The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 22
Capítulo 21 — Acontecendo


Notas iniciais do capítulo

Ciao.
Desculpem a demora, não me lembro mais do tempo que eu conseguia sentar e escrever os capítulos fácil e rapidamente. Mas aqui está, para acabar com o maldito suspense. Espero que gostem.



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Acontecendo

MANTIVE-ME PARADA. Todos os minutos, enquanto Melanie e Jared discutiam aos gritos, Ian e Jeb coçavam seus queixos e Peg andava ao redor de Doc com impaciência, enquanto ele tagarelava. Eu apenas não me mexi, meus olhos fixos no peito que subiu e descia da garota.

Então, dei dois passos para trás e corri. Desci o corredor até o pátio principal, e deixei que meus pés me levassem aonde queriam.

É tudo culpa sua. Mas o quê? O quê? O fato de o mundo ter acabado? Jamie ter sido capturado? Ou é por minha culpa que ele não retorna? E o mais importante, como ela sabia? Aquela jovem sulista morena, cujo rosto eu havia forçado a memória para recordar, contudo nunca havia visto, como ela poderia me acusar de ser a culpada? E pelo o quê?

Meu corpo automaticamente empurrou a cortina de veludo mofado e vermelho e adentrei meu quarto. Afundei com força no colchão, os olhos fechados e a mente em conflito, e não notei a presença do outro corpo.

—Ashley?

A voz era tão grave, tão melódica, tão doce. Sobrevoou o ar e aqueceu meu coração. Odiei-me por lembrar a mim mesma que o verdadeiro dono não estava presente.

—Eu não sabia que você estava aí, Matthew.

Pausa. A respiração dele era audível, nervosa.

—Peg e Melanie costumam de chamar de Matt.

Fechei meus olhos novamente. Tente ser gentil, Mayfleet. Ele veste o corpo do homem que você ama.

—E você gosta que te chamem de Matt? Prefere o apelido?

—Sim. —A voz dele soou fraca.

—Tudo bem. —Engoli em seco. —Matt.

Apelidos. Se começasse com apelidos, iria ser mais difícil para ele partir; eu não queria isso.

—E quanto a você? Eu sei que Jamie lhe chamava de Ash...

Virei meu rosto para ele.

—Como você sabe disso? Teve acesso às memórias dele?

Matthew estava com o corpo na beirada do colchão, pronto para ficar de pé. Eu sentia a ansiedade dele, sabia o que ele procurava.

—Só... Só essa informação. Quando me disseram que seu nome era Ashley, eu soube que Jamie te chamava de Ash, mas só ele tinha esse direito. Será que... Que eu...

Ele não se referia ao apelido, e sim ao constante desejo de aproximação que seu corpo sentia. Então empurrei meu corpo para trás, para deixar um espaço no colchão, e dei tapinhas.

—Você pode vir.

Matthew se deitou ao meu lado e passou aos braços ao meu redor. Ele não sabia o que estava fazendo, mas tinha toda a certeza. Encontrou à antiga posição que Jamie tanto gostava, minha cabeça deitada contra seu peito.

—Ah. —Eu sentia o sorriso em seu rosto. —Sinto como se tivesse encontrado meu lugar no mundo.

Franzi as sobrancelhas, segurando o braço dele que quase esmagou meu rosto.

—Você não deveria. —Murmurei. —Não deveria nem tocar em mim. Não deveria sentir o que pertencia a Jamie. Isso não é seu.

Ergui meus olhos para os dele. A expressão que lhe causei indicava o que eu já sabia; não adiantava amenizar o tom de voz, minha raiva estava estampada no meu corpo, queimando em meus olhos.

Seus braços se afastaram ligeiramente.

—Desculpe.

Uma palavra piscou diante da minha visão. Sobrepujado. Encarei a linha fina de seus lábios, fechados com força, e seus cílios curtos sobre seus olhos baixos. Seria fácil. Eu poderia apenas fechar os olhos e tocar meus lábios nos dele. A explosão tomaria conta de mim. Tamanha ardência traria Jamie de volta. Ele queimaria de volta à vida, de volta a mim. Era fácil. Fácil.

Fácil. Eu nunca pararia de correr? Pois o estava fazendo novamente, fugindo para longe do monstro preso na mente de Jamie, fugindo da minha infeliz verdade. Eu era uma covarde. Uma miserável covarde.

Olhando para aqueles olhos, que antes me proporcionavam uma estranha sensação de conforto, agora me agoniavam, me repeliam. E eu estava correndo novamente, procurando um esconderijo que nunca encontraria.

Não estava esperando por nada, na verdade, e me assustei quando um amontado castanho tentou pular sobre mim, e num impulso recuei.

A menina louca do consultório se reergueu, os dedos curvados como garras a minha direção.

—O que você quer comigo, sua maluca? —Rosnei, recuando até bater na parede.

Ela me agarrou pelos ombros, os dedos se fincando na minha carne, e no momento que uni minhas mãos para golpeá-la, a garota socou meu queixo, fazendo minha cabeça bater na parede. Pontos brilhantes dançaram na frente da minha visão; usei seu ombro para empurrá-la e me apoiar ao mesmo tempo. Segurei seu punho antes que me acertasse novamente, meu braço tremendo com o esforço. Ela era forte. Porém não tanto.

Chutei o músculo tensionado da sua coxa, fazendo-a fraquejar, e consegui jogar-me sobre ela para imobilizá-la no chão.

—Por que está fazendo isso? —Berrei.

—Você não é assim. —Seus olhos me perfuraram. De onde eu a conhecia? —Não é. Conheço você, e esse comportamento abnegado não lhe pertence. Você não é adestrada, o que te aconteceu?

—Eu... —Quem é ela? —Eu não conheço você.

Seus joelhos se juntaram e foram de encontro ao meu estômago. O ar me escapou e caí no chão, rolando para me apoiar sobre os joelhos e arquejando em busca de oxigênio.

—Não adianta fingir. Somos o que somos, mesmo que às vezes esqueçamos isso. E você é uma pessoa ruim, Ashley.

Meu nome. Ela sabia meu nome, e eu tampouco reconhecia seu rosto. Porém, de onde? De quando? Antes ou depois do fim do mundo? Ela era amiga ou inimiga? Minha memória parecia ser arrancada. Odiava-me por não lembrar.

—Eu não esqueci. —Puxei o ar lentamente pelas narinas. —Ainda lembro-me de quem sou.

—E quem você é?

Fiquei de pé, apoiando na parede. Tentei perfura-la com os olhos assim como ela fazia.

—Sou a pessoa que nunca perde numa briga.

E me joguei sobre ela. Acertei seu queixo, fazendo sua cabeça chicotear para trás. Segurei a gola da sua camiseta e dei uma joelhada em seu estômago. Ela arfou, e o impulso que sua cabeça fez para buscar ar a fez cair para frente. Joguei meu cotovelo para o meu das suas costas, e senti suas omoplatas se contorcendo de dor sobre minha pele. Ela gritou. Esperneou. Mas cada movimento fazia com que eu afundasse meu cotovelo mais e mais no vão das suas costelas. Ela acabou desistindo.

—Vamos. —Um murmúrio, quase um rosnado. —Pode falar. Quem é você?

—Eu... —Sua voz deu uma fraquejada. —Como você pôde esquecer?

—Diabos... Esquecer o quê?

—De você. Como pôde se esquecer de você?

—Do que você está falando?

A garota se soltou, virou-se de frente para mim e me encarou com seus olhos âmbar.

—Sou eu. Gracie.

Um farfalhar de reconhecimento roçou meu cérebro. Gracie. De onde eu conhecia o nome? Ele me soava familiar. Ela era uma antiga conhecida? Talvez do colégio, de quando eu ainda tinha uma vida normal. Fazia tanto tempo. Estava tão longe.

—Gracie?

—Eu vi você, Bruma, em Tucson, há tempos atrás. Estava atrás de seu namoradinho, oh. Tsc.

Bofeteei a lateral do seu rosto.

—Cale a boca! Você me atacou do nada. E como ainda é humana?

—Você não é a única que sabe sobreviver! —Ela gritou, tentando uma contorção para se livrar de mim. Acertei sua outra face.

—Acho melhor você baixar o tom de voz comigo, menina. Posso facilmente colocar uma arma no seu queixo e explodir seus miolos.

—Pois faça isso. —Gracie sorriu, um brilho maníaco nos olhos. —Pelo menos saberá qual seu lugar. Saberá como deve se portar, Ashley. —Ela estralou a língua. —Tsc.

Cerrei os dentes.

—Gracie! —Uma voz ecoou pelos corredores. Era aguda e estridente, como um pássaro.

—Peg! —A voz de Gracie modificou-se para um tom choroso e infantil. —Peg, me ajude.

—Saia de cima dela, Ashley! —Peg brigou comigo, alcançando a garota e me empurrando. —Você a está assustado.

Eu a assustei? —Pus-me de pé, tão acima de Peg e Gracie. —Essa louca tentou me matar.

Peg mandou um olhar questionador para Gracie, mas a menina juntou as sobrancelhas.

—Estou tão confusa, Peg. Não sei o que está acontecendo, e toda essa agressividade me assusta tanto... —Ela se enrolou nos braços da Alma.

—Está tudo bem. —Peg me mandou um olhar ofendido, e franzi as sobrancelhas. —Vamos embora, Gracie.

Elas se afastaram, e soltei um rosnado alto, cheio de raiva, que ecoou até elas. Um aviso.

Trombei com Paige quando estava saindo dos corredores. Ela parecia me procurar.

—Ashley, Melanie pediu para que você desse uma passada no consultório de Doc. Matthew está lá, e ele estava trabalhando na busca de Jamie.

Há quanto tempo eu o havia deixado? A dizer pela luz fraca que saiam das frestas no teto, eu já estava há doze horas sem vê-lo. Havia o evitado o dia inteiro. Tentado fugir da verdade, apenas.

—Está bem. —Suspirei. —Estou indo para lá.

Meu passo não foi muito mais rápido do que uma caminhada moribunda. Eu estava adiando o máximo qual quer que fosse a notícia que teria.

Matthew estava sozinho lá, sentado no catre e balançando os pés num ritmo que só ele conhecia.

—Matthew. —Chamei, e seus olhos me captaram rapidamente.

—Oi Ashley.

Nada de “boas novas”. Nada de “ele voltou”. Um sentimento angustiante e traiçoeiro levou um nó a minha garganta.

—Conseguiu alguma coisa? Sobre Jamie?

—Estou tentando há horas. Não há nada, simplesmente nada. Jamie não está aqui.

Senti um gosto salgado. Das lágrimas que me escorriam pelas faces. Não eram lágrimas de dor ou tristeza.

Era ódio. Ódio líquido.

Esfreguei o rosto ruidosamente, tentando me livrar daquele sentimento incômodo e ameaçador, e grunhi. O ódio me sufocava.

—Ashley... —Murmurou Matthew, mas o afastei dando alguns passos para trás, esticando a mão.

—Não chegue perto de mim. —Eu queria avançar nele e surrá-lo. —Fique aí e faça seu trabalho. Encontre Jamie, e depois vá embora.

—Eu... —Ele estendeu os braços na minha direção, mas me esquivei. —Eu, eu...

—Não, Matthew. Não toque em mim! —Mas suas mãos já haviam se fechado em volta dos meus pulsos.

—Eu lembrei. Eu senti. —Ele sussurrou. —Na verdade, foi só uma fagulha, mas... Foi tão forte. —Matthew me encarou nos olhos. —O que Jamie sentia por você era mais forte do que qualquer coisa que eu já presenciei em toda minha vida.

Fechei meus olhos para evitar lágrimas.

—O que sinto por ele também é assim. Na verdade... —Suspirei. —É tão forte que parece impossível.

Eu ainda estava de olhos fechados, e ouvi quando ele se levantou e segurou meu rosto entre as mãos. Eu deveria me afastar, mas o calor era tão familiar, o cheiro tão forte... Eu não consegui.

Ouvi Matthew sussurrar.

—Jamie provavelmente se foi e não creio que vá voltar. Eu estou tentando encontra-lo com todas as forças, Ashley, eu juro. E sinto muito.

Abri meus olhos e encarei os ombros dele, sem falar nada. Matthew passou a mão pelo meu rosto para afastar os cabelos que caiam.

—Mas eu posso amá-la. —Ele disse. —Posso te fazer feliz novamente.

Ele me puxou para um beijo, e não recuei.

Contudo, não senti a explosão ou o calor, nem mesmo uma centelha. Não me senti completa. Os movimentos eram vazios. A dor se dilatava.

Afastei-o, espalmando uma mão em seu peito e o empurrando.

—Você não é Jamie.

—Mas sou seu corpo e seus sentimentos. Sou suas memórias e seu futuro. Sou tudo que sobrou dele, e tudo que você tem.

Apertei os olhos com a verdade dolorosa daquelas palavras.

Matthew segurou meu corpo novamente e me beijou.

Ele não sabia o que estava fazendo, e sabia com certeza. Ele era uma Alma. Sua vida sempre fora dividida entre a certeza e o desconhecimento.

Entretanto, o modo como se movia, o seu cheiro e o calor da pele, era perfeitamente igual.

Era Jamie.

Segurei sua nuca, tendo o cuidado de manter os olhos bem fechados.

Senti um gosto interessante e estranhamente salgado naquele beijo, o gosto das lágrimas que deslizavam timidamente pelas minhas faces.

Não queria admitir, nem para mim mesma, mas sentia falta daquilo tudo. A saudade ardia dentro do mim, e o desejo de tê-lo perto de mim parecia torturante.

Eu me afoguei naquele beijo, deixando que ele me segurasse junto de si, me pegar pela cintura e me sentar no catre.

Passei os dedos entre seus cabelos enquanto beijava seu rosto, e encontrei o antigo esconderijo do meu rosto na curva do seu pescoço. Abracei-me a ele enquanto esperava as lágrimas cessarem.

Ele esperou pacientemente, ciente de como era difícil. Era difícil perder tantas coisas. Era difícil aceitar.

Porém, para mim, o mais difícil era desistir.

Eu não podia enganar a mim mesma.

Aqueles beijos. Eram prova de que eu havia desistido.

Eu nunca teria cedido se ainda tivesse esperança que Jamie voltaria.

Eu desisti dele, e isso me fez chorar de verdade, e meu corpo tremia ao encontro do corpo rígido dele.

Matthew acariciou meu rosto, limpando o rastro das lágrimas, e tocou minha testa com a sua. Apertei os olhos.

—O que é isso?

Eu me afastei abruptamente, pulando de pé para longe de Matthew. Fiquei de costas para ele e encarei a pessoa que adentrara o cômodo.

—Chris...

—Você estava beijando isso?

—Eu...

Chris ergueu a mão para me silenciar.

—Você está começando a agir como uma desesperada. Isso. —Ele apontou para Matthew sentado no catre. —É nojento.

Ele se virou e saiu.

—Chris! —Corri até ele e agarrei sei braço. —Chris...

Ele soltou o braço, girou e me agarrou pelos cotovelos. Uma fúria insana dominava seus olhos.

—Chris, eu... Desculpe-me...

Ele me interrompeu com um gesto.

—Eu amo você, tá legal? —O modo como ele pronunciara parecia ser algo muito ruim, quase nojento. —E eu sei que você ama Jamie. —A fúria foi substituída por uma tristeza profunda que escureceu seus olhos. —Mas não faça isso consigo mesma. Não se deixe enganar. Aquilo não é o Jamie.

—Eu sei. —Sussurrei, sentindo minha garganta pesar. —Entretanto, eu sinto tanto a falta dele, Chris, tanto que chega a machucar.

Ele me encarou alguns segundos antes de soltar meus cotovelos e passar os braços ao meu redor. Pus uma mão em sua nuca para mantê-lo bem perto. Chris era seguro. Não era uma alma instável. Não era um corpo que tendia a ser um perigo para mim. Era Chris, e mais nada. Imutável.

—Eu sinto muito. —Ele murmurou.

—Não. —Retruquei baixinho. —Eu é que sinto. Eu queria poder me apaixonar por você...

Ele tentou se afastar.

—O quê...

Segurei firme sua nuca para deixa-lo onde estava.

—Eu queria, Chris. Mas eu não posso. Como disse, eu amo Jamie e não consigo desistir dele sem enlouquecer... Portanto não há outra opção para mim, e. Eu. Sinto. Muito.

—Acredite. —Ele deu um suspiro, tão melancólico e pesaroso que me doeu o peito só de ouvir. —Eu também sinto.

Ah, os sentimentos. Tão agudos e tão profundos. Cada sílaba tônica e cada falsete na voz eram suficientes para se partir um coração. Mesmo não o amando, mesmo não o querendo, a dor de Chris me machucava. Ele se intricara na minha vida no momento que a salvou, no momento que riu das minhas falhas tentativas de sedução, no momento que admitiu me amar. Quisera eu não dar a mínima para pessoas como antigamente, ignorar sentimentos alheios e focar unicamente no que me interessava. Mas eu não conseguia. Era egoísta demais para me fechar para o mundo. Era altruísta demais para não me importar.

As tão conflitantes emoções humanas.


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Notas finais do capítulo

Então.
Não posso prometer um capítulo em breve, mas não vou demorar muito, espero.
Babies, por favor, não deixem de comentar, amo vocês ♥



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