The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 23
Capítulo 22 — Salvaguardando


Notas iniciais do capítulo

OI
Demorou, mas postei hehehehhe
NÃO deixem de comentar, por favor, e espero que gostem e não tentem me caçar e me enfiar num touro de bronze.
Enjoy it



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Salvaguardando

TRABALHAR. Precisava trabalhar para ocupar minha cabeça. Evitei Matthew a todo custo, não o vi desde que corri para longe do consultório logo após ter cedido.

Errei por poucos centímetros uma enxadada no meu pé, e parei de capinar por um momento. Aaron passou por mim carregando um saco de semente, e Candy ofereceu-me água. Bebi tudo num gole, enxugando a boca com as costas da mão.

Os espelhos de Jeb refletiam um calor inteiro no campo, cobrindo todos com suor e poeira, enquanto preparávamos o solo. A rotina continuará. A vida seguia sem parar.

Somente a noite que tive um segundo de descanso. Adentrei a água quente da câmara de banho e fiquei encarando as luzes e sombras na parede. Recordei-me da vez que Cam tentou me matar aqui, e o modo como aquilo me afetara. Era uma lembrança tão baga, tão distante. Parecia outra vida. Quando meu pai estava vivo, mesmo suprimido; minha mãe não vagava pela cozinha o dia inteiro, alheia e quebrada, sem nunca realmente estar presente. O sentimento de Jamie por mim não era mútuo. Eu ainda tinha Bruma. Era, de fato, outra vida.

Tão descomplicada.

Franzi o cenho para o teto antes de me deixar afundar na água.

Terminei de me banhar e vesti uma blusa de mangas e uma calça jeans. Meu velho par de coturnos pesados. Lola estava deitada na saída da câmara, me esperando. Afaguei suas faces quando ela se apoiou em mim com as patas dianteiras. Lola, a única coisa que permaneceu intacta na minha vida.

Alice estava sentada na minha cama. Depois da incursão, Jared trouxe alguns móveis úteis, pois havia encontrado uma loja de móveis nos arredores de uma cidadezinha, com a porta aberta. Almas eram tão ingênuas. Ganhei uma cama de casal e um par de lençóis. Era uma cama muito grande para se dormir sozinha.

—Ashley. —Alice pronunciou sem delongas. —Estou preocupada.

Ela estava tão crescida. Quase havia dobrado de tamanho desde que eu havia a trazido para as cavernas. Seus volumosos cachos ruivos estavam curtos, suas sardas mais acesas pela excessiva exposição ao sol. Seus braços e pernas, finos como gravetos, pois ela cresceu de uma hora para a outra.

—O que lhe preocupa?

—Nossa mãe. —Já era de se esperar. —Ela não consegue mais pensar. Mal fala palavras coerentes. Ashley... —Ela se pôs de pé, quase do meu tamanho. —Eu sei que você está lidando com muitos problemas agora, com a maluca Gracie e Matthew, mas... Jane continua sendo sua mãe, apesar de tudo. E ela está prestes a ruir. —Palavras de uma mulher. É isso que ouço sair da boca daquela garotinha, que há pouco tempo atrás eu ninei. A antiga Alice não está mais presente; agora ela é forte, confiante e astuta, como a vida a forçou a ser. Mas um tom quase infantil de medo toma sua voz quando ela diz: —Se você puder fazer alguma coisa, tente. Estamos perdendo a mamãe também, Ash.

Segurei sua nuca e a abriguei nos braços.

—Não vou deixar isso acontecer. —Murmurei.

Alice esfregou o nariz no meu ombro.

—Eu tenho medo, Ash. Não quero perder mais ninguém da nossa família.

—Shh. —Beijei sua testa. —Não vamos perder ninguém. Ficaremos todas juntas; eu, você e mamãe. Ela está triste, Alice, apenas isso.

—Não. —Ela balança a cabeça, ainda enterrada em meu peito. —Eu estou triste. Você está triste. Mamãe está prestes a quebrar.

Fechei meus olhos. A pequena Alice enxerga a brutalidade dura do mundo. Não é apenas uma criança esperançosa. Todavia, mal ela sabia que todos ao seu redor estavam quebrados.

—Eu não vou permitir. —Sussurrei. Segurei o rosto dela entre as mãos, fazendo-a olhar para mim. Ela estava à beira das lágrimas. —Você não vai perder mais ninguém, Alice, está me ouvindo? —Ela assentiu. —Ótimo. Você não vai perder mais ninguém, eu não vou deixar.

—Promete?

Abracei-a mais uma vez.

—Prometo. Eu prometo.

Ela se afastou de mim repentinamente, e esfregou o rosto. Não queria que eu visse suas lágrimas. Sorri para tentar confortá-la, mas sabia que só havia um modo de acalentar sua dor. Teria que encarar a perda do meu pai ao confrontar minha mãe, e apesar de tudo, teria que ser mais forte do que fui nos últimos tempos.

Obviamente, Jane estava na cozinha. Eu me perguntava se ela dormia por lá, pois desde que voltei com a notícia de que meu pai havia morrido, ela não é vista em outro lugar. No começo ela parecia bem; consolava Alice e raramente demonstrava algo além de um semblante triste. Agora, posso ver o que a morte de Charles causou a ela. Minha mãe está mais magra que o normal, fina e reta como um passarinho. Seus cabelos vermelhos como fogo estão apontados em quinze direções diferentes e seus olhos estão pequenos e inchados. Sempre havia a marca de lágrimas em seu rosto, como se ela nunca tivesse parado de chorar, e seus joelhos e cotovelos estão cobertos de machucados e hematomas. Ela não se aguentava mais de pé.

Sentei-me ao seu lado no banco. Ela estava remendando os rasgos de algumas roupas, mas estava tão perdida em si mesmo que a agulha furava seu dedo e manchava as roupas de sangue, e Jane não percebia.

—Mãe? —Chamei, cautelosa.

Ela notou minha presença e estendeu a mão para tocar meu rosto. Sua pele estava colada aos ossos.

—Querida. —Sua voz estava áspera, pouco usada. Ela teve que pigarrear, e seus lábios se curvaram no sorriso mais depressivo do mundo.

Segurei a mão dela de encontro ao meu rosto.

—Mãe, quando foi a última vez que a senhora comeu?

Ela olhou para mim, mas não viu nada. Alice estava certa, Jane era como um zumbi. Não pensava, mal falava, e estava apodrecendo.

Antes que ela pudesse responder, ou pensar, fui até o fogareiro e preparei a primeira coisa que encontrei: Mingau de aveia. Servi um copo de água e outro de whiskey – tinha certeza de que Doc não se importaria – e coloquei tudo diante dela.

Jane olhou para a comida por alguns segundos antes de balbuciar.

—Comer? Não, querida, não.

—Ah, sim. —Peguei sua mão e coloquei a colher nela. —Não vou deixar você se matar. Prometi a Alice que lhe traria de volta a vida, irei fazê-lo. Nem que eu precise te tratar na boca.

A ameaça e a ferocidade da minha voz fez minha mãe arregalar os olhos. Com razão; eu nunca havia falado daquele modo com ela, e em circunstâncias normais, jamais o teria feito. Mas ela estava se destruindo, e eu não iria sentar e assistir.

—Coma. —Ordenei.

Jane encarou a colher, o mingau e a parede, e pareceu ter dificuldade em afundar o talher na massa homogênea e enfiar na boca. Mas logo pegou a prática.

Sentei ao lado dela e sorri.

—Muito melhor. Está muito quente?

Mamãe estendeu novamente a mão, meio suja de mingau, e correu pela minha bochecha.

—Está perfeito, Ashley, está perfeito.

Acariciei o braço dela enquanto ela devorava o mingau e jogava água atrás. Recusou o copo de whiskey, e apenas para não jogar fora, deixei o fogo líquido correr pela minha garganta, e sorri de aprovação.

—Acho que você precisa de um banho.

Jane estendeu os braços na frente do rosto e vejo, pela primeira vez em tempos, uma expressão real surgir em seu rosto, o cenho franzido em desaprovação a sujeira que grudou em sua pele.

—Talvez. —Sua voz soou lúcida, mais uma vitória.

Levei-a para a câmara de banho e a ajudei a se livrar dos rasgos de moletom que ela vestia. O tempo estava frio para um deserto, mas ainda ameno.

Lavei seus cachos vermelhos enquanto ela relaxava na água quente da piscina natural, e lhe emprestei roupas. Mamãe se abraçou ao moletom azul escuro, presente que pertencia ao meu pai, e esperei por suas lágrimas, mas elas não apareceram. Apenas um leve erguer de cantos da boca e olhos fechados pela saudade. Abracei-a e ficamos daquele jeito vários minutos, e não pude deixar de me sentir culpada; se eu tivesse dado mais atenção a minha mãe antes, talvez ela não tivesse estado naquela forma moribunda. Eu tinha um percentual de culpa do seu estado doentio.

Entretanto, para minha alegria, sua melhora era visível. Depois de passar quase uma hora dentro da água e comer a segunda porção de mingau que lhe ofereci, ela estava melhor. Parecia uma pessoa novamente. Talvez viesse demorar algumas semanas para ela ganhar o peso que perdera, mas conseguiria. Mamãe era forte.

Levei-a para meu quarto e a obriguei a dormir por algumas horas. Antes que eu pudesse sair, ela me segurou pelo braço.

—Fique um pouco. Quero conversar com você.

Oh-oh. Eu estava temendo essa parte. Eu conseguia mandá-la se alimentar e lhe dar banho, mas ter que reconfortá-la com palavras? Complicado.

—Mãe, sobre o papai, eu...

—Eu já pensei nele o suficiente. —Ela me interrompeu. —Quero falar de você, sobre você.

Ergui meus olhos para os dela. Ainda havia traços da forte personalidade de Jane neles. Ela voltaria em breve.

—Sobre mim?

—Sobre... tudo. Jamie. Matthew. Sei que você tem andado triste, eu precisava ser cega para não perceber.

—Talvez eu o tenha perdido.

Jane deu tapinhas nas costas da minha mão.

—Ele não está morto. Não está perdido.

—Mas...

—Esperança. —Ela me interrompeu com um levantar de sobrancelhas. —É mais forte que o medo. Se você for esperançosa, não haverá lugar para o temor.

Dei um leve sorriso.

—Você está certa.

—Sempre estou. —Ela se virou de lado, ficando de costas para mim. —E você também estava, agindo como se fosse minha mãe hoje.

—Trocando de papéis. —Abri um sorriso.

Mamãe ergueu a mão e pegou a minha.

—Obrigada, Ashley. Sei que preocupei vocês. Mas a perda foi tão... —Sua voz minguou.

—Não precisa se explicar, a menos que queira.

—Não quero. —Eu sabia.

Acariciei a mão dela por alguns minutos. Jane puxou o ar algumas vezes, na tentativa de falar, mas desistiu em todas.

—Da próxima vez... —Ela sussurrou, e se virou para mim. Havia um novo brilho em seus olhos verdes. —Que quiser ajudar alguém, seja mais gentil. Pensei que você fosse me afogar se eu não a obedecesse.

Ergui meu queixo, arqueando as sobrancelhas de modo brincalhão.

—Bem, posso ser eficiente sem ser gentil.

—Você não consegue deixar de ser tão petulante um minuto sequer?

—Por favor. —O tom cínico na minha voz me divertiu. —Eu sou Ashley Mayfleet.

Esperei por uma repressão, mas Jane abriu um largo sorriso. Ela bocejou e se virou novamente. Fiquei em silêncio para que ela dormisse, mas não sai do seu lado. Era bom ver que ela poderia se reerguer.

O som da cortina de veludo me assustou, minutos depois. Jane ainda não havia dormido; sua mão continuava firmemente agarrada a minha.

Peregrina adentrou o quarto em silêncio, e observou minha mãe por cima do meu ombro. Tentei não sorrir quando Jane fingiu estar dormindo apenas para não ter que se dirigir à Peg. Não era a primeira vez que ela fazia isso.

—Como ela está? —Sussurrou Peg.

Entrei na brincadeira, também sussurrando.

—Melhor.

—Isso é ótimo.

Virei-me para encará-la.

—O que você quer? Não veio me procurar sem motivos.

Peregrina torceu os dedos da mão.

—Só quero informar que... Retiramos Matt.

Fiquei de pé num gesto abrupto.

—Sem que eu pudesse me despedir?

—Ele... Pediu. Quer dizer, ele disse que não queria vê-la. Queria que as últimas lembranças de você fossem boas.

Claro. Ele não queria que eu arruinasse a lembrança do beijo com uma cena de raiva que atormentaria suas lembranças.

—É compreensível. Mas porque ele foi embora?

Os olhos prateados de Peg me encararam, uma alegria renovada neles.

—Matt disse que sentiu algo, uma agitação. Queremos dar a chance para Jamie voltar antes que isso se vá...

—Isso é bom. —Engoli o maldito sentimento de ter desistido de Jamie. —Avise-me se algo novo acontecer.

Havia choque na expressão de Peg.

—Você... Você não vai visitá-lo?

Sentei novamente ao lado da minha mão, dobrando a coberta na altura dos seus ombros. Sentia-me terrivelmente fatigada.

—Mais tarde, Peg. Preciso de descanso. Obrigada pela informação.

—E-Está bem. —Ela gaguejou, e pigarreou. —Bom descanso.

Assim que os passos de Peg estavam longe, Jane abriu os olhos.

—Os ouvi conversando sobre isso na cozinha. Sobre Matthew. Queriam tirá-lo, mas não queriam que você soubesse.

—Como você ouviu?

—Eu estou doente, Ashley, não morta.

Engoli em seco.

—Eu sei. Desculpe.

Jane sentou-se e esticou os braços.

—Talvez você queira falar com Chris.

Franzi o cenho, confusa.

—Com Chris? Por que motivos eu iria querer falar com ele?

—Por causa de Jamie, obviamente. Agora que ele irá voltar, você não pode deixar Chris assim, sem eira nem beira.

Minhas sobrancelhas se franziram ainda mais.

—Continuo sem saber nada.

—Ah, Ashley. —Jane revirou os olhos. —Você parece uma criança, às vezes. —Não gostei de ouvir aquilo. —Como eu disse, eu não estou tão fora assim para não perceber as coisas. Preciso estar tola de vez para não reparar o modo como Chris olha para você, e como você foge dele. Termine qualquer coisa que tenha entre vocês antes que Jamie volte. Descomplique sua vida. Você sabe o que quero dizer.

—Chris não pode ser feliz se for apaixonado por mim e eu estiver com Jamie. —Conclui.

—Gosto quando você coloca sua cabeça para funcionar.

—Está dizendo que preciso afastá-lo?

Jane olhou dentro dos meus olhos, furando minha alma.

—Estou dizendo para seguir seu coração. Faça o que você considera certo, mesmo que alguém saia machucado.

Então eu soube. Precisava matá-lo para que sua vida continuasse.

Andei em passos confiantes até a cozinha. É perto do meio dia, e Chris sempre está ajudando por lá.

Eu precisava falar a ele. Tudo. Precisava tirá-lo do meu caminho para que ele possa seguir o seu próprio. Eu iria magoá-lo; iria. Consequências.

Vejo-o levando uma bacia de louça para a cozinha. É alto, forte e seus cachos louros estão desordenados. Gosto tanto da companhia dele que só de pensar o que devo fazer meu estômago se embrulha. Mas tenho que deixá-lo ir.

—Chris. —Chamei-o, e seus olhos me encontraram com facilidade.

Ele termina seu serviço e vem ao meu encontro, num corredor próximo e isolado. Chris sorriu quando me viu, e não consigo deixar de me sentir um monstro.

—Oi, Ashley.

Serei egoísta, não posso negar. Mas é o único jeito, o único modo que tenho para fazer com que ambas as vidas prossigam. Sobreviver custa preços altos.

Preciso enxotar Chris. E ele precisa se salvar de mim.

—Precisamos conversar. —Disse eu, com o tom de voz mais sério e perigoso que tinha.

Chris me estudou por um segundo, e suas sobrancelhas se ergueram de preocupação. Ele sabe, ele sabe. Meu coração dói a cada batida.

—Primeiro você tem que me beijar.

A condição me pegou de surpresa. Como eu poderia lhe falar tudo o que devia se o beijasse? Iria me autocontradizer.

—Não vou beijar você.

Maldito! Como ele consegue ser tão astuto e perspicaz?

—Finge... Finge que sou um soldado moribundo, e que esse é meu último pedido.

Respirei fundo. Não havia escapatória; eu via a determinação nos olhos cinza dele. Então fechei os olhos e toquei seus lábios com os meus.

Não pensei que ele pudesse me prender com tanta facilidade.

Seus lábios se fundiram aos meus com voracidade, não havendo brechas para que eu respirasse. Seus braços se fecharam a minha volta como uma armadilha, e eu não podia me mexer a menos que ele deixasse. Não conseguia nem desencostar minha boca da dele. Foi tão desesperado e tão agonizante que me perguntei o que Chris achara. Talvez ele soubesse que nunca mais me beijaria.

E não estava disposto a me deixar ir.

—Chris... —Murmurei, os lábios esmagados contra os dele. Chris baixou o rosto, roçando-o contra o meu. —Pare.

—Por favor...

—Solte-me. —Minha voz soou tão calma quanto assustadora. —Agora.

Ele se desvencilhou de mim lentamente, mas continuou segurando a minha mão com força demais, para que eu não pudesse retirá-la.

Eu precisava terminar com aquilo. Eu precisava. Todavia, vendo seu rosto tão concentrado em mim, como se eu fosse o sol da sua galáxia, o centro de tudo que ele tinha, quase falhei. Hesitei várias vezes antes começar a falar. Mas era preciso.

—Você é frio. —Murmurei. Sentia o sangue correndo mais rápido, meus olhos queimando. —Você é frio e egoísta, e mesmo que tente agir como se fosse forte e abnegado, só está em busca de seu bel-prazer. Você é... Vil. E eu preciso de calor. Doçura. Preciso de algo bom na minha vida, algo que possa se sobrepor a toda a minha dor, e você não pode. Você não é, assim, suficientemente vivo para que eu me sinta viva. —Minha voz está modificada, áspera. Minha mão está caída ao lado do meu corpo, do jeito que estava desde que Chris a soltou. Há uma máscara de sofrimento cobrindo seu rosto. Sua dor me machuca, mas não consigo parar; não paro. As palavras saltam da minha boca. — Estou vazia. —Meu queixo treme. —Estou vazia, e o amor que você diz ter por mim não me afeta. Eu... —Como posso ser tão cruel a ponto de continuar falando? Contudo, continuei. —Você me causa dor. Quando olho para você, Chris, e vejo o quão partido está, eu sofro. —Engoli em seco. —E, sinceramente, eu não preciso de mais sofrimento; já estou calejada demais. Então... Então... Preciso afastá-lo. Preciso ficar longe dessa cota extra de dor antes que eu desintegre.

—Você quer dizer... —A voz de Chris está trêmula e desafinada, lágrimas pesadas descem por seu rosto. —Que eu... Estou destruindo você?

—Estou querendo dizer. —Fixei meus olhos no cinza, respirando fundo, e vendo sua alma alquebrada. Ele precisa se salvar de mim. —Eu não preciso; eu não quero você na minha vida.

Chris apertou os olhos. A reação dele foi diferente do que esperei, sua raiva seria mais aceita do que seu sofrimento calado. Vejo seu corpo se retrair como se uma espada tivesse atravessado seu estômago. Tive vontade de correr até ele e abraça-lo e pedir perdão, e partilhar de sua dor, mas me mantive tão firme no chão quando um pilar.

Chris ajeitou a postura e abriu os olhos. Eles estão opacos, desfocados, totalmente cinzas. Esfregou as mangas no rosto, e começou a andar na minha direção. Sua mão mal tocou meu ombro, e quase não senti a pressão quando ele o apertou.

—Tudo bem, Ashley. Eu entendo. Tudo bem.

E Chris se vai, caminhando com passos trôpegos pelos corredores. Fiquei parada até que os ecos não alcançassem meus ouvidos. Se ele me dissesse algo duro, frio e calculista, eu aguentaria. Se Chris me chamasse dos mais terríveis nomes existentes, eu aguentaria. Entretanto, pela primeira vez, ele concordou comigo. Chris concordou comigo. Não discutiu. Não contradisse. Apenas assentiu, e foi.

Sem mais. Mais nada.

Talvez eu tivesse o livrado de um terrível futuro próximo a mim, mas não consegui poupar-me de mais um sofrimento. A culpa esmagadora me desintegrava na terra púrpura.


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Notas finais do capítulo

(Só se houver dúvidas
Vil: Adjetivo masculino 1. reles; 2. ordinário; 3. infame; 4. desprezível; 5. mesquinho.)
NÃO ME MATEM!
Foi cruel, eu sei. Mesmo para quem não gosta do Chris, acredito que tenha sido bem brutesco da parte da Ash, mas enfim, minha opinião não conta.
É muita maldade dizer que o próximo capítulo será cheio de surpresas PORÉM vai demorar? É, sim. Amo vocês ♥



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