Eu Não Preciso De Amor escrita por Hanna Martins


Capítulo 20
A pequena fagulha


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado pelo Peeta. Agora descobriremos o que se passa na cabeça no Peeta... E uma pergunta será esclarecida: por que Haymitch deixou como tutor de sua filha Peeta?



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Meus pais sorriem um para o outro, enquanto brincam com duas crianças, uma menina de longos cabelos negros e olhos azuis e um garotinho louro de olhos acinzentados. Ao meu lado ela sorri, está linda em seu vestido branco.

Estamos em um jardim de rosas brancas. Ela colhe uma rosa e a cheira.

– Eu te amo – sussurra em meu ouvido.

Ela começa a correr e eu tento pegá-la, até que finalmente consigo alcançá-la. Abraço-a, mas, seu vestido já não é mais branco, é um vestido vermelho. Olhos para minhas mãos... estão cheias de sangue.

Fico desesperado.

O sorriso que estava em seu rosto se apagou.

Seu coração já não bate mais.

– Katniss! – grito com seu corpo morto em meus braços, tento reanima-la, mas nada consigo, seu corpo permanece inerte. – Katniss, meu amor, acorda, por favor! Não me deixe aqui! – suplico.

Meu desespero apenas cresce.

Um homem solta um gargalhada. O homem é Haymitch. Olho para ele raivoso.

– Você a matou! – acuso.

Haymitch continua a rir.

– Você a matou, seu desgraçado!

Ele nada diz e apenas ri do meu desespero.

– Você a matou!

– Não, foi você! – diz dando uma sonora gargalhada.

Olho para minhas mãos e vejo um punhal.

Tento gritar, mas algo retém meu grito e minha dor.

Acordo. Minha roupa está toda empapada de suor.

Retiro minha camisa e fico apenas com a calça do pijama.

Inferno! Estes sonhos estão cada vez mais intensos. Em todos, Katniss aparece. O começo é quase sempre o mesmo, estou feliz, mas depois algo acontece e o sonho se transforma em um pesadelo.

Estou ficando louco, já não sei mais o que fazer. Eu, o sempre racional Peeta, eu que nunca tive um coração, começo a sentir.

– Não! – o grito de Katniss corta o silêncio.

Sem pensar duas vezes, vou até seu quarto.

Encontro Katniss se debatendo na cama e gritando.

– Katniss! Katniss! – chamo, me aproximo dela e toco em seus ombros.

Ela abre seus olhos assustada. Envolvo Katniss em um abraço e a aninho em meu peito.

– Vai ficar tudo bem, só foi um pesadelo, apenas um pesadelo – acaricio seus cabelos e a embalo como uma criança pequena.

Eu e Katniss nunca conversamos sobre seus pesadelos. Porém, eu sei o motivo deles. Mags me contou que quando criança, Katniss foi sequestrada. Quando ela tem estes pesadelos, ela sempre murmura palavras incoerentes e parece querer fugir. Sei que ela está se referindo a este sequestro.

Ela aos poucos vai se acalmando e adormece em meus braços. Aperto Katniss ainda mais contra meu corpo. Seu corpo está quente. Será que ela ainda tem febre?

Coloco minha mão em sua testa, há ainda alguns vestígios de febre.

Katniss mexe-se sobre meu peito se aninhando ainda mais em mim. Ela desliza suavemente sua mão por meu peito nu e aproxima sua cabeça da minha, inclinando seu rosto.

Percebo que minha boca está a poucos centímetros de sua boca. Contorno com meu polegar os seus lábios, seus tão convidativos lábios...

Sem pensar no que estou fazendo, me inclino e roço meus lábios nos seus.

Não, eu não posso fazer isso. Se ela acordar e me ver fazendo isso, ela nunca mais vai permitir que eu durma em sua cama. E eu preciso tanto disso, até mais que ela. Dormir com Katniss em meus braços e a única maneira que tenho de aplacar meus pesadelos.

Me controlo, dou um suave beijo em sua testa e roço meus lábios em seu cabelo.

O que está acontecendo comigo? Por que sinto esta necessidade de ter Katniss por perto? Por que eu que sempre tive todas as mulheres que desejei, saio ferido com cada uma das suas rejeições? Por que não penso mais em ninguém apenas em Katniss? Por que quando a vejo, sinto esta necessidade louca que me consome todo, esta necessidade de abraçá-la, de beijá-la?

Definitivamente, eu não sei o que está acontecendo comigo.

Apenas sei que não posso mais mentir para ela.

Quando Katniss descobriu sobre meu passado de garoto... objeto, fiquei desesperado. Meu lado racional bolou todo um plano, iria ameaçar Katniss para que ela não contasse para ninguém. Mas... não foi isso o que aconteceu, me vi implorando por seu perdão, temendo por sua rejeição. Quando ela disse que eu lhe causava nojo, era como se uma flecha houvesse atravessado meu coração. A flecha eram as palavras de Katniss.

A verdade é que nunca me orgulhei de meu passado. Nunca gostei de enganar as mulheres ricas e deixar que elas me tratassem como um belo acessório. No entanto, eu suportei isso, pensando em minha vingança, que aquilo era necessário para tê-la. Porém, quando Katniss descobriu, minhas velhas feridas se abriram e me vi revelando coisas, que eu nunca ousara revelar a ninguém, nem a mim mesmo.

Há momentos em que eu quero que Katniss fique ao meu lado, há outros em que percebo o que estou fazendo. Estou deixando minha vingança de lado. E eu não posso fazer isso, não posso, não posso, posso?

Meus pais foram mortos por Haymitch, o cruel Haymitch.

Ele era ambicioso, queria o coração de minha mãe e Panem. A empresa pertencia às três famílias, os Donner, da qual minha mãe fazia parte e era a única herdeira; os Mellark, cujo herdeiro era meu pai; e os Everdeen, que tinha como herdeiro Haymitch. Este tomou a empresa dos seus outros donos e ficou sendo o único dono de Panem. Depois, quando eu tinha dez anos, ele assassinou meus pais em um acidente de carro. Descobri tudo isso, quando eu tinha dezesseis anos por meio das cartas que meu pai me deixou. Se não fossem estas cartas, nunca saberia a verdade, nunca.

Quando descobri isso, apenas queria uma coisa vingança. Nunca consegui uma prova real, sobre a culpa de Haymitch, o mais perto que cheguei foi de um mecânico que cuidou do carro de meus pais depois do acidente. Ele disse, relutante, que alguém havia sabotado o carro de meus pais. Sei que ele sabia de mais coisas, porém, disse que não podia falar.

Agora, finalmente tenho a chance de me vingar de Haymitch, tomar tudo que por direito pertence a mim.

Ele tomou tudo o que era dos meus pais, a empresa, a felicidade, a vida... Me transformei no que sou, graças a ele.

Olho para Katniss que está em meus braços. Observo sua respiração tranquila, o sobe e desce de seu peito que está encostado no meu. O melhor que ela tem a fazer é fugir de mim. Fugir, sim fugir...

Mas eu também não quero que ela fuja. Se ela fugir... se ela fugir, provavelmente, iria até os confins da terra atrás dela.

Meus sentimentos são tão confusos...

Inferno, o que está havendo comigo?

Por que o simples pensamento de não ter Katniss por perto me causa este tumulto todo?

Neste momento, tenho medo de mim mesmo. Destes sentimentos confusos... Minha racionalidade há muito tempo me abandonou.

Admita, Peeta, você am...

– Peeta – ela pronuncia o meu nome.

Olho surpreso para ela e percebo que ainda está dormindo.

– Peeta – diz meu nome mais forte.

Por que o som do meu nome sendo pronunciado por ela é melhor do que qualquer som?

Katniss começa a se mover sobre meu peito de maneira agitada.

Inferno, ela deve estar tendo um pesadelo comigo. Mas o que eu esperava, que ela estivesse tendo um sonho feliz comigo?

– Katniss – digo baixinho em seu ouvido. – Acorda.

Ela abre seus olhos ainda assustada e se aninha em meu peito, como se eu tivesse o poder de a proteger de tudo.

– Está tudo bem – murmuro. – Só foi um pesadelo, eu estou aqui.

Beijo suavemente a testa de Katniss. Noto que ela está mais quente, sua febre deve ter subido.

– Vou pegar um remédio para você – digo, soltando Katniss de meus braços.

– Não – pede, me abraçando ainda mais.

– Tudo bem.

Começo a acariciar seu cabelo. Katniss inclina sua cabeça em minha direção. Estou a poucos centímetros se seus lábios. Sem pensar no que estou fazendo, gradativamente aproximo meus lábios mais e mais dos lábios de Katniss e quando dou por mim, abocanho os lábios dela.

Ah, como senti falta destes lábios! Quero devorá-los.

Pressiono meus lábios fortemente contra os seus. Sei que este contato não durara muito, por isso quero aproveitar o máximo que eu puder.

Para meu espanto, ela não recusa meus lábios e entreabre a boca, permitindo que minha língua deslize tranquilamente pela sua boca e encontre a sua.

Katniss desliza sua mão por meu peito. Abraço-a e inverto nossas posições, ficando por cima dela. Sua mão vai parar em minhas costas me aranhando. Deslizo meus lábios por seu pescoço. Desabotoo alguns botões da blusa de seu pijama e passo minhas mãos por seus pequenos seios. Ela está sem sutiã. Sinto Katniss se apertar ainda mais contra mim, ela envolve meu quadril em suas pernas. Me livro da blusa de Katniss em um instante.

Acariciou seus seios nus. Seus pequenos e belos seios. Levo minha boca até eles, não posso resistir.

Ela solta um gemido, fazendo arder ainda mais meu corpo. É delicioso vê-la gemer por meu toque.

Meu corpo está em brasa, queima, queima, queima.

Minha respiração é ofegante, não consigo me controlar, quero sentir cada centímetro do corpo de Katniss. Beijo vorazmente cada parte de seu corpo. Sinto uma fome que só aumenta a cada contado com seu corpo. Preciso, necessito de Katniss.

– Minha! – sussurro em seu ouvido, enquanto o mordo levemente. – Só minha.

Fico satisfeito ao vê-la ficar arrepiada com meus beijos e se apertar ainda mais contra meu corpo. Ela também me beija de maneira voraz.

Aperto seus seios.

– Peeta – geme meu nome.

Isso me deixa louco. Quero ouvir seus lábios pronunciarem meu nome inúmeras vezes.

Minha mão começa a deslizar por sua cintura até chegar em sua calça.

Ela está tão quente, tão quente...

Quente demais!

Paro meus beijos e olho para ela. Como fui idiota! Katniss está queimando de febre, ela está delirando. Tudo isso não passou de seus delírios. Como pude ser tão imbecil? É óbvio, que ela nunca se entregaria a mim em pleno domínio de suas faculdades mentais.

Saio da cama e visto em Katniss sua blusa.

Ligo para o médico. Ele logo aparece e diz, para meu alívio, que não é nada, ela só precisa ficar em repouso.

Assim que o médico se retira, volto para o quarto de Katniss.

Me deito ao seu lado e a observo dormir. Acaricio levemente seu rosto.

Como pude deixar isso acontecer? Como pude deixar que esta pequena fagulha se transformasse em um incêndio?

Katniss entrou em meu coração como uma pequena fagulha que a cada dia foi crescendo, sem que eu ao menos percebesse. Por fim, se transformou em um fogo tão intenso, que não sei como apagar, e o pior, não sei se quero apagar.

Eu, Peeta Mellark, estou apaixonado pela pessoa que devo odiar.

Eu amo Katniss Everdeen.

Como eu pude permitir isso?

Inferno! Isso não poderia ter acontecido, não poderia.

Katniss se mexe, ela se aninha em meu peito. E eu gosto disso.

Estou perdido.

Não consigo dormir direito. A cada instante verifico se a febre dela passou. Assim que a claridade invade o quarto de Katniss, verifico que ela está sem febre e saio de seu quarto.

Passo o resto do dia envolvido com coisas da empresa. Como tutor de Katniss também sou responsável pela administração de Panem.

Chaff, o advogado de Haymitch, passa no escritório de Haymitch (que agora pertence a mim).

– Haymitch iria gostar muito de te ver trabalhando em Panem – diz, entrando no escritório. – Ele sempre quis que você trabalhasse aqui...

Levanto meus olhos e observo Chaff se sentando a minha frente.

Por que todos insistem em dizer que Haymitch me adorava? Primeiro, Katniss e agora Chaff. Ele deveria alguém muito sádico. Fingir amar o filho do homem e da mulher que assassinou.

– Você está bem, Peeta? – pergunta com uma expressão preocupada.

– Estou, por quê?

– Parece tão abatido...

– Apenas tive uma noite de insônia – desconverso. – Mas o que te traz por aqui, Chaff?

Chaff é alguém extremamente ocupado. Tenho certeza que esta não é uma visita de cortesia.

– Antes de morrer, Haymitch fez um testamento.

– Sei... ele me nomeou tutor de Katniss.

– Na verdade, existe uma segunda parte do testamento, que deveria ser revelado sua existência somente depois de um ano.

Esta é nova para mim. O quê aquele velho tramou?

– E?

– Hoje, faz um ano que Haymitch morreu, está na hora de revelar a segunda parte do testamento. Estou aqui para isso – explica. – Haymitch deixou esta carta, que apenas você pode abrir.

Chaff me entrega um envelope verde lacrado.

Analiso o envelope, mas não tenho nada em mente. Não faço a mínima ideia do que aquele velho sádico pretendia com isso.

– Leia a carta e depois me procure – diz Chaff, saindo do escritório.

Coloco o envelope em minha frente. O quê isso significa?

Resolvo abri-lo.

Querido, Peeta.

Se você estiver lendo esta carta, significa que já faz um ano que faleci e que você aceitou ser o tutor de Katniss. É estranho estar escrevendo agora, vivo, com minhas veias cheias de sangue e imaginar que quando você receber esta carta eu já não existirei...

Escrevi esta carta, porque necessito apenas uma coisa, seu perdão. Fui uma péssima pessoa em fazer o que fiz com você. Mas, acima de qualquer coisa, quero que saiba uma coisa, eu te amo. Nunca duvide disso, nunca.

Perdoei, este velho cheio de dor, cheio de sofrimento, que não soube dar o que as pessoas mais precisam, amor. Não sei como dizer isso, as palavras nunca foram o meu forte. Sou bom em muitas coisas, menos com palavras e sentimentos.

Se eu não te dei amor, não significa que eu não te amei, apenas que sou um velho miserável que não sabe se expressar.

Mas antes de tudo, quero que saiba, talvez para aliviar minha culpa (sou mesmo um velho odiável em querer aliviar minha culpa), que apenas soube da verdade, após a morte de sua mãe.

Talvez querendo seu perdão – não me julgue, Peeta, sou apenas um velho cheio de remorsos – e talvez, porque eu acredite que isso é o certo a se fazer. Porque você como mais ninguém tem direito a isso. Deixo Panem para você. Você tem direito a ela, como ninguém mais teria.

Um dia eu amei sua mãe, e ela também me amou. Este nosso amor gerou um belo fruto, você, Peeta. Você é meu filho, Peeta. Meu amado filho.

Paro de ler a carta. Ela cai da minha mão, assim como as lágrimas caem dos meus olhos.

– Não – pronuncio baixinho, desmoronando sobre a cadeira.


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Notas finais do capítulo

O que acharam de tudo isto? E agora o que será de Peeta após descobrir este terrível segredo? Katniss é irmã de Peeta?