The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 18
Capítulo 17 — Conseguindo


Notas iniciais do capítulo

Hey,
Olha quem já conseguiu postar um capítulo. Pequeno, mas é um capítulo. Pois é, eu estava inspirada e sem ter o que fazer. Sorte a minha. Então, aqui está.
Enjoy it



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Conseguindo

NÃO LEMBRO COMO CONSEGUI ACORDAR, mas quando abri os olhos, no meio da noite, eu estava viva. Ardendo de febre, cada centímetro de pele doendo como se as células estivessem vindo do inferno, a cabeça dilatando e contraindo, esmagando meu crânio com uma batida silenciosa e profunda. Arrastei-me até Chris, a menos de um metro de mim, e percebi que ele se movia o suficiente para estar respirando normalmente.

—Chris? —Sacudi-o. —Chris, por favor, abra os olhos. Chris?! —Encostei a orelha em seu peito, tentando captar batimentos. —Porque seu coração está tão fraco? Chris! Acorde!

Acertei um tapa nele. Nenhum movimento. Sem hesitar, baixei meus lábios para se juntarem aos dele. Um leve suspiro dele assoprou minha pele. Chris abriu os olhos e seu corpo estremeceu.

Dei um suspiro, aliviada.

—Você vai acabar me matando do coração. —Disse.

—Tenho dúvidas de quem vai acabar matando quem. —Ele respondeu, arfante.

Dei outro suspiro, agoniado e dolorido, e caí sobre ele, rolando para o lado, para a cama de casacos.

—Se eu não comer alguma coisa nas próximas duas horas, meu estômago vai ter um colapso. —Reclamei, apertando o punho contra minha barriga barulhenta. —Sem contar que vou desidratar.

—Você está com sede?

—Claro que estou com sede. Tenho febre e não bebi nada nas últimas 60 horas.

Chris se ergueu, puxou o kit de primeiros socorros e procurou alguma coisa. Tirou de lá uma garrafinha de 500 ml de água potável. Entregou-me a garrafa, que peguei com encanto.

—Guardei para uma situação crítica. —Ele disse.

Tive vontade de mandá-lo ir se ferrar, mas apenas bebi a água em pequenos goles, para saciar minha sede. Deixei metade da garrafa para Chris.

—Não tem nada para comer? —Lamentei.

—Infelizmente não.

Puxei um casaco extra para me cobrir. Estava amanhecendo e eu estava morrendo de firo. Meus dedos, orelhas e nariz estavam dormentes. Trinquei os dentes para não bater o queixo, e supus que a temperatura derivava entre 5°C a -1°C.

Chris estava andando de um lado para o outro, na certa evitando uma hipotermia. Prestando atenção, percebi que ele andava como um ganso atolado.

—Chris. —Chamei-o. —Você pode, por favor, aquecer-me?

O brilho nos olhos dele indicou que ele caiu na minha armadilha. Chris sentou-se ao meu lado, abriu a primeira camada de casacos e me ofereceu espaço. Juntei-me a ele, passando os braços ao redor de sua cintura, mantendo-o bem perto. Num milésimo de segundo, seus lábios encontraram os meus.

Não pude deixar de notar as diferenças nítidas entre Chris e Jamie. Chris, ele não lutava pelo que queria, apenas num ímpeto de coragem e desespero que me beijou. E, como aceitei – talvez pelo fato de estar meio-morta – agora, ele me beijava sempre. Se quisesse me pegar, ele o fazia. Simples assim. Já Jamie, cada gesto, cada beijo, cada olhar era carregado de intenções. Ele nunca me tocava sem antes me olhar, pedindo permissão com os olhos. Ele era cálido, gentil, doce.

E eu deveria parar com minhas comparações e lidar com o tempo real, tirando a mão de Chris que seguia a linha da minha coluna em direção a minha bunda. Afastei nossos lábios.

—Ei! —Exclamei. —Tire a droga de mão daí.

Chris deveria estar delirando, pois sorriu para mim. Não se desculpou, não recuou. Sorriu.

Franzi as sobrancelhas e o empurrei. Infelizmente, ele estava firmemente agarrado em mim, e caímos juntos. Aproveitei a situação para fazer o que queria desde que o chamei: verificar o machucado de Chris. Passei um joelho de cada lado de seu quadril, e puxei todos os casacos para cima, descobrindo seu abdômen ferido – e definido – e cerrei os dentes.

—Ei, amor. —Mesmo brincando, ele arfou. —Vamos pular as preliminares?

—Cale a boca. —Resmunguei, mas meu rosto corou. Puxei o ar por entre os dentes. —Ah, caramba. Olha só pra isso, Chris.

Chris arfou mais uma vez. Devia estar doendo.

—Está feio, não?

—Está. Pior do que eu pensei, na verdade.

Honestamente, estava horrível.

Chris, que eu mantinha uma antipatia irreversível, é a única ancora para minha sobrevivência física e mental. Tenho que mantê-lo vivo se ainda quiser estar totalmente sana.

Mas parece ser uma tarefa complicada, já que a pele ao redor do seu ferimento na está quente e inflamada, criando uma camada repugnante de pus. Havia secreções, restos de algodão, sangue seco e carne inflamada. Nada bom. Eu não poderia saturar o ferimento, ou Chris morreria de dor. Cerrei os dentes para não jogar bile para fora do meu estômago oco.

Na verdade, não sei como faria para salvar aquilo.

Baixei os casacos.

—Isso vai inflamar até me matar, não vai? —Sussurrou Chris.

Não tive coragem de olhar para ele.

—Quanto tempo ainda resta para eles nos buscarem?

Chris engoliu em seco.

—Umas... Doze horas.

Peguei a garrafa de água e entreguei a Chris.

—Beba. E depois, volte a dormir.

Ele assentiu, virou a garrafa e se deitou.

—Não vou conseguir dormir.

—Você tem que dormir. —Eu me arrastei até perto dele. —Quando você estiver dormindo, vou limpar seu ferimento. Se você estiver acordado, vai doer demais.

—Não me importo.

Respirei fundo e peguei o kit. Descobri o machucado e mantive o restante de seu corpo coberto, para não resfriar.

—Olha, se eu começar, você vai ter que aguentar até o final.

Chris estava com os olhos apertados. Ele assentiu.

Respirei fundo e peguei a água oxigenada. Despejei sobre o ferimento, que começou a borbulhar em segundos. Eu sabia que a dor era horrível, ardia como se fosse ácido.

—Se eu aguentar, você vai se deitar e dormir comigo. —Chris disse de dentes cerrados. —E eu vou ter a melhor noite de sono da minha vida.

—Isso mesmo. —Incentivei-o, acariciando seu braço estendido em minha direção. —E o que mais? —Quanto mais ele falasse, esquecer-se-ia da dor e ficaria consciente.

—Vou enrolar uma mecha do seu cabelo por horas a fio. Só por que eu gosto da cor e da textura dele.

Depois que a água oxigenada terminou seu serviço, comecei a passar gaze para retirar o sangue seco e o pus. Essa era a pior parte para mim, e engoli em seco diversas vezes.

—Isso é legal. —Murmurei. —E... E você vai me abraçar?

—Vou te manter sempre perto de mim, mesmo quando você se espernear e debater enquanto dorme, vou suportar e ficar perto de você.

Quando restava apenas a ferida aberta e inflamada, peguei a linha de satura. Meus dedos tremiam.

—Isso vai doer um pouco mais, Chris. Não pare de falar comigo, está bem?

—Tá. E fale comigo. Sua voz de faz lutar contra a dor.

Ele estava chapado de dor. Meu estômago se contorceu num nó quando coloquei a agulha fina em sua pele lesada. Chris deu um berro e se contorceu.

—Se eu acordar no meio da noite, vou acariciar seu cabelo. —Sussurrei, com um nó na garganta. —Espero que você faça o mesmo.

—Quero acordar com os braços dormentes depois de você passar horas no meio deles. —Ele estava praticamente aos berros, a sua voz mudando de tom por causa do dor. Continuei saturando enquanto ele falava. —Vou beijar sua pele e observar você dormindo, por que quando você dorme fica tranquila e não sente dor. —Havia lágrimas escorrendo do rosto dele. —E quando você sente dor, eu me sinto incapacitado e inútil, por que não posso fazer nada. Eu vou cuidar de você a noite toda... A noite toda. A noite toda, e de dia também.

Terminei de saturar e cortei a linha com os dentes. Cobri o ferimento com uma atadura e fechei tudo com micropore. Limpei as minhas mãos que tremiam.

—Já passou, Chris. —Engatinhei até seu lado. —Está tudo bem agora.

Seu braço desceu pesado nas minhas costas, e me derrubou. Ajeitei-me ao lado dele, dobrando os joelhos e apertando meu rosto contra seu peito.

Eu não amava Chris. Não como amava Jamie, com toda a minha devoção e paixão. Eu não morreria por ele. No entanto, vê-lo sofrer, tanto de dor ou por mim, isso me machucava. Eu costumava ser imune ao sofrimento alheio, mas parece que isso acabou. Beijei a minha do maxilar dele, para acalmar os calafrios que atravessavam seu corpo e me sacudiam.

Chris me abraçou, e em poucos segundos, dormiu.

Virei-me de costas para ele, e mesmo que a posição me incomodasse, eu poderia ficar de olho na entrada do nosso abrigo. Não sei quanto tempo mantive os olhos fixos nas árvores secas, mas em algum determinado momento, meus olhos começaram a turvar e submergi em um mundo sombrio.

O barulho de folhas sendo amassadas de despertou. Vi, ao longe, duas figuras distintas se aproximando. Quase chorei de felicidade.

Chris estava quase em cima de mim, dormindo de bruços com metade do corpo contra o meu, então tive que fazer uma acrobacia para escapar dos braços dele. Pus-me de joelhos e engatinhei até a saída do abrigo.

—Ian! —Gritei. —Estamos aqui!

—Ashley!

Nunca pensei que ficaria tão feliz em ouvir sua voz. Eles nos alcançaram em poucos segundos, e Ian me ergueu e me abraçou. Agarrei-me nele como se eu fosse uma náufraga, e ele, um bote. Ele me soltou, e meus joelhos fracos cederam sob meu peso. Foi Jared quem me segurou. Soltei-me e usei Ian como apoio para me firmar, mas minha cabeça girava o tempo todo, e Ian teve que me pegar no colo.

Vi Jared acordando Chris e o escorando para fora, então fechei os olhos até sentir que estávamos nos carros. Ian me sentou ao seu lado, puxando meu tronco para se apoiar nele. Ótimo. Eu mal conseguia me manter sentada. Chris sentou-se ao meu lado, e recolhi as pernas para lhe dar mais espaço. Estiquei a mão para pegar a dele, e estava febril. Chris estava oscilando para os lados, então usei sua mão para puxa-lo e apoia-lo contra mim, e nós dois jogamos nossos pesos em cima de Ian. Mas isso não importava; ele não se importava.

A caminho de casa, Ian ofereceu um analgésico contra a dor, e tomei-a sem precisar de água. Dei um a Chris, que estava semiconsciente. Dei-lhe água. Acariciei seus cachos loiros enquanto o analgésico fazia efeito e ele relaxa e adormecia.

—Vocês parecem mais próximos agora. —Murmurei Ian.

—Meio que salvamos a vida um do outro. —Respondi, franzido as sobrancelhas diante da insinuação de Ian. —Acho que isso aproxima as pessoas.

Ian deu um sorriso e ajeitou o braço para que eu me apoiasse.

—Eu senti sua falta. Todos sentimos, na verdade.

—E como está Jamie? —Não pude deixar de perguntar.

—Quando eu saí das cavernas, Matthew ainda estava lá, mas eles estavam se preparando para removê-lo.

Eu sorri.

—Isso parece bom.

—De fato, é bom. —Concordou Ian.

Ajeitei-me e observei a estrada pelo painel.

Vi meu reflexo pelo retrovisor e me assustei com o que vi.

Olhos selvagens, bochechas esfoladas, sobrancelhas tão curvadas sobre as órbitas que as deixavam sombrias, um pedaço tosco de pele que antes foi meu nariz, lábios rachados e sem cor. Foi isso que me tornei. Uma selvagem insana.

Mas eu não estava dando muito importância para minha insanidade ou minha selvageria – eu estava a salvo, estava indo para casa. Eu tinha conseguido.


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Notas finais do capítulo

Tcharam, não teve um final terrivelmente surtável. Nada de suspense, nem "que diabos essa idiota fez". Por nada.
Não quero demorar no próximo, não mais de uma semana, e não deixem de comentar (:



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