora... Vamos?

– Como desejar... Não falo mais sobre isso.

Partimos em direção a fabrica, a atmosfera entre nós dois havia melhorado bastante, não queria pensar na viúva. Edgar estava ali, comigo e isso era o que importava. Ele me deixou perto do meu trabalho. Desta vez nossa despedida foi diferente a do dia anterior. Ele olhou para os lados e não viu ninguém nos observando e me beijou delicadamente.

– Nos vemos mais tarde... – Acariciava meu queixo

– Como posso dizer não?

– Então até mais tarde... Só não se esqueça de uma coisa.

– O quê?

– Você é a única... – lançou-me novamente aquele lindo sorriso dele.

Precisava ouvir isso. Eu o beijei mais uma vez e depois o deixei ir... – Finalmente tudo tinha voltado ao lugar.

Edgar... Sempre Edgar, nosso namoro estava indo bem, como havia prometido a ele sempre passava as noites em nossa casa. O episódio da Heloísa estava devidamente esquecido, ao menos por enquanto e ainda bem que ele também não tocava no nome dela. Nem mesmo o fato de ainda não ter voltado para casa era comentado, ele evitava o assunto, apesar de saber sua opinião sobre isso. Era como se nossa Lua de Mel tivesse se estendido, e mesmo com os nossos compromissos do dia a dia, conseguíamos administrar nosso tempo e não havia um dia que deixássemos de nos ver. Com Edgar havia encontrado a paz e não queria abrir mão disso.

Sempre que podíamos, sempre estávamos com Melissa e parecíamos a família que tanto almejávamos e isso aumentava ainda mais nossa união. Sei que ainda não era o ideal, porém era o que tínhamos até então e isso já me trazia alguma tranquilidade. Quando Melissa dormia na casa do pai, eu conseguia convencer Edgar que não seria bom a menina nos ver dormindo no mesmo quarto e ele aceitava isso contrariado, mas eu o convencia que tudo deveria ir com muita calma, afinal de contas Melissa era apenas uma menina e ainda não compreendia certas coisas, tudo deveria acontecer no tempo certo. Eu acabava indo para a casa de Isabel e assim poderia desfrutar de sua companhia. Conversar com minha amiga... Já sentia falta disso.

As semanas foram passando, o trabalho com o senador Laranjeiras, a princípio parecia tranquilo, mas depois, senti que ele começou a agir comigo de uma maneira diferente, parecia mais cortês que de costume, outro dia até flores ganhei sem um motivo aparente. Sempre desejava que eu ficasse até mais tarde, eu sempre conseguia dá um desculpa qualquer e saía no meu horário normal. Confesso que preferiria dá aulas, se fosse considerar minhas únicas opções era trabalhar ali, ou trabalhar para o Edgar... Achei melhor ignorar e continuar trabalhando normalmente, também, como não havia nada de tão concreto e para não preocupar o Edgar não comentei nada com ele, não sabia qual seria sua reação, ele poderia ficar zangado. Sem contar que provavelmente voltaria a falar que eu deveria trabalhar com ele... A única coisa que poderia fazer era tentar administrar da melhora maneira a situação. A vontade de sair do escritório do senador aumentava a cada dia. Se surgisse um novo trabalho, certamente sairia de lá, era o melhor a fazer.

Porém, durante um café da manhã tive uma notícia boa, sobre algo que tinha conversando muito tempo com Isabel. Confesso que minha amiga nunca mais tocara no assunto, para minha grata surpresa, Isabel me levou até o morro da Providência e me mostrou uma casa de alvenaria e um pouco maior que as outras ali.

– Laura o quê acha da casa? – Isabel estava tão entusiasmada, parecia uma criança que acabou de ganhar uma boneca de presente.

– Boa. Pensa em se mudar?

– Não, tenho outros planos para está casa. Mas, me diga o quê achou da casa?

– Um pouco antiga, uma boa reforma a deixaria aconchegante. Tem planos de comprá-la?

– Na realidade eu já comprei. – Isabel falou toda orgulhosa de seu feito.

– Fico feliz por você Isabel, o que pretende fazer com esta casa já que não pretende sair da sua? – Nem tinha ideia do que Isabel pretendia fazer.

– Tenta adivinhar? – Parecia uma menina, de tão contente.

– Não sei? Pretende abrir um novo teatro no morro?

– Não. – Isabel fazia mistério e ria de mim.

– Alugar? – Isabel já estava me deixando muito curiosa.

– Também não.

– Não sei, desisto.

– A senhora já foi mais insistente no passado. Por acaso perdeu a mão? – Brincava comigo.

– Isabel, minha querida brésilienne, conta logo, quais seus planos para a casa. – Estava curiosíssima.

– Melhor entrarmos, eu quero que veja por dentro e me dê algumas sugestões. – Isabel parecia se divertir com minha curiosidade.

A sala era ampla e tinha mais três outros cômodos grandes, tinha uma cozinha razoável com um fogão de lenha ao fundo, o quintal era espaçoso e havia algumas bananeiras e mangueiras plantadas no fundo do quintal. Era um lugar que precisava de reforma.

– Isabel, a casa é boa, precisa de uma pequena reforma, uma pintura nova e ficará nova. Afinal de contas, o que a senhorita Nascimento pretende fazer aqui? – Minha curiosidade apenas aumentava ainda mais e Isabel insistia em continuar com o mistério.

– Não consegue nem imaginar? – Isabel mais enigmática do que nunca.

– Desisto. Fala logo. – Já começava a me coçar de tanta curiosidade.

– Laura, você se lembra de uma conversa que tivemos assim que voltamos para a cidade, um antigo sonho?

Quando Isabel falou do antigo sonho, meu coração disparou, não podia ser. Eu não acreditava que minha querida amiga tinha conseguido realizar meu velho sonho...

– Laura, você sempre sonhou em ter uma escola, eu sempre sonhei em ajudar meu povo e a melhor maneira de realizar isso é montando uma escola, aqui no morro. – Isabel abriu um sorriso largo de felicidade e comigo não foi diferente, era a realização de um grande sonho e finalmente estava prestes a acontecer.

Não me contive e abracei tanto a Isabel e ela ficou tão emocionada em me ver feliz ali. Era realmente a realização de um antigo sonho, finalmente, poderia voltar a dar aulas, exercer minha verdadeira vocação.

– Mas você nunca mais falou no assunto, pensei que tinha desistido. – Quase briguei com ela.

– E quem disse que desisti, apenas vi se era possível ou não realizar este sonho, primeiro tinha que investir minhas economias em um ganha-pão, por isso o teatro, depois conversando com a tia Jurema, com meu pai, com alguns morados e vi a necessidade de criar uma escola, como disse Laura, está é a nossa escola... Ainda não tem jeito de uma, e como você mesma disse, uma boa reforma e tudo se ajeita... Temos agora a nossa escola, e você é parte disso. Eu sugiro que convide a Sandra, quem sabe ela não aceita a dá aulas aqui no morro. – Éramos duas crianças que pareciam ter ganhado o melhor dos presentes.

– Isabel, você não imagina o quanto me deixa feliz... Uma escola nossa e aqui, será ótimo. Minha amiga, Deus foi muito generoso comigo quando me enviou você, foi um presente que nunca terei condições de agradecer. – A Abracei mais uma vez.

– Trabalhe bastante e com muito amor, as crianças aqui do morro merecem uma boa educação. Sabe Laura, esta é a chance de muitas crianças não ficaram limitadas na vida, se não fosse por esta escola, certamente, o futuro delas não mudaria muito em relação ao dos pais. Elas merecem um futuro diferente, aprender a ler e escrever, a serem cidadãos. E a melhor maneira da ajudar meu povo é com esta escola e você vai me ajudar nisso. – Estava eufórica.

– Agora tenho a desculpa perfeita para sair do escritório do Senador Laranjeira, voltar a lecionar é tudo que mais quero no momento. Amanhã mesmo peço demissão. Temos tanto o quê fazer... Nossa escola, Isabel... É um sonho maravilhoso... Isabel, por favor, me faça um imenso favor? – Eu ainda me sentia como uma criança diante do mais belo presente.

– Qual?

– Se for um sonho... Não me deixe acordar. – Eu estava mais radiante ainda e muito emocionada com tudo isso.

– Laura, não é um sonho, é muito melhor, é a realidade. – Isabel tão radiante quanto eu.

Depois que as duas saíram da futura escola foram até a casa de tia Jurema, onde foram recepcionadas com cocada branca, bolo de milho e um café passado na hora pela querida anfitriã. As três fizeram vários planos e como organizariam para pedir ajuda aos moradores para reformar a escola.

Como o projeto da escola estava engatinhado, achei melhor sair do meu emprego, não me sentia confortável lá e cada vez mais o Senador Laranjeira se tornava mais inconveniente. Ao pouco começou a se insinuar para mim. No princípio, tentei ignorar, mas com o tempo seu assédio se tornou mais evasivo e isso me assustava. Ele ainda não havia tentado nada de concreto e minha esperança fosse que nada do tipo acontecesse. Para minha sorte, Isabel, finalmente, resolveu abrir a escola no Morro da Providência e me convidou para fazer parte do projeto. A decisão de sair do escritório era a mais e acertada não dava para confiar no Senador. Outro dia me trouxe um buquê de flores, em outro me convidou para jantarmos juntos em um hotel discreto, é claro que declinei do convite, mas a conta d’água foi me trazer uma pequena joia, era claro que suas intenções não era a das melhores e provavelmente me contratou, pois queria algo mais que uma simples secretária poderia oferecer no seu ambiente de trabalho. Com certeza o fato de ser divorciada ajudava a alimentar a imaginação dele. Ficar estava cada vez mais insustentável ficar ali. Ao chegar ao escritório, estranhei o fato de dispensar seu secretário pessoal e querer falar a sós comigo. Percebi que fechou a porta com chave e pedi para ele abrir a porta para podermos conversar, porém ele não acatou meu pedido e veio para cima de mim, tentou me agarrar de todas as formas. Seu cheiro era horroroso e ele agarrou meus braços e de todas as maneiras tentava me afastar dele, porém, apesar de ser um senhor de idade, ainda era mais forte do que eu, senti que tentava me empurrar para cima da mesa e eu tentava me desvencilhar dele, eu gritava e ninguém vinha ao meu socorro e cada vez ficava mais desesperada. Ele começou a rasgar minhas roupas e eu lutava contra isso. De repente ouvi o barulho da porta se abrindo, não vi quem era, apenas vi que o senador caiu em cima de mim, desmaiado... Isabel e tia Celinha vieram ao meu encontro e me salvou daquele maldito homem horrendo. Isabel me agarrou e me tirou dali, nunca me senti tão humilhada. Não conseguia segurar o choro e tia Celinha me disse para chorar, assim minha alma ficaria mais leve... A realidade é que me senti suja por aquele verme ter tentando me tocar, se não fosse por Isabel, nem sei até onde ele teria ido...

Ao chegar em casa, ainda me sentia muito humilhada, e como não sentir, nunca imaginei, em toda a minha vida, ser tão desrespeitada. Queria chorar cada vez mais. Tia Celinha e Isabel tentavam me consolar, era inútil, me sentia péssima, não tinha feito nada para merecer isso. Apenas queria trabalhar e um nojento se aproveitou para tentar me atacar... Que homenzinho vil era o tal senador... Isabel preparou um chá de camomila para acalmar meus nervos, tomei, nunca o chá teve um sabor tão amargo. Sentia-me tão imunda, queria tirar o cheio dele de cima de mim. Fui para o banho e vi as marcas que tinha deixado em meus braços, chorei mais ainda, fiquei um bom tempo naquela banheira, tentava tirar o asco que sentia, esfreguei meu corpo tentando tirar o aroma ruim que parecia pestear a sala de banho. Depois me deitei, não conseguia parar de chorar, pouco depois Isabel e tia Celinha vieram me consolar, e eu não conseguia fazer nada além de chorar muito. Minhas queridas amigas choraram comigo, abraçaram-me, consolaram-me, porém nada tirava de mim aquela sensação de podridão que aquele homem havia deixado em mim... Nem me dei conta, mas adormeci...

Acordei ao sentir um abraço... Um aroma agradável... Não precisei abri os olhos para saber que Edgar estava ali, comigo e me abraçou e eu segurei seu braço, precisava tanto daquele abraço... Ele não disse nada, apenas ficou ali comigo... Aquela sensação ruim não havia passado... Porém aquele abraço... Senti-me acalantada, segura... Ele não me trouxe a paz que precisava, todavia me senti protegida.

Quando acordei, Edgar não estava mais comigo, ouvi uma conversa e fui até a sala, vi Isabel, tia Celinha, Guerra, Sandra e Edgar conversando sobre o que havia acontecido comigo. Guerra explicava que teria um imenso prazer em denunciar o meu agressor, mas que infelizmente que uma matéria deste tipo traria mais conseqüência a mim que a o senador. Fiquei indignada, todos estávamos. Porém, infelizmente a realidade era outra, vivíamos em uma sociedade machista e patriarcal e tal exposição acabaria de vez com minha reputação. Guerra também explicou aquele escândalo seria visto como uma amante ensandecida que não aceitou o término do caso. Neste momento olhei para o Edgar... E ele me retribuiu o olhar, veio em minha direção e me abraçou. Era tão injusto... O senador Laranjeira não seria punido, continuaria com sua imagem intacta... Enquanto eu, seria taxada como relês concubina... Isabel ficou muito mais indignada com as palavras de Guerra... Tia Celinha e Sandra me apoiavam também. Como filha de delegado, Sandra até propôs falar com seu pai, mais uma vez Guerra disse que de nada adiantaria. Laranjeira ainda poderia dá queixa na polícia por agressão. O golpe mais duro foi ouvir do melhor amigo de Edgar que a palavra de um senador da República, infelizmente, teria mais valor que a minha, principalmente quando souberem que sou divorciada. A dor física passaria, porém a moral ficaria por muito tempo ainda.

Isabel perguntou a Edgar se não poderia mover uma ação, mais uma negativa e ainda confirmou o que Guerra havia dito. Lamentou muito e que infelizmente não havia como atacar o senador. E isso tudo o deixava mais indignado. Nossa revolta aumentou ainda mais, porém de nada valia nossa indignação. Estávamos com as mãos e os pés atados. Senti-me mais humilhada ainda, nada, absolutamente, nada podia fazer. Mais uma injustiça sem punição. Estava tão esgotada com tudo aquilo que voltei para o meu quarto e Edgar me acompanhou, ficou ali comigo, eu não queria falar, chorei e ele me abraçou, respeitando meu silêncio. Adormeci pouco depois, meu sono foi tão irregular, dormi e acordei durante a noite, várias vezes. Acordava assustada, mas Edgar estava ali, me abraçava novamente até eu pegar no sono mais uma vez.

Quando acordei, um novo dia já havia começado há muito e deixava o dia de ontem que queria tanto esquecer para trás. Isabel levou meu café da manhã para tomar na cama e junto com ele havia um belo arranjo de alecrim, ela o colocou na cabeceira da minha cama e pude sentir o aroma da minha florzinha favorita, já aliviava um pouco a minha alma, mesmo que ainda houvesse tantas feridas aqui dentro. Sabia que Edgar as havia enviado para mim... Perguntei por ele e Isabel me disse que precisou sair, mas não demoraria a voltar, queria ficar comigo e pediu para minha amiga cuidar de mim. Ele não comentou o iria fazer... Pelo olhar de Isabel tive a sensação que sabia, porém ela guardou para si, apenas me fez companhia enquanto ele não voltava.

Edgar voltou e continuou a me fazer companhia, perguntei a ele onde havia ido, ele preferiu não me contar, parecia tenso, mesmo assim se deitou ao meu lado e ficamos os dois ali, quietos, eu protegida em seus braços e ele acalentando meu espírito, como me fazia bem ficar... Precisava tanto dele ali e como sempre ao meu lado... Havia momentos em que tinha vontade de chorar, abraçava com mais força ainda Edgar.

– Não chora não. Aquele patife não merece suas lágrimas. – Enxugou as lágrimas de meu rosto.

– Eu sei que não merece... Não quero pensar nele...

– Então não pense... Ele não merece seus pensamentos... – Carinhoso comigo.

– Eu quero esquecer... – Agarrava-me ainda mais ao Edgar.

– E vai... Pense na gente, estamos aqui, juntos... – Abraçou-me.

– Estamos sim... É isso que me consola...

– Tenta dormir um pouco mais... Descansar...

– Tenho medo de sonhar com ele...

– Então sonha com a gente...

– Quero tanto sonhar com a gente...

– Então pense em nós dois... Assim, sonhara conosco...

– Queria que fosse tão fácil...

– Eu também gostaria... Fique aqui, abraçadinha comigo... Tenta relaxar um pouco... Não vou sair daqui... – Ele me abraçou com tanta ternura... Eu me sentia protegida...

– Promete que nunca vai sair daqui?

– Para onde eu iria? Meu destino é sempre ficar aqui, ao seu lado... – Ele beijou minha testa.

– Não sabe como é bom ouvi isso.

– Agora quero que a senhora tente descansar um pouco... Quero que pense naquele caminho de Alecrim que tanto me fala, sinta o cheiro dele... Como você mesma disse uma vez para mim... Tinha o aroma da saudade... Se o amor tivesse um cheiro seria o do alecrim...

– O amor teria cheiro de alecrim? – Nem percebi, mas sorri depois de tudo aquilo.

– Um sorriso, finalmente a fiz ri um pouco...

– Não brinque Edgar...

– Não estou brincando... Pense no caminho de alecrim...

– O aroma da saudade...

– Já disse a você, o cheiro do amor... – Brinca comigo mais uma vez.

– Nunca imaginei que o amor pudesse ter um aroma...

– É para isso que existe a imaginação...

– Assim você me faz senti a Melissa... Daqui a pouco vai querer me contar uma história como faz com sua filha... – Tentava brincar um pouco com ele, assim, quem sabe, conseguisse esquecer todo aquele sentimento ruim.

– A ideia não é de toda má, poderia conta uma estória para você... – Ele riu de si mesmo. - Há momentos na vida que precisamos nos sentir um pouco crianças... Talvez este seja seu momento...

– Será?

– Acredito que sim... Como te disse, tenta descansar um pouco... Sinta o aroma de alecrim, lembre-se da nossa Lua de Mel... Pense em nós, juntos... – Sua voz era tão suave.

– Vou tentar...

– Sabe Laura, desde que você voltou e me contou da sua vida no interior, sempre tive vontade de ir até lá com você e conhecer o lugar onde ficou... Sua casa... Dona Eulália... E principalmente o caminho de alecrim... Conhecer um pouco da sua vida longe de mim... O Caminho com aroma de saudade... Se não fosse ele, você teria se esquecido de mim... Houve um tempo que nem aguentava sentir o cheiro... Queria que houvesse uma lei que proibisse o alecrim...

– Mas o alecrim é revolucionário, não se submeteria as leis, sempre nasceria por aí... Independente de nossas vontades... É forte... Como uma plantinha tão singela e miúda, pode ser ao mesmo tempo tão forte...

– Assim como você...

– Não me sinto forte... – Lembrei-me do dia anterior.

– Você é! Forte e singela...

– Queria ter esta certeza...

– Laura, você é tão forte... Muito mais do que eu... E mesmo assim é tão doce... Tão singela... Como o alecrim...

– Ah Edgar, você sabe consolar como ninguém...

– Mas é verdade... Você é como o alecrim... Revolucionária... Forte... Singela... E doce...

– Que bom que te encontrei... Ou melhor, te reencontrei...

– E pensar que nem queríamos nos casar...

– Ainda bem que nos desencontramos naquele dia que voltou de viagem... Pois, não estaríamos aqui, agora...

– Teríamos feito uma grande estupidez... – Sorriu para mim.

– Éramos tolos...

– Não... Só havíamos nos perdido... Ainda bem que nos achamos... Que nos descobrimos...

– Ainda bem... Não consigo me lembrar de mim sem amar você...

– Eu também não... É nem quero lembrar-me de mim sem amar você...

– Mesmo depois do divórcio...

– Mesmo depois de tudo... Não consigo me imaginar sem amar você, pode passar o tempo que for... Nesta ou em qualquer outra vida... Eu sempre vou querer amar a você...

– Você é um romântico... – Debochei.

– Você faz isso comigo... Nunca me imaginei como um romântico...

– Eu me sinto assim também quando se trata de você...

– Então somos dois românticos... Ainda bem... Mas agora quero que a senhora Vieira descanse um pouco... Tente dormir e sonhar com o caminho de alecrim. – Sorriu para mim tão afetuosamente...

– Vou tentar... Sonhar com o caminho de alecrim... Com você... Com a gente... – Brinquei.

– Já é um excelente começo... Se quiser posso fazer um pouco de chá para você?

– Não, já tomei bastante chá... Eu quero a sua companhia, não quero que saia... Você me acalma...

– Então, agora feche seus lindos olhos...

Eu fechei meus olhos. E fiz como Edgar me sugeriu... Pensei no caminho de alecrim, no seu aroma... Cheiro de saudade... De amor... O sono não demorou a chegar e sonhei... Eu e Edgar, andando pelo caminho de alecrim... Finalmente senti-me em paz...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... Laura ficou muito fragilizada com o que aconteceu... Edgar a consolou... Meninas um feliz Natal e não deixe de comentar... A opinião de vocês é muito importante para mim... Bjs e mais uma vez Um Feliz Natal...