Eu Não Preciso De Amor escrita por Hanna Martins


Capítulo 23
Pássaros feridos


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao penúltimo capítulo. Katniss toma uma importante decisão que irá afetar todo o seu futuro e de Peeta...



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O menino de olhos cinzas e cabelos dourados sorri para mim. Ele se parece tanto com o pai.

– Cadê o papai? – pergunta com sua voz infantil.

– Já vem... Ele foi buscar um livro para a mamãe – respondo, fazendo um pequeno carinho na cabeça dele.

– A mamãe lê muito! – reclama o menino fazendo bico.

Não posso esconder um sorriso de meu rosto.

Porém, logo ele se esquece do pai e se distrai com uma pequena borboleta que voa sobre o jardim de rosas brancas.

Embora já tenha se passado mais de doze anos, ainda tudo está muito nítido em minha memória. Principalmente, agora que retornei para esta cidade. Ainda não vi a mansão Everdeen, mas saber que ela está perto daqui, faz com que minhas lembranças se tornem ainda mais vivas.

Fecho os olhos, volto àquela tarde.

A fina chuva caia silenciosa e triste. A biblioteca adquiria um ar de tristeza com a chuva. Olhei para carta, que tinha em mãos, já deveria tê-la lido uma centena de vezes. Porém, cada vez que eu a lia, era como se a lesse pela primeira vez. Já fazia um mês que eu havia a recebido.

Querida, Katniss.

Sinceramente, não sei como começar esta carta. Há tantas coisas para serem ditas, que eu nunca disse antes, mas eu não sei se conseguirei dizer.

Katniss, sei que não fui o melhor pai do mundo. Não cumpri minha promessa de fazê-la feliz. Quando você nasceu, pensei que era um pequeno milagre, o mais lindo dos milagres e prometi que colocaria em seu rosto todos os dias um belo sorriso. No entanto, eu quebrei minha promessa. Eu não te fiz feliz, não coloquei sorrisos em seu rosto, pelo contrário, em lugar de sorrisos, coloquei lágrimas.

Katniss, não seja como eu. Um velho cheio de tristeza, cheio de dor e remorso. Tenho tantos arrependimentos. Fiz tantas coisas erradas. Coisas das quais nada me orgulho. Uma delas foi fazer sua mãe se casar comigo.

Eu amei Effie, amei como nunca amei outra mulher. Ela era a mulher da minha vida. Embora Effie gostasse de mim, ela não me amava. Ela amava outra pessoa. E eu, tolo, pensei que poderia forçar seu coração a me amar. Mas não foi isso o que aconteceu. Em vez disso, eu a fiz infeliz. Fiz a mulher que eu amava verter lágrimas.

Toda vez que eu olhava para você, me lembrava de sua mãe, de como eu a havia feito infeliz. E tudo o que eu sentia era vergonha e uma incapacidade enorme de te fazer feliz.

Katniss, eu te amei tanto, tanto, tanto!

Porém, eu nunca fui bom em fazer as pessoas ao meu redor felizes. Tudo que eu consegui causar foi dor, como uma maldição. Causei infelicidade a sua mãe, fui incapaz de colocar um sorriso em seu rosto.

Por favor, Katniss, não se torne como eu, um velho inútil e amargo. Mostre seu coração ao mundo, ame! Seja feliz, minha querida filha.

Sorria Katniss.

De seu pai, que tanto te ama, Haymitch.

Começava a compreender um pouco mais de Haymitch. Eu pensava que ele nunca havia me dado amor. No entanto, ele havia me dado tanto amor... Pena que eu jamais percebi.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.

Meu pai pediu para Chaff me entregar a carta um ano depois de seu falecimento. Gostaria que ele tivesse me entregue antes... Mas estava feliz por ter recebido as últimas palavras de meu pai. E agradecida por ele as ter me dito.

Ainda havia muitas coisas para eu compreender.

Não era filha biológica de Haymitch, meu pai biológico também estava morto...

– Katniss?

Limpei meus olhos e me voltei para a pessoa que me chamava. Ele estava com as mãos no bolso e sorria para mim. Nem de longe parecia aquele Casanova que eu conhecia. Entretanto, ele não estava menos lindo, apenas... diferente. Parecia até um pouco tímido.

– Gale, não havia percebido que estava aqui...

– Acabei de chegar – ele sentou-se perto da poltrona em que eu estava. – Vim me despedir...

Gale havia resolvido ir estudar em Londres por alguns anos. Na verdade, sua família decidiu por ele. Em nosso mundo, não podemos fazer certas escolhas...

– Aposto que todas as inglesas vão ficar caidinha aos seus pés! – sorri. – Ou melhor, todas as europeias...

– Sabe que já abandonei esta vida... – sorriu.

– Verdade? – levantei uma de minhas sobrancelhas.

– Alguém me fez mudar – ele me olhou.

Sorri para Gale. Naqueles meses que fingimos namorar, aprendi muito sobre Gale. Vi que por trás daquele Casanova batia um coração bondoso.

– Vou sentir saudades de você – disse.

– Sabe, Katniss, às vezes eu queria que tudo aquilo que vivemos juntos fosse real... – falou.

Gale se aproximou de mim e depositou um beijo intenso em meus lábios.

– Precisava ser verdadeiro ao menos uma vez – disse, se afastando de meus lábios.

Atônita olhei Gale sair da biblioteca, sem fazer qualquer coisa, estava surpresa demais.

Fiquei por um bom tempo na biblioteca, perdida entre meus fieis amigos.

Depois que havia descoberto que Snow era o culpado por meu sequestro, já não tinha mais pesadelos.

Snow fez um belo estrago em nossas vidas. Me sequestrou (para se vingar de meu pai) e me deixou com lembranças horripilantes. No entanto, quem mais Snow feriu foi Peeta. Ele usou Peeta, fez dele uma arma para sua vingança. Com isso ele devastou Peeta, fez dele um ser cheio de ódio e magoa.

Peeta... ele ainda estava tentando aceitar tudo isso. Às vezes, acreditava que ele havia aceitado, já em outras... Peeta, naquele momento, era um animal ferido, terrivelmente ferido.

Quando estava indo para meu quarto, notei que a porta do quarto de Peeta estava aberta.

– Katniss! – ele me chamou, quando passei por sua porta.

– Sim? – disse, entrando em seu quarto.

– Nada... eu apenas te vi passar por aqui.

A minha relação com Peeta estava um pouco estranha depois de todos estes acontecimentos. Mas quando não esteve?

Sabia que Peeta estava sendo sincero comigo...

Vinha adiando aquele momento há algum tempo. Contudo, havia chegado o momento.

Sentei na cama de Peeta e ele seguiu o meu gesto e também se sentou em sua cama, mas com certa distância de mim.

– Peeta... eu sei de seu plano de vingança – ele me olhou confuso. – Sei que tentou me matar em Zermatt...

Nós nunca havíamos falado abertamente sobre isso.

– Katniss – ele abriu a boca, mas não conseguiu pronunciar uma palavra, além de meu nome.

– Não tente se justificar. Você tentou me matar em Zermatt – continuei falando. – Tentou fazer eu me apaixonar por você, para se vingar de mim... Sabe, Peeta, o que você fez foi doentio, eu nunca fui responsável pelas ações de meu pai. Você quis ferir uma pessoa inocente, e em nome do quê? De uma vingança sem fundamento algum!

Parei de falar e encarei Peeta.

– Eu sei, Katniss, sei que isso foi doentio e não tem justificativa. E eu também não posso me perdoar por ter um dia... tentado te matar. Acho que nunca vou poder olhar para seu rosto sem me lembrar dos meus pecados.

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Peeta.

– Isso é algo que sempre carregarei comigo, sempre. Como uma punição por todo mal que causei e desejei causar. Nunca haverá sofrimento maior que o meu, em pensar... em pensar que eu tentei matar a pessoa que mais amo neste mundo! Eu jamais poderei me perdoar por isso. Jamais! – suas palavras eram quase um sussurro.

– Mas eu também sei que foi Snow que fez isso com você, foi ele que provocou tudo isso – disse, me aproximando dele. – Ele te transformou neste ser obscuro e cheio de ódio.

Peeta levantou os olhos para mim.

– Mas tentar me matar foi a sua escolha, Peeta.

– Katniss... – pronunciou meu nome em um murmúrio.

Nos olhos de Peeta havia apenas dor, dor e obscuridade. Ele era um brinquedo quebrado. O brinquedo de Snow.

Levei minha mão até seu cabelo delicadamente e depois desci por seu rosto.

– Ah, Peeta, por que tínhamos que ser assim? Dois animais feridos...

Ele apanhou minha mão e deu um longo beijo nela. Ergueu os olhos para mim, podia ver em seus olhos medo. Calmamente, como se estivesse com medo de espantar um pássaro, que ele desejava apanhar, aproximou seus lábios dos meus, depositando um suave beijo.

O beijo não durou muito, foi rápido como o bater de assas de uma borboleta. Ele se afastou de mim rapidamente.

– Desculpa... eu não...

Sem pensar no que estava fazendo, aproximei meus lábios dos de Peeta, lhe aplicando um beijo intenso. Minha língua penetrou com sofreguidão na boca de Peeta. Ele apertou meu corpo contra o seu, e sem que eu percebesse me colocou em seu colo. Cruzei minhas pernas em seu quadril.

Ele retirou seus lábios dos meus e os deslizou até meu pescoço. Minha mão penetrou por baixo de sua blusa.

Meu corpo estava pedindo pelo corpo de Peeta. Há muito tempo ele vinha suplicando por seu corpo. Muitas vezes tive que ser extremamente resistente para não me deixar levar por ele, outras vezes fui fraca. Fui fraca, quando estava com febre, naquele dia se ele não tivesse percebido minha febre, tenho que certeza que não podia ter parado. Fui fraca, naquele dia, que ele chegou bêbado em casa. Naquele dia, era como uma parte minha quisesse abusar de Peeta, de sua embriaguez. Eu sabia que se algo acontecesse, certamente, colocaríamos a culpa em sua bebedeira, e eu não seria culpada por me deixar levar por meus instintos. Estava sendo egoísta.

Porém, fui resistente no dia seguinte. Não sei como, mas eu consegui resistir a Peeta. Aquilo me custou um esforço sobre-humano.

Retirei sua blusa e deslizei minha mão por seu peitoral, que certamente poderia pertencer a um dos deuses gregos.

Empurrei-o e fiquei soerguida sobre ele. Meus lábios começaram a deslizar sobre seu peito, ele soltou um gemido. Sua mão entrou por baixo de minha blusa. Rapidamente, se desfez de minha blusa.

Sua mão foi parar em minha nuca e de maneira suave começou a descer por minhas costas. Até que chegou em minha cintura. Ela contornou minha cintura e foi parar em meu ventre, descendo cada vez mais rápido. Sem que eu me desse conta, entrou em minhas calças. Eu não tinha me dado conta deste ato, porém meu corpo sim. E ele todo tremeu com o toque de Peeta.

Um calor começou a se espalhar pelo meu ventre, atingindo todas as partes de meu corpo. Soltei um gemido baixinho, desejando que o calor nunca mais terminasse.

Peeta levantou-se da cama, voltando a antiga posição, comigo em seu colo. Sua mão livre foi parar no fecho de meu sutiã. Porém, ele não abriu, olhou profundamente em meus olhos. Aproximei meus lábios dos dele e lhe dei um rápido beijo, era meu consentimento.

Sua mão habilidosa, rapidamente, abriu o fecho de meu sutiã. E seus lábios vorazes foram parar em meus seios. Ele os sugou com intensidade, desejo. Me fazendo gemer, desta vez ainda mais forte.

Sem tirar meus lábios de mim, me deitou na cama. Suas mãos velozes se livraram de minhas calças e das suas. Me apertou contra seu corpo, e senti que ele estremecia com nosso contato.

Seus lábios beijaram delicadamente minha boca, e depois começaram a deslizar para baixo, beijando meu queixo, meu pescoço, meu colo, meus seios, minha barriga, meu ventre, chegando até minha calcinha.

Ele olhou para mim. Eu sabia que viria depois. Sabia que seria um pouco doloroso, mas... meu corpo suplicava por sentir o corpo de Peeta.

Coloquei minha mão em seu rosto, ele a apanhou e a beijou demoradamente.

– Sim – respondi para a pergunta que ele não formulara, mas que estava em seus olhos.

– Eu te amo – sussurrou em meu ouvido.

Com delicadeza, ele se livrou de minha calcinha.

Não havia hesitação, eu e meu corpo apenas queríamos sentir Peeta.

Ele mergulhou em mim, me fazendo senti-lo totalmente.

Peeta se aconchegou em mim, apertando meu corpo contra o dele, estávamos praticamente colados um no outro. Beijou meu pescoço de maneira terna. Dava para sentir sua respiração, um pouco ofegante em meu pescoço.

Estávamos completamente nus, deitados na cama dele. Nossos corpos estavam suados, porém, satisfeitos.

– Doeu muito? – perguntou, enquanto sua mão fazia um delicado carinho em minha cintura.

– Não muito... Pensei que doeria mais... Foi apenas uma dor diferente – respondi sem me voltar para ele.

– Me desculpa, não queria que tivesse doido.

– Não importa... No começo doeu um pouco, mas depois não senti mais dor nenhuma, e aquilo foi bom... – suspirei.

Peeta virou meu rosto contra o dele e me deu um longo beijo. Me fez ficar de costas na cama e começou a beijar cada parte de meu corpo de forma delicada.

– Prometo que agora não vai doer... – cochichou em meu ouvido.

Levei minha mão até seus cabelos dourados, enquanto sua cabeça deslizava até o meu ventre. Soltei um longo gemido, quando ele beijou aquele lugar de maneira intensa.

– Peeta – gemi com a intensidade daquela nova sensação.

Naquela noite, nossos corpos se procuraram incansavelmente, como se soubessem o que estava por vir. Nossos corpos estavam com uma fome voraz, insaciável.

Não sei quantas vezes, gritei ou gemi o nome de Peeta, apenas que foram muitas.

No final, adormecemos abraçando um ao outro.

Meu sono não foi longo. Contudo, foi profundo. Era como se eu tivesse dormido por décadas e uma nova Katniss houvesse despertado.

Abri meus olhos. Olhei para Peeta, que dormia sem nenhuma peça de roupa ao meu lado. Nem mesmo um mero lençol lhe cobria. Seu corpo era belo. Deslizei delicadamente minha mão por seu peitoral e depois contornei seu rosto com minha mão. Ele era tão bonito dormindo...

Entretanto, havia algo de preocupante em seu rosto. Eu sabia o que era aquilo, eram traços de dor. A dor que não iria embora tão cedo.

A verdade era que Peeta sempre iria carregar aquela dor consigo, enquanto suas feridas não estivessem curadas. E eu nunca poderia lhe dar o remédio que ele tanto precisava. Porque eu era um ser egoísta e mesquinho. Sempre iria me preocupar com minha dor, e quando ela viesse daria ainda mais dor para ele. Feriria Peeta, o machucaria de uma tal maneira, que não saberia se ele se recuperaria.

Eu não havia conseguido perdoar Peeta pelo o que ele tentou me fazer. Eu estava tentando, mas era difícil. Duas Katniss brigavam em mim.

Este amor era estranho e perturbador, quase doentio. Quem iria amar aquele que um dia tentou e pensou em te matar? Mas eu... eu amava.

Havia também esta outra Katniss que deseja ver Peeta sofrer.

Eu não conseguia me compreender. A verdade era que assim como Peeta, eu também era um ser obscuro e cheio de magoa, dor e ódio.

Só havia uma solução para isso.

Sai da cama de Peeta, vesti minhas roupas. Escrevi um bilhete e coloquei na cama no lugar em que minutos atrás eu estava deitada.

Me inclinei sobre Peeta e beijei delicadamente seus lábios. Sai do quarto e fechei com cuidado a porta.

– Um doce por seus pensamentos! – uma voz interrompe meus pensamentos.

Ele sorri para mim.

– Um doce apenas não, uma caixa inteira – digo sorrindo.

– Está bem, uma caixa inteira!

O menino de belos cabelos dourados corre para seus braços.

Meus pensamentos suspensos retornam para aquele dia. Ainda tenho na memória cada palavra daquele bilhete:

Peeta, não me procure. Somos dois pássaros feridos que precisam curar suas feridas. Se ficarmos juntos, jamais iremos nós curar. Eu olharia para você e me lembrarei de todo o mal que um dia quis me fazer. No entanto, você será o mais ferido de nós dois, quando olhar para mim se lembrará, de todo o ódio, de toda magoa. Peeta, nossos caminhos devem ser diferentes. Talvez um dia, consigamos curar nossas dores. Se um dia minhas asas se curarem, voarei até onde você está.

Katniss.

– Estou vendo que terei que comprar aquela caixa de doces! – diz.

– Pode apostar nisso, Gale! – digo sorrindo, enquanto ele brinca com o menino.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E agora com este rumo que as coisas tomaram? Katniss admitiu que ama Peeta, mas ela resolveu deixar o tempo curar suas feridas. Já se passaram doze anos, o que será que aconteceu nestes doze anos com Katniss, Peeta, Gale? Quem será o garotinho de olhos cinza e cabelos dourados que se parece tanto com o pai?