O sol bateu bem na cara de Annie, que esticou os braços e esbarrou um deles no copo de água que gostara de reservar toda a noite. Era demasiada a distância entre seu quarto e a cozinha:

— Merda! Zuleide vai me matar... Melhor eu recolher isso antes que ela veja.

Assim fez, porém se cortou e uma gota de sangue diluiu na água que havia ali no chão. Ela colocou o dedo entre seus lábios, tentando fazer seu dedo parar de sangrar. 

Depois de arrumar toda a bagunça, escovou os dentes no banheiro que era junto com seu quarto e desceu as escadarias até a copa onde estava Zuleide preparando o café da manhã para ela e sua filha. 

Morava Annie, a filha de Zuleide, a própria e seu marido Gonçalves.

A filha de Zuleide era alta, loira e se chamava Karina - 19 anos de idade, mesma idade de Annie.

— Bom dia, gente! — Annie sentou animada a mesa mesmo estando com seu pijama de flores.

— Bom dia! — todos em coro. 

Por incrível que pareça, todos amavam Annie - até mesmo Karina pela sua mãe gostar mais de Annie.

Karina cursava medicina, enquanto Annie cursava ciências contábeis em outro Campus mais caro.

— Karina, vamos em uma festa hoje?

— Claro! Que horas?

— Às 19.

— Hum... Esse horário eu vou estar na faculdade. Achei que fosse mais cedo.

— Tudo bem, eu vou sozinha. Acho que vou chamar a Tiffany.

— Que Tiffany?

— Aquela que cursa ADM.

— Aquela anti-social, fechada que se diz inteligente e justa?

— Para com isso. Ela é legal com quem merece.

— Porque você diz isso? — perguntou Zuleide, preocupada.

— Brigamos no colegial. Eu já esqueci, tanto que nem lembro qual foi o motivo. Devia ter sido uma coisa boba. 

— Entendo... Mulheres sempre brigam por coisa boba. Depois dizem que os homens são os incompreensíveis. — ironizou Gonçalves, alisando sua barba grisalha.

Todos começaram a rir, até mesmo as moças.

* * * 

Já era 19:30 e Annie estava com pressa se arrumando. Seu cabelo estava preso e seu vestido vermelho estava bem passado. Seu salto era muito alto, mal podia andar - mas abria mão das dores pela beleza e popularidade.

— Eu vou ARRASAR nesta festa. Só não posso me esquecer da roupa de banho.

A roupa de banho que se referia era um top preto e um shortinho jeans que havia comprado há semanas e ainda não havia sido usado.

Depois de tanto enrolar em sua casa e na rodovia — Annie já dirigia, e sempre com Tiffany ao seu lado — chegou na festa. Porém não havia ninguém:

— Falei que seria uma bosta esta festa.

— Para, Tiffany. Talvez eles mudaram de localização a festa e a gente não sabe. Ou senão chegamos adiantadas.

Com suas mechas grandes e loiras, Tiffany encarou fixamente Annie:

— Que foi, Tiffany?

— Esqueceu que horas são? Se a festa está marcada para as 19 e chegamos as 22, como podemos estar adiantadas?! Perdeu a noção de tempo.

Depois desta consideração difícil de ser analisada por Annie, Tiffany voltou para o seu mundo fechado — encarava lá fora do carro conversível como se houvesse um fantasma aparecendo repentinamente.

— A festa vai acontecer aqui mesmo. — percebeu Tiffany após escutar o som que começara a tomar conta.

— É mesmo!! Estou escutando daqui as batidas eletrônicas. — as duas saíram do quarto. Tiffany estava calma, já Annie corria em direção à piscina. Não se dera conta que todos estavam a olhando. 

— MEU DEUS, QUE PISCINA ENOR... Oi, gente!!

— Annie! — David veio correndo abraçar sua amiga. Tiffany se sentou e pegou um drink do garçom que estava servindo os convidados. 

Junto de David — baixo, forte, sarado, loiro dos olhos castanhos claros — estava Mille Thompson, 18 anos estampados em seus cabelos totalmente loiro claro, seus olhos azuis combinavam com os dois piercings pretos no nariz. Gordinha, sempre de batom preto (porém muito, mas muito sexy e sedutora). 

Annie percebeu Mille e perguntou, depois dos cumprimentos devidos:

— Você é a Mille que tem pavio curto e é mais ansiosa que pobre em véspera de feira?

Mille não aceitou a brincadeira impulsiva e deu um soco em Annie.