The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 16
Capítulo 15 — Socando




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Socando

QUERO GRITAR e me esconder. Não sei por que tal sentimento tomou conta de mim, mas o terror me paralisa. Puxei a arma que Matthew portava e mirei para as Buscadoras que se aproximavam. As características fenotípicas semelhantes a Mel e Sharp eram mera coincidência, graças ao bom Pai, e atirei nelas antes que ferissem alguém. Entretanto, elas disparam vários tiros, mirando em nós, e tenho que rolar até uma árvore próxima. Errei a ruiva por centímetros e cerrei os dentes de raiva. Ela mira em mim e acerta o tronco da árvore. Ian também está atirando, escondido atrás de uma pedra, protegendo Peg com seu corpo.

Não consigo ver os outros.

Escutei um grito quando a Buscadora morena é atingida na perna, e ela urra como um animal, e seus gritos e tiros logo cessam quando alguém acaba com ela. A ruiva ainda está atirando contra Ian, a expressão tão concentrada e letal que me dá nojo, e saio do meu escudo para mirar com precisão em seu peito, e disparo. O tiro a joga para trás, mas ela atira para baixo, e escuto um ruído feito por uma boca humana. Nada bom. Aproximei-me dela e chutei a arma de sua mão. Atirei mais uma vez, arrancando a parte superior de sua cabeça. A ruiva se foi. Mas eu não contava com uma terceira aparição, tão pequena que se escondia nas sombras das árvores, e só a avistei pelo ruído desgostoso que faz com a garganta enquanto tenta recarregar a arma. Flores Silvestres.

Seus olhos estão carregados de medo quando ela me vê, mas um sorriso malicioso brota em seu rosto. Percebi que ela está tentando esconder o fato de que não tem mais balas.

—Ora, ora, ruiva. Quem diria que você ainda estaria viva, não é?

Apontei minha arma para ela, mirando no estômago, pois não queria que sua morte fosse fácil e direta com um tiro no cérebro.

—Pois é, loirinha. Parece que seus esforços não foram suficientes para me deter.

—Bom, aquelas incompetentes talvez não tenham atingido ninguém, mas eu obtive um pequeno sucesso.

Franzi minhas sobrancelhas e chamei por Chris. Ele pegou a Gold Combat do meu coldre e apontou para Flores Silvestres.

—No chão. —Ele sibilou, e ameaçou atirar nela quando FS não obedeceu. A meretriz se assustou e caiu de joelho no chão, e amarrei suas mãos com meu cinto.

Então me dirigi até Ian, para me certificar de que estava tudo bem, até que vi.

Meu pai. Jogado no chão como um boneco inflável esvaziado, sem se mexer. Corri até ele.

—Pai?

Nada.

Toquei seu ombro.

—Pai? PAI? —Nada. Nenhum ruído, nenhum movimento. Começo a sacudi-lo com força.

—PAI! Por favor, esteja vivo. Pai, respire. Acorde, acorde, acorde...

Seu sangue suja minhas mãos e me afasto assustada. O sangue vermelho-escuro só me faz pensar em uma coisa. Insanidade.

Rastejo para trás, resistindo à vontade de cobrir os ouvidos com as mãos, quando sinto um peso quente as minhas costas. Reconheço os longos braços pálidos que tocam meus ombros.

—Ashley?

—Ian! —Pego a sua mão com desespero e tento me esconder no peito dele. —Meu pai... Ele... O sangue...

Ian passa um braço ao redor da minha cabeça e me obriga a apertar o rosto contra si. Fico agradecida. Não quero ver o que aconteceu. Não quero encarar a realidade.

Meu pai não pode estar morto.

—Não pode... —Começo a ganir feito um animal. —Isso não pode ter acontecido.

—Eu sinto muito.

Vejo um vislumbre de uma garganta perfurada por um tiro, no largo pescoço do meu pai, entre seus ombros poderosos, as toras de músculos nos braços, e quase começo a gritar ali mesmo, mas apenas um pensamento inunda minha mente.

A culpa é toda e somente dela. Fiquei de pé e me caminhei em direção a Flores Silvestres.

Puxei-a pelo colarinho da camisa, tirando seus pés do chão.

—Foi você, não foi, sua vadia? Você atirou em meu pai?

Ela dá um sorriso nojento, e tenho vontade de cuspir na cara dela.

—Claro que sim, menina idiota.

Soquei-a antes que qualquer pessoa pudesse processar o acontecido. Foram seis, sete, oito socos até que uma fenda se abrisse em seu lábio inferior, seu supercílio e seu nariz sangrassem. Entretanto, não parei por aí. Arrastei-a pelos cabelos, ignorando seus gritos, alguns metros, e ninguém ousou me seguir.

Mais tarde eu sofreria minha perda, agora eu a vingaria.

Quando decidi que estava a uma boa distância, ergui novamente o pedaço de carne e pele de cabelos loiros, e um lado de seu rosto estava esfolado pelo chão. Ela tentou manter pose de durona, mas escorria lágrimas de seus olhos e coriza de seu nariz. Por mais que eu tentasse, não conseguia sentir pena dela, apenas repulsa.

Apenas um soco foi necessário para derrubá-la no chão, e Flores Silvestres gritou quando pus toda a minha raiva e força nos chutes que apliquei em seu estômago.

—Desgraçada! —Eu berrei, enquanto erguia-a novamente e a socava com tanta força que ela desabava. Eu era capaz de derrubar um homem do tamanho de Jared com aquele soco, e o estrago que ele fazia no rosto de porcelana de FS era insubstituível. Libertador. —Você roubou o amor da minha vida. —Chutei seu rosto, que mais parecia um pedaço de carne coberto de sangue. —Matou meu pai. Meu pai! O homem que era tão forte quando uma montanha e tão bondoso quando uma Alma e tão gentil quanto um pássaro. E você o matou! —Peguei-a pelos cabelos, e FS cuspiu um dente. Bom. Ela teria que sentir na pele a dor que eu sentia me mastigando por dentro desde que ela me tirou Jamie, e só cresceu agora. —Ele tem uma mulher. Duas filhas. E minha mãe o ama, e ele a amava. —Bati com a cabeça dela no chão, e ela se debateu e gritou. —E agora você arruinou tudo. Você nos arruinou. —Eu quase não conseguia falar com o nó de espinhos na minha garganta, mas gritei com todos os pulmões. —Sua vagabunda!

Flores Silvestres se esquivou e tentou rolar para longe e fugir, porém, assim que ela ficou e pé, eu girei meu corpo e atingi sua nuca com o cotovelo, derrubando-a novamente, e afundei o calcanhar no meio de suas costas, provocando um berro cheio de desespero e dor, mas que soou como música para meus ouvidos.

—No chão. —Cuspi. —Esse sim é o seu lugar.

Ajoelhei-me, fazendo questão de apoiar o joelho no antebraço dela, fazendo-a se debater, e bati com o rosto dela na terra. Mais uma vez. Novamente. E isso era um pouco divertido, se eu ignorasse toda a dor que eu sentia e o sangue que deixava minhas mãos grudentas. FS virou a cabeça para tentar fugir, e agarrei firmemente seus cabelos, fazendo questão de me aproximar de seu ouvido e sussurrar:

—Nos vemos nos inferno.

Joguei sua cabeça com toda a força sobre o chão.

E escutei um estralo, e um líquido denso transparente manchou a terra seca ao redor, seguido por sangue. Encarei os olhos âmbar, antes brilhantes e falsos, agora opacos e cegos. Morta.

—Finalmente. —Murmurei.

Sei que minha aparência não poderia estar pior. Braços esfolados. Excesso de roupas suadas. Em minhas mãos, uma luva de sangue ainda quente, que pingava da ponta de meus dedos, secando por debaixo das unhas. Meu rosto manchado de lágrimas e sangue. O olhar feroz e desgastado, contornado pelas olheiras que não abandonavam mais minhas faces.

Minha imagem gerou uma série de arquejos, e Peg não conseguia olhar para mim. Eu a entendia, na verdade. Também não suportaria olhar para um animal tão instável e selvagem. O corpo de meu pai estava coberto pela lona, que antes sustentava o corpo de Jamie – esse, por sua vez, estava protegido atrás de árvores e pedras. Todos de pé, recarregando armas e partindo. Exceto Chris, que se encostava a uma árvore e tentava se esconder enquanto examinava as costelas. Aproximei-me dele sorrateiramente, e ele se assustou e cerrou os dentes.

—O que houve?

—Nada. Ah, nada. —Ele hesitou. —Só estava... Eu...

Percebi que suas mãos abandonaram a camisa, e, sem hesitar ou sequer pensar, engatei meus dedos na barra e ergui sua camiseta, revelando um corte não muito profundo, mas nada bonito, na altura das costelas.

—Ah, que merda. —Suspirei. —Vou pegar a caixa de primeiro socorros.

Chris concordou e tentou desesperadamente baixar a peça de roupa novamente. Apenas para lhe dar o troco por todas as suas brincadeiras, passei os dedos por sobre os músculos de seu abdômen e comentei, debochada.

—Você rala queijo aqui?

Chris ficou tão vermelho que parecia prestes a derreter, e eu sorri com meu pequeno sucesso particular, já me dirigindo até Peg, que carregava o kit de primeiros socorros.

—Acho que vou ter que saturar isso aqui. —Murmurei, examinando o machucado de Chris, que fazia de tudo para cobrir a maior parte possível de pele. Que desperdício de tempo.

—Está bem. Mas limpe seu rosto primeiro. —Ele exigiu, coçando o queixo numa tentativa de se livrar do rubor. —Todo esse sangue e tudo mais.

—Ah, isso? —Passei a mão na bochecha, fazendo questão de manchá-la ainda mais de vermelho. —Isso é o preço da vitória.

Chris segurou meus punhos sangrentos e afastou minhas mãos do restante do meu corpo – e consequentemente as manteve longe do seu corpo.

—Seu preço da vitória a faz parecer uma psicopata.

Livrei minhas mãos dele e as lavei com o álcool do kit, secando-as nas calças, e peguei a linha e a agulha, pus Chris encostado contra uma pedra e tratei de saturar seu ferimento. Ajoelhei-me ao lado dele e passei a agulha por sua pele fina, tomando cuidado para não errar os pontos. Ele trincou os dentes enquanto eu dava os pontos necessários para cobrir seu machucado, e após passar um esterilizador, cobri tudo com gaze. Apertei os esparadrapos nas extremidades do curativo, e antes que eu pudesse tirar, Chris cobriu minha mão com a sua. O movimento me fez encará-lo.

—Obrigado. —Ele murmurou.

Fiquei de pé e esfreguei minhas mãos nas calças, apenas por costume.

—Não foi nada, agora vamos andando antes que...

Fui interrompida quando ele me beijou. Na testa. Porém, a forma como ele segurou meu rosto entre as mãos, firmando os polegares em meus malares e os indicadores abaixo da minha orelha, o modo como seus lábios pressionaram com tamanha gentileza minha pele, isso me assustou.

Se uma centena de Buscadores surgisse com tanques de guerra naquele exato momento, eu não ficaria tão assustada. E angustiada. Pois a gentileza me era estranha.

—Eu sinto muito por Charles. —Ele sussurrou, os lábios ainda encostados na minha testa. Segurei suas mãos, retirando-as do meu rosto, manchando ambos com sangue da falecida e gostosinha FS, e deixei que seus braços se fechassem atrás de mim.

Charles, meu pai de sangue, de coração e de alma, que trazia beleza e encanto ao meu mundo, junto de minha mãe, que me ensinou tanto a me defender do mundo quanto aprecia-lo. Meu pai, cujo homem ninguém tinha coragem de machucar, não pela força física, mas pelo caráter justo e bondoso. Meu pai, meu amado e doce pai, que me ensinou a andar sozinha e me deu a confiança necessária para viver. Meu pai, que está morto.

—Isso não é justo. —Gani, apertando o rosto na jaqueta cinza macia dele, engolindo o nó de espinhos que trazia água aos meus olhos.

—Não é certo. Não é justo. Somente é. Não dá pra mudar.

Eu não esperava que Chris me consolasse – na verdade, ficaria desapontada se ele o fizesse – mas, como sempre, suas palavras me trouxeram a tona, me ajudaram a sair do mar de loucura e sofrimento em que eu estava me afogando.

—Eu sei. —Sussurrei. —Só que, bem, continua não sendo justo.

Soltei-me de Chris e apertei a mão dele, que insistia em manter contato com a minha. Caminhei até a lona preta e me ajoelhei ao seu lado, descobrindo o rosto cinzento do meu pai. Alguém teve a bondade de fechar seus olhos e boca, e alisei seu cabelo loiro para trás da cabeça, como ele gostava. A mancha de sangue seco cobria todo o seu pescoço e peito e dediquei quase quinze minutos limpando aquilo com um dos meus casacos. Saturei o ferimento. Ajeitei o corpo para que ficasse confortável.

Fiz um esforço gigantesco para não desabar ali mesmo e morrer também. Se não fosse pelo corpo de Jamie, tão perto de mim, ainda desmaiado, eu teria desistido. Caído e falecido.

Mas Jamie não me permitia desistir. Por que o que eu sentia por ele era mais forte que a vontade de morrer. Jamie. Arrastei minhas pernas pesadas para ficar perto dele e literalmente caí ao seu lado, as costas contra as folhas secas e o rosto apertado na pele macia logo abaixo da sua clavícula. Fiquei vários minutos daquele jeito, respirando o cheiro quente que ele emanava. Trazia-me uma segurança infindável. Portanto, eu tinha que fazer o certo, mesmo que fosse o mais difícil. O fácil e o certo nunca são a mesma coisa.

—Leve-o para as cavernas. —Sussurrei, incapaz de falar mais alto.

Ouvi passos se aproximando de mim e um corpo se abaixando ao meu lado.

—Mas Ashley... —Melanie colocou a mão no meu ombro.

Sacudi o corpo para me livrar do contato dela.

—Eu disse para leva-lo de volta! —Gritei. —Leve seu irmão para casa, Melanie, e me deixei aqui.

—Mas...

—Vá! —Berrei, soltando Jamie e ficando de pé. —O que está esperando? —Empurrei-a. —Quer que ele seja capturado novamente? Quer que mais alguém morra? VÁ!

—Não podemos...

—Deixem um carro aqui. Eu consigo voltar sozinha.

—Porém...

—MELANIE!

Ela ficou com raiva.

—Você não vai me dizer o que fazer, garota. Não deixamos ninguém para trás!

—Vocês estão tentando deixar meu pai para trás. Deixe-me aqui para que possa fazer algo digno para ele. Deixe-me correndo o perigo de morrer também, mas será um sacrifício. Um último sacrifício ao homem que sacrificou sua vida inteira por mim.

Ela me olhou com raiva e dúvida, pensando no que fazer.

—Eu ainda não acho que isso seja sensato!

—Você quer falar de sensatez numa hora como essa?

—Eu...

Ainda estávamos discutindo quando a primeira explosão nos arremessou no ar.


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Notas finais do capítulo

AH! Surprise surprise
Estou sendo uma clichê colocando finais desse jeito, mas fazer o quê.
Minhas aulas voltaram, então me perdoem se eu me atrasar com os capítulos, eventualmente. Entretanto, não desistam, por favor ♥



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