Eu estava agindo estranhamente para mim mesmo, talvez por eu não estar acostumado com a minha nova meta. Caminhava mantendo o olhar calmo, com uma bela garota ao meu lado - sim, era Yurika-san que estava ao meu lado, atraindo olhares das pessoas da vila. Eu ainda me mantinha passivo e tentando parecer impenetrável, emocionalmente falando, mas não sabia se iria conseguir. Incrivelmente, nos comunicávamos sem dizer uma palavra, eu me lembro de simplesmente ter me levantado do solo daquele bosque e ela ter sorrido para mim, se levantando também. E, então, começamos a caminhar, em absoluto silêncio, durante longos minutos.

Na verdade, eu estava tencionando voltar para meu apartamento.

– Yori-kun, para onde estamos indo? - ela perguntou. A olhei, mesmo que sem reação.

– Eu estava planejando voltar para casa - eu disse, simplesmente.

– A-ah, certo, me desculpe por ficar te perseguindo assim - ela respondeu, parecendo estar um pouco constrangida, até um pouco corada.

– Tudo bem. Já que estamos próximos da minha casa, não gostaria de conhecê-la? - eu disse, olhando profundamente naquele par de olhos esverdeados.

E vi ela arregalar os olhos durante uns longos segundos. Tentei ficar com uma expressão indiferente, o que foi muito difícil, pois me perguntava mentalmente se disse algo errado. Depois dos segundos, ela virou a face levemente para o lado, ficando com o corpo um tanto trêmulo.

– E-eu conhecer sua casa assim? Isso é tão... - ela demorou alguns segundos para dizer algo, e então proferiu - Inesperado.

– Não se sinta obrigada, mas por favor, não pense muito. Faça exatamente o que quer - eu disse, ainda mantendo a minha voz calma e fria.

– Então eu quero! - Yurika-san disse, convicta. Ela demorou mais alguns segundos para perceber o que fez e ficou um pouco corada. Uma graça. Eu quase me permiti sorrir.

– Bem, venha comigo - eu respondi.

Caminhamos por mais uns cinco minutos, até chegarmos no meu bom e velho apartamento, lar da maioria dos meus treinamentos com o Chakra Negro. Estávamos diante da porta que eu deveria destrancar e abrir. Por uma fração de segundo, senti um pouco de vergonha, pois a minha casa frequentemente estava desarrumada e era pequena. Mesmo assim, decidi destrancar a porta e a abrir. Ao terminar isso, eu disse:

– Pronto. Gostaria de entrar? - foi o que eu disse.

– A-ah, claro! - ela respondeu, sorrindo. Entrei, acendi a luz da sala e ela me acompanhou. - Esse era o apartamento do tio Naruto, né? - ela questionou.

– Sim - eu respondi, um pouco surpreso com a forma em que ela se referia ao Hokage.

Notei que ela vasculhava toda a casa, parecendo estar interessada pelos os mínimos detalhes, o que me constrangeu. Mostrei o meu quarto à ela, que estava um pouco bagunçado, e ela mesmo assim vasculhou tudo minuciosamente, enquanto eu estava sentado em minha cama. Quando ela terminou, se sentou ao meu lado, parecendo que ela estava constrangida dessa vez.

– Yori-kun, eu queria te perguntar algo - ela disse.

– Pode perguntar, Yurika-san - respondi.

– Por que você me odiava? - ela questionou. Fiquei espantado, absolutamente espantado, lembro-me claramente de ter trincado os dentes. Eu não sabia o que dizer. Senti a macia mão dela sobre a minha e olhei, ainda fora do meu estado normal, para ela. - Tudo bem em não dizer, se isso for machucar você - ela disse, gentilmente.

– Você... você é sempre tão gentil! - eu disse, como se fosse uma praga. - Por isso eu te odiava - a minha voz estava saindo distorcida, eu não queria isso, não queria assustá-la. Ela sorriu ternamente.

– Yori-kun, eu já disse que não precisa me dizer se isso for machucar você - ela disse. Ela ainda estava sendo inegavelmente gentil.

– Não... eu quero dizer - eu respondi. - Você é uma pessoa melhor que a minha mãe, esse é o motivo.

Minha cabeça estava abaixada e eu olhava para o meu colo. Eu estava mais ansioso do que jamais estivera em minha vida, eu sabia que poderia confiar o meu passado à Yurika-san, eu sabia, mas...

– Yori-kun, eu sempre vou te amar, disso eu tenho certeza, e é por isso que você não precisa suportar tudo sozinho. Se eu não puder te consolar, chorarei com você - Yurika-san disse. No mesmo momento, me afastei abruptamente dela, eu estava APAVORADO.

E, então, eu senti algo inundar o meu corpo, seguido de uma dor extrema no meu olho esquerdo. "Essa não, o Chakra Negro está...", eu não tive tempo para terminar de pensar, apenas caí no chão, ficando de joelhos.

– YURIKA-SAN, SAIA DAQUI! - eu disse, lhe revelando o meu olho negro, na esperança de assustá-la para que ela fugisse.

– Yori-kun, o que... - ela ia começar a falar, mas eu lhe interrompi.

– Não importa o que isso é, apenas fuja! O Chakra Negro está me dominando, não deveria ter te trazido até aqui. Vamos, FUJA! - eu gritei a última palavra. Eu estava perdendo o meu controle, algo maior que eu estava se apossando de mim.

Em minha loucura, comecei a sorrir, eu não conseguia me conter, uma risada escapava dos meus lábios, uma risada obscurecida pelo o ódio puro. Comecei, então, a gargalhar freneticamente. A minha pouca sanidade observava Yurika-san, torcendo para que ela fugisse, mas ela permaneceu ali, se aproximando em passos rápidos e se jogando em meus braços. Ela me abraçou.

– Eu disse que sempre estaria com você, Yori-kun. Nunca vou te abandonar - ela disse.

Não me lembro de nada depois daquilo.