The Blue Blood escrita por Mrs Granger


Capítulo 3
#3




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Estava muito frio no quintal e o vento cortante não ajudava em nada. Ainda com as roupas finas de dormir, Clara colocou os pés na terra úmida e fria, sentindo a grama seca pinicando a sola dos pés. Tia Penny ainda a segurava com força e se dirigia a uma árvore próxima. As duas se abaixaram.

–Sente, sente aqui- Tia Penny empurrou Clara contra o solo frio e encostou-a na raiz proeminente da árvore. – Escute, eu não tenho tempo para explicar... – As rajadas de vento faziam a voz dela ficar quase inaudível- Mas preciso que leve isso. – Ela puxou do pescoço um colar dourado-sujo com um cavalo alado de três cabeças incrustado de diamantes. Seria um presente magnífico para Clara, se elas não estivessem numa situação tão esquisita. Com as mãos trêmulas, Penny enrolou o colar e colocou-o na mão de Clara, fechando os dedos da menina suavemente sobre a joia. – É importante que guarde isso, no momento certo saberá por quê. Será útil a você, eu prometo.

Clara tremia de frio. O vento era gelado, quase sombrio. O chão começou a tremer. Ela se agarrou com força e segurou a mão de Tia Penny, ajudando-a a se equilibrar.

– O que está acontecendo?- Clara gritou.

Mas não houve tempo para resposta. No instante seguinte, uma língua de fogo cruzou o céu, vinda do espaço, caindo, caindo, caindo direto para a terra. Quanto mais se aproximava, mais Clara podia ver daquele objeto estranho que caia do céu: parecia enorme, feito de metal, ferro ou talvez de algo cinza e pesado. Tinha a ponta fina e triangular e a traseira em forma de um cilindro, assemelhando-se a uma fecha. Só que uma flecha cem vezes maior que o normal. O vento foi ficando mais forte na medida em que a coisa se aproximava do chão, deixando um rastro de fogo atrás de si.

–Você sabe o que é isso? – Clara gritou para Tia Penny, mas ela já não estava ouvindo a sobrinha. Estava atônita, encarando a nave que caia do céu com um baque no chão, lançando terra para todos os lados.

_Tia Penny!- Clara a sacudiu, mas tudo o que ela fez foi se virar para a floresta que ficava atrás delas. – Temos que sair daqui! – a menina insistiu.

A nave, já no chão, havia deixado um rastro de fogo e grama queimada pelo chão. Tinha o tamanho de um ônibus e era feita de pedra negra, polida e fria. Clara abraçou os joelhos e virou o pescoço para espirar através do tronco da árvore. Podia sentir o frio que vinha daquela coisa...

Então uma porta no topo da nave começou a se abrir e Clara enrijeceu de medo. Sentiu os dedos dormentes de tanto apertá-los uns contra os outros e mordeu o lábio com tanta força que começou a sentir gosto de sangue. Respirar ficava cada vez mais difícil com o ar frio e denso que fazia o peito dela doer.

Tia Penny estava parada, ainda olhando para dentro da floresta ao invés de olhar para a nave. Se tivesse prestado atenção e visto que uma criatura horrenda saia de lá de dentro, talvez também tivesse gritado, como Clara fez. Ela não conseguiu conter grito estrangulado que saiu pela sua garganta quando uma criatura de dois metros de altura, braços longos que se arrastavam no chão, pernas curtas e corpo todo peludo começou a encará-la com seus milhares de olhinhos minúsculos e vermelhos.

“Mas o que... “ Ela cutucou o braço de Tia Penny com força e se encolheu atrás da árvore. Talvez, se ficasse quieta, a criatura não e percebesse e não a visse ali. Trincou os dentes com força para que parassem de bater e tentou desacelerar a respiração, ficando o mais quieta possível. Puxou Tia Penny para mais perto.

_Ai, menina!- Ela exclamou ao bater com o quadril no chão. – O que está fazendo? – Sussurrou para Clara, também se encolhendo atrás da árvore e ficando ao lado da garota.

_O que você está fazendo? Viu aquela coisa que acabou de sair daquela... daquela outra coisa grande de metal?

– É uma nave – Tia Penny comentou um tanto distraída. Continuava olhando para a floresta. Clara se irritou.

– Não brinca, por que acho que o circo chegou aqui, nesse fim de mundo, afinal.

Aquilo pareceu deixar Penny um pouco confusa e ela se virou para encarar a menina. – O que quer dizer?

– Quero saber o que é aquilo – Ela balançou a cabeça na direção do mostro, que caminhava devagar pelo terreno, seus enormes pés amassando a terra e fazendo um barulho oco como a batida de um tambor. – E o que faremos para fugir daqui.

Tia Penny continuou olhando para a floresta.

– Ele já deveria estar aqui- entrelaçou os dedos nervosamente e começou a tremer.

–Quem, tia? Quem já deveria estar aqui?

– Nosso protetor. Guardião.

–Guardião?

_Fale baixo – Tia Peny arquejou desesperada. Clara sentiu um frio na espinha. Apesar de não ousar olhar além da árvore ( não ousava nem se mexer) Clara podia sentir que o mostro, animal, ou seja lá o que fosse estava virando a cabeça da direção delas. E caminhava na direção delas, agora com passos mais rápidos e profundos soando como as batidas rítmicas e aceleradas do coração de Clara, que parecia que saltaria pela boca a qualquer minuto. Sentindo um frio terrível na boca do estômago, ela se contraiu ainda mais e se escondeu atrás da raiz. Tia Penny também não ousava se mexer. Estava branca como papel e parecia que ia desmaiar. Seus lábios formaram uma única palavra antes que ela puxasse o prendedor de cabelo e este se alongasse até se transformar numa espada longa, fina e de uma lâmina transparente: Corra.

No mesmo instante, paralisada de surpresa, Clara assistiu o monstro se lançando com um urro na direção de Penny. Com uma agilidade incrível, a mulher que há algumas horas tinha sido apenas a sua tia-avó idosa e chata levantou a lâmina e a rodopiou na direção do bicho com uma facilidade e uma prática que deixaram Clara completamente espantada. O bicho desviou e abriu a boca enorme e cheia de dentes. Uma saliva preta escorria pelo canto da boca do animal, e Tia Penny derrapou no chão ao tentar se por de pé, segurando a espada longa numa mão e apoiando-se na árvore com a outra.

Clara e lembrou que deveria fazer alguma coisa...

–Corre menina! – Tia Penny gritou para ela, mas deixou de olhar para o monstro por um segundo, o que foi suficiente para que ele a atacasse, lançando o braço peludo e pesado da direção dela. Penny caiu no chão com um baque e Clara foi até ela.

_Tia! – Deitou-se em cima do corpo da tia-avó, protegendo-a.

–Clara, você tem que correr. Por favor. – Tia Penny chorava.

O bicho investiu de novo, lançando os braços enormes na direção delas. Clara segurou Tia Penny e a duas rolaram para o lado no instante em que o animal lançou os dois punhos fechados contra o chão, não as atingindo por uma fração de segundo. Terra voou para todos os lados, sujando o rosto de Clara e fazendo-a engasgar. Ela se levantou e deixou Tia Penny se levantar também.

No instante em que o mostro ia investir de novo, um barulho estranho veio das árvores da floresta: batidas rítmicas e aceleradas contra o chão, quebrando galhos e folhas e fazendo-os estralar. Cascos, Clara pensou, ainda mais confusa. Cavalos na floresta? Aqui? Como cavalos vão nos ajudar numa hora dessas?

Então, quando o rosto de Tia Penny se iluminou e o monstro olhou para os lados, confuso e um tanto atordoado, Clara se lembrou do que sua tia-avó dissera segundos atrás: Nosso protetor já deveria estar aqui...

Então ela viu uma grande sombra irromper da mata, trotando com ferocidade e indo para cima do bicho que saíra da nave, fazendo este recuar com um rosnado gutural. Aos poucos, Clara foi vendo a sombra tomando forma. Era mesmo um cavalo, mas um cavaleiro armado com um arco vinha montado no animal... Um olhar mais atento fez Clara perder o fôlego e arquejar. Não era um cavaleiro montado num cavalo, mas sim uma criatura que tinha a parte de cima humana- com cabeça, mãos e tronco normais- emenda num tronco de cavalo – peludo, com quatro patas e cascos. Ela piscou várias vezes, atônita. Conhecia aquela criatura dos seus livros de mitologia e contos de fada. Sabia que aquilo era um centauro, mas não conseguia acreditar que era real e estava bem ali na sua frente, lutando contra um monstro horrendo que acabara de cair do céu numa nave espacial. Aquele era, definitivamente, o dia mais esquisito da sua vida. Para completar, Tia Penny sorriu ao seu lado, empunhou a espada com força e partiu para junto do centauro, ajudando-o a investir contra o monstro.

O restante da luta foi bem rápido: depois de destruir algumas árvores com sua fúria incontida num tentativa inútil de capturar o centauro, o bicho foi atingido com uma flecha no pescoço. Se contorceu e cuspiu um líquido preto e pegajoso, que Clara pensou ser o sangue.

Caiu no chão com um baque, morto.


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