The Blue Blood escrita por Mrs Granger


Capítulo 2
# 2




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_Algum problema?- tia Penny encarava-a, ainda sentada no sofá na mesma posição, como uma estátua.

–Não, tudo bem. – Clara colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e foi sentar-se ao lado da tia. – Achei os desenhos muito bonitos- Ela comentou distraidamente, mas para saber por que tia Penny tinha interesse por eles do que para realmente elogiá-los.

–Que bom que gostou. – a expressão dela mudou por um segundo, mas depois voltou à sua postura rígida habitual. – Vamos tomar um pouco de chá.

Em cima da mesinha de centro havia um bule dourado decorado com arabescos e duas xícaras de chá. Tia Penny pegou uma e começou a engolir a bebida devagar, estalando os lábios. Clara pegou sua xícara e começou a beber também, em silêncio. O calor da bebida e o seu sabor doce eram reconfortantes. Segurou a xícara com força entre as duas mãos e tomou coragem para finalmente perguntar o que a incomodara e intrigara durante muito tempo. Nenhum dos meus parentes quis ficar comigo, mas Tia Penny me trás até aqui todos final de semana e mesmo fria e exigente do jeito que é, ela me aceita.

– Hum- ela murmurou, procurando as palavras – Tia Penny? – ela levantou os olhos para a tia-avó- Por que me trás aqui todo final de semana? Por que não me deixa no orfanato?

– Seus pais não gostariam que perdesse todo o contato com a família e ficasse abandonada num orfanato. – Foi o que ela respondeu, sem olhar para Clara, ainda concentrada na bebida.

Clara sentiu um ímpeto de raiva. “Mas foi exatamente isso que aconteceu.” Quando ela suspirou para contestar, tia Penny apenas encarou-a com um olhar diferente- um olhar de pena- e disse:

_Menina, tem coisas que você ainda não entende. Um dia vai entender. Eu acho, apesar de tudo, importante que você saia daquele orfanato de vez em quando. Mesmo não gostando tanto daqui. – A voz da tia não tinha nenhuma emoção. Clara ficou um pouco vermelha, mas logo voltou a tomar a bebida, descontente com a explicação da tia. “Tudo é complicado demais. Sempre usando essa mesma desculpa: você é muito nova, você não entende...” Ela revirou os olhos. Penny lançou-lhe um olhar de repreensão.

–Termine o chá e vá para o quarto. Hoje dormiremos mais cedo, foi um dia cheio.

Na verdade, tinha sido um dia chato e comum como qualquer outro, mais Clara não discutiu. Terminou seu chá e foi para o quarto. Tomou um banho, se trocou e às dez horas, foi para a cama. Ficou acordada um bom tempo até ouvir os passos da tia em direção ao quarto, ver as luzes se apagando e escutar o ronco de tia Penny ecoando entre as paredes.

Nesta noite Clara faria um passeio noturno pelo misterioso casarão.

***

Com o coração acelerado e as palmas da mão suando, Clara começou a caminhar devagarzinho pelos corredores da casa. Cada passo era uma tortura, já que as tábuas de madeira rangiam e produziam ruídos altos que pareciam querer denunciá-la. O ar estava denso e especialmente gelado naquela noite e a respiração de Clara formava pequenas nuvens quando o ar saia pela boca. Desceu diretamente para o segundo andar, já que a tia dormia no terceiro e fica fazendo barulho e ruídos muito perto do quarto não era uma boa ideia. Tentou desacelerar e acalmar a respiração, mas foi inútil. Um brilho suave do luar entrava pelas janelas altas e alongadas, colorindo a mobília da casa e os corredores com um prateado espectral. O vento soprava, uivava e rugia lá fora, fazendo as árvores sussurrarem.

Por um segundo, Clara pensou ter visto uma sombra andando ao seu lado. Virou-se rapidamente contendo um grito; de olhos arregalados e em alerta máximo, procurou por qualquer sinal da tia ou de alguma coisa que pudesse estar se mexendo e andando pela casa. “É só imaginação” Ela disse a si mesma, tentando se convencer de que não havia nada de errado.

Foi então que ela começou a escutar ruídos e sussurros, suaves de início, mas depois sinistros e profundos. Olhou alarmada para o teto, para o chão, à direita e à esquerda- nem sinal de onde vinha o som. Achou melhor voltar para o quarto e dormir. Talvez eu esteja delirando... Deve ter sido o chá.

Tremendo, ela começou a fazer o caminho de volta para a escada, devagar e atentamente, cada nervo do seu corpo estalando de tensão. “Que ideia insana foi essa?”

No meio do caminho, algo chamou sua atenção: o espelho de borda dourada na sala de estar, pregado em cima da lareira, refletia a imagem da sala num segundo e, no instante seguinte, mostrava um lugar completamente diferente.

Uma criatura sinistra a encarava. O bicho (Ou seja lá o que fosse) que a encarava de dentro do espelho tinha uma cabeça enorme e oval, olhos grandes e negros, a pele escura e enrugada. Suas mãos eram contorcidas e tinham dez dedos cada uma que terminavam em garras afiadíssimas. A criatura sorriu para ela e dezenas de dentes pontudos saltaram pelos lábios finos e negros.

Clara tentou gritar, mas sua voz não saiu. Ficou paralisada por alguns segundos, em seguida olhou envolta e viu a sala completamente normal, sem nenhuma criatura estranha ou nada que perecesse suspeito. Girou nos calcanhares e começou a subir a escada correndo e gritando pela tia.

_Tia Penny! Tia Penny, você tem que ver isso! –Irrompeu pela porta do quarto da tia, chamando-a desesperadamente e saltando na cama dela- Tia, acorda! Tem alguma coisa muito esquisita...

Mas então ela parou. Tia Penny tinha o rosto pálido e flácido como ela nunca vira antes e uma expressão de puro pânico nos olhos azuis claros. Sentou-se na cama depressa, atordoada, e sem ao menos encarar Clara ou deixar que ela explicasse o que estava acontecendo, saltou da cama, correu até a janela e abriu as pesadas cortinas de veludo. O luar iluminou o quarto, uma brisa fria e cortante atravessou o aposento. A porta do quarto bateu.

_Tia Penny, por favor... - Clara segurou a mão dela, que apertava com força o parapeito de metal da janela. – O que está acontecendo? Tem alguma coisa no espelho...

Tia Penny arregalou os olhos e sua respiração acelerou. Ela parecia pálida e preocupada, vulnerável de um jeito que Clara nunca tinha visto.

– Precisamos sair daqui. – Foi tudo o que ela disse numa voz engasgada antes que uma rajada de vento entrasse com força no quarto, fazendo a colcha e os lençóis revirados na cama voarem em direção à penteadeira. Objetos de vidro foram atirados no chão, quebrando e tiritando contra o piso de madeira. Clara cobriu os olhos com o braço para que os gravetos, folhas e pedaços de madeira que vinham com o vento forte não machucassem seu olho. Tia Penny pegou-a pela mão com uma força surpreendente e em segundos as duas estavam deixando o quarto e correndo pelas escadas, não sem que antes Clara tivesse um vislumbre do espelho e da criatura horrenda sorrindo para ela, curvando os lábios escuros de modo cruel e assustador.


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Notas finais do capítulo

e aí?



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