A Vida (caótica) De Uma Adolescente Em Crise. escrita por Helena


Capítulo 42
Capítulo 42: Esse lance de esperar.


Notas iniciais do capítulo

Do ditado "quem é vivo, sempre aparece", vos apresento, EU!
Olá, olá, pessoas. Nem preciso pedir para adivinharem quem voltou, né?
Enfim, só demorei devido umas ideias pra outras fics que me cegaram, daí não conseguia escrever AVCAC. Mals ae!
GEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENTE, EU ME SINTO UMA AMEBA!
A fic fez um ano e eu, A FUCKING AUTORA, esqueci! NÃOACREDITO, MEU ZEUS! #indignada
Mas enfim, outra vez, FIZEMOS UM ANINHO ASSIM Ó (1). AI QUE EMOSSAUM! Queria agradecer a todos vocês, mas, principalmentes, as formiguinhas que acompanham a um ano! Gente, nem parece que já se passou um aninho! To tão mossionada! Ai me core #HelenaEmotiva
Vão ler, vão!
P.S: o nome ta cagado, Helena? Sim, está. Mas pelo menos tem capítulo u.u
(Haverá recadinhos no final. Liguem-se)



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Laila estava finalmente acordada a pouco mais de uma hora. Finalmente pois a acordada que deu de madrugada ao ouvir a tia chegando não contava. Seus passos lentos e inseguros no corredor a despertaram, mas ela não se moveu ao ouvir os soluços altos da tia antes de entrar em seu quarto. Sabia que ela não queria ser vista por nenhum dos filhos, ou mesmo por Laila, chorando. Por isso, a garota permaneceu imóvel encarando a porta entreaberta até adormecer novamente.

Agora lá estava ela, completamente lúcida mas deitada em sua cama como se não estivesse. Não queria sair dali. Não quando tinha a figura adormecida de Nico de frente para ela.

Laila sorriu e subiu os olhos para encontrar o rosto do garoto alguns centímetros acima do seu. Num ato seguinte, abraçou-o pela cintura e enterrou sua cabeça em seu peito. O cheiro do garoto era um vício cujo ela não pretendia procurar um tratamento tão cedo. Era um frescor que já havia se habituado a ela de tal modo que Laila já sabia que não conseguia viver sem. Ela senti-o remexer-se e logo os braços fortes de Nico a envolveram mais fortemente. Laila suspirou e deixou-se levar.

– Bom dia – ouviu-o murmurar de modo sonolento e isso a fez sorrir.

De repente Laila perguntou-se se essa era a sensação de acordar todas as manhãs ao lado de Nico. Isso, de certo modo, aqueceu seu coração.

– Bom dia – ela falou de volta, sua voz saindo abafada pelo peito do garoto.

Ele também sorriu e afagou seus braços. Laila parecia uma formiga espremida contra ele daquela maneira e ele não pode negar que gostou da sensação de tê-la assim, tão para ele e somente dele. Perguntou-se se seria assim poder abraçá-la todos os dias, a todo momento, e aquilo não pôde alegra-lo mais. Laila causava coisas engraçadas nele. Sensações diferentes de qualquer pessoa que ele conhecia. Só sua presença o incendiava, imagine ter passado a noite abraçado a ela?

Nada poderia tê-lo feito mais feliz. A não ser, é claro, se repetissem isso sempre e sempre. Ele seria o cara mais feliz do mundo.

Em meio seus devaneios, Nico apoiou o queixo na cabeça de Laila e inspirou seu cheiro. Teve a impressão que ficara com o cheiro da garota impregnado em sua alma, pois era impossível esquecê-lo ou não amá-lo. Era doce, porém não enjoativo. Era cítrico em sua proporção mais que perfeita. Tudo misturado. Cheiros diferentes, mas não menos deliciosos na garota.

Ela era a combinação perfeita de tudo e aquilo o agradava de uma forma incrível.

– Acha que devemos levantar e explicar para minha tia como você passou a noite na minha cama? - Laila indagou de repente, segurando os lábios para não rir e tentando manter-se séria.

Nico a soltou apenas o suficiente para que a olhasse nos olhos e sorrisse.

– Acho que está mais que na hora. – não foi Nico que respondeu, mas sim a voz embargada de Carly na outra cama.

O casal levou um ligeiro susto, mas Carly apenas sorriu para os dois ao sentar-se quase ereta na cama. Seus cabelos estavam pra cima e em todas as direções imagináveis, cena que podia ser dada por cômica ou assustadora.

– Bom dia para vocês, a propósito. – ela murmurou em um meio bocejo, jogando as cobertas para um canto para enfim levantar-se e caminhar como uma manca para o lado de fora do quarto.

Laila sorriu e aos poucos foi sentando-se na cama o que, ela não pode mentir, foi triste ter de fazer pois teve de largar Nico.

– Vamos, moço. Tá na hora – ela disse se espreguiçando.

Ele a imitou e sentou-se ao seu lado.

– Eu te beijaria se não estivesse com bafo – ele disse e ela riu.

XXXX

Nico apareceu primeiro na cozinha que Laila. A garota quase tropeçou ao sair correndo do quarto. Afinal, deu-se conta do estado deplorável que devia estar por ter dormido de cabelo molhado e pelo simples fato de que acordar com cara de Top Model não constava em sua lista de qualidades. Nico sorriu ao ser atingido pelas palavras sem nexo algum da garota, antes da mesma trancar-se no banheiro, mas logo parou lembrando-se que, sem Laila, seriam apenas ele, Elizabeth, Carly e Derick na cozinha.

Aquilo definitivamente o deixou desconfortável. Não que não gostasse da família da garota, mas ficar sozinho com a maioria dela logo depois de acordar na mesma cama que Laila tornava esse desconforto palpável no ar, com um ligeiro ar de vergonha junto.

Algo em seu cérebro congelou assim que Nico foi alvejado por três pares de olhos ao entrar na cozinha dos Wigon, de forma quase acanhada. Elizabeth lhe sorria com os olhos verdes e aquilo o fez relaxar. Carly apenas o encarava como fazia todos os dias na escola. Era um modo quase imparcial, mas amigável e simpático ao mesmo tempo, olhar que ele só havia visto nela. Ao contrário do que Nico esperava, Derick não torceu a cara nem nada. Não que Derick não gostasse do garoto, mas era mais que óbvio que ele tinha Laila como irmã e sentia aquele típico “ciúmes fraternal” e Nico o respeitava por isso. Ele apenas o encarou e voltou sua atenção para seu café.

Nico parou perto à porta.

– Bom dia – disse após alguns segundos, encarando qualquer coisa que o pudesse proporcionar um pouco de distração.

– Bom dia, Nico, querido – recebeu-o Elizabeth, com um abraço caloroso. Seus cabelos rebeldes e ruivos fizeram cócegas no rosto do garoto. - Obrigada, obrigada, obrigada por cuidar deles para mim! Não sabe o quanto lhe devo agradecer. - ouviu-a murmurar ainda agarrada a sua camisa. Sua voz estava trêmula, mas ele sentiu que era mais por alívio por saber que seus filhos e sua sobrinha estavam bem e Nico havia cumprido o que disse que faria.

Não abandonou Laila.

Elizabeth o soltou e o encarou com tal afeto que Nico quase lhe implorou por outro abraço.

– Não precisa agradecer nada, sra. Wigon. – ele sorriu e ela reprimiu os lábios em uma linha descontente. - Digo, Elizabeth.

Ela abriu um sorriso lustroso em resposta e agarrou o garoto.

– Venha, precisa se alimentar. - disse sentando-o à mesa. - Olha só para você. Passou a noite toda aqui. Aposto que não comeu nem uma migalha antes de dormir, estou certa?

– Bom, não comi, mas...

– Vocês não tem jeito mesmo! – ela continuou enquanto colocava panqueca sobre panqueca no prato de Nico. O garoto ponderava entre rir e tentar impedi-la. - Vai comer tudinho e depois vai para casa, tomar um banho e descansar.

– Elizabeth, eu estou bem. – Nico começou, logo sentindo a língua formigar por finalmente chamá-la por seu nome. Distraiu-se por um segundo com isso, tempo suficiente para que a mulher colocasse mais três panquecas em seu prato – Por favor, acho que já está mais do que bom! - ele exclamou de forma urgente, erguendo as mãos e encarando a torre de Piza que se formara em seu prato, com uma camada densa de melado escorrendo por um dos lados.

A mulher parou uma panqueca no ar a caminho do prato de Nico, mas a colocou novamente sobre a travessa com outras tantas.

Eu odeio recusar o convite, mas acho mesmo que preciso ir. - disse Nico testemunhando o semblante de Elizabeth caindo um pouco. - Nora deve estar preocupada por eu não ter dormido em casa – continuou.

O que era verdade. Nora detestava quando Nico dormia fora de casa e não lhe dava explicações. Ela era mais uma mãe que uma governanta.

Elizabeth suspirou, mas não foi ela quem tomou a palavra.

– Então você já vai? - Laila indagou parada ante a porta da cozinha. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo feito as pressas e ela continuava de pijama.

Encarou Nico e escorou-se no batente. Ele sorriu sem mostrar os dentes e assentiu. Laila devolveu o sorriso e tombou a cabeça para o lado. Não ia mentir. Queria que Nico passasse o resto do dia ao seu lado, em sua cama, onde ela poderia muito bem abraçá-lo quando sentisse vontade, mas sabia que ele precisava ir. Mais cedo ou mais tarde ele precisaria ir.

– Eu te levo até a porta – ela disse, mordendo os lábios.

Nico se levantou.

– Vou embrulhar suas panquecas, querido. Assim, pode come-las com Nora em casa. – disse a sra. Wigon tomando o prato de Nico nas mãos e sorrindo. Ele fez menção de protestar, mas ela nem permitiu que começasse e virou-se. - Isso só vai levar um minutinho...

Nico acabou ficando com cara de bobo e uma mão pairando no ar, o quê fez Laila e Carly sorrirem.

– Bom, então até mais, pessoal. - ele disse – Sra. Wigon, obrigado por tudo.

Elizabeth até iria corrigi-lo, mas não se conteve em abraça-lo e isso a impediu. Ele era um bom garoto. De alguma forma, sabia perfeitamente que ele era o melhor para Laila.

Laila observou Nico soltar sua tia, que o fez aceitar o embrulho com panquecas, e acenar, então ele a seguiu.

– Sua tia não tem jeito. – Nico comentou enquanto atravessavam a sala de estar. Laila só se permitiu concordar e rir.

Alcançaram o hall de entrada e a garota abriu a porta. Logo Nico estava de frente para ela e eles se encaravam.

– Já disse, eu te beijaria agora, mas acabei de acordar e você não merece isso. – ele brincou.

Laila riu alto e ficou na ponta dos pés, beijando o ponto mais próximo na bochecha de Nico de sua boca. Ele sorriu e agarrou sua cintura com a mão livre das panquecas. Queria senti-la só um pouquinho mais, assim, tão perto. Ela enterrou o rosto próximo ao pescoço dele.

– Se alguma coisa acontecer – ele começou – Qualquer coisa, por mínima que seja, acontecer, me ligue, está bem?

Laila assentiu em silêncio e Nico beijou sua cabeça.

– A propósito, você fica linda de pijama. – ele murmurou e Laila agradeceu por ele não ter visto suas bochechas coradas.

– E você fica uma graça dormindo de boca aberta – ela devolveu.

– Eu não durmo de boca aberta!

– Dorme sim! - exclamaram Laila e Carly, que saía da cozinha e se encaminhava para a sala de estar. Laila gargalhou e Nico fez uma careta, mas sorriu ao final.

– Preciso ir. Já disse, se acontecer alguma coisa... - Nico falou, soltando-se de Laila e dando um passo para além da porta.

– Senhor, sim, senhor! É agora que presto continência?

– Engraçadinha... – Nico murmurou revirando os olhos e beijando a testa de Laila, antes de afastar-se. Ele atravessou o quintal, passou o portão e destravou seu carro parado logo na frente da casa. Com último aceno, despediu-se de Laila e lançou-se pela porta do motorista.

Laila suspirou e fechou a porta. Retornou à cozinha, passando por seus primos, que assistiam desenhos jogados no sofá grande da sala. Sua tia estava sentada, acompanhada de uma caneca de café e uma revista. Olhando assim, sua família, ninguém imaginaria que seu tio estava enfurnado numa UTI nesse exato momento. Com o clima ameno que aquela manhã assumiu, Laila não estranharia se visse seu tio Bob entrando na cozinha, com seu jornal e seu lápis, afiado por resolver as malditas cruzadinhas naquele exato momento, descobrindo que tudo o que descobriu e sentiu na noite anterior não passava de um tortuoso pesadelo.

Mas não. Ela sabia que havia acontecido e que sua família era boa para lidar com situações difíceis. Laila não aposta nada que, se estivessem numa família diferente, as pessoas estariam trancadas, cada uma num cômodo, chorando rios. Mas sua família não é assim. Os Wigon não são assim. Uma coisa que ela aprendera nessa família, desde criança, foi que pessoas amadas ficavam doentes e pessoas amadas morriam, mas isso não devia te impedir de continuar caminhando. Ao contrário, devia te incentivar a prosseguir. Devia ser um pilhar para edificar sua vida, não uma bola de demolição para acabar com você. Você devia aprender a lidar com a perda e se fortalecer a partir dela.

Laila encarou sua tia e sentou-se de frente para ela.

– Bom dia, querida. – ela disse sem erguer os olhos da revista, enquanto Laila colocava leite em um copo e o completava com café.

– Bom dia. – ela murmurou antes de levar o copo aos lábios beber um gole. - Alguma notícia?

Sua tia parou a caneca no ar, a caminho da boca, e fechou a revista.

– Nada ainda – disse encarando a sobrinha direto nos olhos.

Laila inspirou profundamente e bebeu outro gole, tentando empurrar o pequeno pânico que crescia em seu peito para baixo.

– Qual é exatamente o estado dele? - Laila perguntou depois de um leve pigarreio. Temia mais que tudo sua resposta, mas precisava ouvi-la. Precisava saber.

– Conversei com alguns médicos ontem. Está estável, por enquanto.

– Por enquanto?

– Laila – Elizabeth se apressou e tomou as mãos da sobrinha sobre a mesa, fazendo-a soltar o próprio copo e soltando a própria caneca. As apertou com amor, acariciando seus dedos. - Tudo vai ficar bem. Tenha esperança – sua tia murmurou com uma voz doce e melodiosa.

Esperança?, sua mente repetiu em descrença.

A palavra pareceu ficar entalado na garganta de Laila e só fez com que o coração já apertado dela se contraísse ainda mais no peito. Mesmo que não tenha deixado que isso transparecesse isso em seus olhos, foi o que sentiu. Esperança era o tipo de coisa que Laila guardava em uma gaveta empoeirada dentro do grande arquivo de “qualidades humanas”, intitulada “finais imprevisíveis”. Ter esperança, para ela, não era uma coisa 100% boa. Era apavorante.

Ser esperançoso, para Laila, era arcar com todo o peso que seu subconsciente sussurrava de que, no fim de toda uma determinada situação, o final seja exatamente o contrário do que se espera, podendo destruir e arrasa-la ou alegrar e alivia-la. Laila não tinha estruturas para encarar as possibilidades boas e ruins de um final sem que surtasse e quase morresse, afogada em sua própria ansiedade e pavor, e ser esperançoso, para ela, era isso. Era você ser corajoso o suficiente para ter o entendimento de que o final bom está tão, ou até menos, suscetível a acontecer que um ruim e trágico. Era levantar todas as expectativas boas em relação à determinada situação que tem tudo para dar errado, mas que você insiste em ignorar. Era saber que você quebraria a cara no final mas, independente disso, continuaria insistindo que aquilo poderia mudar. Laila não conseguia suportar isso. Sentia-se enganando a si mesma quando tentava ter esperanças.

Esperanças bobas não passavam de um sinônimo descarado para mentiras.

Mas era de seu tio que estavam falando! Seu tio amado que ajudou o pai de Laila à ensiná-la como andava de bicicleta quando a garota nem havia alcançando seus 6 anos. O mesmo tio que deu uma tremenda bronca nela e na filha, quando ambas tinham 7, por terem acusado Derick de um roubo de biscoitos que elas haviam cometido mais cedo. O mesmo homem que se irritava quando não conseguia terminar suas palavras cruzadas ou quando o chamavam por Robert, e não Bob. O tio que fazia Laila questionar todos seus princípios e estilhaçá-los em sua parede de autocontrole mental, instigando-a a usar cada gota de esperança que corria por seu corpo de que, sim, ele acordaria a qualquer momento, sadio!

Questionar e descartar seus próprios princípios pelo bem de alguém era uma coisa tão conveniente ao ser humano que Laila julgou-se estúpida por nunca ter notado. As pessoas iam, tiravam suas conclusões precipitadas de terceiros e logo maquinavam suas críticas estruturadas à respeito, mal sabendo que, se um dia passassem por algo igual, jogariam tudo para o alto e agiriam por pleno e puro impulso, como os que julgaram. Os humanos seguiam assim, em sua perfeita contradição, fazendo isso com uma naturalidade espantosa.

Laila era um ótimo exemplo para isso. O pavor absurdo que tinha em esconder-se atrás de um muro tão delicado feito por blocos de esperança a sufocava, pois estava mais que ciente de que, com a mínima menção de um tremor, tudo tinha a chance de vir abaixo. Ela gostaria que não existisse a opção de haver um tremor, um contratempo, um equívoco no desfecho de tudo, mas havia. Sempre haveria.

Mesmo assim, indo contra si mesma, lá estava ela erguendo os tais muros pelo tio.

Ele vai acordar, ele vai acordar, ele vai acordar.

Por fim, a garota assentiu.

– Está bem – foi tudo o que disse.

XXXX

Quatro dias nunca pareceram tão eternos para Laila. Era como se tivessem se passado quatro meses, ou até mesmo anos. Aquilo já era tortura.

Nem ela nem a família teve alguma notícia de Bob. Nem por mínima que seja!

Não apresentou sinais nem nada, estava tudo empacado.

Laila visitou seu tio nos últimos quatro dias junto de sua família e seus amigos, já que eles acabaram por ficar sabendo. A garota estava prestes a matar o próximo médico que dissesse que o paciente continuava estável pois simplesmente não suportava ouvir mais isso!

Tem que ter tido alguma melhora!, exclamava sua mente em auge do desespero. Aquilo não podia continuar assim.

Era manhã de quarta-feira e Laila torcia logo para que chegasse ao fim, assim poderia ir visitar o tio. Andava pelo corredor sem prestar muita atenção para onde ia. Sua cabeça navegava nas nuvens. Ela vira para escola junto de Nico pois seus primos chegariam à tarde, já que visitariam o pai pela manhã. Mas Laila tinha uma tal prova de trigonometria no primeiro período e não pôde acompanhá-los, o quê a deixava profundamente frustrada.

Caminhava junto ao fluxo de alunos, com a mochila apoiada em um dos ombros mas virada de um jeito que disponibilizava que Laila arrumasse as coisas nela sem problemas. Em dado momento, enquanto Laila remexia nos papéis em sua mochila, esbarrou em alguém.

– Descul... - Laila começou a dizer desviando os olhos da mochila para os pés da pessoa, mas logo que viu seus sapatos de salto caros de grife, parou.

Ela subiu os olhos até encontrar os de Dáphne. Uma careta instantânea brotou em ambas, mas Dáphne disfarçou.

– Wigon! Logo quem eu queria encontrar... - ela começou, batendo as unhas nos lábios no ritmo de seu pé.

– O quê você quer comigo? - Laila resmungou, fechando a mochila e a empurrando para trás.

– Uau, você tem o humor de um velho caquético, sabia? - Dáphne fez uma careta e sorriu, mas Laila não devolveu. Alguma coisa cheirava muito podre e vinha de Dáphne, não do sanduíche de atum que estava na mochila de Laila à quase uma semana.

Laila levantou a sobrancelha e cruzou os braços.

– Vai falar ou vou ter que dar as costas de uma maneira bem grosseira? - indagou.

Dáphne fechou a expressão “feliz” e a encarou com cara de peixe morto.

– Está certo. – começou. Laila pôde ver um brilhinho maligno em seus olhos, e não provinha de maquiagem alguma. Ela se empertigou para falar, talvez numa tentativa de implicar seriedade em suas palavras - Notei que está saindo com o Parker e queria te dar aviso de colega.

Laila percebeu que ela até pensou em falar a palavra amiga, mas isso soaria falso demais até mesmo para Dáphne.

– Ah é? - Laila quase riu, mas manteve a seriedade.

Até onde as pessoas chegariam para conseguir quem queriam?

– Ora, Laila. Conheço um tom de desdém como ninguém, sabia? - Dáphne semicerrou os olhos.

– Não estou te desdenhando.

– E conheço mentiras também.

– Ótimo, Block. Era só isso? - Laila revirou os olhos. Aquilo estava capturando quase toda a paciência que ela já não tinha.

Dáphne ergueu as mãos lentamente, em rendição, e sorriu minimamente, mas seus olhos quase gargalhavam para Laila. Ela sabia que era agora que Dáphne daria o bote e, para ser bem sincera, queria adiantar essa parte.

Talvez Dáphne não soubesse, mas, Laila tinha coisas melhores para fazer.

– Vim te dar um alerta, tentar abrir seus olhos, Wigon... - ela continuou, carregando cada uma de suas palavras com um tantinho de discórdia, a fim que perturbassem Laila. - Ele não é confiável. Fique de olhos abertos.

– E, por acaso, você é?

– Não – ela disse descaradamente – Mas eu não iludo pessoas como Nico faz. Sou bem direta. Se quero que aquela pessoa sofra, vou até lá e consigo isso na cara dela. Eu não finjo que sou sua amiga ou que gosto de você, apenas faço. Ele não. Nico gosta de brincar com a vida dos outros. Gosta de apostar, mas não de perder. - ela fez uma pequena pausa, como que para causar mais impacto – Acho melhor se cuidar.

Laila queria muito esmurrar a casa de Dáphne bem ali, no meio do corredor, mas não por suas baboseiras faladas de Nico. Mas sim porque estava fazendo com que perdesse seu precioso tempo as ouvindo.

Ela deixou a cabeça tombar para o lado e ergueu as sobrancelhas.

– Terminou? - indagou, mas sem esperar por uma resposta exatamente. - Ótimo. Vou guardar seu recado no coração, Dáphne. Obrigada.

Laila preparou para virar, mas a garota foi mais rápida em agarrar seu braço.

– Você é uma idiotinha e realmente muito ingênua se acha que Nico gosta mesmo de você, Laila – ela murmurou pausadamente. - Nunca pensei que você pudesse ser assim. Achei que já tinha visto que o Parker tá pouco se fodendo pra compromisso, mas me enganei. Você é como todas. É como eu. É só ouvir umas palavrinhas bonitas e ganhar uns beijinhos que já acha que o cara vai te pedir em casamento. Uma novidade para você: homens mentem, e bastante. Nico, mais que todos. Aposto até que ele disse que está apaixonado por você, não disse?

Laila calou-se e odiou não saber o que dizer. Teve mesmo que controlar cada célula de seu corpo para não agarrar o pescoço de Dáphne e estrangulá-la.

Seu silêncio foi o sim mais saboroso que Dáphne já recebeu.

– Estou te dando um toque, te ajudando. Melhor abrir os olhos e olhar bem para quem você está entregando seu coraçãozinho, Laila.

Laila puxou o braço para si desprendendo as garras da garota, que saiu “tactequiando” com seus saltos corredor a fora. Uma parte de si estava inquieta, considerando cada palavra da Block. Já a outra preferia não pensar no assunto.

Laila preferiu obedecer essa parte e o sinal bateu.

Faltavam 15 minutos para o almoço e lá estava Laila, assistindo, sozinha, a aula de Literatura. Engraçado que ela tinha aquele monte de amigos e que nenhum dos desgraçados tinham essa aula com ela. Realmente hilário.

Ela se dividia entre copiar a matéria lentamente e encarar o professor, que tagarelava sobre. Laila estava tão distraída que quase gritou quando sentiu o celular vibrar no bolso de trás da calça. O pegou sem que o professor notasse e abriu a mensagem que brilhava na tela.

Olha pra porta. Carly.

Laila franziu o semblante e subiu o olhar lentamente até a porta. Com a cara quase atravessando a parte superior de vidro da porta, encontravam-se Carly e Cloe. Laila as encarou em plena confusão. Cloe rolou os olhos e sumiu por um minuto da vista. O celular de Laila vibrou outra vez.

Da um jeito de vir aqui fora. Vai querer ouvir isso. Cloe.

Laila as encarou novamente e, dessa vez, Carly olhava para baixo e não para ela.

Outra mensagem.

Papai acordou. Carly.


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Notas finais do capítulo

Acho que vocês notaram lá no "tactequiando" que tenho um dom para inventar palavras sem sentido, certo? Que bom ~le dedo positivo~
Enfim, o recado é: ME INFERNIZEM NO TWITTER, MINHA GENTE! Sério, é um jeito muito mais fácil deu falar com o povo e expor sobre a história. Vão lá, crianços. Aproveitem que é lá que eu coloco spoilers, trechos e tagarelo sobre os capítulos. Podem infernizar a vontis ;)
Tá aqui, à vontade do freguês, quem quiser seguir. @dafuckpotter_
Mais algum recado, Helena? Hmmmmmmm, acho que não!
CIAU, GEEEEEEEEEENTE!!!
KISS NO ASS!



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