Elouise escrita por Twelve


Capítulo 3
Capítulo 3




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Entrei na sala cabisbaixa pra evitar olhares julgando-me e antes que sentasse na carteira, me deparei com aquele semblante asiático e fofo. Era ela! Elouise! E sentada na minha carteira! Meus problemas sumiram rapidamente. E não consegui evitar dar um pequeno sorriso pra ela.

–Oi! -Foi apenas o que eu consegui dizer.

–Oi! -Respondeu ela tímida e indiferente.

–Então... Acho que tu sentou na minha carteira...

–E por acaso tem teu nome escrito nela? -Indagou ela convicta de que meu nome não estava lá.

–Na verdade tem sim. -e apontei pro meu nome que eu havia escrito na carteira de canetinha vermelha alguns dias atrás. Sorri. -Tudo bem! Eu costumava sentar aí, mas posso sentar aqui na frente sem problema nenhum.

Ela sorriu abaixando a cabeça e em seguida, disse:

–Então... teu nome é Júlia?

–SIM! SIM! JÚLIA BENEVIDES! MUITO PRAZER! HEHE...e o teu? - Meu coração estava prestes a saltar pela boca.

–Elouise Jiang...

Apertei-lhe a mão tão delicada que tive até medo de quebrar, mas eu precisava senti-la pra ter a certeza de que era real e confesso que ao toca-la senti algo indescritível.

A professora de português, a senhora Júlia, minha xará, entrou na sala e eu, infelizmente, tive que me virar para lousa. Passei a aula toda pensando em Elouise, que tava bem atrás de mim, e com ímpetos de virar-me e perguntar-lhe algo, mas não me veio a coragem.

Na hora do intervalo, ela passou por mim sem falar nada. Entristeci. Por que não falara comigo? Será que eu disse algo de errado? Será que ela não gostou de mim? Minhas dúvidas estavam me enlouquecendo. Foi então que eu saí da sala pra procura-la discretamente e de longe, pude vê-la junto com os populares. Eles conversavam euforicamente com ela, e tocavam seus ombros e cabelos. Não pude evitar um sentimento desconhecido pra mim até então, o maldito ciúmes. Só de ver aqueles fanfarrões se aproveitarem da beleza de Elouise, me deixava enfurecida. Certamente, fariam de tudo pra rouba-la de mim e fazer dela uma garota popular e metida.

Após o intervalo ela voltou pra sala de aula. Estava animada e mais radiante. Tive ímpetos de perguntar o motivo de tanta animação, mas ao invés disso, apenas sorri pra ela. Ela sorriu de volta e isso me deu um pouco de esperanças. Talvez ela tenha me achado legal, ou coisa e tal.

Eu nunca fui boa em fazer amizades. Sempre fui meio sozinha, embora tenha um grupo na escola. Mas é como se faltasse algo ou alguém em minha vida e de alguma forma eu encontrei esse alguém que faltava em Elouise.

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Voltei pra casa pensando em uma maneira de conhece-la melhor, foi então que eu lembrei do Senhor Paulo, tão simpático e amigável, é pena que a filha não herdou essas admiráveis qualidades. Entretanto, eu não estava nem um pouco a fim de desistir de Elouise.

No dia seguinte, fui pra escola na expectativa de falar com ela, porém encontre-a no grupo dos populares. Suas vestimentas haviam mudado, seus cabelos e sua maquiagem estavam um tanto vulgar. Ela estava linda, claro, porém aquela não era a verdadeira Elouise, tímida e meiga.

Tive ímpetos de ir ao seu encontro, tirar o braço de um garoto da sua cintura e leva-la embora dali, porém, titubeei qualquer atitude irracional e dirigi-me cabisbaixa à sala de aula.

Triste e de cabeça encostada sobre a carteira, senti uma pequena lágrima escorrer sobre minha face. Revoltei-me no mesmo instante. Por que diabos eu estava chorando? Por que eu sentira ciúmes? Eu não era lésbica. Pelo menos eu não sabia que eu era...

Vendo o belo cabelo negro comprido de Elouise cobrindo suas costas, adormeci.

Horas depois, eu acordei com um susto ao ouvir o toque do intervalo. Meu desinteresse por tudo, deixou-me exausta da vida, então novamente adormeci.

Mais horas se passaram e eu acordei aborrecida por sentir um individuo me cutucar forte. Sem ver quem era, levantei a cabeça que estava posta sobre a carteira e disse lesada:

–PARA DE ME CUTUCAR!!!!!! Eu já acordei...

E logo me deparei com o rosto alvo de Elouise bem próximo ao meu e que assustada, disse:

–Me deculpe. Não tive intenção de aborrece-la..

Em milésimos de segundos senti minha face, que já rubra, esquentar mais que o normal. Tive vontade de sair correndo sala à fora, mas disfarcei tamanho nervosismo. Eu acho...

–Ah! Não, imagina. Eu que peço desculpas por ter gritado. Pensei que fosse outra pessoa. -Ela sorriu e ficou em silêncio. O clima pesou após isso, então tentei quebrar o silêncio que nos mantia distantes uma da outra.

–E então? Qual é parada? -Indaguei coçando os olhos.

–Que parada? -Indagou Elouise confusa.

–O lance, qual é? -Respondi já sabendo que compliquei a situação.

–Que lance? Do que tu tá falando? -Perguntou Elouise com um tom de gozação.

Me aborreci com a dificuldade de Elouise de entender as gírias mais comuns. Bem, pra mim, eram comuns...

–Por qual motivo tu me cutucara loucamente e desnecessariamente?

–AAAHH SIM! Agora entendi. A professora Matilda passou um trabalho pra casa em dupla e como foi ela que escolheu, eu serei tua dupla...

Fiquei pasma. Por mim, beijaria os pés da Senhora Matilda naquele instante. Não pude evitar um pequeno palavrão de tanta felicidade.

–Puta que *****

Elouise me encarou seriamente e fingiu que não me ouviu. Mas aquilo era bom demais pra ser verdade. A professora Matilda, incluiu mais um individuo no grupo, Xavier, o nerdão...

Apesar de ele fazer parte do grupo também, eu fiquei super ansiosa pra fazer este bendito trabalho.

–Que tal irmos pra tua casa hoje a tarde, Elouise? -Inquiri felicíssima.

–Não, não vai ser possível. Meus pais e eu vamos na casa de uma tia minha...-Disse ela vendo minha fisionomia de desanimo. - A não ser que vocês fossem comigo. Vai ser legal! Voltaremos às vinte e duas horas em ponto.

Concordei sem pensar. Vinte e duas horas pra mim era super tarde, todavia não tinha hora nenhuma que me fizesse desistir dessa menina. Xavier recusou na hora. Mal nos conhecia, não tinha cabimento ele ir na casa de estranhos e voltar pra casa tarde. Mas tudo estava combinado entre eu e ela. Às quinzes horas eu iria até a casa dela para irmos a essa tal tia e estaríamos de volta às vinte e duas horas.

Voltei pra casa e contei a minha mãe sobre Elouise. Usei o pretexto de que teríamos de fazer esse trabalho urgentemente. Minha mãe não autorizou, porém meu pai, Anastácio, sempre liberal, concordou e em seguida convenceu a dona Candinha.


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