The Blue Blood escrita por Mrs Granger


Capítulo 12
#12




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Lara estava do lado de fora da Sede, mais especificamente do lado de fora do barracão abandonado. Alguns seres mágicos estavam com ela, todos inspecionando a chacina que acontecera do lado de fora.

Dois gigantes de pedra estavam largados no chão, as armas de guerra caídas ao lado de seus corpos grotescos e fedidos.

“Exatamente iguais ao da minha visão”. Lara sentiu um arrepio. “Ruim, muito, muito ruim.” Os gemidos vindos do matagal ao lado atraíram sua atenção, assim como a dos outros seres que observavam os gigantes. Lara passou por uma poça de líquido preto e pegajoso que saíra da boca do gigante e seguiu os murmúrios.

Do outro lado da moita estava uma criatura que Lara já conhecia, embora nunca tivesse visto uma pessoalmente. Sim, a criatura estava em seus livros de fantasia e Lara lembrou-se de Janna dizendo que este tipo de ser mágico estava entre as sete criaturas mágicas legítimas de Millions.

O flanco do centauro estava cheio de sangue. Ele murmurava alguma coisa que Lara não conseguia entender. Os olhos, embora vidrados, ainda tinham um brilho feroz e selvagem, como se a criatura, mesmo ferida, não pudesse ser contida.

– Menina... – O centauro disse – Clara...

Lara abaixou-se devagar e se pôs ao lado do centauro ferido. Ela inclinou um pouco a cabeça para que pudesse olhar diretamente nos olhos dele.

– Quem é Clara? – Lara perguntou gentilmente. – E quem é você?

– S-sou Po-Polimo. – o centauro respondeu em meio a um arquejo – C-Clara é a minha Iniciada.

“Uma nova Iniciada....” O sangue de Lara gelou. “Será possível que seja a Iniciada pela qual Kith procura? Será que essa menina tem o sangue azul?”

Lara não precisava perguntar ao centauro o que acontecera na frente do armazém. A julgar pelos gigantes feridos caídos no chão e pelos ferimentos de Polimo, estava claro que o guardião tinha tentando trazer sua Iniciada em segurança até a Sede. Também estava claro que Pollions continuava mandando suas criaturas para caçar o inimigo.

– Vamos levá-lo para dentro...- Lara estendeu a mão para o flanco de Polimo, mas um mago rapidamente a afastou do centauro com um tapa.

– Menina, o que está fazendo? – Ralhou o mago. Ele tinha uma barba branca que chagava até sua cintura e presa a ela estavam pequenas pedras roxas e brilhantes, combinando com seus olhos luminosos. – Não pode tocar no sangue dele!

Lara tirou a mão rapidamente, alarmada.

_ Ok – Ela fitou o mago – Mas por quê? Precisamos ajudá-lo antes que...

Polimo tossiu ruidosamente e um pouco de sangue saiu de sua boca, manchando a barbicha castanha em seu queixo.

– Procure Clara, ajude-a – A luz estava se esvaindo dos olhos do centauro. Lara não pensou no que estava fazendo e desconsiderou o aviso do mago; seus instintos para salvar e ajudar qualquer ser vivo inocente e ferido falaram mais alto, e rapidamente ela dirigiu a mão ao ferimento na barriga do animal, de onde saía a maior parte do sangue.

_ Não! – O mago tentou puxá-la, mas já era tarde demais.

A mão de Lara começou a queimar e arder.

Num reflexo, ela tirou a mão de Polimo e analisou o estrago. O sangue do centauro, quando entrara em contato com sua pele, havia deixado os dedos e uma parte da palma rosados e enrugados.

– Sangue de centauro é como ácido, menina. – O mago revirou os olhos depois de avaliar a mão dela – Você pode ter sangue de Iniciada, mas tem cabeça de uma humana.

Lara não soube dizer o porquê, mas o comentário do mago mexeu com ela e a deixou com raiva. Tudo bem, ele estava mesmo certo, Lara sabia muito pouco – quase nada – sobre esse mundo que acabara de descobrir. No entanto, saindo da boca do mago, as palavras soaram como uma ofensa pesada. “Será que ele julga que não sou capaz de ser uma Iniciada?”

– Eu estava tentando ajudá-lo – Lara colocou a mão na grama fria na esperança de aliviar o ardor da mão. – É o que todos deveriam estar fazendo.

Lara olhou de relance para trás e lançou o olhar mais severo que conseguiu aos elfos e fadas que estavam avaliando os gigantes.

– Temos um guardião sobrevivente. – Lara se dirigiu ao mago – Faça alguma coisa para ajudá-lo.

Os olhos roxos do mago faiscaram.

– Menina, quem pensa que é para me dar ordens?

Ok, talvez ela tivesse ido longe demais. Era só uma novata que estava na Sede há um dia, e aquele era um mago de muitos anos, bem experiente e provavelmente bem poderoso. Ainda sim, ver o centauro morrendo com aquele ferimento e não fazer nada a deixava irritada. Se Lara aprendera uma coisa trabalhando em hospitais é que se é possível salvar uma vida não se deve medir esforços para isso. O problema era: quando é realmente possível salvar uma vida? Será que o centauro já não estava condenado, por isso os outros não faziam nada?

– Menina, não podemos fazer nada por ele. As fadas darão uma poção para dor e ele morrerá de forma rápida e indolor...

– Meu nome é Lara – ela chiou – e ele ainda esta vivo. Não precisa morrer assim.

No segundo seguinte uma fada apareceu com uma pequena botija de prata cheia de líquido azul.

_ Polimo, guardião da Iniciada Clara, vá em paz. – a fada se abaixou diante dele e seus olhos laranja brilharam de lágrimas

– Espere – Lara colocou a mão o braço da fada – Não pode curá-lo?

Ela se dirigiu a Polimo – Como posso ajudar?

–Não pode, menina, mas agradeço. É uma humana gentil, apesar de tudo. – Ele sorriu, suspirou, seus olhos finalmente ficaram imóveis e seu peito parou de subir e descer.

Lara não sabia ao certo o porquê, mas sentia-se muito triste pelo centauro. Vendo os gigantes do lado de fora e vendo os ferimentos no corpo de Polimo, Lara imaginou por quantos maus bocados o guardião e sua Iniciada Clara haviam passado para chegarem à Sede. Não era justo que Polimo morresse daquela forma, na porta do esconderijo, tão perto de ser salvo.

– Se pudéssemos, nós teríamos o salvado – A fada de olhos laranja se dirigiu a Lara enquanto o grupo caminhava de volta para dentro do barracão.

O mago de traje e olhos roxos ia à frente, inspecionando o terreno para ver se encontrava armadilhas ou mais inimigos. Lara duvidava que houvesse mais alguma ameaça naquele lugar, que agora estava deserto, e era assolado pelo vento frio e cortante da noite. A lua brilhava alta no céu, e subitamente Lara lembrou-se da conversa com Hana, sua irmãzinha, que tivera minutos antes do murmurinho começar. Na verdade, Lara gostaria de ter conversado com Alex, mas depois de várias tentativas e diversas chamadas perdidas ela se frustrou e achou melhor gastar seu tempo com alguém que com certeza conversaria com ela. Hana ainda estava no hospital, em segurança, e naquele dia em particular se sentia bem. A pequena contou, rapidamente e com uma voz fina, todas as atividades que havia feito durante o dia; também comentou o quanto gostaria que Lara estivesse lá, com John e Anna, para que eles lhe fizessem companhia. Com um aperto no coração e imaginando o rostinho inchado e cheio de sardas da irmã caçula, Lara disse desejou boa noite e mandou um beijo para a irmã, esperando que ao menos ela dormisse em paz naquela noite. “Ah, Hana, sinto sua falta.” Dentre todas as pessoas no mundo, a irmãzinha era uma das que Lara mais amava. Sim, toda a sua família era muito especial, principalmente seus pais – mesmo não sendo seus pais biológicos – mas Hana tinha uma ingenuidade, uma inocência e um sorriso doce que fazia o coração de Lara se aquecer. O jeito como sua irmãzinha enfrentava a leucemia, a forma como ela sorria e tentava brincar com as outras crianças, fazer amizade e ser feliz, apesar de tudo, era um mistério encantador para todos na família, e até mesmo para funcionários do hospital. Muitos médicos diziam que ela era uma guerreira, embora Hana sempre dissesse que não estava fazendo nada de especial e só ficava descansando. A simplicidade e o otimismo dela eram incríveis, e por mais que se afirme que todas as crianças são assim, Lara sabia que Hana era especial. Pelo menos para ela.

Tinha vontade de estar com a irmã agora, de cuidar dela e dizer que logo ela voltaria para casa e tudo ficaria bem. Infelizmente, Lara nem sabia se ela mesma chegaria a voltar para casa.

– Está tudo bem? – A fada se virou para Lara e piscou, seus lindos e grandes olhos cor de laranja refletindo a luz do luar. – Vamos. - ela apontou para o armazém e saiu flutuando em direção ao barracão escuro.

– Espere um segundo – Lara apertou o passo, chegou até a fada e inclinou a cabeça para sussurrar – Vão deixar o corpo dele aqui? – Ela apontou para o arbusto que ocultava o corpo de Polimo.

– Ah, não se preocupe – A fada sorriu docemente. Lara nunca tinha visto um sorriso tão lindo e branco, exceto, talvez, o de Alex. Aliás, pensar em Alex fez uma pontada de raiva atravessar o seu corpo. “Se ele me pediu para ligar, por que diabos não atende o telefone?” Demorou um pouco para que a mente de Lara registrasse o que a fada estava falando:

– ... Os magos cuidarão do corpo de Polimo e dos corpos dos gigantes...

– E o funeral? – Lara disse subitamente, cortando a fala da fada, o que pareceu deixar esta um pouco perplexa.

– Funeral? – A fada piscou algumas vezes e alisou o vestido laranja e esvoaçante – o corpo dele não importa mais. Não tem mais vida, para que... – ela hesitou um pouco – funeral?

– Para nos lembrarmos dele. Homenageá-lo e dar um descanso descente para o corpo.

– É só um corpo – A fada parecia confusa. Colocou uma mecha de cabelo laranja atrás da orelha. – para quê nos preocuparmos com isso? Ele será lembrado por suas ações, e também por elas será homenageado e receberá seu merecido descanso.

– Sim, mas o corpo precisa ser... – Lara não tinha um argumento para aquilo. Até que a visão da fada fazia sentido. Polimo seria lembrado por suas ações, e o corpo dele não precisava de descanso porque já não tinha mais vida. – Ok, mas o que vão fazer com o corpo dele?

– Queimar – A fada franziu o cenho – Assim como os corpos dos gigantes, ora.

Lara ficou rígida.

– Vão colocar o corpo de um herói para queimar junto com esses monstros? – Lara apontou para os gigantes caídos no pátio atrás de si.

– Você nem o conhecia, por que se preocupa? – A fada recomeçou a flutuar suavemente e, devagar, entrou no armazém.

– Por que me importo? – Lara apertou o passo e chegou até a ela - Polimo arriscou a vida para salvar uma Iniciada. Alguém que, pelo que sei, está ajudando seu povo numa guerra contra Pollions.

Aquilo fez a fada parar. Ela ficou tensa e uma expressão de fúria cruzou seu rosto, deixando os olhos laranja- fogo, com um brilho feroz e assassino.

– Não mencione esse nome aqui. – A voz da fada, antes tão doce e calma, havia se transformando num gruindo rouco e ameaçador. – Nunca mais, entendeu?

Lara não entendia o motivo daquela explosão e de toda a ira repentina da fada. “Será que o nome do inimigo é azarado, ou coisa do tipo? Será que pode atrair mais monstros?”

Antes que ela tivesse a chance de perguntar, a fada voou rapidamente para o fundo do armazém – mais rápido do que Lara julgara possível – e atravessou a porta que levava ao luxuoso salão da Sede. Lara queria perguntar se não seria estranho, no mínimo suspeito, se alguma pessoa normal passasse por ali e visse os corpos no chão. “Com certeza uns curiosos passariam aqui para verificar...”

_ Essa é a última – o mago roxo disse a um elfo quando Lara atravessou a porta.

– Você não pode queimá-lo junto com os gigantes... – Lara puxou o braço do mago, que pareceu ultrajado, e começou a justificar no tom mais calmo que pôde – Ele deu a vida para salvar uma das Iniciadas...

– Milhares dão suas vidas na guerra, mocinha – O mago puxou o braço com força, o que fez a manga roxa e decorada de sua veste esvoaçar - Agora, coloque-se no seu lugar. Sugiro que vá descansar um pouco. Não sei o que Janna estava pensando quanto lhe trouxe para cá, mas tenho certeza de que não serve para ser uma Iniciada. Não sabe nada sobre nosso mundo e nossos valores. Agora, se me der licença – o mago girou e bateu o cajado nodoso no chão de um jeito meio dramático – tenho que dar um fim em três corpos. O cheiro logo ficará terrível, atraindo vários humanos. – Ele deu um sorriso sínico – boa noite, Lara.

Ela tentava conter sua fúria e ressentimento, forçando suas mãos a ficarem paradas ao lado do corpo e não irem direto para a cara barbada do mago. “Será possível que um ser supostamente tão sábio e inteligente possa ser tão insano?”

– Lara! – a voz de Janna rasgou o salão – você tem que vir comigo, rápido.


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