Bem, lembro-me com muita clareza que o sensei havia nos dito para não comermos nada, ou iríamos vomitar. Fiquei confuso, mas decidi deixar pra lá. Eu estava andando por Konoha, depois de todos os acontecimentos já descritos, pensando a maldita razão de eu ter levantado um dedo pela a Yurika-san. Eu não tinha motivo algum, mal a conhecia, e não sentia nada por ela. Nem mesmo ódio. Apenas raiva pelo o fato dela ser melhor que a minha mãe.

E, então, caminhei por aquelas ruas, sem rumo, pensando sobre isso. Estava de tardinha, o céu já estava avermelhado, e eu já deveria voltar para casa. Mas decidi ir a um lugar especial, que eu ia de vez em quando para refletir ou me acalmar. Dei um grande salto e comecei a pular de telhado em telhado, de cada casa. Eu realmente precisava entender o que sentia por Uchiha Yurika, nem que fosse ódio extremo, eu sabia que ela não era irrelevante.

Finalmente cheguei na parte mais afastada da vila, onde tudo que havia era a natureza. Senti um breve momento de paz e compensação, dei uma longa inspiração, procurando absorver o local. Eu estava distraído, então não notei que havia alguém no local - eu me dirigia a um lago naquele local, mas quando me aproximei, faltando alguns vários metros para chegar no local, eu senti "aquela" aura. Finalmente prestei atenção e vi que Uchiha Yurika estava sentada na beira do lago.

"Droga...", pensei. Decidi dar meia volta e sair logo dali, mas eu pisei num galho que estava no chão. Isso mesmo, e ele fez um barulho muito alto. Amaldiçoei a tudo mentalmente por causa disso, pois por causa daquele ruído, a menina olhou distraidamente para trás e me encontrou. Ela olhou por alguns instantes, um tanto surpresa, creio até que piscou algumas vezes.

- Y-Yori-kun!? - ela pergunta, surpresa. - O que você faz aqui? - ela continua, ainda demonstrando surpresa na voz.

- Ah, olá, Yurika-san - eu a saudei, procurando manter a voz fria. - Bem, eu venho aqui às vezes para refletir. Parece que não sou o único.

Eu ia me aproximando, depois dessa última frase. Eu não tinha escolha, não é? Enquanto a fitava com os meus olhos divinos, conseguia sentir ainda mais a sublime energia que ela emanava. Mas decidi não prestar toda a minha atenção nisso, caso o contrário, ficaria imerso em diversas emoções durante muito tempo. Parei de andar, até ficar alguns poucos metros de distância dela.

- Ah, sim, Yori-kun... - ela disse, saindo quase que de um transe - Eu gosto de vir aqui quando estou triste.

Após essa última frase, a Uchiha arregalou os olhos, pareceu ter ficado muito tensa ou nervosa.

- Ah, esqueça o que eu disse, Yori-kun! Me perdoe, é que... - ela dizia, mas não conseguiu concluir o que ia terminar. - Nada - e, então, ela me dá um daqueles detestáveis sorrisos falsos.

Eu não pude me conter, eu não aguentava aquilo. Decidi agir de forma normal e intervir.

- Por favor, não me dê sorrisos falsos - eu pedi, tentando manter a calma. Yurika-san com certeza ficou surpresa. Dei um longo suspiro e fui para perto dela, ao lado, me sentando ao lado dela. Fiquei fitando a água do lago por algum tempo.

- Eu só queria ser forte - ela confessa, num tom entristecido. - O papai nunca gostou de mim, eu sempre fui uma vergonha para ele. Eu queria ser forte para provar que sou uma Uchiha - ela termina, enfim. Acho que aquela foi a única coisa patética que ouvi Yurika-san dizer na minha vida.

- Os Uchiha sempre foram dominados pelo o ódio e pela a morte, você sabe disso. Até mesmo o seu pai foi como os outros desse clã, eles evoluem através do ódio. Mas você não é assim - eu respondi, olhando para ela. Ela também me olhou.

- Yori-kun... - ela diz baixo, mas não termina.

- Seja forte por você mesma, para cumprir os seus objetivos. Não pelo o seu pai - eu falei. Então decidi contar tudo a ela, por alguma razão, eu acreditei que ela entenderia. Eu não estava errado. - Sabe, Yurika-san, há algo que eu queria te contar.

- O que é, Yori-kun?

- Até ontem, eu odiava você - revelei. Olhei para ela, esperando alguma reação, mas nada. Ela apenas me olhava, esperando que eu dissesse mais.

Imaginei que ela se irritaria ou ao menos perguntaria a razão do ódio, mas nada desse gênero veio. Pela a primeira vez, percebi conscientemente que Uchiha Yurika me afetava como nenhuma outra garota me afetou antes. Eu me interessava pelo o que ela faria, sentia ou pensava. Eu estava errado e Hinata-san certa: eu amava Yurika-san. A bondade dela me fascinou e me encantou. Eu quis, profundamente, ter forças para guardar esse segredo, mas não pude. Jamais poderia.

- Me perdoe, Yurika-san - eu pedi. Antes que ela dissesse algo, eu continuei. - Você é uma pessoa esplêndida, poderá sempre contar comigo para o que precisar - naquele momento, Yurika-san abriu um enorme sorriso e me abraçou.

Eu a abracei de volta.

- Yori-kun, se eu dizer isso, você pode se afastar de mim, mas... - ela começou a dizer, ainda nos meus braços. - Eu te amo. Isso dura há seis anos. Me perdoe também.

Comecei a afagar seus cabelos. Eu havia percebido, finalmente, que nasci para protegê-la. Era isso que eu faria, mesmo eu sendo uma existência pecaminosa e impura. Sabia que se Yurika-san amava alguém, não era algo fútil, sob nenhuma circunstância. Protegeria aquela que me amava.