The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 19
Capítulo 18 — Recuperando


Notas iniciais do capítulo

Oi oi oi.
Desculpem a demora, tá ficando f*da ter tempo pra tudo que eu preciso fazer, mas aí está. Espero que gostem.



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Recuperando

OS OLHOS DE DOC foram a primeira coisa que vi quando reabri os olhos. Ele sorria para mim.

—Bem vinda de volta, Ashley.

—Oi Doc. —Minha voz estava ligeiramente rouca. —Você já me curou?

—Você está perfeita novamente. —Ele responder.

Percebi que minha mão direita estava mais quente que o restante do corpo, e encontrei Chris, mesmo adormecido, segurando-a.

—E Chris? Ele está bem?

—Foi difícil de limpar e desinfeccionar todo aquele corte, mas parece que você fez um excelente trabalho saturando-o. Ele está ótimo, apenas dormindo.

—Que bom. Eu posso me sentar?

—Pode fazer o que quiser.

Ergui meu tronco hesitando. Esperava que meu corpo doesse, os ferimentos ardessem e meu peito pesado. Mas eu estava bem, finalmente.

Fiquei de pé, testei a firmeza de minhas pernas e dei uma voltinha. Afastei o cabelo da testa de Chris e coloquei sua mão sobre seu peito, e deixei-o dormindo.

Encontrei Jamie dormindo em uma cadeira encostada na parede e quase explodi de felicidade. Corri até ele e me enrosquei em seus braços, inspirando seu cheiro quente. Finalmente, me senti em casa.

Ele se remexeu e me apertou contra si, enfiando o rosto em meus cabelos. Ficamos uma eternidade daquele jeito, sem dizer uma única palavra. Não era necessário.

Quando eu me senti satisfatoriamente aquecida pelo abraço, segurei seu cabelo na altura da nuca e puxei seu rosto para poder encontrar seus lábios.

Mas parei a milímetros de distância da boca dele.

Por que não era Jamie.

O reflexo em seus olhos me fitaram, surpresos.

Soltei-o e fiquei de pé num impulso, recuando alguns passos para trás.

—Ashley! —Não sei como ele sabia meu nome, mas veio ao meu encontro. A cada passo dele, eu recuava um. Ele percebeu e manteve distância.

—Eu... Eu senti sua falta.

—Por que você ainda está aqui? —Navalhas em minha voz.

—Eu, hm, só estava... —Matthew desviou os olhos e bamboleou sobre os pés.

—Pensei que fosse Jamie. —Sussurrei.

—Eu não queria ir embora antes de te ver novamente. —Matthew admitiu, baixinho.

—Hum. —Percebi o quão rude fui, e quase me senti culpada. Quase. —Então, Matthew, o que você quer?

—Eu só... Eu só queria lhe contar uma coisa.

—Ah. —Esfreguei os olhos, tão decepcionada que parecia que eu iria murchar. —E o que é?

—Eu me lembro. —Ele sussurrou. —Houve... Uma lembrança. Sua. O teto havia caído, desbarrancado e... Você ficou presa. Quando te encontrei, foi o momento mais feliz da minha vida, por que você estava salvo, e nos meus braços. Foi... Brilhante. Vivo. —Ele focou os olhos em mim, e não consegui desviar. —E quando... Você dormiu, naquele dia, eu me deitei ao seu lado. Foi o maior período de tempo que fiquei tão próximo de você desde que te conhecera. Você estava tão doce, tranquila enquanto dormia. Nada de carrancas e vozes cortantes. Você era só beleza e paz, e nunca na vida vi algo tão bonito... —Matthew engoliu em seco. —Eu me recordo, Ashley, que deitei a cabeça no mesmo travesseiro que você e a observei dormir por horas. Às vezes acariciava seu rosto, mas você se mexia e eu me afastava... Eu me relembro disso com tanta cor e tantos detalhes que chego a sentir falta desse momento.

Fechei os olhos momentaneamente, me lembrando desse dia.

Abri os olhos, desviei de seu olhar e sussurrei ainda um pouco rouca.

—É, eu também me lembro.

Então dei de costas e corri para meu quarto antes que eu fizesse algo estúpido como chorar.

Não tinha percebido a falta que ela me fazia até encontrá-la. Lola. Minha cachorra dourada com olhos âmbar e língua comprida. Enrolada como uma grande bola no meu colchão, o pelo subindo e descendo, seguindo sua respiração. Corri até ela e me deitei ao seu lado. Ela se acordou, me reconheceu e começou a ganir. Algo me diz que ela também sentiu minha falta. Depois de lamber toda a extensão do meu pescoço e braços, Lola se enrolou em mim e fechou os olhos enquanto eu coçava atrás de sua orelha.

—Eu senti sua falta, minha menina. Senti sim. Eu estava com gente tão idiota, Lola, e não conseguia deixar de pensar o quão inteligente você é.

Ela lambeu meu queixo, concordando.

—É, sim. Eu também amo você.

—Ash?

A voz era chorosa e aguda. Não precisava vê-la para sentir as lágrimas que escorriam de seu rosto redondo.

—Alice.

Ela correu até mim e se jogou no meu colo, soluçando.

—Ah, Ash. —Seus soluços faziam meu peito pular. —Eu estou tão triste e tão feliz ao mesmo tempo.

Acariciei seus cachos vermelhos e notei o quão grande ela estava; se encolhendo toda para caber no meu colo.

—Ashley! —Minha mãe correu até nós e abraçou a mim e Alice simultaneamente. —Graças a Deus, você está bem...

—Desculpe. —Eu sussurrei, enquanto as lágrimas copiosas desciam as minhas faces. —Eu deveria tê-lo salvado.

—Não, querida, não. —Jane segurou meu rosto apoiado contra o seu, também molhado. Ela parecia estar chorando há dias sem descanso. —Não é culpa sua. Nada disso é culpa sua.

—Mas eu, eu... —Gaguejei. —Eu tinha que ter ficado em sua guarda. Deveria tê-lo mantido sob minha visão para que eu pudesse ter impedido...

Mãe me puxou novamente contra si, com tanta força que não consegui respirar.

Você está bem. —Ela repetiu, e esfregou o nariz no meu ombro. —Isso que importa.

Afaguei os cachos de Alice, que chorou até dormir, e me mantive no abraço protetor e melancólico de minha mãe até suas lágrimas secassem e virassem um pó fino contra seu rosto. Pude perceber, pelo seu rosto sugado e acabado, que ela nunca se recuperaria. Algo dentro dela havia se quebrado, e a única pessoa que poderia concertar está morta.

Talvez o amor não fosse tão nobre assim, uma vez que o perde.

Porém, mesmo assim, mãe arranjou forças para erguer os cantos da boca, no sorriso mais deprimido do mundo.

Então, nos ajeitamos no meu colchão, nós quatro – eu, Alice, mãe e Lola – e adormecemos com a saudade e a tristeza contaminando o ar.

Pisquei os olhos longamente por conta da claridade. Apenas Lola ainda estava comigo, a cabeça enfiada no meu pescoço, e abriu os olhos, alarmada, quando me mexi. Afaguei os pelos macios entre suas orelhas.

—Sou só eu. —Murmurei, e minha cachorra dourada voltou a dormir.

Na ponta dos pés, saí do meu quarto e percorri os corredores. A terra púrpura e o cheiro abafado me eram familiares, mas estranhos. Eu sentia falta desse lugar, das cavernas e dos corredores, e de tudo que vivi aqui dentro. Eu só precisava de novas lembranças agora. Caminhei até a bifurcação que dividia os dormitórios, e encontrei o de Chris. Eu nunca tinha motivo para ir até ali, nem tinha certeza de que era aquele mesmo, mas eu precisava ver se ele estava bem.

—Chris? —Chamei, parada na frente da lâmina de madeira que servia de porta.

—Ashley? —Escutei os estrondos do alvoroço que lhe causei, como várias peças pesadas caindo no chão. A madeira foi afastada, e um Chris com aparência saudável e bochechas coradas surgiu, um homem diferente do Chris moribundo que rondava minhas memórias.

Fiquei na ponta dos pés para passar os braços ao redor do pescoço dele e o abracei. Chris pousou as mãos na minha cintura, e comecei a chorar. Por que estávamos a salvo. Por que estávamos vivos e saudáveis. Por que Jamie não é Jamie. Por que meu pai estava morto. Eu tinha tantos motivos para chorar, mas a umidade que encheu meus olhos foi por causa da segurança confortável que eu sentia, seguida de um forte alívio, como se eu tivesse acordado de um pesadelo.

Meu corpo estava são; minha mente que precisava ser recuperada.

E eu odiava isso. O fato de estar tão vulnerável, tão fraca e incontrolável. Odiava ter que depender de alguém. No caso, esse alguém era Chris, que acariciava meus cabelos enquanto eu engasgava e produzia ruídos iguais a de um animal ferido.

—Tudo bem. —Murmurou Chris, a face pressionada contra a minha. —Está tudo bem.

Não foi bonito, eu admito. O choro. Parecia que uma gralha estava entalada em minha garganta. Meu corpo sacolejava com os soluços. Em poucos minutos, tudo cessou, e fiquei apenas com o rosto escondido nos braços de Chris, ouvindo o ruído das respirações.

—Jamie não é Jamie. —Sussurrei, me agarrando no primeiro pensamento que me veio à mente.

A mão de Chris subia e descia, do meu pescoço a minha cintura. A outra mão estava enrolada nos meus cabelos.

—Eu sei, eu o vi.

Engoli em seco.

—Ele se lembrou de mim.

Lentamente, Chris segurou minhas mãos entre as suas e me afastou, mantendo meus dedos presos entre seu peito e as suas palmas. Tive que olhar para ele, tão acima de mim.

—Talvez isso seja uma boa notícia. —Ele soou calmo. —Talvez Matthew consiga contatar Jamie.

—Talvez. —Eu me sentia tão pequena tendo que erguer o queixo para olha-lo nos olhos.

—E se Matthew encontrar Jamie, significa que sua recuperação será quase imediata depois que a Alma foi retirada e...

Foi um impulso. Fiquei na ponta dos pés novamente, cansada de ser tão baixa, segurei o rosto de Chris nas mãos e apertei contra minha testa. Não queria ficar com ele. Não queria beijá-lo. Só queria que ele calasse a boca.

—Tudo bem, Chris. Eu acredito em você.

Ele realmente calou a boca, e ficou parado. Senti seus olhos se fechando contra minha face.

—Só, às vezes, tenho medo de que Jamie não volte. Acho que minha desesperança é grande demais, só isso. Eu sei que estou chorando demais; mas estou bem, só não estou feliz. Você não precisa tentar me acalmar com palavras, eu não preciso de consolo.

—Sobre a sua desesperança... —Chris segurou o cabelo da minha nuca para manter meu rosto próximo ao seu quando tentei me afastar. —Você sabe. Eu sei. Posso servir como distração à você, ajuda-la a ficar bem. Mas apenas Jamie será sua cura.



—Tem certeza? —Perguntei a Melanie. Seu olhar estava duro, inflexível, focado no catre que abrigava o corpo de Jamie.

—Não quero perder tempo esperando Matthew encontrá-lo. Jamie está aí dentro; vamos deixá-lo sair por contra própria.

—Você tem razão. —A mão envolta na minha se apertou. Segui o olhar de Melanie pelo corpo estendido, até cruzar olhares com Matthew. Era ele quem segurava minha mão.

—Bem, então, eu, bem, queria saber qual será meu próximo destino... —A voz dele transbordava nervosismo e medo.

—Para onde você quer ir, Matthew? —Perguntou Peg, a doce Peg, que se inclinou para acariciar o cabelo negro dele.

—Bem, eu... Se pudesse escolher, ficaria aqui. —A voz dele minguou. —Mas acho que... Deixo a cargo de Ashley escolher.

Todos olharam para mim, e franzi as sobrancelhas.

—Por que eu?

—Eu... —Matthew pigarreou, e olhou para mim. —Eu confio em você.

Que legal.

Sorri levemente para ele.

—Talvez você possa ir para o Mundo Cantor. —Eu me mexi, colocando uma mão de cada lado da sua cabeça e me inclinando para perto dele. —É onde Bruma está, e é um planeta muito bonito.

—Eles cantam. —Disse Matthew. —Mas são cegos.

—Não precisa-se ver; pode sentir a beleza. —Sussurrei. —Você quer tentar?

Ele assentiu com a cabeça.

—Então feche os olhos.

Matthew o fez, e inclinei minha cabeça o necessário para pressionar os lábios contra sua testa. Seu rosto era quente, a pele macia, a cor bronzeada. Logo, isso tudo voltaria a ser Jamie, e eu o teria de volta.

Roçando os lábios na pele dele, beijei-lhe a ponta do nariz, demorando-me até encaixar minha boca na dele.

Foi rápido, um leve pressionar desesperado, no qual ambos pedimos por mais, porém eu não podia. Eu não podia. Matthew sorriu com o rosto a centímetros do meu, ainda de olhos fechados.

—Talvez não enxergar não seja tão ruim.

Eu dei uma risada que soou melancólica aos meus ouvidos. Peguei novamente a mão dele, acariciando a parte superior com o polegar.

Ele abriu os olhos, o reflexo por trás da escuridão me lembrando que ele era um inimigo, algo que eu supostamente deveria odiar, mas não conseguia.

—Eu vou sentir falta daqui. —Sussurrou.

—Você consegue lidar com isso. —Minha voz não soou macia.

Ele suspirou pesadamente, fechando os olhos por um segundo, e voltou a olhar para mim.

—Adeus, Ashley.

—Seja feliz, Matt. —Sussurrei, e ele virou o rosto para esconder entre meu ombro e meu pescoço quando Doc borrifou Adormecer nele.

O corpo relaxou, a Doc começou a arrumar as coisas para retirar Matthew e trazer Jamie de volta.

Então, baixei o rosto até apertá-lo contra a camiseta do corpo de Jamie e dei o sorriso mais verdadeiro dos últimos tempos, que se seguiu de um riso tão frágil quanto a esperança que eu tinha de um dia poder voltar a sorrir facilmente.


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Notas finais do capítulo

Onde se compra um Chris?
Enfim, espero que tenham gostado, e já comecem a rezar pro Jamie voltar, por que eu prevejo mais uma longa jornada frustrante de erros e falhas para a Ashley. SEM SPOILER! Amo vocês



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