A Vida (caótica) De Uma Adolescente Em Crise. escrita por Helena


Capítulo 21
Capítulo 21: Os pesadelos que nos assombram.


Notas iniciais do capítulo

Oiii pessoas!!!! Voltei rápido, né! Bom, eu já tinha esse três capítulos prontos no pc, por isso voltei rápido. Assim que tiver mais eu posto, belê? Espero que gostem. Esse, particularmente, é o meu capítulo favorito. Eu pensava em faze-lo desde o início da fick. Espero que gostem!



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– Voltamos pessoas! - gritou Leonard da porta.

– Que pena. Eu tinha esperanças de que você se perdesse no caminho ou quem sabe morrido... - disse Cloe olhando por cima do sofá para Leo, que entrava na sala.

– Vai com calma aí na simpatia, loirinha! - Leo riu se debruçando sobre o encosto do sofá.

– Já falei para não me chamar de loirinha, seu idioa! - grunhiu Cloe.

– É claro, loirinha – e Leo piscou para Cloe. Ela bufou e revirou os olhos azuis para ele.

Leo pulou o encosto do sofá com um impulso e se jogou ao lado de Cloe.

– O quê estão fazendo? - ele perguntou. Cloe o olhou com uma careta e virou o rosto.

– Assistindo a um filme. – Carly disse enfiando um punhado de pipoca na boca – Ei, cadê os outros?

– Quer dizer Patrick, Chase e Dan?

– Sim.

– Estão tirando as compras do carro – Leo disse.

– E por que você não vai lá ajudar? - perguntou Cloe.

– Porque eles são bem grandinhos e podem carregar sozinhos.

– Imprestável – murmurou Cloe.

– Ei! - alguém gritou da porta de entrada – Uma ajuda seria bem-vinda aqui!

Cloe revirou os olhos e se levantou. Segundos depois, ela, Patrick, Chase e Dan surgiram na sala de estar com os braços cheios de sacolas.

– Meu Deus! O quê vocês compraram afinal? - Alison riu se levantando.

Eles seguiram para a cozinha com Nico, Laila e os outros da sala em seu encalço.

Cloe abriu as sacolas e despejou seu conteúdo na mesa assim como Daniel, Patrick e Chase. Da sacola , surgiram pacotes e mais pacotes de salgadinhos, coockies, pacotes de balas, pipocas de micro-ondas, latinhas de refrigerante, barras de chocolate e outras coisas.

– Meu Deus, quanta coisa! - exclamou Laila.

– É, somos previnidos. Compramos pro fim de semana todo – comemorou Leo.

– Tem Nutella aí? - Laila perguntou se inclinando sobre mesa.

– Garota, tu não estava comendo um pote quando eu saí daqui? - Leonard riu.

– Estava, mas alguém roubou de mim, né Nico? - Laila disse.

– Eu só peguei um pouquinho.

Leo trocou um olhar de sobrancelhas franzidas com Cloe. Esta deu de ombros.

– Tá, fica com a que eu comprei, maluca viciada! - disse Leo dando de ombros enquanto pegava um pote com Nutella na mesa e jogava para Laila.

– Ei, vamos assistir logo a um filme? - exclamou Sam.

– Claro – todos disseram.

Eles passaram o resto da tarde na sala jogados nos sofás e nos colchões se empanturrando de doces, refrigerante e pipoca. Laila comeu sozinha toda a Nutella. Ta bem, não tão sozinha assim. Nico fez questão de se sentar ao lado dela no sofá maior com uma colher. Mesmo relutante, ela dividiu com ele. Leo e Cloe as vezes se intrometiam e roubavam uma ou duas colheradas de Laila.

Eles assistiram toda a seleção especial de Claire e Derick, que incluiam muitos filmes de ação, terror e comédia.

Eles e elas se revezavam na hora de fazer a pipoca. As vezes ela vinha acompanhada de balas Fini ou de chocolate.

Já se aproximava das duas horas da manhã. Nenhum deles parecia disposto a dormir. Estavam todos rindo, curtindo e se divertindo demais para dormir. Mas , é claro, tinha uma exceção. Laila bocejou algumas vezes e seus olhos já começavam a pesar e, por uns segundos, ela cochilou encostada no ombro da pessoa ao seu lado.

– Ei! - sussurrou Nico perto do ouvido de Laila – Já está com sono?

Laila abriu os olhos e se tocou que estava dormindo em cima do ombro de Nico. Ela se afastou bruscamente e corou levemente. Graças aos céus estava escuro e ele não notou.

– Ahn... o quê? - ela disse de volta.

– Você cochilou – ele sussurrou sorrindo.

– Shiu vocês dois! - Carly rosnou.

– Me desculpe. - Laila sussurrou sorrindo tímida para Nico.

– Tudo bem.

Eles sorriram um para o outro com as luzes da tevê bruxeleando em seus rostos.

– Bom, - Laila falou alto, chamando a atanção de todos – eu vou dormir.

Várias lamentaçãos e até alguns xingamentos encheram a sala, fazendo Laila sorrir ao se levantar.

– Mas já? - Cloe perguntou manhosa.

– Sim. Estou muito cansada mesmo – explicou Laila dando a volta no colchão e o sofá grande.

– Okay então. Boa noite, Laila – disse Leo.

– Boa noite , pessoal. - ela respondeu seguindo para o hall de entrada.

– Boa noite, Laila – disse Nico.

– Boa noite – e ela subiu as escadas. Entrou em seu quarto e se jogou na cama. Estava mesmo cansada e logo adormeceu.

Pov: Laila.

Nigthmare on

O ar estava frio. Fez os pelos dos meus braços se arrepiarem por completo com um só sopro. Era tudo tão úmido, escuro e gelado, mas onde eu estava?

Ainda de olhos bem fechados, percebi que chovia. Sentia as gotinhas fininhas irem me molhando de pouquinho em pouquinho.

Quando decidi abrir os olhos, o breu noturno logo me cegou. Não vi absolutamente nada por breves segundos, até meus olhos se acostumarem a escuridão. Me vi parada no meio de uma estrada. Um tapete negro e sem fim de asfalto estava sob meus pés, e ele parecia seguir infinitamente para a direita e para a esquerda. A minha direta, o escostamento ladeado com uma mureta baixa de barras de ferro, e a esquerda, um morro imenso cujo eu não via o topo. Em que diabos de lugar eu estava?

Quando o vento cortante fustigou meus cabelos para trás, me encolhi toda. Minhas roupas não estavam nada apropriadas para aquela noite gélida. Minhas roupas... Eu me lembrava de ter usado essas mesmas roupas em um dia... A mesma calça jeans antiga e surrada com regata branca e cardigan vermelho, assim como o tênis. Eu já vesti essas mesmas roupas em especial. Mas quando?

Um barulho estrondoso surgiu do nada, fazendo meu coração palpitar e dar uma falhada. Barulho de uma freada, de um grito e de ferro sendo arrastado no chão várias e várias vezes, como se algum veículo ali estivesse capotando.

Então minha mente se abriu! As roupas! As roupas que usei no dia do acidente...

Comecei a olhar desesperadamente ao redor. A estrada. As roupas. A noite extremamente fria. Eu estava na noite do acidente dos meus pais.

Foi então que vi, mais adiante na estrada, o bolo imenso de sucata prata. Arfei por um segundo, depois comecei a correr desesperadamente até lá. Eu tinha que salvá-los!

O bolo de sucata, mais de perto, se revelou os restos destruídos de um carro prata. O carro prata do meu pai.

Embaixo do carro, estendia-se uma enorme poça de gasolina e, cercando-a, havia uma faixa de estilhaços de vidro, como um tapete. Aquilo definitivamente me desesperou.

Mesmo com todo o vidro ali , joguei-me de joelhos ao lado do seria uma porta, a do motorista. As lágrimas já embaçavam minha visão.

O corpo do motorista estava jogado em uma posição desconfortável sob o teto do carro, já que este estava de ponta cabeça. Agora eu já soluçava de verdade.

– Papai! Não! Papai! - comecei a gemer durante o choro compulsivo.

Olhei atravéz do banco do motorista e lá estava ela, suspensa pelo sinto presa ao banco. Minha mãe. De sua cabeça pingava sangue, mas ela parecia conciente. Enquanto chorava à morte de meu pai, o rosto da mulher se virou para mim. O rosto de minha mãe nunca esteve mais pálido na vida. Estava branco como sulfite e tinha vários cortes e arranhões. Uma fratura que ia da sobramcelha direita até o couro cabeludo pingava sangue.

– Mãe? - murmurei pausando o choro.

– Olha o que você fez! - ela murmurou com voz rouca.

– O quê? Eu não fiz...

– OLHA O QUÊ VOCÊ FEZ, LAILA! OLHA O QUÊ NOS CAUSOU! - ela gritou – EU TE AVISEI PARA FICAR EM CASA! POR QUE VOCÊ SAIU? O SEU PAI! VOCÊ O MATOU, LAILA!

– NÃO! - eu gritei caindo para trás e tampando os ouvidos. – NÃO FOI DE PROPÓSITO, MAMÃE! ME PERDOA!

– VOCÊ CAUSOU NOSSAS MORTES, MENINA! É SUA CULPA! É SUA TODA A CULPA!

– NÃO! PARE! PARE! - engatinhei de costas para a encosta do morro. As lágrimas não me deixavam ver muita coisa. Minhas mãos ardiam pelo vidro estilhaçado no chão e meu peito doía pelas palavras de minha mãe.

Abracei meus joelhos e comecei a chorar compulsivamente outra vez. Eu não respirava direito pelo choro desesperado. A chuva se transformara em uma tempestade brava. O vento fustigava meus cabelos e me dava uma surra.

– Pare, por favor, pare! - eu gemia chorando.

Um barulho entrecortado se destacou em meus ouvidos por um segundo. Quando ergui os olhos a vi. A faísca.

– Mamãe – sussurrei.

– Adeus, querida – disse ela em tom doce um segundo antes da faísca tocar a poça de gasolina e tudo ir pelos ares.

– NÃO!!!!

Nightmare off

Laila pulou da cama com o coração a mil. Suas unhas estavam cravadas no colchão e todo o seu corpo tremia. A respiração era semelhante a de um maratonista. Seus lençóis estavam uma poça de suor, mas mesmo assim, ela sentia frio.

Ali, tremendo e de pernas bambas, Laila se encolheu em sua cama e, no escuro começou a chorar silenciosa e compulsivamente. Abraçada ao próprio corpo ela chorou pelo quê pareceu uma eternidade. Pareceu tudo real, e ela estava apavorada por isso.

Por quinze minutos, ela chorou. Depois de finalmente se acalmar, levantou-se da cama e, cambaleante, contornou os colchões das amigas que dormiam no chão e saiu do quarto. A casa estava mergulhada numa escurdão parcial. A única luz que iluminava o corredor era a luz da lua que entrava pelas janelas no fim no fim do mesmo.

Laila enfiou-se pela porta do banheiro, onde fechou a porta e se sentou ao lado do box, no chão de piso frio. Lá ela controlou as batidas descompassadas do coração e a respiração. Encostou a cabeça na parede e fechou os olhos. Sua mente tentava convencer a si mesma que tudo fora um horrível pesadelo, mas as palavras de sua mãe, mesmo sendo sonho ou não, ainda ardiam como brasa quente na memória.

Depois de um certo tempo, ela se levantou do chão e parou de frente para o espelho acima da pia. Seu rosto, tão pálido, podia se confundido facilmente com o de um fantasma. Uma faixa de suor brilhava em sua testa.

Com as mãos ainda trêmulas, Laila abriu a torneira e jogou água gelada na cara. Suspirou fundo e saiu do banheiro. De jeito nenhum ela voltaria a dormir. Nem se quisesse. O pesadelo estava fresco na memória e , se ela dormisse, ele voltaria com certeza. E isso ela não queria.

Mudou o rumo para as escadas. Quando entrou na sala de estar, cegou-se por um segundo com a luz da televisão ainda ligada. Eram , talvez, umas quatro da manhã. Não tinha ninguém acordado na casa, além de Laila, é claro. Alguém, provavelmente largou ligada e subiu para dormir.

Laila avistou o controle remoto em cima do braço esquerdo do sofá maior, aquele a sua frente. Inclinou para pega-lo, e quando seus dedos o tocaram, uma sombra se ergueu de repente do sofá, fazendo Laila arfar e derrubar o controle no chão.

– Oi – disse Nico olhando para Laila por cima do encosto do sofá.

Ela soltou o ar preso nos pulmões aliviada, porém , irritada e assustada.

– Seu idiota. Você me assustou! - ela rosnou.

– Foi mal. - ele soltou uma risada e se sentou no canto do sofá, como um convite para que Laila se sentasse com ele. Ela revirou os olhos e sorriu. Depois, contornou o sofá e se sentou ao lado de Nico.

– O que está fazendo acordado, Parker? - ela perguntou sorrindo.

– O que você está fazendo acordada, Wigon! Pensei que ia dormir!

– Eu ia – ela sorriu amarelo.

– O quê houve?

– Nada não. - ela mentiu – O que faz acordado? - perguntou mais calmamente.

– Bem, eu não consegui dormir, então o Derick disse eu podia ficar aqui acordado de bobeira. E você?

– Problemas para dormir – ela disse desviando os olhos dele.

Laila queria contar a ele do pesadelo de alguma forma, mas não sabia como. Então, bolou o jeito mais óbvio do mundo, suspirou e virou-se para Nico.

– Nico, você já teve... - Laila engoliu em seco – pesadelos que te pertubavam e não te deixavam dormir?Aquee tipo de pesadelo que deixa...com medo de voltar a dormir?

Nico virou-se para encara-la e também suspirou.

– Sim, bem, com a minha irmã. - ele murmurou abaixando a cabeça – Ela morreu quando tinha 7 anos e eu, 12. Morreu... morreu de leucemia.

Aquilo chocou Laila por dentro. Morrer de alguma doença era um de seus medos. Ela tinha medo de ir defiando por causa de uma doença.

– Depois da morte dela, tive muitos pesadelos. Minha família não foi mais a mesma depois que Lúcia se foi. Ela era a alegria de casa. O pequeno milagre dos meus pais.

– Como assim?

– Quando eu nasci, digamos que eu não trouxe coisas muitas boas com isso. - ele deu de ombros, mas Laila percebeu que aquilo doía para ele falar – Minha mãe adoeceu muito depois do meu nascimento. Quando ela cismou que queria outro filho, descobriu que não seria tão fácil assim como foi comigo. Bom, comigo também não foi tão fácil. Ela já tinha alguns problemas. Mas, quando eu nasci, causei algo um pouco mais complicado com isso, Laila, algo que impossibilitava quase totalmente minha mãe de engravidar.

Aquilo foi definitivamente horrível de ouvir. Uma criança, inocente e tão jovem, ser culpada por uma coisa que ela nem sabia que estava fazendo. Era doloroso.

Laila se levantou e se sentou mais perto de Nico. Colocou uma de suas mãos sob um ombro dele e o encarou profundamente nos olhos.

– Sua mãe não culpa você por quase não conseguir engravidar, culpa?

– Não, mas eu me sinto culpado. - e ele retribuiu o olhar profundo de Laila.

– Nico, sabe que não deve se culpar de nada. Isso foi apenas um acaso ruim. Isso não é culpa sua e devia saber disso, pois é verdade – e Laila sorriu para ele. Ele retribuiu sorrindo torto, aquele mesmo modo que antes pertubava Laila, mas que desta vez a fez sentir explosões na boca do estômago. Ela pensou por um segundo que, talvez este everia ser o sintoma que aquele mesmo sorriso causava nas outras garotas.

– Bom, enfim, mamãe tentou de tudo. - Nico retomou a história tirando Laila de um transe – Fez inceminação artificial e outros tratamentos estranhos. Enfim, quase cinco anos depois tentando, ela conseguiu e deu a luz à Lúcia – e Nico sorriu – o pequeno milagre, como minha mãe a chamava. Ela era a alegria de casa. Sempre contente e saltitante correndo por aí.

– Ela devia ser um doce – Laila comentou sorrindo.

– Um doce? - Nico gargalhou – Ela era uma pestinha! Não saía do meu quarto em do meu pé! Quando Leo ia em casa e nós ficávamos jogando videogame no quarto, lá estava ela escondida no banheiro. Não parava um segundo num só lugar, e sempre sobrava para mim a bagunça dela.

Eles riram mais e mais. Depois de cerca de cinco minutos de gargalhadas, Nico ficou sério. Ele suspirou, sinal que Laila percebeu ser que ele iria continuar a história.

– Quando descobrimos que ela estava doente, foi um choque. Ela tinha cinco anos quando estranhamos o fato dos desmaios constantes e as tonturas e a levamos ao hospital. Minha irmã estava deitada em uma maca branca dentro de um dos quartos e meus pais estavam no corredor. Quando o médico deu a notícia a eles, minha mãe desatou a chorar. Se meu pai não a segurasse, ela teria caído no chão e ficado lá chorando. Não digo que meu pai e eu não ficamos tristes, pois ficamos desolados, mas mamãe sentiu um baque maior. Minha irmã era o seu pequeno milagre. - ele fez uma pausa e olhou para Laila com olhos tristes – Foi horrível ve-la daquele jeito. Ela passava horas trancada no antigo quarto de minha irmã, deitada sobre sua cama chorando. Meu pai e eu tentamos tira-la daquele quarto. Até Nora, que já era nossa goveranta na época, tentou tirar minha mãe de lá. Mas, como ela se recusava, só nos restou esperar que ela finalmente saiu de lá. Claro, isso demorou quase duas semanas para acontecer. Nora levava comida no quarto e mamãe usava o banheiro do quarto de Lúcia.

Laila não sabia bem o que dizer, apenas se aproximou mais e, timidamente, colocou a mão sob a dele. Nico baixou os olhos para as mãos sobre postas e olhou para Laila, que arriscou sorrir de leve como quem diz “Eu te entendo, estou aqui.” Nico sorriu de volta para ela.

– Você teve um pesadelo, não teve? - ele sussurrou para ela olhando-a de baixo.

Laila, pouco relutante, assentiu com a cabeça e puxou a mão que estava sobre a de Nico para si.

– Sonhou com o quê? - ele perguntou.

– Meus pais. Sonhei com eles – ele murmurou abaixando a cabeça e fitando as pernas.

– Laila... você... você nunca me disse nada sobre... bem... os seus pais – Nico tentou dizer sem parecer indelicado.

– Bem, eles... - ela pigarreou – eles morreram a cerca de cinco meses num...acidente de carro.

– Laila … - foi a vez de Nico tomar alguma atitude. Ele tocou joelho dela e apertou de lado. Ela, já sentindo os olhos se encherem de lágrimas, olhou para ele. – Sinto muito. Muito mesmo.

Ela assentiu com a cabeça rapidamente e voltou a fitar as pernas. Nico encurtou ainda mais o espaço entre eles.

– Acha que pode me contar? - ele perguntou.

– Bom, você me contou sobre sua irmã, não foi? - Laila riu forçadamente deixando uma lágrima escapar. – Acho que posso tentar.

Nico assentiu enquanto Laila suspirava pesadamente.

– Bom, eu... eu não sei por onde começar – ela gargalhou um pouco deixando mais duas lágrimas velozes escorrerem.

– Que tal começar por... como eram seus pais? - Nico disse sorrindo.

– Bom, era uma relação um pouco conturbada, se quer mesmo saber! - ela riu de verdade levando Nico a fazer o mesmo – Eu e minha mãe, por exemplo, não vivíamos quase dois dias sem discutir.

– Sério mesmo? - ele riu.

– Sim, de verdade. Nós brigávamos por tudo! Minha mãe odiava minhas roupas, o meu cabelo, meu gosto musical, meu gosto para... - e Laila corou verozmente, mas, por sorte, o escuro escondeu seu rosto – bem, para garotos e tal. Ela não me aprovava em nada! - eles riram por um tempo, depois Laila parou e suspirou com um sorriso – Já meu pai era o melhor. Ele me entendia do jeitinho caótco que eu sou e adorava isso. Quando eu aparecia com o cabelo metade azul e metade castanho em casa depois de sair, ele apenas me encarava e dizia “Sabe que sua mãe vai fazer você tirar isso, não sabe?” Nós ríamos e eu concordava. Dois segundos depois , ele metia os dedos nos meus cabelos, os bagunçava e dizia o quanto eu estava bonita. Era sempre assim. Se eu mesma cismasse eu cortar o próprio cabelo, ele fazia a mesma coisa. - Laila soltou o ar dos pulmões e sorriu – Ele me entendia tão bem que até assustava.

Ela olhou para Nico, que o tempo todo a encarava atento à história. Isso fez Laila sorrir brevemente para ele e tomar um banho de coragem para continuar.

– Mesmo que minha mãe fosse impossível de se lidar às vezes, como eu também sou de vez em quando, eu a amava com todas as forças. Ela era daquelas que dão conselho como ninguém e que sempre estaram lá para te ajudar a levantar de uma das rasteiras da vida. Ela era – Laila engasgou por um segundo – uma mulher incrível. E meu pai... bem, como disse, ele era o melhor. Sempre... sempre que mamãe e eu discutíamos feio mesmo, eu saía de casa, andava exatos 14 quarteirões e entrava num parque. Sempre eu me sentava no mesmo banco, aquele depois de 2 minutos de caminhada parque a dentro perto de um pinheiro que as pessoas costumavam escrever seus nomes e de namorados com um canivete. Na terceira vez que fui para aquele parque, triste e quase chorando pelas brigas da mamãe e eu, meu pai me achou. Achei que ele me arrastaria para casa, mas, pelo contrário, ele me abrçou e ficou comigo ali até que eu me sentisse melhor e mais calma. - Laila fez uma pausa e olhou rapidamente para Nico – Ele me levava para tomar sorvete e, só depois, quando tinhamos certeza que minha mãe também estava calma, voltávamos para casa. Ele fazia nós duas fazermos as pazes.

Laila fez outra pausa, desta vez, uma mais longa. Agora, só o que faltava da história era...bem...o acidente.

– Eu sonhei com eles, naquele maldito acidente de carro. - Laila praguejou apertando o rosto com as mãos. Ela soltou o rosto e suspirou – Foi tudo minha culpa – ela murmurou.

– O quê? Por quê? - Nicco exclamou – Não acabou de dizerque eles morreram num acidente de carro?

– Nico, você não etende a porcentagem de culpa que eu tenho nisso! - Laila praticamente gritou. Agora ela comaçava a chorar. – Eu... eu e minha mãe nós tinhamos discutido. Eu tinha idopara a festa de aniversário de uma amiga... de uma amiga minha. – Laila gaguejava entre alguns soluços e lágrimas – Minha mãe tinha deixado bem claro que não queria que eu fosse na... na droga da festa! Mas eu fui! Quando voltei, nós brigamos muito feio. Soquei algumas roupas na minha bolsa e... e simplesmente saí de casa, como de costume! Eu... eu estava tão mais tão irritada que não enxergava nada, pois eu estava chorando muito. O que minha mãe me disse durante a discussão havia me magoado muito. Eu passei reto do parque e entrei no primeiro ônibus que passou. Mandei duas mensagens. Uma para minha amiga Tamiris dizendo que iria para a casa dela e outra para meu pai dizendo onde estava. - ela parou e suspirou. Olhou para Nico de esguelha, sentindo envergonhada por ter chorado feito uma criança – Essa foi a minha parcela de culpa, Nico.

– Laila, me perdoa, mas eu ainda não entendi o que você está se culpando... – ele disse.

– Nico, veja bem, se eu... - e mais lágrimas – se eu tivesse ficado quieta, naquele maldito parque, meus pais não precisariam ir me buscar na casa da minha amiga. Foi no caminho de lá que... tudo aconteceu. – ela fungou e baixou o olhar – Um homem que dirigia um caminhão vindo na faixa contrária cochilou por um segudo. Este mísero um segundo custou a morte dos meus pais. - ela olhou para Nico – O caminhão invadiu a faixa em que meu pai estava. Ele freou o carro bruscamente e girou o volante para a esquerda, como a perícia disse. O carro capotou diversas vezes até parar contra o caminhão, que ainda vinha na contra mão. - ela suspirou – A perícia constatou que meu pai morreu prieiro, logo quando o carro capotou. Minha mãe e o motorista de caminhão, que também morreu, permaneceram vivos até... até tudo explodir.

Laila ficou em silêncio pelo resto do tempo. As lágrimas cessaram. Nico, por respeito, permaneceu em silêncio até pensar em algo para dizer. Ele estava angustiado pela história de Laila. Ele nunca pensou que aquela garota que sempre lhe pareceu forte, independente e decidida poderia ter sofrido tanto em tão pouco tempo. Se sentiu péssimo por ela e triste também. Queria mais que tudo quebrar definitivamente aquele espaço entre os dois e envolve-la em seus braços como forma de mostrar a ela o que sentia. Bem, não por ela se é o que estão pensando. Mas sim que ele a entendia de certo modo.

Tomando uma coragem que ele nem mesmo conhecia, ele a puxou pelos ombros e a abraçou. Mesmo sem jeito ,ela retribuiu. Eles estavam sentados ,lado a lado, abraçados de um modo um tanto estranho. Ele estava ereto com os pés para fora do sofá e tinha a puxado pelos ombros. Laila também tinha os pés tocando o chão. Ela acabou por se aconchegar com o rosto na clavícula dele, trazendo os joelhos para si. Ela se encolheu e se apertou contra o corpo musculosos de Nico, seu rosto contra ele. Logo sentiu as lágrimas voltando.

– Eu sinto muito. Muito mesmo pelos seus pais. - ele disse virando o rosto, fazendo os lábios roçarem nos cabelos dela.

– Obrigada - ela murmurou com o rosto contra a pele dele.

As lágrimas quentes molhavam a camisa de Nico mas ele não se importou. Ele sabia que Laila precisava daquele abraço faz tempo.

– Eu me sinto ridícula chorando assim – ela murmurou rindo um pouco enquanto chorava.

– Isso faz parte da vida, Laila. Não seja tão casca grossa. - ele falou rindo. Ela riu e deu uma cotovelada de leve em sua barriga.

Eles se separaram e riram um para o outro. Laila secou o caminho das lágrimas e soltou o ar dos pulmões. Eles pararam de rir e se encaram. Com o abraço, o espaço entre os dois havia diminuído relativamente. Os braços e o corpo deles se encostavam. Eles sorriram um pouco um para o outro. De repente, como se um atraísse o outro, o espaço foi se diminuindo, diminuindo até os rostos estarem tão próximos e quase tocarem os narizes. Ambos fecharam os olhos. Apenas suas respirações e a televisão no volume mínimo eram os sons na sala.

– Obrigada mesmo Nico – Laila sussurrou de olhos fechados. Seu hálito roçou gentilmente nos lábios de Nico, que arriscou se aproximar um pouquinho mais.

– Não há de que – ele respondeu, também sussurrando, exalando cheiro de pasta de dente de hortelã.

O silêncio voltou. Os narizes estavam quase para se tocar. Laila e Nico abriram os olhos ao mesmo tempo e se encararam. Laila corou e baixou a cabeça.

– Parece que faremos companhia um para o outro esta noite, não é? - ela mudou drasticamente de assunto enquanto se afastava a uma distancia segura dos lábios de Nico.

Ele ainda parecia sem jeito. Enquanto recuperava-se do transe que Laila lhe colocou, ele se ajeitou no sofá e despenteou os cabelos bagunçados demostrando um pouco de nervosismo. Nervosismo. Outra coisa que era nova para ele e que se desenvolvia de vez em quando, enquanto Laila estava por perto. Cada um se afastou e se virou para frente, para a televisão.

– Parece que sim – Nico conseguiu dizer baixinho.

– Talvez... nós podessemos assistir a alguns filmes. O que acha? - perguntou Laila sem olha-lo.

– É, parece uma boa – ele respondeu da mesma maneira.

– Bom – ela disse ao se levantar – acho que vou fazer uma pipoca então.

– Certo.

Você escolhe o filme e eu faço a pipoca? - ela perguntou lançando um olhar rápido a Nico que a fitou por alguns míseros segundos.

– Parece bom.

– Okay – ela disse saindo da sala e indo para a cozinha.

–Okay – ele respondeu.

Quando Laila retornou, eles, ainda desconcertados, ficaram assistindo a alguns filmes até altas horas. Acabaram por dormir juntos naquele mesmo sofá. Laila estava encostada no cantinho do sofá e Nico, na ponta. Eles não estavam abraados nem nada, mas a cabeça de Laila estava apoiada no braço de Nico. Claro, eles não plenejaram isso, mas seria uma cena estranhamente diferente quando os outros os vissem.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Ei , fantasmas, me mandem nem que seja um "oi" gente. Vocês não tem ideia do quanto nós, escritores, damos um duro desgraçado para bolar os capítulos e tal. Gente, mandem um sina de vida pelo menos. Eu me mato escrevendo! Por favor, né?
Bom, é isso, bye!



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