A Vida (caótica) De Uma Adolescente Em Crise. escrita por Helena


Capítulo 41
Capítulo 41: Stay with me.


Notas iniciais do capítulo

HADUKEN, VOLTEI!
UHUUUUUUUU!!!! Olá, corações de tinta guache (?). Helena está à cá mais uma vez.
Demorei? Sim, eu sei, então abaixem os objetos cortantes, tenho uma explicação bem plausível para isso. Empaquei no meio do capítulo e depois fiquem sem net para postá-lo. Triste, realmente, mas voltei ó! E vocês vão simplesmente AMAR essa gracinha fofizinha aqui, espero. As Nicailas que pirem!
Leiam ae!
(o nome do capítulo é uma música fofíssima do Sam Smith e coloquem durante o capítulo pra dar um climinha liendo, se quiserem)



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O mundo havia congelado no fatídico momento em que Laila processou toda aquela informação. Sentiu imediatamente como se algo houvesse murchado e começava a comprimir seu peito de uma maneira tão violenta e feroz, causando uma falta de ar laceante que a fez arfar.

Aquilo não podia estar acontecendo.

Não – murmurou de forma quase inaudível até mesmo para si, como um sopro.

– Laila? - Nico indagou se aproximando lentamente, depois mais rápido, assim que encarou o corpo da garota tremer levemente. - Laila? Laila? O quê foi? O quê houve?

Laila sentiu todo o peso do mundo a esmagando e quase desmanchou sem forças próprias quando as mãos quentes de Nico tocaram em seus braços, que, mesmo sem saber o quê a afligia, entendeu de cara que era muito, muito grave.

Ele esperou. Esperou até que Laila reunisse forças para erguer o rosto para ele, com os olhos castanhos brilhando à beira de lágrimas.

Aquilo doeu. Doeu tão forte no peito do garoto que ele não entendeu como Laila não percebeu alguma nuvem de dor passando por ele, pelo sofrimento dela, transparecendo em seus olhos. Uma pontada louca, uma vontade repentina de tomá-la para si e abraçá-la tão fortemente à ponto de se tornarem um só ser surgiu no peito de Nico. Um ser completo e livre de qualquer que fosse as infelicidades do mundo que tentassem os atingir.

– Nico – Laila murmurou de um jeito tão sofrido que só fez o bolo que se formava no esôfago do garoto inchar. - Nico, você precisa me levar para casa! - disse de um jeito pouco mais urgente, tropeçando pelas letras. - Você precisa... Eu explico tudo no caminho, juro.

Nico assentiu, sério, e guiou a garota, que parecia não saber como movimentar as próprias pernas, até o carro. Antes de dar a volta por ele em direção ao banco do motorista, o garoto ainda apanhou o celular de Laila caído a seus pés. Em passos rápidos, entrou no carro em seguida.

XXX

Laila não se continha sentada. Inspirava e expirava quase que alto ou rápido demais e aquilo, definitivamente, apavorou Nico. Por um milagre, ele conseguiu dirigir até a casa dos Wigon sem bater, o quê era o resultado mais que esperado para as reações dele a cada palavra dita por Laila – poucas foram, na verdade. Nico praticamente a encarava e se esquecia totalmente de olhar para frente.

Antes mesmo que embicasse na frente da casa dos Wigon, a garota saltou do veículo e correu em direção a prima, que, também movida por forças sobrenaturais, conseguiu caminhar até Laila e abraça-la sem cair.

Se Nico achou que Laila parecia preocupada e desesperada, então é porque não havia visto o estado de Carly. Mal era pouco. Seu rosto geralmente pálido estava vermelho de tanto chorar e seu corpo, tão comum e pequeno quanto o de Laila, tremia com leves espasmos devido ao choro. Nico desceu do carro e ajudou Laila a sentar Carly no banco de trás e acalmá-la, só para depois os dois se jogarem nos bancos do motorista e passageiro e rumarem direto para o hospital.

Carly tropeçava no meio das sentenças mas, em poucas palavras, pôde explicar tudo. Sua mãe, tia de Laila, já estava no hospital. Fora a primeira a saber e correu para lá do trabalho. Ela ligou para Carly, que estava em casa, e contou à filha que, logo em seguida, ligou para o irmão e a prima. Derick estava fora com os amigos mas, ao ouvir a notícia, correu para junto da mãe direto do lugar onde estava, deixando Carly sozinha a ver navios.

O caso foi o seguinte: Bob estava no trabalho quando sentiu um mal súbito e, logo em seguida, desmaiou. Os homens que com ele trabalham ligaram, desesperados, para o pedir socorro e logo depois para sua mulher, Elizabeth. Ela logo sacou e correu para seu encontro, avisando os filhos no caminho.

XXX

Os edifícios do hospital se erguiam alvos no alto do para-brisa de Nico. Laila nem parou para admirar a construção que só lembrava de ter visitado a muitos, muitos anos atrás, quando seu primo Derick era pequeno e quebrou o braço. Parecia o mesmo lugar, quase que intocado pelo tempo, com diferenças mínimas, como a fachada nova e reconstruída.

Nico estacionou na primeira vaga não proibida que viu e os três correram para a entrada do hospital. Um caminho sinuoso com uma cobertura levava até as portas automáticas de vidro principais, outra coisa que mudara desde que morava ali e que Laila não se deu o trabalho de importar-se. A sala de recepção de cores frias, praticamente vazia, tomou Laila como um tornado.

O ar parado e macabro com cheiro de infelicidade permanecia o mesmo de anos atrás.

Carly foi a que passou a frente do grupo, despejando sua chuva pessoal de perguntas na recepcionista que, assustada, se sobressaltou.

– Robert Wigon está em que quarto? - indagou num só fôlego, tendo por resposta só a cara de desentendida da atendente. - Eu sou filha dele, droga! Pelo amor de Deus, onde está meu pai? Robert Wigon! Em que andar está Robert Wigon?

A mulher se embolou toda ao puxar o teclado do computador e digitar uma série de coisas.

– Quarto andar. UTI – disse, deixando uma pontada de nervosismo escapulir com suas palavras.

Nem deu tempo de Laila sentir-se mais mal ainda, pois Carly saiu correndo loucamente à procura de um elevador. Achando um, quase expulsou a moça e seu filhinho que tentavam entrar. Carly não se continha e, quando as portas do elevador fecharam-se, não hesitou em quase quebrar o botãozinho reluzente com o número quatro. Mal as portas tilintaram ao abrir-se para um novo corredor, porém, tão pobre em cores quanto o anterior, que Carly logo correu levando Laila e Nico em seu encalço.

Achar um sinal de vida conhecida naquele lugar vazio com cores claras, porém solitário e até mesmo cruel, não foi tarefa fácil. Passaram um, dois, três corredores para Carly avistar a figura de uma mulher parada imóvel na outra extremidade do corredor, perto de uma porta dupla com “UTI” escrito no alto em grandes letras pretas e garrafais. A mulher estava de costas para o trio encarando a porta. Seu sobretudo creme até passaria despercebido naquele corredor vazio, se não fossem seus longos cabelos ruivos flamejantes jogados para trás.

Carly parou quando avistou a mulher e Nico pode ver suas estruturas voltarem a falhar.

Mamãe – a garota guinchou de um modo extraordinariamente baixo mas alto o suficiente para que a mulher ouvisse e se virasse para encará-los. - Mamãe!

Carly correu e Laila a seguiu e ambas se jogaram nos braços de Elizabeth Wigon. A mulher acolheu as duas e sentiu-as tremer enquanto as duas sucumbiam juntas às lágrimas. Elizabeth tentava, com palavras de conforto, acalmá-las mas não parecia muito melhor nem que a filha ou a sobrinha. Seu rosto, diferente do de Carly, estava ainda mais pálido e seus olhos verdes estavam envoltos num véu interminável de uma agonia muito bem reprimida.

Enquanto Nico se aproximava devagar e observava a cena, ouviu outros passos ligeiros se aproximando às suas costas. Nem precisou virar-se pois Elizabeth logo identificou o indivíduo para ele.

– Derick, querido – disse com doçura enquanto o filho se aproximava caminhando, para logo depois se juntar à irmã e à prima no abraço em família.

Nico não pode deixar de sentir uma pontada de inveja daquele amor e conforto que via ali em sua frente, tão palpável que era quanto era pegar na mão de Laila. Sentia uma saudade avassaladora de sentir os bracinhos de sua mãe envolvendo-o e sua voz doce, que há muito tempo ele já não ouvia dirigir uma palavra a ele, em seu ouvido. Aquilo o tomou de imediato. Um sentimento amargo descendo por sua garganta.

Uma saudade de afeto esmagadora.

– Mamãe, como ele está? - murmurou Carly já afastada do abraço, assim como os outros dois.

Elizabeth sorriu terna, mas Nico viu uma pontada de dor, como se ela engolisse facas antes de começar a falar.

– Ele está – engoliu uma – Mal, querida. Muito mal.

Os olhos de Carly se encheram novamente e ela mordeu os lábios de uma maneira animal, como que para impedir um grito ou um surto.

– Mas como isso aconteceu? Ela já estava doente? - Laila perguntou. Ela parecia mais controlada, mas, pelo pouquinho que Nico já sabia dela, tinha plena noção de que, mais cedo ou mais tarde, desabaria.

O que seguiu foi uma coisa estranha, tanto para Nico quanto para Laila.

Com uma troca de olhares cúmplices entre mãe e dois filhos, Elizabeth afagou os ombros de Laila. A garota logo percebeu que alguma coisa não estava nada certa e que, provavelmente, ela odiaria saber o quê é.

– Nós precisamos te contar algo, querida – sua tia murmurou usando todo e qualquer tipo de método para mascarar uma certa culpa que Laila percebeu ter se envolvido diretamente naquelas poucas palavras.

Isso nunca é um bom sinal.

– Contar o quê, exatamente? - Laila perguntou em tom baixo, temendo profundamente por sua resposta.

Outro olhar cúmplice e Laila já suava frio. Estava a ponto de explodir e, com certeza, explodiria se ninguém fizesse alguma coisa.

Laila encarava sua tia, mas foi Carly quem tomou a dianteira.

– Não queríamos ter escondido isso de você, Laila – começou – Mas achamos que foi a decisão certa a tomar. Para sua proteção.

– Esconderam o quê de mim? Andem logo! - exaltou-se. Se tinha uma coisa que a garota com certeza detestava era que guardassem segredos.

Segredos sim a iravam de todas as formas.

Elizabeth se aproximou cautelosa, após receber um olhar desesperado por ajuda da filha, mas Laila se afastou. Precisava de respostas e logo.

– Querida, tente se acalmar e nos entender, está bem? - disse com sua voz melodiosa e tranquilizadora que teria surtido algum efeito em Laila facilmente se ela não estivesse tão preocupada. Mesmo relutante, assentiu para que sua tia enfim prosseguisse.

Ela inspirou uma, duas vezes, e encarou a sobrinha. Sua expressão tornou-se sombria. Ela trouxe as mãos de Laila e as apertou contra seus dedos antes de começar a falar:

– Há alguns anos, seu tio passou mal. Um leve mal súbito que o deixou tonto por alguns segundos – começou, baixinho, mirando ora as mãos de Laila, ora seu rosto confuso. - Não estranhamos nada, mas, quando isso voltou a repetir-se e Bob reclamou de dores incomuns no peito e braço esquerdo, me desesperei. Não tinham muitas opções para sintomas assim. Infarto.

Laila prendeu o ar mesmo que sem querer e sua tia a encarou por breves segundos.

– - Viemos ao médico e tivemos uma descoberta nada boa. Uma doença estranha e adormecida, cujo poucos médicos conheciam, foi identificada em seu tio. Esta doença em si faz com que o paciente seja sensível a qualquer coisa e esteja mais enfraquecido que os outros para problemas cardíacos. - Elizabeth disse e ergueu os olhos para os de Laila. - O coração de seu tio é mais fraco e suscetível à infartos que toda a maioria de pessoas normais.

Laila se afastou um passo, engolindo toda a nova informação como um bolo amargo. Não podia acreditar que haviam guardado aquilo tudo dela.

Contendo grande parte de suas perguntas, limitou-se a fazer apenas uma:

– O quê houve com ele, então?

Elizabeth a encarou e pode ver a mágoa formada atrás de suas palavras. De algum modo, percebeu o quanto aquilo, que escondera tão bem da sobrinha, agora doía.

– Desta vez, o quê houve foi mais grave. Só o vi ter um infarto desses duas vezes na vida e esta é uma dessas vezes. A outra foi...

– Na morte da mamãe. – Laila murmurou, abaixando a cabeça logo depois de ver sua tia concordar minimamente.

Ela sentia que a qualquer momento não aguentaria segurar mais. Sentia suas paredes de autocontrole ruindo-se aos poucos, mas numa escala devastadoramente grande, em sua cabeça. Sabia, estava completamente ciente de que sucumbiria às lágrimas que queimavam seus olhos mas que ela impedia que caíssem com o restinho de dignidade que tinha.

Sua tia deu um passo à frente.

– Sei que, muito provavelmente, está irritada por saber disso só agora, Laila, mas eu simplesmente não podia contar! Não podia destruir-te ainda mais, querida. Por favor, tente me compreender – ela se virou para os filhos – Nos compreender.

Muitos pensamentos voaram num tornado em sua mente. Alguns envolviam algo como gritar e espernear toda sua raiva por ter sido a última a saber de tudo mas, de certo modo, agradecia à tia e sua família. Imagine como Laila reagiria, logo após de ter perdido os pais, sabendo que seu tio tinha uma doença grave e rara? Nada bem.

Outro pensamento que lhe ocorreu foi de simplesmente sentar no chão e chorar tudo o quê se acumulava em seu peito, e não era pouca coisa. Imagens de seus pais correram-lhe a mente e logo depois a caricatura do policial que foi buscá-la na casa de sua amiga na fatídica noite para dar-lhe a notícia mais arrasadora de sua vida. Tudo parecia estar voltando. Cada memória de desespero e pânico parecia voltar a ocupar seus devidos lugares no peito da garota. Aquela era uma lembrança horrível demais para ser remoída, mas estava ali, tomando seu lugar nos pensamentos da garota aos poucos.

Por fim, a atitude seguinte de Laila foi uma das quais não haviam sugestões malucas em sua mente. Apenas fez.

Deu as costas à família e voltou-se para Nico, que observava tudo de seu universo único e reservado.

– Você já pode ir – ela disse.

– Está completamente louca se acha que vou deixá-la aqui sem mim. - ele devolveu em tom solene.

– Nico, é um assunto de família. Não quero te prender aqui o resto da noite.

– Laila, eu não estou preso. Estou aqui por decisão própria e se digo que vou continuar aqui, ao seu lado, no meio dessa confusão, então é isso que farei. Entendeu agora? - ele disse de um modo sério e com uma clareza absurda, que pareceu penetrar eternamente nos ouvidos de Laila.

Aquilo fez o estômago da garota dar piruetas e a confortou. Nico a encarava com uma ternura diferenciada, com mais carinho, afeto, talvez amor.

Sim. Amor.

– Obrigada – ela disse.

Nico respondeu entrelaçando os dedos nos da garota e trazendo-a para perto para que, aos poucos, repousasse em seu peito e descansasse. Seria uma longa, longa noite.

XXX

Minutos arrastaram-se em horas que pareciam intermináveis. Laila andou quase o tempo todo para lá e para cá pelo corredor, interrogando cada médico ou enfermeiro que visse. Nico não desistiu de sua palavra e continuou com a garota e os outros três Wigon.

Quando três horas se transformaram em seis, a garota finalmente adormeceu, por insistência de Nico. Estava encolhida, espremendo suas pernas numa única poltrona, que nem parecia tão confortável assim, naquele mesmo corredor.

Nico apenas a observava. Podia parecer estranho e um pouco psicótico ao mesmo tempo, mas o Parker adorava a ver dormindo. Sempre tão calma, tranquila, solene. Como um anjo com os cabelos castanhos sempre bagunçados para o lado. Dessa vez estava bem diferente. O rosto de Laila, apoiado nos joelhos, era nada mais que uma carranca de preocupação e seus cabelos caiam desorientados todos para o lado. Nico estava em pé, escorado na parede contrária à garota, deixando com que seus pensamentos fluíssem para além. Ele sentia-se absurdamente mal por ela, extremamente. A dor dela parecia se refletir de tal modo nele que era como se fosse sua. Sua vontade era de agarra-la e aninha-la consigo em seus braços para todo o sempre, o jeito mais válido que seu cérebro projetou para confortá-la, mas não sabia como sua família reagiria se o visse fazendo de seu pensamento uma realidade ali, naquele corredor de hospital.

Era errado uma família ter de passar por tudo isso e, nesse momento, Nico quis mais do que tudo saber o quê fazer para tentar reverter isso, mesmo sabendo que isso ficaria apenas no “querer” e nunca chegaria a “poder”.

Enquanto observava, pensativo, a figura dorminhoca de Laila, quase não percebeu quando a Sra. Wigon se aproximou.

– Queria que ela estivesse tão calma acordada quanto aparenta quando está dormindo. – disse, num longo suspiro.

Nico a olhou de esguelha e imitou-a, suspirando.

– Eu também, Sra.Wigon.

– Por favor. Elizabeth – ela revirou de uma maneira um tanto engraçada os olhos e Nico sorriu de leve.

– Eu também, Elizabeth.- corrigiu-se.

A mulher sorriu.

– Vi o que fez ali – disse depois de um breve período de tempo – E devo lhe agradecer. Não sabe como tem feito bem à Laila estar com você.

– A senhora é que não sabe o quanto ela me faz bem. – Nico soltou sem perceber ou medir suas palavras e logo sentiu-se corar.

– Fico feliz por vocês terem se acertado e estarem namorando. Sabem, sempre achei que isso iria acontecer desde o dia da detenção dos dois. - a mulher declarou com um risinho vitorioso e um olhar sonhador.

Nico congelou.

Namorando?

Agora que alguém havia dito essa palavra em voz alta, percebeu o quanto era um idiota e estúpido. Ele nunca pediu Laila em namoro, o quê era seu objetivo desde o começo. Se enterteu tanto com a relação estável que construíram que nem se lembrou de oficializar como um dito namoro.

Prometeu-se que o mais rápido possível repararia esse erro.

– Então, Laila contou sobre isso? - ele pigarreou sorrindo meio amarelo.

– Na verdade, foi Derick. Ele deixou escapar alguma vez e logo desconfiei.

– Tem uma boa intuição, Sra... Digo, Elizabeth.

A mulher sorriu.

– Sei disso.

Nico riu alto e Lizy o acompanhou. De repente, ficou mais séria.

– Nico, preciso confiar em você para fazer uma coisa para mim. Você faria?

O garoto a encarou e assumiu a expressão mais séria que conseguiu.

– Olhe, o chefe desse setor do hospital é um velho colega e me deixou passar mais algumas horas aqui. Mas apenas eu, para não chamar tanta atenção. - uma pausa – Preciso que leve meus filhos e Laila de volta para casa, em segurança. No momento, é só em você que posso confiar. Não a deixe sozinha, ela precisa de você.

Nico prontamente concordou e a mulher lhe sorriu de modo terno, pousando a mão no ombro do garoto para afaga-lo. Elizabeth logo deixou-o sozinho. O garoto olhou mais uma vez para a silhueta encolhida de Laila e soltou o ar dos pulmões.

Faria o quê lhe pedissem, e ainda um pouco além, por ela.

XXX

Foi difícil, pode apostar. Uma Laila quase dormindo chegava a ser tão teimosa quanto sua versão mais desperta. Nico teve que argumentar muito para convencer a ela e seus primos de que devia levá-los para casa, para descansar. Elizabeth precisou interferir e interceder a seu favor, senão seus filhos teimosos e sua sobrinha impaciente não iriam a lugar nenhum. Felizmente, todos acabaram concordando depois de alguns minutos de discussão.

A viagem de volta foi silenciosa. Não só pela falta de assunto ou pelo clima pesado que, de repente, assolava e ameaçava engolir tudo ao seu redor noite à fora. Quase todos no carro, tirando o motorista, estavam quase dormindo. Derick cochilou e Carly simplesmente apagou. Nico precisou carregá-la no colo com ajuda do irmão casa à dentro quando eles chegaram. O Wigon mais novo despediu-se do Parker murmurando algo que Nico julgou ser “boa noite” e se enfiou pela porta do quarto entreaberta, fechando-a em seguida. Laila estava na sala e Nico desceu os degraus até lá para fazer-lhe companhia.

Chegou e a encontrou cochilando sentada no sofá maior, com o queixo apoiado na mão e o cotovelo, no braço do sofá. Mesmo sem querer, o garoto a assustou quando a acordou.

– Alguém já passou da hora de dormir – murmurou em tom de riso.

Laila emitiu algo parecido e se espreguiçou.

– Também acho, e este alguém é o senhor, Parker.

– Não vou à lugar nenhum, já disse. Não vou te deixar sozinha.

Laila o encarou na penumbra e não soube ao certo o quê dizer.

Nico tinha esse dom. Calar a melhor das faladeiras com apenas algumas palavras bem colocadas. Ás vezes era bem irritante ter alguém que a conhecia bem demais ao ponto de calá-la sem esforço algum. Ele, irritantemente, fazia isso com uma naturalidade tão dele que Laila não sabia explicar como. A fazia sorrir nas horas inconvenientes de coisas bobas e, irritantemente, lhe tirava do sério apenas devolvendo seus sorrisos.

Nicolas Parker, o irritante por quem Laila estava decididamente apaixonada. Irônico, não? Ela quase riu sozinha.

Sem muitas palavras ao seu dispor, Laila sorriu e ele devolveu, fazendo seu pequeno coração arfar.

– Vai passar a noite aqui, então? - ela perguntou.

– Bom, sua tia disse que me queria de olho em você, mesmo sabendo que eu já o faria sem que ela pedisse, mas se quiser eu posso ir embora... - Nico começou a falar rápido, como se já esperasse um não a qualquer instante que não queria ouvir.

Laila sorriu e inspirou fundo.

– - Quero que fique – ela disse de uma vez, interrompendo as palavras seguintes e confusas do garoto. Ele a encarou por um segundo e ela se aproximou. - Pode ficar?

Não havia motivos para esperar mais. Nico segurou a lateral do rosto de Laila e a puxou, colando seus lábios, que esperavam por esse toque novamente desde o período daquela tarde em que passaram juntos.

– Não precisava se dar ao trabalho de perguntar, Wigon – ele sorriu de um modo único e seu.

Laila subiu, deixando o garoto sozinho na sala. Precisava de um banho para clarear as ideias e relaxar. As lágrimas excessivas haviam passado e agora o único sentimento que lhe restava era aflição pela espera. Precisava mas que tudo de um lugar calmo para organizar uma linha de pensamento decente.

Subiu ruidosamente degrau por degrau, tendo o entendimento de que seus primos dormiam no andar de cima e os degraus rangiam muito ás vezes. Alcançou o segundo andar fazendo poucos ruídos. Entrou furtivamente em seu quarto, apenas para apanhar o necessário para o banho. Escorou-se à porta por alguns segundos, observando a figura de sua prima encolhida na cama.

Imediatamente, sentiu-se mal. Sentiu-se mal pois sabia que se algo acontecesse a seu tio, não seria forte o suficiente para os familiares. Ela se desmancharia por completo e não seria em nada útil, e ser imprestável para qualquer coisa era outra coisa que tirava Laila do sério.

Balançou a cabeça e deixou o quarto com uma troca de roupa e sua toalha. Entrou no banheiro, trancou a porta e passou reto pelo espelho, entrando direto no box para despir-se lá. Tudo o quê menos queria agora era ver o quanto parecia uma aberração depois de algumas horas chorando litros. Não que realmente, realmente mesmo, se importasse com isso. Mas, poxa, Nico estava em sua casa e, de repente, ela se sentia em necessidade de estar ajeitada e não parecendo um mendigo da praça.

Que fosse uma mendiga, mas uma mendiga arrumada.

A presença de Nico surtia os efeitos mais bizarros em Laila. De repente, ela queria sim parecer mais bonita ao garoto, sentir-se mais bonita para ele. Ele em nada havia mudado seu jeito despreocupado com a aparência, talvez um tantinho só. Ela só sentia essa necessidade - até então desconhecida - e isso era apavorante.

Assim que a água morna surgiu do chuveiro, Laila enfiou-se de cabeça sob ela e inspirou, expirou, inspirou, expirou.

Precisava acalmar-se.

Inspirou, expirou.

Podiam ter passado dias ou apenas horas, ela não sabia. A água a dispersava das complicações, como se levasse seus problemas pelo ralo e os afogasse. Lavava toda aquela camada de desespero e pânico de seu corpo, fazendo-os escorrer por suas pernas. Era revigorante.

Depois de muitos minutos, resolveu sair. Demorou-se consideravelmente para se secar e se vestir e deixou o banheiro com os cabelos úmidos roçando nos ombros, molhando a camisa cinza e folgada do pijama. Foi ao quarto e buscou algumas cobertas e um travesseiro e logo retornou ao corredor. Encarou um pouco o hall da entrada do topo da escada para depois desce-la.

Nico continuava sentado imóvel no sofá. Pulava de canal em canal na tevê e levou um ligeiro susto quando Laila deixou que algumas mechas úmidas do cabelo encostassem em seu pescoço.

– Trouxe isso. – e mostrou as cobertas devidamente dobradas em seus braços com o travesseiro em cima. Passou-os para os braços de Nico para sentar-se a seu lado. - Não quer mesmo ir? Deve estar cansado, precisando de um banho...

– A menos que esteja insinuando que estou fedendo, senhorita, não pretendo ir a lugar nenhum. - ele disse, dando seu melhor sorriso de canto debochado.

Sem aviso prévio, Laila passou os braços pelos ombros de Nico e os repousou. Aproximou-se, roçando os lábios no pescoço do garoto, e encaixou o rosto ali, inspirando seu cheiro tão conhecido para ela. Nico a abraçou e a puxou para si, fazendo com que Laila passasse as pernas por cima das suas, e assim ficaram.

Era simples. Sem beijos ou amassos. Um simples abraço com seus carinhos e afagos. Foi a coisa mais simples e mais fundamental para os dois. Eles não ligavam muito para o que faziam com seu tempo quando estavam juntos. Contando que tivessem um ao outro, não importava. Nico poderia passar horas abraçado ao corpo baixo de Laila sem nunca queixar-se, coisa que nunca fez com nenhuma outra garota e, na verdade, nem faria. A mais pura verdade era que, se um tivesse o outro ao lado, já bastava.

Laila o apertou. Queria fundir-se a Nico eternamente pois algo em sua mente dizia ser o certo a fazer. Ele afagou os braços descobertos da garota e repousou o rosto em seus cabelos gelados devido a umidade.

– Obrigada por estar aqui. – foi o que ela sentiu necessidade em dizer. Nada além de um sussurro.

Nico respondeu beijando o topo de sua cabeça, depois sua testa, entre as sobrancelhas, a ponta do nariz e, em seguida, os lábios de Laila, calmamente. A garota prontamente enrolou os dedos nos cabelos despenteados de Nico e o puxou, aprofundando o beijo, que se intensificou relativamente. Entre puxadas de ar nas pausas rápidas entre os diversos beijos, Nico agarrou a cintura de Laila e a sentou em seu colo. Movida por esse ato de Nico, Laila passou as pernas uma de cada lado do corpo do garoto, apoiando os joelhos no sofá. Nico estaria mentindo muito se dissesse que nunca se imaginou assim com a garota e Laila também, até mesmo antes deles estarem juntos.

Nico havia agarrado a cintura de Laila com certa possessividade e massageava a pele da garota em círculos com os dedões, que se esgueiraram, não muito, para baixo da camiseta da garota. Ele a queria? Sim, loucamente, mas sabia que a garota ainda estava fragilizada e não queria tornar as coisas muito rápidas para assustá-la e depois deixa-los com um clima desagradável.

Por isso, seus atos para com Laila eram extremamente pensados e simples.

Ela também queria, mas algo em si dizia que não deveria acontecer ali, nem naquele momento.

Laila partiu o beijo, que se estenderia em vários outros eternamente se ela não o fizesse. Foi meio repentino e ela se sentiu extremamente culpada e idiota em no mesmo segundo. Respirando pesadamente, colou sua testa na de Nico.

– Me desculpa, Nico – sussurrou acanhada – Eu sei que você queria, mas eu...

Ele a calou com um selinho demorado e puxou seu rosto delicadamente para cima, para que o encarasse nos olhos.

– Não precisa se desculpar. Nem deveria ter cogitado a ideia de pedir perdão por isso, Laila.

Ela se sentiu profundamente grata e sorriu abertamente para ele. Notou que as mãos quentes de Nico ainda seguravam sua cintura, parte por baixo da camiseta, parte não, e não se incomodou nem um pouco.

– Acho melhor eu ir dormir, então – ela sorriu amarelo.

Ele grunhiu, mas teve que concordar. Sabia o quanto a garota estava exausta e, parando nem tanto assim para refletir, notou o quanto estava também.

Sem querer, soltou um bocejo longo.

– E parece que não sou só eu – Laila continuou.

Deu um beijo rápido no garoto e deslizou de seu colo para o chão, mas antes que pudesse sequer deixar a sala de estar, algo em sua cabeça lhe fez pensar.

Nico já ajeitava-se no sofá, mas Laila o interceptou antes que tirasse os tênis antes de deitar, puxando-o para levantar-se.

– Eu disse que quero que fique aqui esta noite – ela disse enquanto ia guiando-o da sala de estar para o hall de entrada, parando para encarar o garoto antes que alcançassem o primeiro degrau – Mas comigo.

Nico demorou a entender, mas Laila não lhe deu muito tempo para pensar. Ela o mirou direto nos olhos por poucos segundos e começou a subir a escada, levando-o junto. Aquele algo na cabeça de Laila ditava cada ação sua. Ela percebeu que precisava da compahia de Nico ali, em sua casa naquela noite, mas de nada adiantaria ele dormindo no sofá e ela, no andar de cima.

Precisava dele com ela. Respirando o mesmo ar, compartilhando do mesmo ambiente.

Evitando os ruídos, Nico e Laila se deitaram um tanto espremidos na cama de solteiro da garota, mas isso em nada os incomodou. Laila, pela primeira vez, tinha os olhos na altura dos de Nico. Eles ficaram alguns instantes se encarando, esquecendo que deviam dormir. Quando Nico voltou a bocejar, Laila sorriu. Ele a puxou pelos ombros e repousou-a em seu peito. Não tardou muito e eles adormeceram juntos. Sem preocupações, sem medos, sem tristeza.

Apenas Laila para Nico, Nico para Laila.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Hein, hein, hein? Digam que sim, vai?
Olhem, quem quiser me perturbar pela vida, à cá está meu twitter @dafuckpotter_
Me perturbem, irritem e perguntem sobre a fic, se assim quiserem. Estou, sempre que dá, por lá (mãozinha de beleza).
Manda reviews, okay? Sou movida e alimentada por eles!
KISS NO ASS



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